Quem é Jesus Cristo

13/09/2012 13:07

 

 


O Conhecimento de Jesus Cristo

 

"Quem dizem os homens que Eu sou?"

Esta pergunta de Jesus prepara para uma segunda e decisiva: "E para vós?". De fato, Ele não está preocupado em saber o que dizem dele os outros, como uma curiosidade vaidosa, mas questionando sobre o que dizem prepara para a sua real intenção: "O que os apóstolos pensavam de Jesus?". Jesus anunciou a Boa-Nova em meio a uma fortíssima cultura com uma antiga e firmada tradição, certamente sua mensagem chegou impregnada de estranhos valores aos seus apóstolos e agora ele questiona como cada um reage frente a esta realidade? Quais as expectativas pessoais, o que motiva secretamente cada um no seu seguimento…

É narrada de forma interessante a reação dos apóstolos: na primeira pergunta se adiantam em responder, vemos uma multiplicação de respostas sem no entanto afirmar quem diga, enquanto para segunda pergunta parece haver uma certa hesitação… A questão levantada atinge-lhes no âmago, fere-lhes o interior e força que exponham o que há de mais íntimo nos seus sonhos. Jesus provoca que cada um seja questionado e comprometa-se… Neste contexto compreendemos a profundidade das palavras de Pedro, pois ele manifesta, de fato, o que há no seu interior, emerge o que o Espírito havia revelado ao seu coração quando diz: "Tu és o Cristo de Deus!".

Pedro afirma que deposita em Jesus toda a sua esperança! Ao reconhecê-lo como Messias não lhe atribui um título vago, mas manifesta que deposita nele toda sua esperança. No entanto, esta palavra revelada pelo Espírito não indica que Pedro pudesse compreender o sentido pleno da missão de Cristo ou mesmo penetrasse profundamente na sua Pessoa, pois se para nós a palavra "Cristo" (tradução grega do termo hebraico Messias) possui um valor bastante preciso, dentro do ambiente em que viviam os apóstolos, no entanto, esta palavra possuía um contexto diverso. Ainda que afirmasse sua total confiança e adesão ao Senhor, por este título Pedro não manifesta conhecer como deve ser esta sua missão. Precisamos compreender que a afirmação de Pedro é sincera em manifestar sua adesão completa ao Senhor Jesus sendo, por isso mesmo, revelada pelo Espírito Santo, porém não indica que ele pudesse entender tal missão e seu alcance. Esta realidade manifesta-se logo em seguida nos relatos evangélicos, quando Jesus passa a manifestar a necessidade de seu sofrimento o que é rechaçado por Pedro e pelos outros segundo uma mentalidade condenada por Jesus.

"No que diz respeito aos discípulos, a pergunta feita por Jesus acerca do que se diz dele (Mc 8, 27s) tem por finalidade levar os doze a enunciar a sua opinião pessoal; com efeito, ela provoca o ato de fé messiânica de Pedro: ‘Tu és o Messias’ (Mc 8, 29), ou o Messias de Deus (Lc 9, 20), resposta transformada, em Mateus, em profissão de fé pós-pascal (Mt 16, 16). Ora, percebe-se de imediato que idéia Pedro e seus companheiros fazem do Messias, pois a perspectiva de fracasso e de morte entreaberta por Jesus desperta um protesto veemente: ‘Deus te livre disto! Não, isto não pode te acontecer!’ (Mt 16, 22). Pedro situa-se exatamente na linha do pensamento corrente, a dos Salmos de Salomão como também a dos textos de Qumran: o Messias deve triunfar e instaurar a sua realeza sobre Israel e sobre todos os povos… Mas Jesus qualifica explicitamente tal visão de tentação satânica (Mt 16, 23 = Mc 8, 33)".

Para interrogarmos o que representa no coração de Pedro e dos outros apóstolos esta afirmação, devemos entendê-la dentro do conturbado ambiente judaico, mergulhar na "esperança messiânica", presente em todos os judeus deste período, na força desta expectativa…

A mentalidade manifesta por Pedro e condenada por Jesus é fruto do conturbado meio em que viviam os apóstolos. Foi formado no coração do Povo, da sua expectativa na intervenção de Deus em sua História segundo as diversas correntes de interpretação. Para melhor conhecermos devemos olhar para o passado do povo de Israel e o nascimento das diferentes correntes que influenciavam todo o pensamento no tempo de Jesus.

A Esperança Messiânica

Sobre o messianismo em Israel devemos ter algumas considerações básicas, que estão ligadas a sua origem: A primeira noção básica que surge desta esperança messiânica é a certeza de que ela era uma esperança escatológica, ou seja, orientada para o resumo da história, para o "grande e temível dia do senhor" anunciado pelos profetas. O Messias deveria trazer toda a consumação esperada, quando Deus concretizaria as suas promessas e derrotaria os inimigos resgatando os que eram justos à sua Palavra. A segunda noção afirmava um Messias Rei. Ele deveria herdar o trono de seu pai Davi para resgatar a glória que Israel outrora havia conquistado. Davi era o símbolo de um rei perfeito, pois era o homem justo e piedoso e também o grande rei das conquistas, que levou Israel a ser uma grande potência.

A figura do Messias, nascido nas profecias sobre a casa de Davi, portanto, em um ambiente régio, com o desenrolar das crises em Israel, crises motivadas pelas invasões de outros povos ou pelas necessidades impostas pela má administração de seus reis, ganhava sempre uma conotação fortemente escatológica e régia.

