OS MISTÉRIOS DA VIDA DE CRISTO

04/09/2012 13:23

 

 

512 No tocante à vida de Cristo, o Símbolo da Fé fala somente dos mistérios da Encarnação

(Conceição e Nascimento) Páscoa (Paixão, Crucifixão, Morte, Sepultamento, Descida aos Infernos,

Ressurreição, Ascensão). Não diz nada, explicitamente dos mistérios da vida oculta e pública de Jesus. Mas

os artigos da fé referentes à Encarnação e à Páscoa de Jesus iluminam toda a vida terrestre de Cristo. "Tudo

o que Jesus fez e ensinou, desde o começo até o dia em que foi arrebatado" (At 1,1-2), deve ser visto à luz

dos mistérios do Natal e da Páscoa. (Parágrafo relacionado:  1163)

513 A Catequese, conforme as circunstâncias, há desenvolver toda a riqueza dos Mistérios de Jesus.

Aqui é suficiente indicar alguns elementos comuns a todos os mistérios da vida de Cristo (I), para em seguida

esboçar os principais mistérios da vida oculta (II) e pública (III) de Jesus. (Parágrafos relacionados: 426,561)

I- TODA A VIDA DE CRISTO É MISTÉRIO

514 Muitas coisas que interessam à curiosidade humana acerca de Jesus não figuram nos Evangelhos.

Quase nada é dito sobre sua vida em Nazaré, e mesmo uma grande parte de sua vida pública não é

relatada. O que foi escrito nos Evangelhos foi "para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para

que, crendo, tenhais a vida em seu nome" (Jo 20, 31).

515 Os Evangelhos foram escritos por homens que estiveram entre os primeiros a ter a fé [a2] e que

queriam compartilhá-la com outros. Depois de terem conhecido na fé quem é Jesus, puderam ver e fazer ver

os traços de seu  mistério em toda a sua vida terrestre. Desde os paninhos de sua natividade até o vinagre

de sua Paixão e o sudário de sua Ressurreição, tudo na vida de Jesus é sinal de seu Mistério. Por meio de

seus gestos, de seus milagres, de suas palavras, foi revelado que "nele habita corporalmente toda a

plenitude da divindade" (Cl 2,9). Sua humanidade aparece, assim, como o "sacramento", isto é, o sinal e o

instrumento de sua divindade e da salvação que ele traz: o que havia de visível em sua vida terrestre

apontava  para o mistério invisível de sua filiação divina e de sua missão redentora. (Parágrafos

relacionados: 126,609,774,477)

OS TRAÇOS COMUNS DOS MISTÉRIOS DE JESUS

516 Toda a vida de Cristo é Revelação do Pai: suas palavras e seus atos, seus silêncios e seus

sofrimentos, sua maneira de ser e de falar. Jesus pode dizer: "Quem me vê, vê o Pai" (Jo 14,9); e o Pai pode

dizer: "Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o" (Lc 9,35). Tendo Nosso Senhor se feito homem para cumprir a

vontade do Pai, Os mínimos traços de seus mistérios nos manifestam "o amor de Deus por nos". (Parágrafos

relacionados: 65,2708)

517 Toda a vida de Cristo é mistério de Redenção. A Redenção nos vem antes de tudo pelo sangue

da Cruz, mas este mistério está  em ação em toda a vida de Cristo: já em  sua Encarnação, pela qual,

fazendo-se pobre, nos enriqueceu por sua pobreza; em sua vida oculta, que, por sua submissão, serve de

reparação para nossa insubmissão; em sua palavra, que purifica seus ouvintes; em suas curas e em seus

exorcismos, pelos quais "levou nossas fraquezas e carregou nossas doenças" (Mt 8,17); em sua Ressurreição,

pela qual nos justifica. (Parágrafos relacionados: 606,1115) 518  Toda a vida de Cristo é mistério de Recapitulação. Tudo o que Jesus fez, disse e sofreu tinha

por meta restabelecer o homem caído em sua vocação primeira: (Parágrafos relacionados: 668,2748)

Quando ele se encarnou e se fez homem, recapitulou em si mesmo a longa história dos homens e, em

resumo, nos proporcionou a salvação, de sorte que aquilo que havíamos perdido em Adão, isto é, sermos à

imagem e à semelhança de Deus, o recuperamos em Cristo Jesus. É, aliás, por isso que Cristo passou por

todas as idades da vida, restituindo com isto a os homens a comunhão com Deus.

NOSSA COMUNHÃO COM OS MISTÉRIOS DE JESUS

519  Toda a riqueza de Cristo "é destinada a cada homem e constitui o bem de cada um". Cristo não

viveu sua vida para si mesmo, mas para nós, desde sua Encarnação "por nossos homens, e por nossa

salvação" até sua Morte "por nossos pecados" (1Cor 15,3) e sua Ressurreição "para nossa justificação" (Rm

4,25). Ainda agora, Ele é "nosso advogado junto do Pai" (1Jo 2,1), "estando sempre vivo para interceder a

nosso favor" (Hb 7,25). Com tudo o que viveu e sofreu por nós vez por todas, Ele permanece presente para

sempre "diante face de Deus a nosso favor" (Hb 9,24). (Parágrafos relacionados: 793,602,1085)

520  Em toda a sua vida, Jesus mostra-se como nosso modelo. Ele é "o homem perfeito" que nos

convida a tomar-nos seus discípulos e a segui-lo: por seu rebaixamento, deu-nos um exemplo a imitar; por

sua oração, atrai à oração; por sua pobreza chama a aceitar livremente o despojamento e as perseguições.

