Dom Hélio relata experiência de fé e dor na tragédia de Santa Maria

Dom Hélio relata experiência de fé e dor na tragédia de Santa Maria

 

Domingo, 03 de fevereiro de 2013, 


Portal UM

“Não entendemos, mas cremos no amor de Deus”, escreveu em carta o Arcebispo de Santa Maria (RS), Dom Hélio Adelar Rubert, relatando sua experiência de fé e de dor diante da tragédia ocorrida na madrugada de domingo, 27 de janeiro, onde a vida de mais de 230 jovens foram ceifadas.

Juntamente com familiares e amigos, Dom Hélio entregou a dor e o sofrimento nas mãos de Deus, como um gesto de imolação: “um instrumento de redenção”.

Dom Hélio também convida a todos para reavivar a fé, a caminhar na escola da esperança e da caridade e, especialmente aos jovens, refletir sobre o que Deus quer dizer com essa tragédia.

Leia abaixo, na íntegra, a carta de Dom Hélio:

Olhar de esperança

Estamos profundamente consternados pela tragédia ocorrida na madrugada do Domingo, dia 27 de janeiro 2013 numa boate em Santa Maria onde pereceram 234 pessoas, na maioria jovens cheios de esperanças e sonhos na vida.

Contendo as lágrimas, a comunidade se reuniu em oração na Basílica da Medianeira e na Praça Saldanha Marinho para adorar o Senhor, bendizer seu nome santíssimo, escutar sua Palavra e pedir misericórdia para os falecidos e os feridos, bem como o conforto e esperança aos familiares, parentes, amigos e comunidades.

Com a dor da tragédia somos convidados a silenciar e escutar a voz de Deus. É hora de reavivar a fé e dizer: “Não entendemos, mas cremos no amor de Deus”. É hora de não julgar e não condenar ninguém. É hora de sofrer em silêncio, na fé e no amor.

Quando escutei a notícia, lá em Vitória do Espírito Santo, lembrei a dor das mães, dos pais e familiares dos jovens mortos. Imaginei Maria Desolada ao pé da cruz quando recebia em seus braços Jesus morto. Que dor, que sofrimento! Maria, porém, não se desesperou. Ela sabia que Jesus fora imolado pela nossa redenção. Nessa tragédia em Santa Maria, as mães, pais, irmãos e amigos não desesperamos. Antes, abraçamos esta dor, esta cruz e dizemos: “Pai, em vossas mãos colocamos nossas lágrimas, nossa dor, nossos sofrimentos. Que tudo seja instrumento de redenção. Tende misericórdia de nossos queridos falecidos. Perdoai seus pecados. Acolhei suas vidas e seus últimos desejos. Que nada se perca, mas tudo se transforme em misericórdia e redenção”.

Nesta hora olhamos para Jesus, nosso Deus e Salvador. Olhamos para Maria Desolada, a Mãe que acolhe em seus braços seu Divino Filho morto na cruz por amor.

Olhamos para o alto, para o céu, nossa pátria definitiva. A terra não é nossa morada permanente, pois nossa vida é passageira, é fugaz. Olhamos para os valores que não passam: Deus não passa. O bem que fazemos, não passa.

Que esta tragédia seja para todos um alerta a estarmos sempre vigilantes na graça. Seja um novo passo na fé e na esperança.

Estamos no Ano da Fé e da Jornada Mundial da Juventude. Fé e Juventude são duas realidades que atingem nossas famílias, educadores, Igrejas, escolas e sociedade.
Convidamos nossos pais e mães, irmãos em Jesus Cristo a reavivarmos nossa fé e caminhar na escola da esperança e da caridade. 

Dizemos aos nossos jovens: orem e reflitam sobre o que Deus quer nos dizer com essa tragédia. Deus fala muitas coisas para as famílias, Igrejas e para toda a sociedade. É urgente escutar sua voz e discernir os sinais de seu amor.

Recebemos inúmeras manifestações de solidariedade do Brasil e do mundo. São sinais de afeto, oração e disposição de ajuda. Inclusive o Papa Bento XVI nos transmitiu sua paternal mensagem de condolência às famílias das vítimas e sua participação na dor de todos. Ao mesmo tempo ele confia a Deus Pai de misericórdia os falecidos. Pede ao céu o conforto e o restabelecimento para os feridos e consolo da esperança cristã para todos os atingidos pela tragédia. Envia a todos que estão em sofrimento e aos que procuram remediá-lo, uma propiciadora Bênção Apostólica. 

Que Maria, a Mãe e Medianeira, nos escute, enxugue nossas lágrimas, console a todos, nos ajude a ler os sinais de Deus e nos encha de esperança.

Santa Maria (RS), 2 de fevereiro de 2013


Dom Hélio Adelar Rubert 
Arcebispo de Santa Maria - RS