PARÁGRAFO 5 - O CÉU E A TERRA
325 O Símbolo dos Apóstolos professa que Deus é "o Criador do céu e da terra", e o Símbolo
niceno-constantinopolitano explicita: "... do universo visível e invisível"
326 Na Sagrada Escritura, a expressão "céu e terra" significa tudo aquilo que existe, a criação
inteira. Indica também o nexo no interior da criação, que ao mesmo tempo une e distingue céu e terra: "a
terra" e o mundo dos homens; "o céu” ou "os céus" pode designar o firmamento, mas também o "lugar"
próprio de Deus: "nosso Pai nos céus" (Mt 5,16) e, por conseguinte, também o "céu" que e a glória
escatológica. Finalmente, a palavra "céu" indica o "lugar" das criaturas espirituais - os anjos - que estão ao
redor de Deus. (Parágrafos relacionados: 290,1023,2794)
327 A profissão de fé do IV Concilio de Latrão afirma que Deus "criou conjuntamente, do nada,
desde o início do tempo, ambas as criaturas, a espiritual e a corporal, isto é, os anjos e o mundo terrestre;
em seguida, a criatura humana, que tem algo de ambas, por compor-se de espírito e de corpo[fca3] "
(Parágrafo relacionado: 296) I. OS ANJOS
A EXISTÊNCIA DOS ANJOS - UMA VERDADE DE FÉ
328 A existência dos seres espirituais, não-corporais, que Sagrada Escritura chama habitualmente de
anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade da
Tradição. (Parágrafo relacionado: 150)
QUEM SÃO OS ANJOS?
329 Santo Agostinho diz a respeito deles: "Angelus officii nomen est, non naturae. Quaeris nomen
huius naturae, spiritus est; quaeris officium, angelus est; quaeris officium, angelus est, ex eo quod est, spiritus
est, ex eo quod agit, angelus - Anjo (mensageiro) é designação de encargo, não de natureza. Se
perguntares pela designação da natureza, é um espírito; se perguntares pelo encargo, é um anjo: é espírito
por aquilo que é, é anjo por aquilo que faz". Por todo o seu ser, os anjos são servidores e mensageiros de
Deus. Porque contemplam "constantemente a face de meu Pai que está nos céus" (Mt 18,10), são "poderosos
executores de sua palavra, obedientes ao som de sua palavra" (Sl 103,20).
330 Como criaturas puramente espirituais, são dotados de inteligência e de vontade: são criaturas
pessoais e imortais. Superam em perfeição todas as criaturas visíveis. Disto dá testemunho o fulgor de sua
glória.
CRISTO "COM TODOS OS SEUS ANJOS"
331 Cristo é o centro do mundo angélico. São seus os anjos: "Quando o Filho do homem vier em sua
glória com todos os seus anjos..." (Mt 25,31). São seus porque foram criados por e para Ele: “Pois foi nele
que foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Dominações,
Principados, Potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele" (Cl 1,16). São seus, mais ainda, porque Ele os
fez mensageiros de seu projeto de salvação. "Porventura não são todos eles espíritos servidores, enviados ao
serviço dos que devem herdar a salvação?" (Hb 1,14). (Parágrafo relacionado: 291)
332 Eles aí estão, desde a criação e ao longo de toda a História da Salvação, anunciando de longe
ou de perto esta salvação e servindo ao desígnio divino de sua realização: fecham o paraíso terrestre,
protegem Lot, salvam Agar e seu fi1ho, seguram a mão de Abraão, comunicam a lei por seu ministério,
conduzem o povo de Deus, anunciam nascimentos e vocações, assistem os profetas, para citarmos apenas
alguns exemplos. Finalmente, é o anjo Gabriel que anuncia o nascimento do Precursor e o do próprio Jesus.