(Parágrafos relacionados: 459,359,2609)

521  Tudo o que Cristo viveu foi para que pudéssemos vivê-lo nele e para que Ele o vivesse em nos.

"Por sua Encarnação, o Filho de Deus, de certo modo, se uniu a todo homem." Nós somos chamados a ser uma

só coisa com Ele; Ele nos faz partilhar (comungar), como membros de seu corpo, de tudo o que (Ele), por nós

e como nosso modelo, viveu em sua carne. (Parágrafos relacionados: 2715,1391)

Devemos continuar e realizar em nós os estados e os mistérios de Jesus, e pedir-lhe muitas vezes que

os complete e realize em nós e em toda a sua Igreja... Pois o Filho de Deus deseja conceder uma certa

participação, e fazer como que uma extensão e continuação de seus mistérios em nós e em toda a sua Igreja,

pelas graças que quer comunicar-nos, e pelos efeitos que quer operar em nós por esses mistérios. Por estes

meios quer realizá-los em nós.II. OS MISTÉRIOS DA INFÂNCIA E DA VIDA OCULTA DE JESUS

A PREPARAÇÃO

522 A vinda do Filho de Deus à terra é um acontecimento de tal imensidão que Deus quis prepará-lo

durante séculos. Ritos e sacrifícios, figuras e símbolos da "Primeira Aliança", tudo ele  faz convergir para

Cristo; anuncia-o pela boca dos profetas que se sucedem em Israel. Desperta, além disso, no coração dos

pagãos a obscura expectativa desta vinda. (Parágrafos relacionados: 711,762)

523 São João Batista é o precursor imediato do Senhor,  enviado para preparar-lhe o caminho.

"Profeta do Altíssimo" (Lc; 1,76), ele supera todos os profetas, deles é o último, inaugura o Evangelho; saúda

a vinda de Cristo desde o seio de sua mãe e encontra sua alegria em ser "o amigo do esposo" (Jo 3,29), que

designa como "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1,29). Precedendo a Jesus "com o

espírito e o poder de Elias" (Lc 1,17), dá-lhe testemunho por sua pregação, seu batismo de conversão e,

finalmente, seu martírio. (Parágrafos relacionados: 712,720)

524 Ao celebrar cada ano a liturgia do Advento, a Igreja atualiza esta espera do Messias:

comungando com a longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo de

sua Segunda Vinda. Pela celebração da natividade e do martírio do Precursor, a Igreja se une a seu desejo:

"É preciso que Ele cresça e que eu diminua" (Jo 3,30). (Parágrafo relacionado:  1171)

O MISTÉRIO DO NATAL

525  Jesus nasceu na humildade de um estábulo, em uma família pobre; as primeiras testemunhas do

evento são simples pastores. É nesta pobreza que se manifesta a glória do Céu. A Igreja não se cansa de

cantar a glória dessa noite: Hoje a Virgem traz ao mundo o Eterno. (Parágrafos relacionados: 437,2443)

E a terra oferece uma gruta ao Inacessível.

Os anjos e os pastores o louvam

E os magos caminham com a estrela.

Pois Vós nascestes por nós, Menino, Deus eterno!

526  "Tornar-se criança" em relação a Deus é a condição para entrar no Reino; para isso é preciso

humilhar-se, tornar-se pequeno; mais ainda:  é preciso "nascer do alto" (Jo 3,7), "nascer de Deus" para

tornar-nos filhos de Deus. O mistério do Natal realiza-se em nós quando Cristo "toma forma" em nós. O

Natal é o mistério deste "admirável intercâmbio:

O admirabile commercium! Creator generis humani, anima corpus sumens, de Vir gine nasci digna tus

est; et procedens homo sine semine, largitus est nobis suam deitatem - Admirável intercâmbio! O Criador da

humanidade, assumindo corpo e dignou-se nascer de uma Virgem; e, tomando-se homem intervenção do

homem, nos doou sua própria divindade! (Parágrafo relacionado:  460)

Os MISTÉRIOS DA INFÂNCIA DE JESUS

527 A circuncisão de Jesus, no oitavo dia depois de seu nascimento, é sinal de sua inserção na

descendência de Abraão, no povo da Aliança, de sua submissão à Lei e de capacitação para o culto de

Israel, do qual participará durante sua toda a vida. Este sinal prefigura "a circuncisão de Cristo", que é o

Batismo. (Parágrafos relacionados: 580,1214)

528  A epifania é a manifestação de Jesus como Messias Israel, Filho de Deus e Salvador do mundo.

Com o Batismo de Jesus no Jordão e com as bodas de Caná, ela celebra a adoração de Jesus pelos

"magos" vindos do Oriente. Nesses "magos", representantes das religiões pagãs circunvizinhas, o Evangelho

vê as primícias das nações que acolhem a Boa Nova da salvação pela Encarnação. A vinda dos magos a

Jerusalém para "adorar ao Rei dos Judeus" mostra que eles procuram em Israel, à luz messiânica da estrela de Davi, aquele que será  o Rei das nações[a50] . Sua vinda significa que os pagãos só podem descobrir

Jesus e adorá-lo como Filho de Deus e Salvador do mundo voltando-se para os judeus recebendo deles sua

promessa messiânica, tal como está  contida no Antigo Testamento. A Epifania manifesta que "a plenitude

dos pagãos entra na família dos patriarcas" e adquire a "dignidade israelítica". (Parágrafos relacionados: 

439,711-716,122)

529  A apresentação de Jesus no Templo mostra-o como o Primogênito pertencente ao Senhor. Com

Simeão e Ana, é toda a espera de Israel que vem  ao encontro de seu Salvador (a tradição bizantina

designa com este termo tal acontecimento). Jesus é reconhecido como o Messias tão esperado, "luz das

nações" e "Glória de Israel", mas também "sinal de contradição". A espada de dor predita a Maria anuncia

esta outra oblação, perfeita e única, da Cruz, que dará  a salvação que Deus "preparou diante de todos os

povos". (Parágrafos relacionados: 583,439,614)

530 A fuga para o Egito e o massacre dos inocentes manifestam a oposição das trevas à luz: "Ele

veio para o que era seu e os seus não o receberam" (Jo 1,11). Toda a vida de Cristo estará  sob o signo da

perseguição. Os seus compartilham com Ele esta perseguição. Sua volta do Egito lembra o Êxodo e

apresenta Jesus como o libertador definitivo. (Parágrafo relacionado:  574)

OS MISTÉRIOS DA VIDA OCULTA DE JESUS

531 Durante a maior parte de sua vida, Jesus compartilhou a condição da imensa maioria dos

homens: uma vida cotidiana. Sem grandeza aparente, vida de trabalho manual, vida religiosa judaica

submetida à Lei de Deus, vida na comunidade. De todo este período é-nos revelado que Jesus era "submisso"

a seus pais e que "crescia em sabedoria, em estatura em graça diante de Deus e diante dos homens" (Lc

2,52). (Parágrafo relacionado:  2427)

532  A submissão de Jesus a sua Mãe e a seu pai legal cumpre com perfeição o quarto mandamento.

Ela é a imagem temporal de sua obediência filial a seu Pai celeste. A submissão diária de Jesus a José e a

Maria anunciava e antecipava a submissão da Quinta-feira Santa: "Não a minha vontade..." (Lc 22,42). A

obediência de Cristo no cotidiano da vida condida inaugurava já  a obra de restabelecimento daquilo a

desobediência de Adão havia destruído. (Parágrafos relacionados: 2214,2220,612)

533   A vida oculta de Nazaré permite a todo homem estar unido a Jesus nos caminhos mais

cotidianos da vida: Nazaré é a escola na qual se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do

Evangelho... Primeiramente, uma lição de silêncio. Que nasça em nós a estima do silêncio, esta admirável e

indispensável condição do espírito... Uma lição de vida familiar. Que Nazaré nos ensine o que é a família,

sua comunhão de amor, sua beleza austera e simples, seu caráter sagrado e inviolável... Uma lição de

trabalho. Nazaré, ó casa do "Filho do Carpinteiro", é aqui que gostaríamos de compreender e celebrar a lei

severa e redentora do trabalho humano...; assim como gostaríamos finalmente de saudar aqui todos os

trabalhadores do mundo inteiro e mostrar-lhes seu grande modelo, seu Irmão divino. (Parágrafos

relacionados: 2717,2427)

534 O reencontro de Jesus no Templo é o único acontecimento que rompe o silêncio dos Evangelhos

sobre os anos ocultos de Jesus. Nele Jesus deixa entrever o mistério de sua consagração total a uma missão

decorrente de sua filiação divina: "Não sabíeis que devo ocupar-me com as coisas de meu Pai?" (Lc 2,49).

Maria e José "não compreenderam" esta palavra, mas a acolheram na fé, e Maria "guardava a lembrança

de todos esses fatos em seu coração" (Lc 2,51), ao longo dos anos em que Jesus permanecia mergulhado no

silêncio de uma vida ordinária. (Parágrafos relacionados: 583,2599,964)

III. OS MISTÉRIOS DA VIDA PÚBLICA DE JESUS

O BATISMO DE JESUS

535  A vida pública de Jesus tem início com seu Batismo por João no rio Jordão. João Batista

proclamava "um batismo de arrependimento para a remissão dos pecados" (Lc 3,3). Uma multidão de

pecadores, de publicanos e soldados, fariseus e saduceus e prostitutas vem fazer-se batizar por ele. Jesus

aparece, o Batista hesita, mas Jesus insiste. E Ele recebe o Batismo. Então o Espírito Santo, sob forma de

pomba, vem sobre Jesus, e a voz do céu proclama: "Este é o meu Filho bem-amado" (Mt 3,13-17). É a manifestação ("Epifania") de Jesus como Messias de Israel e Filho de Deus. (Parágrafos relacionados: 719-

720,701,438)

536  O Batismo de Jesus é, da parte dele, a aceitação e a inauguração de sua missão de Servo

sofredor. Deixa-se contar entre os pecadores; é, já, "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo

1,29), antecipa já  o "Batismo" de sua morte sangrenta. Vem, já, "cumprir toda a justiça" (Mt 3,15), ou seja,

submete-se por inteiro à vontade de seu Pai: aceita por amor este batismo de morte para a remissão de

nossos pecados. A esta aceitação responde a voz do Pai, que coloca toda a sua complacência em seu Filho.

O Espírito que Jesus possui em plenitude desde a sua concepção vem "repousar" sobre Ele. Jesus ser  a fonte

do Espírito para toda a humanidade. No Batismo de Jesus, "abriram-se os Céus" (Mt 3,16) que o pecado de

Adão havia fechado; e as  águas são santificadas pela descida de Jesus e do Espírito, prelúdio da nova

criação. (Parágrafos relacionados: 606,1224,444,727,739)

537  Pelo Batismo, o cristão é sacramentalmente assimilado a Jesus, que antecipa em seu Batismo a

sua Morte e a sua Ressurreição; deve entrar neste mistério de rebaixamento humilde e de arrependimento,

descer à  água com Jesus para subir novamente com ele, renascer da  água e do Espírito para tornar-se, no

Filho, filho bem-amado do Pai e "viver em uma vida nova" (Rm 6,4): (Parágrafo relacionado: 1262)

Sepultemo-nos com Cristo pelo Batismo, para ressuscitar com Ele; desçamos com Ele, para ser

elevados com Ele; subamos novamente com Ele, para ser glorificados nele. (Parágrafo relacionado:  628)

Tudo o que aconteceu com Cristo dá-nos a conhecer que, depois da imersão na  água, o Espírito

Santo voa sobre nós do alto do Céu e que, adotados pela Voz do Pai, nos tornamos filhos de Deus.

