Homem, de onde vens, por que vives, para onde vais?

13/09/2012 13:20

 


 

Ana Carla Bessa.
Consagrada na Comunidade de Aliança Shalom.

A pergunta que compõe o tema central desta revista não é fácil de ser respondida. A mesma toca a realidade única da vida de cada ser humano assim como a luz do sol que, tendo uma só origem, pode colorir de diversos matizes tudo aquilo que ilumina.

Cada ser humano tem uma única origem: Deus, o Criador e sustentador de todo o universo e de todo ser humano, tanto daqueles que o reconhecem e o amam, como daqueles que o ignoram e até dos que o odeiam.

No entanto, mesmo tendo uma só origem e sustento, cada ser humano é único na sua forma de ser, de experimentar a vida e de se manifestar no mundo. Cada um tem uma história e uma missão única a desempenhar no mundo. Por isso, não é de se esperar que aqui se responda pessoalmente, a cada um, esta pergunta, mas que você, ao ler estas páginas, possa voltar os olhos para a única Luz que pode iluminar o seu destino, e expor-se a ela sem medo, a fim de deixar que se desvende diante de seus olhos e com a sua ativa colaboração, o sentido da sua própria vida.

Muitos são os que das mais diversas formas se perguntam qual o sentido da sua própria existência. Uns perguntam isso claramente, nas ocasiões de perda, ou quando os próprios planos parecem se desmanchar diante de acontecimentos que não pôde evitar: “Para que vim ao mundo, qual o sentido da minha vida?”.

Outros se perguntam sem palavras, mas através de seus atos, da sua forma de viver. Alguns o fazem pela sucessão de experiências, ou seja, enchendo-se de muitas atividades, e sobrepondo sempre planos novos aos já concretizados, temendo parar por um instante e ter a sensação de inutilidade. Outros ainda vivem numa constante “tempestade de novas idéias”, as quais logo que começa a concretizar parecem perder o sabor, e então, abandonando a anterior, lançam-se logo em outra, sem nunca acabar de realizar nenhuma.

Na busca de dar sentido à própria vida, uns alternam períodos de grande atividade, com outros de inatividade, quando parecem ter perdido toda razão para lutar, por se sentirem cansados, desanimados. E alguns nunca lutam, simplesmente sonham e deixam-se levar pelos acontecimentos. 

Destes últimos, uns parecem viver no passado, lamentando-se pelo que fizeram ou pelo que não fizeram, e outros parecem viver no futuro, à espera que grandes oportunidades “caiam do céu”, de repente, diante deles. Uns sonham com a casa, outros com um amor “de contos de fadas”, outros ainda com a realização profissional, e, outros com a fama que pode alcançar no mundo. Assim cada um vai construindo gradativamente o edifício de valores sobre o qual assentará o sentido da própria existência. 

Quando penso sobre isso, sempre me recordo das Palavras de Jesus sobre o homem insensato e sobre o homem sensato, narradas pelo Evangelho de S. Lucas. O primeiro é comparável a um homem que construiu uma casa cavando, aprofundando e lançando os alicerces sobre a rocha: “sobrevindo uma cheia, a torrente se lançou contra essa casa, mas não a pôde abalar, porque estava bem edificada” (cf. Lc 6,48). Mas o segundo “é comparável a um homem que construiu uma casa no chão raso, sem alicerces: a torrente se lançou contra ela e imediatamente ela desmoronou, e a destruição da casa foi total” (cf. Lc 6,49).

Como construir a “casa” de nossa vida, que é uma só, e tende a se prolongar pela eternidade da forma como foi vivida aqui nestes 20, 30, 40, ... ou 100 anos que nos são concedidos para decidir, e pelos quais somos responsáveis?

Vinte séculos atrás veio ao mundo a Luz necessária para iluminar o coração de cada ser humano criado, a fim de que cada um descubra, por causa da Luz e na Luz, o sentido da própria vida. São João Evangelista testemunha que o Verbo de Deus, que é Jesus Cristo, “era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem” (cf. Jo 1,9).

Cristo é o Verbo de Deus, presente desde a criação do mundo, um com o Pai e com o Espírito Santo, presente na criação de cada homem, e portanto o único no qual cada ser humano criado pode encontrar a resposta sobre o sentido da própria vida.

O sentido da vida humana não se cria, mas se descobre em Deus, que se revelou a nós por seu Filho Jesus Cristo, e habita no centro da nossa existência, quer nos demos conta disso, quer o ignoremos.

Caso resolvamos ignorá-lo, podemos passar toda a nossa vida “inventando” os mais diversos sentidos para nossa vida, mas será tudo como casas “construídas sobre a areia”, prestes a desmoronar a qualquer tempestade. 

Mas, se a Cristo buscarmos, com toda nossa alma, com todo o nosso coração, e com todas as nossas forças, nele sempre encontraremos a razão para lutar, para perdoar, para recomeçar a viver, pois só Ele tem a vida em si mesmo e o mundo nas mãos, e por isso é capaz de dar a vida em abundância que tanto desejamos.