333 Desde a Encarnação até a Ascensão, a vida do Verbo Encarnado é cercada da adoração e do
serviço dos anjos. Quando Deus “introduziu o Primogênito no mundo, disse: - Adorem-no todos os anjos de
Deus- ” (Hb 1,6). O canto de louvor deles ao nascimento de Cristo não cessou de ressoar no louvor da Igreja:
"Glória a Deus..." (Lc 2,14). Protegem a infância de Jesus, servem a Jesus no deserto, reconfortam-no na
agonia, embora tivesse podido ser salvo por eles da mão dos inimigos, como outrora fora Israel. São ainda
os anjos que "evangelizam", anunciando a Boa Nova da Encarnação e da Ressurreição de Cristo. Estarão
presentes no retorno de Cristo, que eles anunciam serviço do juízo que o próprio Cristo pronunciará.
(Parágrafo relacionado: 559)
OS ANJOS NA VIDA DA IGREJA
334 Do mesmo modo, a vida da Igreja se beneficia da ajuda misteriosa e poderosa dos anjos
.335 Em sua Liturgia, a Igreja se associa aos anjos para adora o Deus três vezes Santo; ela invoca a
sua assistência (assim em In Paradisum deducant te Angeli... - Para o Paraíso te levem os anjos, da Liturgia
dos defuntos, ou ainda no "hino querubínico" da Liturgia bizantina). Além disso, festeja mais particularmente
a memória de certos anjos (São Miguel, São Gabriel, São Rafael, os anjos da guarda). (Parágrafo
relacionado: 1138) 336 Desde o início até a morte, a vida humana é cercada por sua proteção e por sua intercessão.
"Cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida." Ainda aqui na terra, a
vida cristã participa na fé da sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus.
(Parágrafo relacionado: 1020)
II. O MUNDO VISÍVEL
337 Foi Deus mesmo quem criou o mundo visível em toda a sua riqueza, diversidade e ordem. A
Escritura apresenta a obra do Criador simbolicamente como uma seqüência de seis dias “de trabalho” divino
que terminam com o "descanso" do sétimo dia. O texto sagrado ensina, a respeito da criação, verdades
reveladas por Deus para nossa salvação que permitem "reconhecer a natureza profunda da criação, seu
valor e sua finalidade, que é a glória de Deus". (Parágrafos relacionados: 290,293)
338 Não existe nada que não deva sua existência a Deus criador. O mundo começou quando foi
tirado do nada pela Palavra de Deus; todos os seres existentes, toda a natureza, toda a história humana
têm suas raízes neste acontecimento primordial: é a própria gênese pela qual o mundo foi constituído e o
tempo começou. (Parágrafo relacionado: 297)
339 Cada criatura possui sua bondade e sua perfeição próprias. Para cada uma das obras dos "seis
dias" se diz: "E Deus viu que isto era bom". "Pela própria condição da criação, todas as coisas são dotadas
de fundamento próprio, verdade, bondade, leis e ordens especificas." As diferentes criaturas, queridas em
seu próprio ser, refletem, cada uma a seu modo, um raio da sabedoria e da bondade infinitas de Deus. É
por isso que o homem deve respeitar a bondade própria de cada criatura para evitar um uso desordenado
das coisas, que menospreze o Criador e acarrete conseqüências nefastas para os homens e seu meio
ambiente. (Parágrafos relacionados: 2501,299,226)
340 A interdependência das criaturas é querida por Deus. O sol e a lua, o cedro e a pequena flor,
a águia e o pardal: as inúmeras diversidades e desigualdades significam que nenhuma criatura se basta a si
mesma, que só existem em dependência recíproca, para se completarem mutuamente, a serviço umas das
outras. (Parágrafo relacionado: 1937)
341 A beleza do universo. A ordem e a harmonia do mundo criado resultam da diversidade dos
seres e das relações que existem entre eles. O homem as descobre progressivamente como leis da natureza.