Iniciando a abordagem que faremos neste nosso estudo, devemos retornar no tempo para uma das maiores crises sofridas pelo judaísmo em toda a sua história, onde emergiu uma intensa revolta nacionalista e piedosa que certamente alimentou esta esperança na intervenção do "Messias" e resultou na fragmentação do judaísmo nas diversas seitas, como encontramos nos escritos do Novo testamento. Esta crise, ocorrida por volta de 175__150, ficou conhecida como: "Crise do Helenismo".

Para compreendermos todo este período de crise e suas conseqüências tomaremos como leitura o 1o livro dos Macabeus.

Em 1Mc 1, 1s.6. 10-15 vemos a descrição do início das conquistas do rei macedônio Alexandre, que anexou a Palestina ao seu império. Morrendo cedo, este rei reparte seu império entre seus principais generais, cabendo a cada um a administração de uma parte. Seguidas algumas crises entre estes sucessores, a Palestina passa a ser administrada pelos Selêucidas que iniciam uma campanha de inculturação em todo o seu reinado. Muitos judeus aderem a esta campanha e iniciam um movimento de negação de suas tradições e adesão à novidade vinda dos gregos. Passam a negar de forma especial a sua relação única com seu Deus para compactuar com o sincretismo oriundo dos costumes gregos, esta crise é descrita em 1Mc 1, 41-64, onde a intervenção violenta dos dominadores atinge seu clímax. Certamente muitos cederam a ação dos dominadores estrangeiros, porém outros começaram a arder em revolta, inflamados de forma especial pelo zelo religioso. A ação de interferência do estado grego na religião de Israel terá como ponto culminante o ato que a Bíblia classifica como "abominação da Desolação": Antíoco Epífanes manda construir imagens de Zeus para substituírem o altar dos sacrifícios. Ele ordena que todo judeu sacrifique a esta imagem e institui a prostituição sagrada no Templo.

Neste contexto, quando a crise encontra-se em seu clímax, entra em cena o sacerdote Matatias e seus filhos. Matatias era um sacerdote fiel a Iahweh que não aceita aderir ao mandato do rei de sacrificar aos ídolos convocando os judeus que desejavam permanecer fiéis a aliança à revolta. Este movimento liderado pelo sacerdote Matatias logo de início assume caráter piedoso, ou seja, de uma verdadeira guerra santa. Vemos no relato de 2Mc 6__7 como este período gera mártires que preferem a morte à negação ao verdadeiro culto ao Deus da Aliança. Ao movimento de Matatias se unem o grupo dos Assideus, movimento judaico altamente religioso conhecido por serem extremamente zelosos quanto a fidelidade à Lei.

Com a morte de Matatias, seus filhos assumem a liderança do movimento de revolta, com destaque especial a Judas, cognominado "macabeu". Judas consegue importantes conquistas sendo, no entanto, morto em combate. A revolta prossegue sendo liderada por seus irmãos que conseguem importantes conquistas e impõem uma certa liberdade a Israel frente à dominação estrangeira. Sucedendo ao terceiro irmão macabeu, Simão, encontramos o filho deste, João Hircano, que consolida o poder em suas mãos realizando alianças com Roma e outros impérios de sua época…

A esta dinastia que governará a Judéia, A dinastia da casa de Matatias, deu-se o nome de "Asmoneus". Quando nos referirmos aos macabeus geralmente estamos tratando dos filhos de Matatias e a João Hircano é atribuída a instalação da dinastia Asmonéia. Para Governar, João Hircano e seus sucessores, usurpam o título de etnarca e de sumo-sacerdote. Os assideus, alarmados com as ambições dos Asmoneus e com o caráter secular que assume o seu reinado, rompem com ele. Segundo este grupo piedoso, ao se fazer sacerdote sem possuir o direito de família os Asmoneus cometem uma terrível falta. Isto gerou a ruptura profunda entre os descendentes dos assideus (fariseus e essênios) e o partido ligado aos Asmoneus (saduceus).

"Neste ponto é preciso levar em conta uma informação fornecida por Flávio Josefo, que situa durante o governo de Jônatan a origem dos três partidos judaicos: fariseus, saduceus e essênios (Antigüidades Judaicas 2, 171-173). Sua descrição dos saduceus, que se baseia em uma documentação mais tardia, permite reconhecer neles o partido sacerdotal aliado à monarquia asmonéia. Como ele não fala dos grupos pietistas denominados assideus nos livros dos Macabeus, é provável que a origem dos dois outros partidos deva ser procurada entre os referidos grupos. Eles teriam reforçado suas estruturas e afirmado suas posições, até entrarem progressivamente na contestação da dinastia e de sua política, a partir do momento em que Jônatas concentrou em suas mãos os três poderes, até o dia em que o segundo sucessor deste assumiria o título de rei. Nesta base, torna-se possível entrever a orientação fundamental dos partidos essênio e fariseu, se levarmos em conta os dados conhecidos de outras fontes.". Herodes Magno estará unido à família dos asmoneus através de um casamento, o que facilitará o seu domínio posteriormente.

Desenha-se então o quadro da esperança messiânica no Novo Testamento; religiosamente os judeus estão divididos entre opositores do Templo e apoiadores. Aqueles que se sentem dominados insurgem contra esta dominação estrangeira, o que acentua ainda mais a esperança messiânica. Conforme cada grupo formado, no entanto, veremos se desenhar uma específica esperança messiânica. Estes movimentos circulavam por entre o povo e influenciavam toda nação com diferentes idéias e diferentes expectativas. Para melhor compreendermos o que esperavam os apóstolos devemos compreender como se encontrava a esperança nestes diferentes grupos, são eles: