OS MISTÉRIOS DA VIDA DE CRISTO
512 No tocante à vida de Cristo, o Símbolo da Fé fala somente dos mistérios da Encarnação
(Conceição e Nascimento) Páscoa (Paixão, Crucifixão, Morte, Sepultamento, Descida aos Infernos,
Ressurreição, Ascensão). Não diz nada, explicitamente dos mistérios da vida oculta e pública de Jesus. Mas
os artigos da fé referentes à Encarnação e à Páscoa de Jesus iluminam toda a vida terrestre de Cristo. "Tudo
o que Jesus fez e ensinou, desde o começo até o dia em que foi arrebatado" (At 1,1-2), deve ser visto à luz
dos mistérios do Natal e da Páscoa. (Parágrafo relacionado: 1163)
513 A Catequese, conforme as circunstâncias, há desenvolver toda a riqueza dos Mistérios de Jesus.
Aqui é suficiente indicar alguns elementos comuns a todos os mistérios da vida de Cristo (I), para em seguida
esboçar os principais mistérios da vida oculta (II) e pública (III) de Jesus. (Parágrafos relacionados: 426,561)
I- TODA A VIDA DE CRISTO É MISTÉRIO
514 Muitas coisas que interessam à curiosidade humana acerca de Jesus não figuram nos Evangelhos.
Quase nada é dito sobre sua vida em Nazaré, e mesmo uma grande parte de sua vida pública não é
relatada. O que foi escrito nos Evangelhos foi "para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para
que, crendo, tenhais a vida em seu nome" (Jo 20, 31).
515 Os Evangelhos foram escritos por homens que estiveram entre os primeiros a ter a fé [a2] e que
queriam compartilhá-la com outros. Depois de terem conhecido na fé quem é Jesus, puderam ver e fazer ver
os traços de seu mistério em toda a sua vida terrestre. Desde os paninhos de sua natividade até o vinagre
de sua Paixão e o sudário de sua Ressurreição, tudo na vida de Jesus é sinal de seu Mistério. Por meio de
seus gestos, de seus milagres, de suas palavras, foi revelado que "nele habita corporalmente toda a
plenitude da divindade" (Cl 2,9). Sua humanidade aparece, assim, como o "sacramento", isto é, o sinal e o
instrumento de sua divindade e da salvação que ele traz: o que havia de visível em sua vida terrestre
apontava para o mistério invisível de sua filiação divina e de sua missão redentora. (Parágrafos
relacionados: 126,609,774,477)
OS TRAÇOS COMUNS DOS MISTÉRIOS DE JESUS
516 Toda a vida de Cristo é Revelação do Pai: suas palavras e seus atos, seus silêncios e seus
sofrimentos, sua maneira de ser e de falar. Jesus pode dizer: "Quem me vê, vê o Pai" (Jo 14,9); e o Pai pode
dizer: "Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o" (Lc 9,35). Tendo Nosso Senhor se feito homem para cumprir a
vontade do Pai, Os mínimos traços de seus mistérios nos manifestam "o amor de Deus por nos". (Parágrafos
relacionados: 65,2708)
517 Toda a vida de Cristo é mistério de Redenção. A Redenção nos vem antes de tudo pelo sangue
da Cruz, mas este mistério está em ação em toda a vida de Cristo: já em sua Encarnação, pela qual,
fazendo-se pobre, nos enriqueceu por sua pobreza; em sua vida oculta, que, por sua submissão, serve de
reparação para nossa insubmissão; em sua palavra, que purifica seus ouvintes; em suas curas e em seus
exorcismos, pelos quais "levou nossas fraquezas e carregou nossas doenças" (Mt 8,17); em sua Ressurreição,
pela qual nos justifica. (Parágrafos relacionados: 606,1115) 518 Toda a vida de Cristo é mistério de Recapitulação. Tudo o que Jesus fez, disse e sofreu tinha
por meta restabelecer o homem caído em sua vocação primeira: (Parágrafos relacionados: 668,2748)
Quando ele se encarnou e se fez homem, recapitulou em si mesmo a longa história dos homens e, em
resumo, nos proporcionou a salvação, de sorte que aquilo que havíamos perdido em Adão, isto é, sermos à
imagem e à semelhança de Deus, o recuperamos em Cristo Jesus. É, aliás, por isso que Cristo passou por
todas as idades da vida, restituindo com isto a os homens a comunhão com Deus.