Elas despertam a admiração dos sábios. A beleza da criação reflete a infinita beleza do Criador. Ela deve
inspirar o respeito e a submissão da inteligência do homem e de sua vontade. (Parágrafos relacionados:
283,2500)
342 A hierarquia das criaturas é expressa pela ordem dos "seis dias", que vai do menos perfeito ao
mais perfeito. Deus ama todas as suas criaturas[fca44] , cuida de cada uma, até mesmo dos pássaros.
Apesar disso, Jesus diz: "Vós valeis mais do que muitos pardais" (Lc 12,7), ou ainda: "Um homem vale muito
mais do que uma ovelha" (Mt 12,12). (Parágrafo relacionado: 310)
343 O homem é a obra-prima do obra do criação. A narração bíblica exprime isto distinguindo
nitidamente a criação do homem da criação das outras criaturas[fca45] . (Parágrafo relacionado: 335)
344 Existe uma solidariedade entre todas as criaturas pelo fato de terem todas o mesmo Criador e
de todas estarem ordenadas à sua glória: (Parágrafos relacionados: 293,139,2416)
Louvado sejas, meu Senhor.
Com todas as tuas criaturas,
Especialmente o senhor irmão Sol,
Que clareia o dia
E com sua LUZ nos alumia.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã água,
Que é muito útil e humildeE preciosa e casta...
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã, a mãe Terra,
Que nos sustenta e governa,
E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas.
Louvai e bendizei a meu Senhor,
E dai-lhe graças,
E servi-o com grande humildade.
(Parágrafo relacionado: 1218)
345 O Sábado - fim da obra dos "seis dias". O texto sagrado diz que "Deus concluiu no sétimo dia
a obra que tinha feito", e assim "o céu e a terra foram terminados", e no sétimo dia Deus "descansou", e
santificou e abençoou este dia (Gn 2,1-3). Essas palavras inspiradas são ricas de ensinamentos salutares:
(Parágrafo relacionado: 2168)
346 Na criação, Deus depositou um fundamento e leis que permanecem estáveis, nos quais o crente
poder apoiar-se com confiança e que para ele serão o sinal e a garantia da fidelidade inabalável da
Aliança de Deus. Por sua parte, o homem deverá ficar fiel a este fundamento e respeitar as leis que o
Criador inscreveu nele. (Parágrafo relacionado: 2169)
347 A criação está em função do Sábado e portanto do culto e da adoração de Deus. O culto está
inscrito na ordem da criação. "Nada se anteponha à obra de Deus", diz a regra de São Bento, indicando
assim a ordem correta das preocupações humanas. (Parágrafos relacionados: 1145,1152)
348 O Sábado constitui o coração da lei de Israel. Observar os mandamentos é corresponder à
sabedoria e à vontade de Deus expressa em sua obra de criação. (Parágrafo relacionado: 2172)
349 O oitavo dia. Mas para nós nasceu um dia novo: o dia da Ressurreição de Cristo. O sétimo dia
encerra a primeira criação. O oitavo dia dá início à nova criação. Assim, a obra da criação culmina na obra
maior da redenção. A primeira criação encontra seu sentido e seu ponto culminante na nova criação em
Cristo, cujo esplendor ultrapassa o da primeira. (Parágrafos relacionados: 2174,1046)
RESUMINDO
350 Os anjos são criaturas espirituais que glorificam a Deus sem cessar e servem a seus desígnios
salvíficos em relação às demais criaturas: "Ad omnia bona nostra cooperantur angeli. - Os anjos cooperam
para todos os nossos bens”
351 Os anjos cercam Cristo, seu Senhor. Servem-no particularmente, no cumprimento de sua missão
salvífica para com os homens.
352 A Igreja venera os anjos que a ajudam em sua peregrinação terrestre e protegem cada ser
humano.
353 Deus quis a diversidade de suas criaturas e a bondade própria delas, sua interdependência e
ordem. Destinou todas a criaturas materiais ao bem do gênero humano. O homem, e por meio dele a criação
inteira, destina-se à glória de Deus.