Cristo é não somente a Luz que ilumina o nosso caminho. Ele é o nosso caminho, e, é também a única Rocha sobre a qual nossa casa, uma vez construída, poderá suportar toda tempestade. Muitos são os que ao lerem nas Escrituras as Palavras de Deus colocadas na boca do Profeta: “O meu povo abandonou a mim, fonte de água viva, a fim de cavar cisternas rachadas, que não retêm água”, até conseguem identificar os projetos inúteis sobre os quais têm edificado sua própria existência, mas no entanto têm medo de buscar, no coração de Deus, o verdadeiro projeto de Deus a seu respeito.

Assim é que, em busca de viver intensamente, muitos só conseguem encher mais e mais a sua vida dos buracos das frustrações. E outros, para amenizar este vazio, constróem um caminho intermediário, paralelo àquele no qual Deus reservou para ele a abundância de felicidade. Estes são aqueles caminhos de nossa vida que parecem tão lícitos, tão bons, tão úteis à sociedade, mas que se inventados por nós mesmos jamais nos trarão a realização, a satisfação de viver tão almejada.

É preciso muita coragem para desejar enxergar o plano único de Deus para nossa vida. E depois, é preciso mais coragem ainda, para dizer sim a este plano e perseverar nele até o fim. Na história da Igreja, encontramos uma multidão de santos e santas que correram esse risco e por isso encontraram pleno sentido de existência. São também incontáveis aqueles que só conheceremos no céu, quando lá chegarmos depois de passar por esta vida assumindo plenamente a nossa verdade. 

A busca do sentido da vida é algo saudável e importante para todos nós. Pela fé, nós chamamos esta busca de “desejo de Deus”. Visto que Deus é amor, nós desejamos o amor, mas visto que Deus é o Amor que se dá, nós desejamos mesmo é amar, amar de fato, com o amor dele, com o amor sobrenatural. Todo ser humano tem sede de amar, mas como cada um amará, esta é uma pergunta que só Deus, que é o Amor, pode responder.

Eu faço então a você uma proposta: peçamos juntos à Maria, nossa querida mãe, que nos encha da coragem necessária para buscarmos em seu Filho Jesus o rumo da nossa existência. Que Deus nos dê a cada dia a coragem de levantar da cama perguntando a Ele: Senhor, de que forma tu me chamas a amar hoje, com o teu amor?”. E uma vez encontrado esse rumo, peçamos mais coragem ainda para deixar tudo o que nos prende e seguir o exemplo daquela que amou até o fim, numa vida plena de sentido. E então, um dia, se cumprirá para mim e para você a promessa revelada no Livro do Apocalipse: “Ao vencedor, darei uma pedrinha branca e um nome novo escrito na pedrinha, o qual ninguém conhece senão quem o recebe” (cf. Ap 2,17). E então o que a cada um se revela agora em meio à obscuridade da fé, estará em plena luz diante do Criador e cada um continuará sua missão de amar por toda a eternidade.

 

Box para o Assunto do Mês


O tempo passa e não volta mais. Assinalou Deus a cada homem um tempo determinado para realizar seu plano sobre ele: o tempo da vida terrena. É este, para cada um, “o momento propício... o dia da salvação” (2Cor 6,2), no qual cumpre trabalhar com entusiasmo, para cooperar com a graça, na própria santificação. Passado este tempo, não haverá outro, e o mal empregado estará perdido para sempre. A condição da vida humana é um contínuo fluir, um contínuo correr do tempo que não volta! Na eternidade, ao contrário, já não haverá vicissitudes: tudo será estável.

Todo homem ficará estabelecido no grau de amor que tiver alcançado no tempo: se for grande, em um grande grau de amor e de glória, será estabelecido eternamente; se for pequeno, não terá mais este por toda a eternidade. Terminado o fluir do tempo, já não é possível progresso algum. “Não nos cansemos de fazer o bem – exorta São Paulo – e se não desistirmos, a seu tempo colheremos. Enquanto temos tempo, façamos o bem a todos” (Gl 6,9-10). Cada ano que passa é admoestação a valorizarmos o tempo presente, santificando-o por meio da caridade. “Trata-se de dar a cada instante o máximo de amor, de eternizar o instante que foge, dando-lhe o valor da caridade” (Ir. Carmela do Esp. Santo).

“Não sabíeis que devo cuidar das coisas de meu Pai?” (Lc 2,49). Para Jesus, tem a vida uma só finalidade, um só empenho: a vontade, os interesses, a glória do Pai. Seguir Jesus significa procurar viver em profundidade esta sua atitude, na convicção de que uma única ocupação tem valor: “cuidar das coisas do Pai”. 

Quantas vezes, ao contrário, a existência do cristão se dispersa em mil direções, em mil futilidades, coisas caducas, que passam com o passar do tempo, puras vaidades da vida terrena! Só o tempo dedicado a Deus, ao cumprimento de sua vontade, não passa; fixa-se em Deus, tornando o homem participante de sua imutabilidade. Então o fluir do tempo não lança o véu da tristeza sobre a existência do homem, mas enche-lhe o coração de alegria, porque só faz aproximar o encontro eterno com Deus. Seja assim, cada ano, um salto à frente para a verdadeira pátria, e seja cada dia assinalado pelo desejo ardente do Senhor: “Vinde, Senhor Jesus!” (Ap 22,20).