A TENTAÇÃO DE JESUS

538 Os Evangelhos falam de um tempo de solidão de Jesus no deserto, imediatamente após seu

Batismo por João: "Levado pelo Espírito" ao deserto, Jesus ali fica quarenta dias sem comer, vive com os

animais selvagens e os anjos o servem[a78] . No final dessa permanência, Satanás o tenta por três vezes

procurando questionar sua atitude filial para com Deus. Jesus rechaça esses ataques que recapitulam as

tentações de Adão no Paraíso e de Israel no deserto, e o Diabo afasta-se dele "até o tempo oportuno" (Lc

4,13). (Parágrafos relacionados: 394,518)

539 Os evangelistas assinalam o sentido salvífico desse acontecimento misterioso. Jesus é o novo

Adão, que ficou fiel onde o primeiro sucumbiu à tentação. Jesus cumpre à perfeição a vocação de Israel:

contrariamente aos que provocai outrora a Deus durante quarenta anos no deserto, Cristo se revela como o

Servo de Deus totalmente obediente à vontade divina. Nisso Jesus é vencedor do Diabo: ele "amarrou o

homem forte" para retomar-lhe a presa. A vitória de Jesus sobre o tentador no deserto antecipa a vitória da

Paixão, obediência suprema de seu amor filial ao Pai. (Parágrafos relacionados: 397,385)

540  A tentação de Jesus manifesta a maneira que o Filho de Deus tem de ser Messias o oposto da

que lhe propõe Satanás e que os homens desejam atribuir-lhe. E por isso que Cristão venceu o Tentador por

nós: "Pois não temos um sumo sacerdote incapaz de compadecer-se de nossas fraquezas, pois Ele mesmo foi

provado em tudo como nós, com exceção do pecado" (Hb 4,15). A Igreja se une a cada ano, mediante os

quarenta dias da Grande Quaresma, ao mistério de Jesus no deserto. (Parágrafos relacionados:

2119,519,2849,1438)

"O REINO DE DEUS ESTÁ BEM PRÓXIMO"

541  "Depois que João foi preso, Jesus veio para a Galiléia proclamando, nestes termos, o Evangelho

de Deus: "Cumpriu-se O tempo e o Reino de Deus está  próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho"' (Mc

1,14-15). "Para cumprir a vontade do Pai, Cristo inaugurou o Reino dos céus na terra." Ora, a vontade do

Pai é "elevar os homens à participação da Vida Divina". Realiza tal intento reunindo os homens em torno de

seu Filho, Jesus Cristo. Esta reunião é a Igreja, que é na terra "O germe e o começo do Reino de Deus".

(Parágrafos relacionados: 2816,763,669,768,865)

542  Cristo está  no centro do congraçamento dos homens na "família de Deus". Convoca-os junto a si

por sua palavra, por seus sinais que manifestam o reino de Deus, pelo envio de seus discípulos. Realizar  a

vinda de seu Reino sobretudo pelo grande mistério de sua Páscoa: sua morte na Cruz e sua Ressurreição. "E eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim" (Jo 12,32). A esta união com Cristo são chamados

todos os homens. (Parágrafos relacionados: 2233,789)

O ANUNCIO DO REINO DE DEUS

543 Todos os homens são chamados a entrar no Reino. Anunciado primeiro aos filhos de Israel, este

Reino messiânico está destinado a acolher os homens de todas as nações. Para ter acesso a ele, é preciso

acolher a palavra de Jesus: (Parágrafo relacionado:  764)

Pois a palavra do Senhor é comparada à semente semeada no campo: os que a ouvem com fé e são

contados no número da pequena grei de Cristo receberam o próprio Reino; depois, por sua própria força, a

semente germina e cresce até o tempo da messe.

544 O Reino pertence aos pobres e aos pequenos, isto é, aos que o acolheram com um coração

humilde. Jesus é enviado para "evangelizar os pobres" (Lc 4,18). Declara-os bem-aventurados, pois "o Reino

dos Céus é deles" (Mt 5,3); foi aos "pequenos" que o Pai se dignou revelar o que permanece escondido aos

sábios e aos entendidos. Jesus compartilha a vida dos pobres desde a manjedoura até a cruz; conhece a

fome, a sede e a indigência. Mais ainda: identifica-se com os pobres de todos os tipos e faz do amor ativo

para com eles a condição para se entrar em seu Reino. (Parágrafos relacionados: 709,2443,2546)

545  Jesus convida os pecadores à mesa do Reino: "Não vim chamar justos, mas pecadores" (Mc

2,17). Convida-os à conversão, sem a qual não se pode entrar no Reino, mas mostrando-lhes, com palavras e

atos, a misericórdia sem limites do Pai por eles e a imensa "alegria no céu por um  único pecador que se

arrepende" (Lc 15,7). A prova suprema deste amor ser  o sacrifício de sua própria vida "em remissão dos

pecados" (Mt 26.28). (Parágrafos relacionados: 1443,588,1846,1439)

546  Jesus convida a entrar no Reino por meio das parábolas, traço típico de seu ensinamento[a97] .

Por elas, convida ao festim do Reino, mas exige também uma opção radical: para adquirir o Reino é preciso

dar tudo; as palavras não bastam, são necessários atos As parábolas são como espelhos para o homem: este

acolhe a palavra como um solo duro ou como uma terra boa? Que faz ele dos talentos recebidos[a102] ?

Jesus e a presença do Reino neste mundo estão secretamente no coração das parábolas. E preciso entrar no

Reino, isto é, tomar-se discípulos de Cristo para "conhecer os mistérios do Reino dos Céus" (Mt 13,11). Para

os que ficam "de fora" (Mc 4,11), tudo permanece enigmático. (Parágrafos relacionados: 2613,542)

OS SINAIS DO REINO DE DEUS

547  Jesus acompanha suas palavras com numerosos "milagres, prodígios e sinais" (At 2,22) que

manifestam que o Reino está presente nele. Atestam que Jesus é o Messias anunciado. (Parágrafos

relacionados: 670,439)

548  Os sinais operados por Jesus testemunham que o Pai o enviou. Convidam a crer nele. Aos que a

Ele se dirigem com fé, concede o que pedem. Assim, os milagres fortificam a fé naquele que realiza as obras

de seu Pai: testemunham que Ele é o Filho de Deus. Eles podem também ser "ocasião de escândalo". Não se

destinam a satisfazer a curiosidade e os desejos mágicos. Apesar de seus milagres tão evidentes, Jesus é

rejeitado por alguns; acusam-no até de agir por intermédio dos demônios. (Parágrafos relacionados:

156,2616,574,447)

549  Ao libertar certas pessoas dos males terrestres da fome, da injustiça, da doença e da morte,

Jesus operou sinais messiânicos; não veio, no entanto, para abolir todos os males da terra, mas para libertar

os homens da mais grave das escravidões, a do pecado, que os entrava em sua vocação de filhos de Deus e

causa todas as suas escravidões humanas. (Parágrafos relacionados: 1503,440)

550   O advento do Reino de Deus é a derrota do reino de Satanás: "Se é pelo Espírito de Deus que

eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já  chegou a vós" (Mt 12,28). Os exorcismos de Jesus

libertam homens do domínio dos demônios. Antecipam a grande vitória de Jesus sobre "o príncipe deste

mundo". E pela Cruz de Cristo que o Reino de Deus ser  definitivamente estabelecido: "Regnavit a ligno Deus

- Deus reinou do alto do madeiro". (Parágrafos relacionados: 394,1673,440,2816)

"AS CHAVES DO REINO"551  Desde o início de sua vida pública, Jesus escolhe homens em número de doze para estar com Ele

e para participar de sua missão; dá-lhes participação em sua autoridade "e enviou-os a proclamar o Reino

de Deus e a curar" (Lc 9,2). Permanecem eles para sempre associados ao Reino de Cristo, pois Jesus dirige a

Igreja por intermédio deles: (Parágrafos relacionados: 858,765)

Disponho para vós o Reino, como meu Pai o dispôs para mim, a fim de que comais e bebais à minha

mesa em meu Reino, e vos senteis em tronos para julgar as doze tribos de Israel (Lc 22,29-30).

552  No colégio dos Doze, Simão Pedro ocupa o primeiro lugar[. Jesus confiou-lhe uma missão única.

Graças a uma revelação vinda do Pai, Pedro havia confessado: "Tu és o  Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt

16,16). Nosso Senhor lhe declara na ocasião: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as

Portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela" (Mt 16,18). Cristo, "Pedra viva"; garante a sua Igreja

construída sobre Pedro a vitória sobre as potências de morte. Pedro, em razão da fé por ele confessada,

permanecerá como a rocha inabalável da Igreja. Terá  por missão defender esta fé de todo desfalecimento

e confirmar nela seus irmãos[. (Parágrafos relacionados: 880,153,442,424)

553  Jesus confiou a Pedro uma autoridade específica: "Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: o

que ligares na terra será ligado nos Céus, e o que desligares na terra será  desligado nos Céus" (Mt 16,19).

O "poder das chaves" designa a autoridade para governar a casa de Deus, que é a Igreja. Jesus, "o Bom

Pastor" (Jo 10,11), confirmou este encargo depois de sua Ressurreição: "Apascenta as minhas ovelhas" (Jo

21,15-17). O poder de "ligar e desligar" significa a autoridade para absolver os pecados, pronunciar juízos

doutrinais e tomar decisões disciplinares na Igreja. Jesus confiou esta autoridade à Igreja pelo ministério dos

apóstolos e particularmente de Pedro, o único ao qual confiou explicitamente as chaves do Reino.

(Parágrafos relacionados: 381,1445,641,881)

UM ANTEGOZO DO REINO: A TRANSFIGURAÇÃO

554 A partir do dia em que Pedro confessou que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, o Mestre

"começou a mostrar a seus discípulo que era necessário que fosse a Jerusalém e sofresse... que fosse morto e

ressurgisse ao terceiro dia" (Mt 16,21): Pedro rechaça este anúncio, os demais também não o compreendem.

É neste contexto que se situa o episódio misterioso da Transfiguração de Jesus sobre um monte elevado,

diante de três testemunhas escolhidas por ele: Pedro, Tiago e João. O rosto e as vestes de Jesus tornam-se

fulgurantes de luz, Moisés e Elias aparecem, "falavam de sua partida que iria se consumar em Jerusalém" (Lc

9,31). Uma nuvem os cobre e uma voz do céu diz: "Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o" (Lc 9,35). (Parágrafos

relacionados: 697,2600,444)

555  Por um instante, Jesus mostra sua glória divina, confirmando, assim, a confissão de Pedro. Mostra

também que, para "entrar em sua glória" (Lc 24,26), deve passar pela Cruz em Jerusalém. Moisés e Elias

haviam visto a glória de Deus sobre a Montanha; a Lei e os profetas tinham anunciado os sofrimentos do

Messias. A Paixão de Jesus é sem dúvida a vontade do Pai: o Filho age como servo de Deus. A nuvem indica

a presença do Espírito Santo: "Tota Trinitas apparuit: Pater in voce; Filius in homine, Spiritus in nube clara - A

Trindade inteira apareceu: o Pai, na voz; o Filho, no homem; o Espírito, na nuvem clara. (Parágrafos

relacionados: 2576,2583,257)

Vós vos transfigurastes na montanha e, porquanto eram capazes, vossos discípulos contemplaram

vossa Glória, Cristo Deus, para que, quando vos vissem crucificado, compreendessem que vossa Paixão era

voluntária e anunciassem ao mundo que vós sois verdadeiramente a irradiação do Pai.

556  No limiar da  vida pública, o Batismo; no limiar da Páscoa, a Transfiguração. Pelo Batismo de

Jesus "declaratum fuit mysterium primae regenerationis - foi manifestado o mistério da primeira

regeneração": o nosso Batismo; a Transfiguração "est sacramentum secundae regenerationis - é o sacramento

da segunda regeneração": a nossa própria ressurreição. Desde já  participamos da Ressurreição do Senhor

pelo Espírito Santo que age nos sacramentos do Corpo de Cristo A Transfiguração dá-nos um antegozo da

vinda gloriosa do Cristo, "que transfigurar  nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso" (Fl

3,21). Mas ela nos lembra também "que é preciso passarmos por muitas tribulações para entrarmos no Reino

de Deus" (At 14,22): (Parágrafos relacionados: 1003)

Pedro ainda  não tinha compreendido isso ao desejar viver com Cristo sobre a montanha. Ele

reservou-te isto, Pedro, para depois da morte. Mas agora Ele mesmo diz: Desce para sofrer na terra, para

servir na terra, para ser desprezado, crucificado na terra. A Vida desce para fazer-se matar; o Pão desce para ter fome; o Caminho desce para cansar-se da caminhada; a Fonte desce para ter sede; e tu recusas

Sofrer?

A SUBIDA DE JESUS A JERUSALÉM

557  "Ora, quando se completaram os dias de sua elevação, Jesus tomou resolutamente o caminho de

Jerusalém" (Lc 9, 51). Com esta decisão, indicava que subia a Jerusalém pronto para morrer. Por três vezes

tinha anunciado sua Paixão e sua Ressurreição. Ao dirigir-se para Jerusalém, disse: "Não convém que um

profeta pereça fora de Jerusalém" (Lc 13,33).

558  Jesus lembra o martírio dos profetas que tinham sido mortos em Jerusalém. Todavia, persiste em

convidar Jerusalém a congregar-se em torno dele: "Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a

galinha recolhe seus pintainhos debaixo das asas... e não o quiseste" (Mt 23,37b). Quando Jerusalém está à

vista, chora sobre ela e exprime uma vez mais o desejo de seu coração: "Ah! Se neste dia também tu

conhecesses a mensagem de paz! Agora, porém, isto está  escondido a teus olhos" (Lc 19,42).

A ENTRADA MESSIÂNICA DE JESUS EM JERUSALÉM

559 Como vai Jerusalém acolher seu Messias? Embora sempre se tivesse subtraído às tentativas

populares de fazê-lo rei. Jesus escolhe o momento e prepara os detalhes de sua entrada messiânica na

cidade de "Davi, seu pai" (Lc 1,32). É aclamado como o filho de Davi, aquele que traz a salvação ("Hosana"

quer dizer salva-nos!", "dá a salvação!") Ora, o "Rei de Glória" (Sl 24,7-10) entra em sua cidade "montado

em um jumento" (Zc 9,9): não conquista a Filha de Sião figura de sua Igreja, pela astúcia nem pela violência,

mas pela humildade que dá  testemunho da Verdade. Por isso os súditos de seu Reino, nesse dia, são as

crianças e os "pobres de Deus" que o aclamam como os anjos o anunciaram aos pastores. A aclamação deles

- "Bendito seja o que vem em nome do Senhor" (S1 118,26)- é retomada pela Igreja no "Sanctus" da liturgia

eucarística, para abrir o memorial da Páscoa do Senhor. (Parágrafos relacionados: 333,1352)

560 A entrada de Jesus em Jerusalém manifesta a vinda do Reino que o Rei-Messias vai realizar

pela Páscoa de sua Morte e de sua Ressurreição. E com sua celebração, no Domingo de Ramos, que a

liturgia da Igreja abre a grande Semana Santa. (Parágrafos relacionados: 550,2816,1169)

RESUMINDO

561  "Toda a vida de Cristo foi um contínuo ensinamento: seus silêncios, seus milagres, seus gestos, sua

oração, seu amor ao homem, sua predileção pelos pequenos e pelos pobres, a aceitação do sacrifício total

na Cruz pela redenção do mundo, Sua Ressurreição constituem a atuação de sua palavra e o cumprimento

da Revelação.

562 Os discípulos de Cristo devem conformar-se com Ele até Ele se formar neles" É por isso que

somos inseridos nos mistérios de sua vida, com Ele configurados, com Ele mortos e com Ele ressuscitados, até

que com Ele reinemos.

563  "Seja pastor, seja mago, não se pode atingir a Deus na terra senão ajoelhando-se diante da

manjedoura de Belém e adorando-o escondido na fraqueza de uma criança.

564  Por sua submissão a Maria e José, assim como por seu humilde trabalho durante longos anos em

Nazaré, Jesus nos dá o exemplo da santidade na vida cotidiana da família e do trabalho.

565  Desde o início de sua vida pública, em seu Batismo, Jesus é o "Servo", inteiramente consagrado

à obra redentora que se realizará  pelo "Batismo" de sua paixão.

566  A tentação no deserto mostra Jesus, Messias humilde que triunfa sobre Satanás por sua total

adesão ao desígnio de salvação querido pelo Pai.

567  O Reino dos céus foi inaugurado na terra por Cristo. "Manifesta-se lucidamente aos homens na

palavra, nas obras e na presença de Cristo. "A Igreja é o germe e o começo desde Reino. Suas chaves são

confiadas a Pedro.568 A Transfiguração de Cristo tem por finalidade fortificar a fé dos apóstolos em vista da Paixão:

a subida à "elevada montanha" prepara a subida ao Calvário. Cristo, Cabeça da Igreja, manifesta o que

seu Corpo contém e irradia nos sacramentos "a esperança da Glória" (Cl 1,27[a149] ).

569  Jesus subiu voluntariamente a Jerusalém, embora soubesse que lá  morreria de morte violenta

por causa da contradição por parte dos pecadores.

570 A entrada de Jesus em Jerusalém manifesta a vinda do Reino que o Rei-Messias, acolhido em

sua cidade pelas crianças e pelos humildes de coração, vai realizar por meio da Páscoa de sua Morte  e

Ressurreição.

ARTIGO 4 :

"JESUS CRISTO PADECEU SOB PÔNCIO PILATOS,  FOI CRUCIFICADO, MORTO E SEPULTADO"

571 O mistério pascal da Cruz e da Ressurreição de Cristo está  no centro da Boa Nova que os

apóstolos e a Igreja, na esteira deles, devem anunciar ao mundo. O projeto salvador de Deus realizou-se

"uma vez por todas" (Hb 9,26) pela morte redentora de seu Filho, Jesus Cristo. (Parágrafo relacionado:

1067)

572  A Igreja permanece fiel à "interpretação de todas as Escrituras" dada por Jesus mesmo antes e

também depois de sua Páscoa. "Não era preciso que Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua glória?" (Lc

24,26). Os sofrimentos de Jesus tomaram sua forma histórica concreta pelo fato de ele ter sido "rejeitado

pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas" (Mc 8,31), que o "entregarão aos gentios para

ser escarnecido, açoitado e crucificado" (Mt 20,19). (Parágrafo relacionado: 599)

573  A fé pode, pois, tentar perscrutar as circunstâncias da Morte de Jesus, transmitidas fielmente

pelos Evangelhos e iluminadas por outras fontes históricas, para melhor compreender o sentido da Redenção.

(Parágrafo relacionado:  158)

PARÁGRAFO I - JESUS E ISRAEL

574 Desde o início do ministério público de Jesus, fariseus e adeptos de Herodes, com sacerdotes e

escribas, mancomunaram-se para matá-lo. Por causa de certos atos por ele praticados (expulsão de

demônios, perdão dos pecados, curas em dia de sábado [a6] interpretação original dos preceitos de pureza

da Lei, de pureza da Lei, familiaridade com os publicanos e com pecadores públicos), Jesus pareceu a

alguns mal-intencionados, suspeito de possessão demoníaca. Ele é acusado de blasfêmia e de falso

profetismo, crimes religiosos que a Lei punia com a pena de morte sob forma de apedrejamento.

(Parágrafos relacionados: 530,591)

575 Muitos atos e palavras de Jesus constituíram, portanto, um sinal de contradição" para as

autoridades religiosas de Jerusalém – que o Evangelho de São João com freqüência denomina "os judeus" –

mas ainda do que para o comum do povo de Deus. Sem dúvida, suas relações com os fariseus não foram

exclusivamente polêmicas. São os fariseus que o previnem do perigo que corre. Jesus elogia alguns deles,

como o escriba de Mc 12,34, e repetidas vezes come com fariseus. Jesus confirma doutrinas compartilhadas

por essa elite religiosa do povo de Deus: a ressurreição dos mortos, as formas de piedade (esmola, jejum e

oração) e o hábito de dirigir-se a Deus como Pai, a centralidade do mandamento do amor a Deus e ao

próximo. (Parágrafo relacionado:  993)

576 Aos olhos de muitos, em Israel, Jesus parece agir contra as instituições essenciais do Povo eleito:

ü  a submissão à Lei na integralidade de seus preceitos escritos e, para os fariseus, na interpretação

da tradição oral;

ü  a centralidade do Templo de Jerusalém como lugar santo, em que Deus habita de forma

privilegiada;

ü   a fé no Deus único, cuja glória nenhum homem pode compartilhar.I. JESUS E A LEI

577  Jesus fez uma advertência solene no começo do Sermão da Montanha, em que apresentou a Lei

dada por Deus no Sinai por ocasião da Primeira Aliança à luz da graça da Nova Aliança: Não penseis que

vim revogar a Lei e os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento, porque em verdade

vos digo que, até que passem o céu e a terra, não será  omitido um só i, uma só vírgula da Lei, sem que tudo

seja realizado. Aquele, portanto, que violar um só destes menores mandamentos e ensinar os homens a

fazerem o mesmo ser  chamado o menor no Reino dos Céus; aquele, porém, que os praticar e os ensinar, esse

será  chamado grande no Reino dos Céus (Mt 5,17-19). (Parágrafos relacionados: 1965,1967)

578 Jesus, o Messias de Israel, portanto o maior no Reino dos Céus, tinha a obrigação de cumprir a

Lei, executando-a em sua integridade até seus mínimos preceitos, segundo suas próprias palavras. Ele é o

único que conseguiu cumpri-la com perfeição. Os judeus, conforme sua própria confissão, nunca conseguiram

cumprir a Lei em sua integridade sem violar-lhe o mínimo preceito. Esta é a razão pela qual, em cada festa

anual da Expiação, os filhos de Israel pedem a Deus perdão por suas transgressões da Lei. Com efeito, a Lei

constitui um todo e, como recorda São Tiago, "aquele que guarda toda a Lei, mas desobedece a um só

ponto, torna- se culpado da transgressão da Lei inteira" (Tg [a23] 2,10). (Parágrafo relacionado:  1953)

579   Esse princípio da integralidade da observância da Lei, não somente em sua letra, mas em seu

espírito, era caro aos fariseus. Tomando-o extensivo a Israel, levaram muitos judeus do tempo de Jesus a um

zelo religioso extremo. Este zelo extremo, se não quisesse envolver-se em uma casuística "hipócrita", só podia

preparar o povo para essa intervenção inaudita de Deus que será  o cumprimento perfeito da Lei

exclusivamente pelo Justo em lugar de todos os pecadores.

580   O cumprimento perfeito da Lei só podia ser obra do Legislador divino nascido sujeito à Lei na

pessoa do Filho. Em Jesus, a Lei não aparece mais gravada nas tábuas de pedra, mas "no fundo do

coração" (Jr 31,33) do Servo, o qual, pelo fato de  "trazer fielmente o direito" (Is 42,3), se tornou "a Aliança

do povo" (Is 42,6). Jesus cumpriu a Lei até o ponto de tomar sobre si "a maldição da Lei[a28] ” in quod illi

incurrerant "qui non permanent in omnibus, quae scripta sunt, ut faciant ea", na qual incorrerreram aqueles

que "não praticam todos os preceitos da mesma, pois “a morte de Cristo aconteceu para resgatar as

transgressões cometidas no Regime da Primeira Aliança" (Hb 9, 15). (Parágrafo relacionado:  527)

581  Jesus apareceu aos olhos dos judeus e de seus chefes espirituais como um "rabi". Com

freqüência argumentou na linha da interpretação rabínica da Lei. Mas ao mesmo tempo Jesus só podia

chocar os doutores da Lei, já que não se contentava em propor sua interpretação em pé de igualdade com

as deles, senão que "ensinava como alguém que tem autoridade, e não como os escribas" (Mt 7,28-29).

Nele, é a mesma Palavra de Deus que tinha ressoado no Sinai para a Moisés a Lei escrita, que se faz ouvir

novamente sobre o Monte Bem-aventuranças. Ela não abole a Lei, mas a cumpre, fornecendo de modo divino

a interpretação última dela: "Aprendestes o que foi dito aos antigos... eu, porém, vos digo" (Mt 5,33-34).

Com esta mesma autoridade divina, Ele desabona certas "tradições humanas" dos fariseus que "invalidam a

Palavra de Deus". (Parágrafo relacionado:  2054)

582   Indo mais longe, Jesus cumpre a Lei a respeito da pureza dos alimentos, tão importante na vida

diária judaica, revelando o sentido “pedagógico" dela por uma interpretação divina: "Tudo o que de fora,

entrando no homem, não pode torná-lo impuro..." assim declarava puros todos os alimentos. "O que sai do

homem, é isto que o torna impuro. Pois é de dentro, do coração dos homens, que as intenções malignas" (Mc

7,18-21). Ao dar com autoridade divina a interpretação definitiva da Lei, Jesus acabou confrontando-se com

certos doutores da Lei que não aceitavam a interpretação da Lei dada por Jesus, apesar de garantida

pelos sinais divinos que a acompanhavam. Isto vale particularmente para a questão do sábado: Jesus

lembra, muitas vezes com argumentos rabínicos, que o descanso do  sábado não é lesado pelo serviço de

Deus ou do próximo, executado por meio das curas operadas por Ele. (Parágrafos relacionados:

368,548,2173)

II. JESUS E O TEMPLO

583  Jesus, como os profetas anteriores a Ele, teve pelo Templo de Jerusalém o mais profundo

respeito. Nele foi apresentado por José e Maria quarenta dias após seu nascimento. Com doze anos, decide

ficar no Templo para lembrar a seus pais que deve dedicar-se às coisas de seu Pai. Durante os anos de sua

vida oculta, subiu ao Templo a cada ano, no mínimo por ocasião da Páscoa; até seu ministério público foi ritmado por suas peregrinações a Jerusalém para as grandes festas judaicas. (Parágrafos relacionados:

529,534)

584  Jesus subiu ao Templo como lugar privilegiado de encontro com Deus. O Templo é para ele a

morada de seu Pai, uma casa de oração, e se indigna pelo fato de seu  átrio externo ter-se tornado um

lugar de comércio. Se expulsa os vendilhões do Templo, é por amor zeloso a seu Pai. "Não façais da casa

de meu Pai uma casa de comércio. Seus discípulos lembram-se do que está escrito: 'O zelo por tua casa me

devorará' (Sl 69)” (Jo 2,16-17). Depois de sua Ressurreição, os apóstolos mantiveram um respeito  religioso

pelo Templo. (Parágrafo relacionado: 2599)

585  Contudo, no limiar de sua Paixão, Jesus anunciou a ruína desse esplêndido edifício, do qual não

restará  mais pedra sobre  pedra. Há  aqui o anúncio de um sinal dos tempos finais que vão abrir-se com

sua própria Páscoa. Esta profecia, porém, pode ser relatada de modo deformado por testemunhas falsas no

momento do interrogatório de Jesus diante do sumo sacerdote, sendo-lhe atribuída como injúria quando ele

foi pregado à cruz.

586 Longe de ter sido hostil ao Templo, local em que aliás, ministrou o essencial de seu ensinamento,

Jesus fez questão de pagar o imposto do Templo, associando a este ato Pedro, que acabara de estabelecer

como fundamento para sua Igreja futura. Mais ainda: identificou-se com o Templo ao apresentar-se como a

morada definitiva de Deus entre os homens. Eis por que sua morte corporal decretada anuncia a destruição

do Templo, (destruição) que manifestará a entrada em uma nova era História da Salvação: "Vem a hora em

que nem sobre esta montanha nem em Jerusalém adorareis o Pai" (Jo 4,21)  (Parágrafos relacionados:

797,1179)

anidade�*Ci �)�-esde a sua concepção, repleta do Espírito Santo, pois

 

Deus "lhe dá  o Espírito sem medida" (Jo 3,34). É da "plenitude dele", cabeça da humanidade remida, que

"nós recebemos graça sobre graça" (Jo 1,16). (Parágrafo relacionado:  359)

505 Jesus, o Novo Adão, inaugura por sua concepção virginal o novo nascimento dos filhos de

adoção no Espírito Santo pela fé. "Como se fará  isto?" (Lc 1,34[a97] ). A participação na vida divina não

vem "do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus" (Jo 1,13). O

acolhimento desta vida é virginal, pois esta é totalmente dada pelo Espírito ao homem. O sentido esponsal

da vocação humana em relação a Deus é realizado perfeitamente na maternidade virginal de Maria.

(Parágrafo relacionado:  1265)

506 Maria é virgem porque sua virgindade é o sinal de sua fé, absolutamente livre de qualquer

dúvida", e de sua doação sem reservas à vontade de Deus. É sua fé que lhe concede tomar-se a Mãe do

Salvador: "Beatior est Maria percipiendo fidem Christi quam concipiendo carnem Christi - Maria é mais bemaventurada recebendo a fé de Cristo do que concebendo a carne de Cristo". (Parágrafos relacionados:

148,1814)

507 Maria é ao mesmo tempo Virgem e Mãe por ser a figura e a mais perfeita realização da Igreja

"A Igreja... torna-se também ela Mãe por meio da palavra de Deus que ela recebe na fé, pois pela

pregação e pelo Batismo ela gera para a vida nova e imortal os filhos concebidos do Espírito Santo e

nascidos de Deus. Ela é também a virgem que guarda, íntegra e puramente, a fé dada a seu Esposo.

(Parágrafos relacionados: 967,149)

RESUMINDO

508  Na descendência de Eva, Deus escolheu a Virgem Maria para ser a Mãe de seu Filho. "Cheia

de graça", ela é "o fruto mais excelente da Redenção". Desde o primeiro instante de sua concepção, foi totalmente preservada da mancha do pecado original e permaneceu pura de todo pecado pessoal ao longo

de toda a sua vida.

509  Maria é verdadeiramente "Mãe de Deus", visto ser a Mãe do Filho Eterno de Deus feito homem,

que é ele mesmo Deus.

510 Maria "permaneceu Virgem concebendo seu Filho, Virgem ao dá-lo à luz, Virgem ao carregá-lo,

Virgem ao alimentá-lo de seu seio, Virgem sempre" : com todo o seu ser Ela é "a Serva do Senhor" (Lc 1,38).

511 A Virgem Maria cooperou "para a salvação humana com livre fé e obediência"  Pronunciou seu

'fiat" (faça-se) "em representação de toda a natureza humana"  Por sua obediência, tornou-se a nova Eva,

Mãe dos viventes.