354 Respeitar as leis inscritas na criação e as relações que derivam da natureza das coisas é
princípio de sabedoria e fundamento da moral.
PARÁGRAFO 6O HOMEM
355 “Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou" (Gn
1,27). O homem ocupa um lugar único na criação: ele é "a imagem de Deus" (I); em sua própria natureza une
o mundo espiritual e o mundo material (II); é criado "homem e mulher" (III); Deus o estabeleceu em sua
amizade (IV). (Parágrafos relacionados: 1700,343)
I. "À IMAGEM DE DEUS"
356 De todas as criaturas visíveis, só o homem é "capaz de conhecer e amar seu Criador”; ele é "a
única criatura na terra que Deus quis por si mesma"; só ele é chamado a compartilhar, pelo conhecimento e
pelo amor, a vida de Deus. Foi para este fim que o homem foi criado, e aí reside a razão fundamental de
sua dignidade: (Parágrafos relacionados: 1703,2258,225)
Que motivo vos fez constituir o homem em dignidade tão grande? O amor inestimável pelo qual
enxergastes em vós mesmo vossa criatura, e vos apaixonastes por ela; pois foi por amor que a criastes, foi
por amor que lhe destes um ser capaz de degustar vosso Bem eterno. (Parágrafo relacionado: 295)
357 Por ser à imagem de Deus, o indivíduo humano tem a dignidade de pessoa: ele não é apenas
alguma coisa, mas alguém. É capaz de conhecer-se, de possuir-se e de doar-se livremente e entrar em
comunhão com outras pessoas, e é chamado, por graça, a uma aliança com seu Criador, a oferecer-lhe uma
resposta de é e de amor que ninguém mais pode dar em seu lugar. (Parágrafos relacionados: 1935,1877)
358 Deus criou tudo para o homem, mas o homem foi criado, para servir e amar a Deus e oferecerlhe toda a criação: (Parágrafos relacionados: 299,901)
Quem é, pois, o ser que vai vir à existência cercado de tal consideração? E o homem, grande e
admirável figura viva, mais precioso aos olhos de Deus do que a criação inteira: é o homem, é para ele que
existem o céu e a terra e o mar e a totalidade da criação, e é à salvação dele que Deus atribuiu tanta
importância que nem sequer poupou seu Filho único em seu favor. Pois Deus não cessou de tudo empreender
para fazer o homem subir até ele e fazê-lo sentar-se à sua direita.
359 Na realidade o mistério do homem só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo
Encarnado." (Parágrafo relacionado: 1701)
São Paulo ensina-nos que dois homens estão na origem do gênero humano: Adão e Cristo... "O
primeiro Adão", diz ele, "foi criado como um ser humano que recebeu a vida; o segundo é um ser espiritual
que dá a vida." O primeiro foi criado pelo segundo, de quem recebeu a alma que o faz viver... O segundo
Adão estabeleceu sua imagem no primeiro Adão quando o modelou. E assim se revestiu da natureza deste
último e dele recebeu o nome, a fim de não deixar perder aquilo que havia feito à sua imagem. Primeiro
Adão, segundo Adão: o primeiro começou, o segundo não acabará. Pois o segundo é verdadeiramente o
primeiro, como ele mesma disse: "Eu sou o Primeiro e o último" (Parágrafos relacionados: 388,411)
360 Graças à Origem comum, o gênero humano forma uma unidade. Pois Deus "de um só fez toda
a raça humana" (At 1 7,26[fca60] ): (Parágrafos relacionados: 225,404,775,831,842)
Maravilhosa visão que nos faz contemplar o gênero humano na unidade de sua origem em Deus...; na
unidade de sua natureza, composta igualmente em todos de um corpo material e de uma alma espiritual; na
unidade de seu fim imediato e de sua missão no mundo; na unidade de seu hábitat: a terra, de cujos bens
todos os homens, por direito natural, podem usar para sustentar e desenvolver a vida; na unidade de seu fim
sobrenatural: Deus mesmo, ao qual todos devem tender; na unidade dos meios para atingir este fim;... na
unidade do seu resgate, realizado em favor de todos por Cristo.
361 "Esta lei de solidariedade humana e de caridade[fca62] ”, sem excluir a rica variedade das
pessoas, das culturas e dos povos, nos garante que todos os homens são verdadeiramente irmãos.
(Parágrafo relacionado: 1939)
II. "CORPORE ET ANIMA UNUS" (UNO DE ALMA E CORPO)362 A pessoa humana, criada à imagem de Deus, é um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual. O
relato bíblico exprime esta realidade com uma linguagem simbólica, ao afirmar que "O Senhor Deus
modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um
ser vivente" (Gn 2,7). Portanto, o homem em sua totalidade é querido por Deus. (Parágrafos relacionados:
1146,2332)
363 Muitas vezes o termo alma designa na Sagrada Escritura a vida humana [fca63] ou a pessoa
humana inteira. Mas designa também o que há de mais íntimo no homem e o que há nele de maior valor,
aquilo que mais particularmente o faz ser imagem de Deus: "alma" significa o princípio espiritual no homem.
(Parágrafo relacionado: 1703)
364 O corpo do homem participa da dignidade da "imagem de Deus": ele é corpo humano
precisamente porque é animado pela alma espiritual, e é a pessoa humana inteira que está destinada a
tornar-se, no Corpo de Cristo, o Templo do Espírito. (Parágrafo relacionado: 1004)
Unidade de corpo e de alma, o homem, por sua própria condição corporal, sintetiza em si os
elementos do mundo material, que nele assim atinge sua plenitude e apresenta livremente ao Criador uma
voz de louvor. Não é, portanto, lícito ao homem desprezar a vida corporal; ao contrario, deve estimar e
honrar seu corpo, porque criado por Deus e destinado à ressurreição no último dia. (Parágrafo relacionado:
2289)
365 A unidade da alma e do corpo é tão profunda que se deve considerar a alma como a "forma"
do corpo; ou seja, é graças à alma espiritual que o corpo constituído de matéria é um corpo humano e vivo;
o espírito e a matéria no homem não são duas naturezas unidas, mas a união deles forma uma única
natureza.
366 A Igreja ensina que cada alma espiritual é diretamente criada por Deus - não é "produzida"
pelos pais - e é imortal: ela não perece quando da separação do corpo na morte e se unirá novamente ao
corpo na ressurreição final. (Parágrafos relacionados: 1005,997)
367 Por vezes ocorre que a alma aparece distinta do espírito. Assim, São Paulo ora para que nosso
"ser inteiro, o espírito, a alma e o corpo", seja guardado irrepreensível na Vinda do Senhor (1 Ts 5,23). A
Igreja ensina que esta distinção não introduz uma dualidade na alma. "Espírito" significa que o homem está
ordenado desde a sua criação para seu fim sobrenatural, e que sua alma é capaz de ser elevada
gratuitamente à comunhão com Deus. (Parágrafo relacionado: 2083)
368 A tradição espiritual da Igreja insiste também no coração, no sentido bíblico de "fundo do ser"
(Jr 31,33), onde a pessoa se decide ou não por Deus. (Parágrafos relacionados:
478,582,1431,1764,2517,2562,2843,2331,2336)
III. "HOMEM E MULHER OS CRIOU"
IGUALDADE E DIFERENÇA QUERIDAS POR DEUS
369 O homem e a mulher são criados, isto é, são queridos por Deus: por um lado, em perfeita
igualdade como pessoas humanas e, por outro, em seu ser respectivo de homem e de mulher. "Ser homem,
'ser mulher" é uma realidade boa e querida por Deus: o homem e a mulher têm uma dignidade inamissível
que lhes vem diretamente de Deus, seu Criador. O homem e a mulher são criados em idêntica dignidade, "à
imagem de Deus". Em seu "ser-homem" e seu "ser-mulher” refletem a sabedoria e a bondade do Criador.
370 Deus não é de modo algum à imagem do homem. Não é nem homem nem mulher. Deus é puro
espírito, não havendo nele lugar para a diferença dos sexos. Mas as "perfeições" do homem e da mulher
refletem algo da infinita perfeição de Deus: as de uma mãe e as de um pai e esposo. (Parágrafos
relacionados: 42,239)
"UM PARA O OUTRO" "UMA UNIDADE A DOIS"
371 Criados conjuntamente, Deus quer o homem e a mulher um para o outro. A Palavra de Deus dá-
nos a entender isto por meio de diversas passagens do texto sagrado. "Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda" (Gn 2,18). Nenhum dos animais pode ser este "vis-à-vis" do
varão[fca80] . A mulher que Deus "modela" da costela tirada do varão e que leva a ele provoca da parte
do homem um grito de admiração, uma exclamação de amor e de comunhão: "É osso de meus e carne de
minha carne" (Gn 2,23). O homem descobre a mulher como um outro "eu" da mesma humanidade.
(Parágrafo relacionado: 1605)
372 O homem e a mulher são feitos "um para o outro": não que Deus os tivesse feito apenas "pela
metade" e "incompletos"; criou-os para uma comunhão de pessoas, na qual cada um dos dois pode ser
"ajuda" para o outro, por serem ao mesmo tempo iguais enquanto pessoas ("osso de meus ossos...") e
complementares enquanto masculino e feminino. No matrimônio, Deus os une de maneira que, formando "uma
só carne" (Gn 2,24), possam transmitir a vida humana: "Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra" (Gn
1,28). Ao transmitir a seus descendentes a vida humana, o homem e a mulher, como esposos e pais,
cooperam de forma única na obra do Criador. (Parágrafo relacionado: 1652,2366)
373 No desígnio de Deus, o homem e a mulher têm a vocação de "submeter" a terra como
"intendentes" de Deus. Esta soberania não deve ser uma dominação arbitrária e destrutiva. À imagem do
Criador "que ama tudo o que existe" (Sb 11,24), o homem e a mulher são chamados a participar da
Providência divina em relação às demais criaturas. Daí a responsabilidade deles para com o mundo que
Deus lhes confiou. (Parágrafos relacionados: 307,2415)
IV. O HOMEM NO PARAÍSO
374 O primeiro homem não só foi criado bom, mas também foi constituído em uma amizade com seu
Criador e em tal harmonia consigo mesmo e com a criação que o rodeava que só serão superadas pela
glória da nova criação em Cristo. (Parágrafo relacionado: 54)
375 Interpretando de maneira autêntica o simbolismo da linguagem bíblica à luz do Novo
Testamento e da Tradição, a Igreja ensina que nossos primeiros pais, Adão e Eva, foram constituídos em um
estado "de santidade e de justiça original". Esta graça da santidade original era uma participação da vida
divina. (Parágrafo relacionado: 1997)
376 Pela irradiação desta graça, todas as dimensões da vida do homem eram fortalecidas.
Enquanto permanecesse na intimidade divina, o homem não devia nem morrer nem sofrer. A harmonia
interior da pessoa humana, a harmonia entre o homem e a mulher e, finalmente, a harmonia entre o primeiro
casal e toda a criação constituíam o estado denominado "justiça original". (Parágrafos relacionados:
1008,1502)
377 O "domínio" do mundo que Deus havia outorgado ao homem desde o início realizava-se antes
de tudo no próprio homem como domínio de si mesmo. O homem estava intacto e ordenação em todo o seu
ser, porque livre da tríplice concupiscência [fca89] que o submete aos prazeres dos sentidos, à cobiça dos
bens terrestres e à auto-afirmação contra os imperativos da razão. (Parágrafo relacionado: 2514)
378 O sinal da familiaridade com Deus é o fato de Deus o colocar no jardim[fca90] . Lá vive "para
cultivá-lo e guardá-lo” (Gn 2,15): o trabalho não é uma penalidade[fca91] , mas sim a colaboração do
homem e da mulher com Deus no aperfeiçoamento da criação visível. (Parágrafos relacionados: 2415,2417)
379 E toda esta harmonia da justiça original, prevista para o homem pelo desígnio de Deus, que
será perdida pelo pecado de nossos primeiros pais.
RESUMINDO
380 "Pai Santo, criastes o homem e a mulher à vossa imagem e lhes confiastes todo o universo, para
que, servindo a Vós, seu Criador, dominassem toda criatura"
381 O homem é predestinado a reproduzir a imagem do Filho de Deus feito homem "imagem do
Deus invisível" (Cl 1,15), a fim de que Cristo seja o primogênito de uma multidão de irmãos e de irmãs.
382 O homem é "corpore et anima unus" (uno de corpo e alma). A doutrina da fé afirma que a alma
espiritual e imortal é criada diretamente por Deus.383 "Deus não criou o homem solitário. Desde o início, 'Deus os criou varão e mulher' (Gn 1,27). Esta
união constituiu a primeira forma de comunhão de pessoas."
384 A revelação dá-nos a conhecer o estado de santidade e de justiça originais do homem e da
mulher antes do pecado: da amizade deles com Deus advinha a felicidade da existência deles no Paraíso.
CAPITULO II - CREIO EM JESUS CRISTO, FILHO ÚNICO DE DEUS
A BOA NOVA: DEUS ENVIOU SEU FILHO
422 "Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus seu Filho, nascido de uma mulher,
nascido sob a Lei, para remir os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial" (Gl 4,4-
5). Este é "o Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus": Deus visitou seu povo, cumpriu as promessas feitas a
Abraão e à sua descendência; fê-lo para além de toda expectativa: enviou seu "Filho bem-amado”.
(Parágrafos relacionados: 389,2763)
423 Cremos e confessamos que Jesus de Nazaré, nascido judeu de uma filha de Israel, em Belém, no
tempo do rei Herodes Magno e do imperador César Augusto, carpinteiro de profissão, morto e crucificado
em Jerusalém, sob o procurador Pôncio Pilatos, durante o reinado do imperador Tibério, é o Filho eterno de
Deus feito homem; que ele "veio de Deus" (Jo 13,3), "desceu do céu" (Jo 3,13; 6,33), "veio na carne", pois "o
Verbo se fez carne e habitou entre nós, e nós vimos sua glória, glória que ele tem junto ao Pai, como Filho
único, cheio de graça e de verdade... Pois de sua plenitude nós recebemos graça por graça" (Jo 1,14-16).
424 Movidos pela graça do Espírito Santo e atraídos pelo Pai, cremos e confessamos acerca de
Jesus: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16,16). Foi sobre a rocha desta fé, confessada por São
Pedro, que Cristo construiu sua Igreja[a5]. (Parágrafos relacionados: 683,552)
"ANUNCIAR... A INSONDÁVEL RIQUEZA DE CRISTO" (Ef 3,8)
425 A transmissão da fé cristã é primeiramente o anúncio de Jesus Cristo, para levar à fé nele.
Desde o começo, os primeiros discípulos ardiam do desejo de anunciar Cristo: "Pois não podemos, nós, deixar
de falar das coisas que vimos e ouvimos" (At 4,20). E convidam os homens de todos os tempos a entrarem na
alegria de sua comunhão com Cristo: (Parágrafos relacionados: 850,858)
O que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas mãos apalparam
do Verbo da vida – porque a Vida manifestou-se: nós a vimos e lhe damos testemunho e vos anunciamos a
Vida Eterna, que estava voltada para o Pai e que no; apareceu -, o que vimos e ouvimos, vo-lo anunciamos
para que estejais também em comunhão conosco. E nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo.
E isto vos escrevemos para que nossa alegria seja completa (1Jo 1,1-4).