NOSSA COMUNHÃO COM OS MISTÉRIOS DE JESUS
519 Toda a riqueza de Cristo "é destinada a cada homem e constitui o bem de cada um". Cristo não
viveu sua vida para si mesmo, mas para nós, desde sua Encarnação "por nossos homens, e por nossa
salvação" até sua Morte "por nossos pecados" (1Cor 15,3) e sua Ressurreição "para nossa justificação" (Rm
4,25). Ainda agora, Ele é "nosso advogado junto do Pai" (1Jo 2,1), "estando sempre vivo para interceder a
nosso favor" (Hb 7,25). Com tudo o que viveu e sofreu por nós vez por todas, Ele permanece presente para
sempre "diante face de Deus a nosso favor" (Hb 9,24). (Parágrafos relacionados: 793,602,1085)
520 Em toda a sua vida, Jesus mostra-se como nosso modelo. Ele é "o homem perfeito" que nos
convida a tomar-nos seus discípulos e a segui-lo: por seu rebaixamento, deu-nos um exemplo a imitar; por
sua oração, atrai à oração; por sua pobreza chama a aceitar livremente o despojamento e as perseguições.
(Parágrafos relacionados: 459,359,2609)
521 Tudo o que Cristo viveu foi para que pudéssemos vivê-lo nele e para que Ele o vivesse em nos.
"Por sua Encarnação, o Filho de Deus, de certo modo, se uniu a todo homem." Nós somos chamados a ser uma
só coisa com Ele; Ele nos faz partilhar (comungar), como membros de seu corpo, de tudo o que (Ele), por nós
e como nosso modelo, viveu em sua carne. (Parágrafos relacionados: 2715,1391)
Devemos continuar e realizar em nós os estados e os mistérios de Jesus, e pedir-lhe muitas vezes que
os complete e realize em nós e em toda a sua Igreja... Pois o Filho de Deus deseja conceder uma certa
participação, e fazer como que uma extensão e continuação de seus mistérios em nós e em toda a sua Igreja,
pelas graças que quer comunicar-nos, e pelos efeitos que quer operar em nós por esses mistérios. Por estes
meios quer realizá-los em nós.II. OS MISTÉRIOS DA INFÂNCIA E DA VIDA OCULTA DE JESUS
A PREPARAÇÃO
522 A vinda do Filho de Deus à terra é um acontecimento de tal imensidão que Deus quis prepará-lo
durante séculos. Ritos e sacrifícios, figuras e símbolos da "Primeira Aliança", tudo ele faz convergir para
Cristo; anuncia-o pela boca dos profetas que se sucedem em Israel. Desperta, além disso, no coração dos
pagãos a obscura expectativa desta vinda. (Parágrafos relacionados: 711,762)
523 São João Batista é o precursor imediato do Senhor, enviado para preparar-lhe o caminho.
"Profeta do Altíssimo" (Lc; 1,76), ele supera todos os profetas, deles é o último, inaugura o Evangelho; saúda
a vinda de Cristo desde o seio de sua mãe e encontra sua alegria em ser "o amigo do esposo" (Jo 3,29), que
designa como "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1,29). Precedendo a Jesus "com o
espírito e o poder de Elias" (Lc 1,17), dá-lhe testemunho por sua pregação, seu batismo de conversão e,
finalmente, seu martírio. (Parágrafos relacionados: 712,720)
524 Ao celebrar cada ano a liturgia do Advento, a Igreja atualiza esta espera do Messias:
comungando com a longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo de
sua Segunda Vinda. Pela celebração da natividade e do martírio do Precursor, a Igreja se une a seu desejo:
"É preciso que Ele cresça e que eu diminua" (Jo 3,30). (Parágrafo relacionado: 1171)
O MISTÉRIO DO NATAL
525 Jesus nasceu na humildade de um estábulo, em uma família pobre; as primeiras testemunhas do
evento são simples pastores. É nesta pobreza que se manifesta a glória do Céu. A Igreja não se cansa de
cantar a glória dessa noite: Hoje a Virgem traz ao mundo o Eterno. (Parágrafos relacionados: 437,2443)
E a terra oferece uma gruta ao Inacessível.
Os anjos e os pastores o louvam
E os magos caminham com a estrela.
Pois Vós nascestes por nós, Menino, Deus eterno!
526 "Tornar-se criança" em relação a Deus é a condição para entrar no Reino; para isso é preciso
humilhar-se, tornar-se pequeno; mais ainda: é preciso "nascer do alto" (Jo 3,7), "nascer de Deus" para
tornar-nos filhos de Deus. O mistério do Natal realiza-se em nós quando Cristo "toma forma" em nós. O
Natal é o mistério deste "admirável intercâmbio:
O admirabile commercium! Creator generis humani, anima corpus sumens, de Vir gine nasci digna tus
est; et procedens homo sine semine, largitus est nobis suam deitatem - Admirável intercâmbio! O Criador da
humanidade, assumindo corpo e dignou-se nascer de uma Virgem; e, tomando-se homem intervenção do
homem, nos doou sua própria divindade! (Parágrafo relacionado: 460)
Os MISTÉRIOS DA INFÂNCIA DE JESUS
527 A circuncisão de Jesus, no oitavo dia depois de seu nascimento, é sinal de sua inserção na
descendência de Abraão, no povo da Aliança, de sua submissão à Lei e de capacitação para o culto de
Israel, do qual participará durante sua toda a vida. Este sinal prefigura "a circuncisão de Cristo", que é o
Batismo. (Parágrafos relacionados: 580,1214)
528 A epifania é a manifestação de Jesus como Messias Israel, Filho de Deus e Salvador do mundo.
Com o Batismo de Jesus no Jordão e com as bodas de Caná, ela celebra a adoração de Jesus pelos
"magos" vindos do Oriente. Nesses "magos", representantes das religiões pagãs circunvizinhas, o Evangelho
vê as primícias das nações que acolhem a Boa Nova da salvação pela Encarnação. A vinda dos magos a
Jerusalém para "adorar ao Rei dos Judeus" mostra que eles procuram em Israel, à luz messiânica da estrela de Davi, aquele que será o Rei das nações[a50] . Sua vinda significa que os pagãos só podem descobrir
Jesus e adorá-lo como Filho de Deus e Salvador do mundo voltando-se para os judeus recebendo deles sua
promessa messiânica, tal como está contida no Antigo Testamento. A Epifania manifesta que "a plenitude
dos pagãos entra na família dos patriarcas" e adquire a "dignidade israelítica". (Parágrafos relacionados:
439,711-716,122)
529 A apresentação de Jesus no Templo mostra-o como o Primogênito pertencente ao Senhor. Com
Simeão e Ana, é toda a espera de Israel que vem ao encontro de seu Salvador (a tradição bizantina
designa com este termo tal acontecimento). Jesus é reconhecido como o Messias tão esperado, "luz das
nações" e "Glória de Israel", mas também "sinal de contradição". A espada de dor predita a Maria anuncia
esta outra oblação, perfeita e única, da Cruz, que dará a salvação que Deus "preparou diante de todos os
povos". (Parágrafos relacionados: 583,439,614)
530 A fuga para o Egito e o massacre dos inocentes manifestam a oposição das trevas à luz: "Ele
veio para o que era seu e os seus não o receberam" (Jo 1,11). Toda a vida de Cristo estará sob o signo da
perseguição. Os seus compartilham com Ele esta perseguição. Sua volta do Egito lembra o Êxodo e
apresenta Jesus como o libertador definitivo. (Parágrafo relacionado: 574)
OS MISTÉRIOS DA VIDA OCULTA DE JESUS
531 Durante a maior parte de sua vida, Jesus compartilhou a condição da imensa maioria dos
homens: uma vida cotidiana. Sem grandeza aparente, vida de trabalho manual, vida religiosa judaica
submetida à Lei de Deus, vida na comunidade. De todo este período é-nos revelado que Jesus era "submisso"
a seus pais e que "crescia em sabedoria, em estatura em graça diante de Deus e diante dos homens" (Lc
2,52). (Parágrafo relacionado: 2427)
532 A submissão de Jesus a sua Mãe e a seu pai legal cumpre com perfeição o quarto mandamento.
Ela é a imagem temporal de sua obediência filial a seu Pai celeste. A submissão diária de Jesus a José e a
Maria anunciava e antecipava a submissão da Quinta-feira Santa: "Não a minha vontade..." (Lc 22,42). A
obediência de Cristo no cotidiano da vida condida inaugurava já a obra de restabelecimento daquilo a
desobediência de Adão havia destruído. (Parágrafos relacionados: 2214,2220,612)
533 A vida oculta de Nazaré permite a todo homem estar unido a Jesus nos caminhos mais
cotidianos da vida: Nazaré é a escola na qual se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do
Evangelho... Primeiramente, uma lição de silêncio. Que nasça em nós a estima do silêncio, esta admirável e
indispensável condição do espírito... Uma lição de vida familiar. Que Nazaré nos ensine o que é a família,
sua comunhão de amor, sua beleza austera e simples, seu caráter sagrado e inviolável... Uma lição de
trabalho. Nazaré, ó casa do "Filho do Carpinteiro", é aqui que gostaríamos de compreender e celebrar a lei
severa e redentora do trabalho humano...; assim como gostaríamos finalmente de saudar aqui todos os
trabalhadores do mundo inteiro e mostrar-lhes seu grande modelo, seu Irmão divino. (Parágrafos
relacionados: 2717,2427)
534 O reencontro de Jesus no Templo é o único acontecimento que rompe o silêncio dos Evangelhos
sobre os anos ocultos de Jesus. Nele Jesus deixa entrever o mistério de sua consagração total a uma missão
decorrente de sua filiação divina: "Não sabíeis que devo ocupar-me com as coisas de meu Pai?" (Lc 2,49).
Maria e José "não compreenderam" esta palavra, mas a acolheram na fé, e Maria "guardava a lembrança
de todos esses fatos em seu coração" (Lc 2,51), ao longo dos anos em que Jesus permanecia mergulhado no
silêncio de uma vida ordinária. (Parágrafos relacionados: 583,2599,964)
III. OS MISTÉRIOS DA VIDA PÚBLICA DE JESUS
O BATISMO DE JESUS
535 A vida pública de Jesus tem início com seu Batismo por João no rio Jordão. João Batista
proclamava "um batismo de arrependimento para a remissão dos pecados" (Lc 3,3). Uma multidão de
pecadores, de publicanos e soldados, fariseus e saduceus e prostitutas vem fazer-se batizar por ele. Jesus
aparece, o Batista hesita, mas Jesus insiste. E Ele recebe o Batismo. Então o Espírito Santo, sob forma de
pomba, vem sobre Jesus, e a voz do céu proclama: "Este é o meu Filho bem-amado" (Mt 3,13-17). É a manifestação ("Epifania") de Jesus como Messias de Israel e Filho de Deus. (Parágrafos relacionados: 719-
720,701,438)
536 O Batismo de Jesus é, da parte dele, a aceitação e a inauguração de sua missão de Servo
sofredor. Deixa-se contar entre os pecadores; é, já, "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo
1,29), antecipa já o "Batismo" de sua morte sangrenta. Vem, já, "cumprir toda a justiça" (Mt 3,15), ou seja,
submete-se por inteiro à vontade de seu Pai: aceita por amor este batismo de morte para a remissão de
nossos pecados. A esta aceitação responde a voz do Pai, que coloca toda a sua complacência em seu Filho.
O Espírito que Jesus possui em plenitude desde a sua concepção vem "repousar" sobre Ele. Jesus ser a fonte
do Espírito para toda a humanidade. No Batismo de Jesus, "abriram-se os Céus" (Mt 3,16) que o pecado de
Adão havia fechado; e as águas são santificadas pela descida de Jesus e do Espírito, prelúdio da nova
criação. (Parágrafos relacionados: 606,1224,444,727,739)
537 Pelo Batismo, o cristão é sacramentalmente assimilado a Jesus, que antecipa em seu Batismo a
sua Morte e a sua Ressurreição; deve entrar neste mistério de rebaixamento humilde e de arrependimento,
descer à água com Jesus para subir novamente com ele, renascer da água e do Espírito para tornar-se, no
Filho, filho bem-amado do Pai e "viver em uma vida nova" (Rm 6,4): (Parágrafo relacionado: 1262)
Sepultemo-nos com Cristo pelo Batismo, para ressuscitar com Ele; desçamos com Ele, para ser
elevados com Ele; subamos novamente com Ele, para ser glorificados nele. (Parágrafo relacionado: 628)
Tudo o que aconteceu com Cristo dá-nos a conhecer que, depois da imersão na água, o Espírito
Santo voa sobre nós do alto do Céu e que, adotados pela Voz do Pai, nos tornamos filhos de Deus.
A TENTAÇÃO DE JESUS
538 Os Evangelhos falam de um tempo de solidão de Jesus no deserto, imediatamente após seu
Batismo por João: "Levado pelo Espírito" ao deserto, Jesus ali fica quarenta dias sem comer, vive com os
animais selvagens e os anjos o servem[a78] . No final dessa permanência, Satanás o tenta por três vezes
procurando questionar sua atitude filial para com Deus. Jesus rechaça esses ataques que recapitulam as
tentações de Adão no Paraíso e de Israel no deserto, e o Diabo afasta-se dele "até o tempo oportuno" (Lc
4,13). (Parágrafos relacionados: 394,518)
539 Os evangelistas assinalam o sentido salvífico desse acontecimento misterioso. Jesus é o novo
Adão, que ficou fiel onde o primeiro sucumbiu à tentação. Jesus cumpre à perfeição a vocação de Israel:
contrariamente aos que provocai outrora a Deus durante quarenta anos no deserto, Cristo se revela como o
Servo de Deus totalmente obediente à vontade divina. Nisso Jesus é vencedor do Diabo: ele "amarrou o
homem forte" para retomar-lhe a presa. A vitória de Jesus sobre o tentador no deserto antecipa a vitória da
Paixão, obediência suprema de seu amor filial ao Pai. (Parágrafos relacionados: 397,385)
540 A tentação de Jesus manifesta a maneira que o Filho de Deus tem de ser Messias o oposto da
que lhe propõe Satanás e que os homens desejam atribuir-lhe. E por isso que Cristão venceu o Tentador por
nós: "Pois não temos um sumo sacerdote incapaz de compadecer-se de nossas fraquezas, pois Ele mesmo foi
provado em tudo como nós, com exceção do pecado" (Hb 4,15). A Igreja se une a cada ano, mediante os
quarenta dias da Grande Quaresma, ao mistério de Jesus no deserto. (Parágrafos relacionados:
2119,519,2849,1438)
"O REINO DE DEUS ESTÁ BEM PRÓXIMO"
541 "Depois que João foi preso, Jesus veio para a Galiléia proclamando, nestes termos, o Evangelho
de Deus: "Cumpriu-se O tempo e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho"' (Mc
1,14-15). "Para cumprir a vontade do Pai, Cristo inaugurou o Reino dos céus na terra." Ora, a vontade do
Pai é "elevar os homens à participação da Vida Divina". Realiza tal intento reunindo os homens em torno de
seu Filho, Jesus Cristo. Esta reunião é a Igreja, que é na terra "O germe e o começo do Reino de Deus".
(Parágrafos relacionados: 2816,763,669,768,865)
542 Cristo está no centro do congraçamento dos homens na "família de Deus". Convoca-os junto a si
por sua palavra, por seus sinais que manifestam o reino de Deus, pelo envio de seus discípulos. Realizar a
vinda de seu Reino sobretudo pelo grande mistério de sua Páscoa: sua morte na Cruz e sua Ressurreição. "E eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim" (Jo 12,32). A esta união com Cristo são chamados
todos os homens. (Parágrafos relacionados: 2233,789)
O ANUNCIO DO REINO DE DEUS
543 Todos os homens são chamados a entrar no Reino. Anunciado primeiro aos filhos de Israel, este
Reino messiânico está destinado a acolher os homens de todas as nações. Para ter acesso a ele, é preciso
acolher a palavra de Jesus: (Parágrafo relacionado: 764)
Pois a palavra do Senhor é comparada à semente semeada no campo: os que a ouvem com fé e são
contados no número da pequena grei de Cristo receberam o próprio Reino; depois, por sua própria força, a
semente germina e cresce até o tempo da messe.
544 O Reino pertence aos pobres e aos pequenos, isto é, aos que o acolheram com um coração
humilde. Jesus é enviado para "evangelizar os pobres" (Lc 4,18). Declara-os bem-aventurados, pois "o Reino
dos Céus é deles" (Mt 5,3); foi aos "pequenos" que o Pai se dignou revelar o que permanece escondido aos
sábios e aos entendidos. Jesus compartilha a vida dos pobres desde a manjedoura até a cruz; conhece a
fome, a sede e a indigência. Mais ainda: identifica-se com os pobres de todos os tipos e faz do amor ativo
para com eles a condição para se entrar em seu Reino. (Parágrafos relacionados: 709,2443,2546)
545 Jesus convida os pecadores à mesa do Reino: "Não vim chamar justos, mas pecadores" (Mc
2,17). Convida-os à conversão, sem a qual não se pode entrar no Reino, mas mostrando-lhes, com palavras e
atos, a misericórdia sem limites do Pai por eles e a imensa "alegria no céu por um único pecador que se
arrepende" (Lc 15,7). A prova suprema deste amor ser o sacrifício de sua própria vida "em remissão dos
pecados" (Mt 26.28). (Parágrafos relacionados: 1443,588,1846,1439)
546 Jesus convida a entrar no Reino por meio das parábolas, traço típico de seu ensinamento[a97] .
Por elas, convida ao festim do Reino, mas exige também uma opção radical: para adquirir o Reino é preciso
dar tudo; as palavras não bastam, são necessários atos As parábolas são como espelhos para o homem: este
acolhe a palavra como um solo duro ou como uma terra boa? Que faz ele dos talentos recebidos[a102] ?
Jesus e a presença do Reino neste mundo estão secretamente no coração das parábolas. E preciso entrar no
Reino, isto é, tomar-se discípulos de Cristo para "conhecer os mistérios do Reino dos Céus" (Mt 13,11). Para
os que ficam "de fora" (Mc 4,11), tudo permanece enigmático. (Parágrafos relacionados: 2613,542)
OS SINAIS DO REINO DE DEUS
547 Jesus acompanha suas palavras com numerosos "milagres, prodígios e sinais" (At 2,22) que
manifestam que o Reino está presente nele. Atestam que Jesus é o Messias anunciado. (Parágrafos
relacionados: 670,439)
548 Os sinais operados por Jesus testemunham que o Pai o enviou. Convidam a crer nele. Aos que a
Ele se dirigem com fé, concede o que pedem. Assim, os milagres fortificam a fé naquele que realiza as obras
de seu Pai: testemunham que Ele é o Filho de Deus. Eles podem também ser "ocasião de escândalo". Não se
destinam a satisfazer a curiosidade e os desejos mágicos. Apesar de seus milagres tão evidentes, Jesus é
rejeitado por alguns; acusam-no até de agir por intermédio dos demônios. (Parágrafos relacionados:
156,2616,574,447)
549 Ao libertar certas pessoas dos males terrestres da fome, da injustiça, da doença e da morte,
Jesus operou sinais messiânicos; não veio, no entanto, para abolir todos os males da terra, mas para libertar
os homens da mais grave das escravidões, a do pecado, que os entrava em sua vocação de filhos de Deus e
causa todas as suas escravidões humanas. (Parágrafos relacionados: 1503,440)
550 O advento do Reino de Deus é a derrota do reino de Satanás: "Se é pelo Espírito de Deus que
eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou a vós" (Mt 12,28). Os exorcismos de Jesus
libertam homens do domínio dos demônios. Antecipam a grande vitória de Jesus sobre "o príncipe deste
mundo". E pela Cruz de Cristo que o Reino de Deus ser definitivamente estabelecido: "Regnavit a ligno Deus
- Deus reinou do alto do madeiro". (Parágrafos relacionados: 394,1673,440,2816)
"AS CHAVES DO REINO"551 Desde o início de sua vida pública, Jesus escolhe homens em número de doze para estar com Ele
e para participar de sua missão; dá-lhes participação em sua autoridade "e enviou-os a proclamar o Reino
de Deus e a curar" (Lc 9,2). Permanecem eles para sempre associados ao Reino de Cristo, pois Jesus dirige a
Igreja por intermédio deles: (Parágrafos relacionados: 858,765)
Disponho para vós o Reino, como meu Pai o dispôs para mim, a fim de que comais e bebais à minha
mesa em meu Reino, e vos senteis em tronos para julgar as doze tribos de Israel (Lc 22,29-30).
552 No colégio dos Doze, Simão Pedro ocupa o primeiro lugar[. Jesus confiou-lhe uma missão única.
Graças a uma revelação vinda do Pai, Pedro havia confessado: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt
16,16). Nosso Senhor lhe declara na ocasião: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as
Portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela" (Mt 16,18). Cristo, "Pedra viva"; garante a sua Igreja
construída sobre Pedro a vitória sobre as potências de morte. Pedro, em razão da fé por ele confessada,
permanecerá como a rocha inabalável da Igreja. Terá por missão defender esta fé de todo desfalecimento
e confirmar nela seus irmãos[. (Parágrafos relacionados: 880,153,442,424)
553 Jesus confiou a Pedro uma autoridade específica: "Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: o
que ligares na terra será ligado nos Céus, e o que desligares na terra será desligado nos Céus" (Mt 16,19).
O "poder das chaves" designa a autoridade para governar a casa de Deus, que é a Igreja. Jesus, "o Bom
Pastor" (Jo 10,11), confirmou este encargo depois de sua Ressurreição: "Apascenta as minhas ovelhas" (Jo
21,15-17). O poder de "ligar e desligar" significa a autoridade para absolver os pecados, pronunciar juízos
doutrinais e tomar decisões disciplinares na Igreja. Jesus confiou esta autoridade à Igreja pelo ministério dos
apóstolos e particularmente de Pedro, o único ao qual confiou explicitamente as chaves do Reino.
(Parágrafos relacionados: 381,1445,641,881)
UM ANTEGOZO DO REINO: A TRANSFIGURAÇÃO
554 A partir do dia em que Pedro confessou que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, o Mestre
"começou a mostrar a seus discípulo que era necessário que fosse a Jerusalém e sofresse... que fosse morto e
ressurgisse ao terceiro dia" (Mt 16,21): Pedro rechaça este anúncio, os demais também não o compreendem.
É neste contexto que se situa o episódio misterioso da Transfiguração de Jesus sobre um monte elevado,
diante de três testemunhas escolhidas por ele: Pedro, Tiago e João. O rosto e as vestes de Jesus tornam-se
fulgurantes de luz, Moisés e Elias aparecem, "falavam de sua partida que iria se consumar em Jerusalém" (Lc
9,31). Uma nuvem os cobre e uma voz do céu diz: "Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o" (Lc 9,35). (Parágrafos
relacionados: 697,2600,444)
555 Por um instante, Jesus mostra sua glória divina, confirmando, assim, a confissão de Pedro. Mostra
também que, para "entrar em sua glória" (Lc 24,26), deve passar pela Cruz em Jerusalém. Moisés e Elias
haviam visto a glória de Deus sobre a Montanha; a Lei e os profetas tinham anunciado os sofrimentos do
Messias. A Paixão de Jesus é sem dúvida a vontade do Pai: o Filho age como servo de Deus. A nuvem indica
a presença do Espírito Santo: "Tota Trinitas apparuit: Pater in voce; Filius in homine, Spiritus in nube clara - A
Trindade inteira apareceu: o Pai, na voz; o Filho, no homem; o Espírito, na nuvem clara. (Parágrafos
relacionados: 2576,2583,257)
Vós vos transfigurastes na montanha e, porquanto eram capazes, vossos discípulos contemplaram
vossa Glória, Cristo Deus, para que, quando vos vissem crucificado, compreendessem que vossa Paixão era
voluntária e anunciassem ao mundo que vós sois verdadeiramente a irradiação do Pai.
556 No limiar da vida pública, o Batismo; no limiar da Páscoa, a Transfiguração. Pelo Batismo de
Jesus "declaratum fuit mysterium primae regenerationis - foi manifestado o mistério da primeira
regeneração": o nosso Batismo; a Transfiguração "est sacramentum secundae regenerationis - é o sacramento
da segunda regeneração": a nossa própria ressurreição. Desde já participamos da Ressurreição do Senhor
pelo Espírito Santo que age nos sacramentos do Corpo de Cristo A Transfiguração dá-nos um antegozo da
vinda gloriosa do Cristo, "que transfigurar nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso" (Fl
3,21). Mas ela nos lembra também "que é preciso passarmos por muitas tribulações para entrarmos no Reino
de Deus" (At 14,22): (Parágrafos relacionados: 1003)
Pedro ainda não tinha compreendido isso ao desejar viver com Cristo sobre a montanha. Ele
reservou-te isto, Pedro, para depois da morte. Mas agora Ele mesmo diz: Desce para sofrer na terra, para
servir na terra, para ser desprezado, crucificado na terra. A Vida desce para fazer-se matar; o Pão desce para ter fome; o Caminho desce para cansar-se da caminhada; a Fonte desce para ter sede; e tu recusas
Sofrer?
A SUBIDA DE JESUS A JERUSALÉM
557 "Ora, quando se completaram os dias de sua elevação, Jesus tomou resolutamente o caminho de
Jerusalém" (Lc 9, 51). Com esta decisão, indicava que subia a Jerusalém pronto para morrer. Por três vezes
tinha anunciado sua Paixão e sua Ressurreição. Ao dirigir-se para Jerusalém, disse: "Não convém que um
profeta pereça fora de Jerusalém" (Lc 13,33).
558 Jesus lembra o martírio dos profetas que tinham sido mortos em Jerusalém. Todavia, persiste em
convidar Jerusalém a congregar-se em torno dele: "Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a
galinha recolhe seus pintainhos debaixo das asas... e não o quiseste" (Mt 23,37b). Quando Jerusalém está à
vista, chora sobre ela e exprime uma vez mais o desejo de seu coração: "Ah! Se neste dia também tu
conhecesses a mensagem de paz! Agora, porém, isto está escondido a teus olhos" (Lc 19,42).
A ENTRADA MESSIÂNICA DE JESUS EM JERUSALÉM
559 Como vai Jerusalém acolher seu Messias? Embora sempre se tivesse subtraído às tentativas
populares de fazê-lo rei. Jesus escolhe o momento e prepara os detalhes de sua entrada messiânica na
cidade de "Davi, seu pai" (Lc 1,32). É aclamado como o filho de Davi, aquele que traz a salvação ("Hosana"
quer dizer salva-nos!", "dá a salvação!") Ora, o "Rei de Glória" (Sl 24,7-10) entra em sua cidade "montado
em um jumento" (Zc 9,9): não conquista a Filha de Sião figura de sua Igreja, pela astúcia nem pela violência,
mas pela humildade que dá testemunho da Verdade. Por isso os súditos de seu Reino, nesse dia, são as
crianças e os "pobres de Deus" que o aclamam como os anjos o anunciaram aos pastores. A aclamação deles
- "Bendito seja o que vem em nome do Senhor" (S1 118,26)- é retomada pela Igreja no "Sanctus" da liturgia
eucarística, para abrir o memorial da Páscoa do Senhor. (Parágrafos relacionados: 333,1352)
560 A entrada de Jesus em Jerusalém manifesta a vinda do Reino que o Rei-Messias vai realizar
pela Páscoa de sua Morte e de sua Ressurreição. E com sua celebração, no Domingo de Ramos, que a
liturgia da Igreja abre a grande Semana Santa. (Parágrafos relacionados: 550,2816,1169)
RESUMINDO
561 "Toda a vida de Cristo foi um contínuo ensinamento: seus silêncios, seus milagres, seus gestos, sua
oração, seu amor ao homem, sua predileção pelos pequenos e pelos pobres, a aceitação do sacrifício total
na Cruz pela redenção do mundo, Sua Ressurreição constituem a atuação de sua palavra e o cumprimento
da Revelação.
562 Os discípulos de Cristo devem conformar-se com Ele até Ele se formar neles" É por isso que
somos inseridos nos mistérios de sua vida, com Ele configurados, com Ele mortos e com Ele ressuscitados, até
que com Ele reinemos.
563 "Seja pastor, seja mago, não se pode atingir a Deus na terra senão ajoelhando-se diante da
manjedoura de Belém e adorando-o escondido na fraqueza de uma criança.
564 Por sua submissão a Maria e José, assim como por seu humilde trabalho durante longos anos em
Nazaré, Jesus nos dá o exemplo da santidade na vida cotidiana da família e do trabalho.
565 Desde o início de sua vida pública, em seu Batismo, Jesus é o "Servo", inteiramente consagrado
à obra redentora que se realizará pelo "Batismo" de sua paixão.
566 A tentação no deserto mostra Jesus, Messias humilde que triunfa sobre Satanás por sua total
adesão ao desígnio de salvação querido pelo Pai.
567 O Reino dos céus foi inaugurado na terra por Cristo. "Manifesta-se lucidamente aos homens na
palavra, nas obras e na presença de Cristo. "A Igreja é o germe e o começo desde Reino. Suas chaves são
confiadas a Pedro.568 A Transfiguração de Cristo tem por finalidade fortificar a fé dos apóstolos em vista da Paixão:
a subida à "elevada montanha" prepara a subida ao Calvário. Cristo, Cabeça da Igreja, manifesta o que
seu Corpo contém e irradia nos sacramentos "a esperança da Glória" (Cl 1,27[a149] ).
569 Jesus subiu voluntariamente a Jerusalém, embora soubesse que lá morreria de morte violenta
por causa da contradição por parte dos pecadores.
570 A entrada de Jesus em Jerusalém manifesta a vinda do Reino que o Rei-Messias, acolhido em
sua cidade pelas crianças e pelos humildes de coração, vai realizar por meio da Páscoa de sua Morte e
Ressurreição.
ARTIGO 4 :
"JESUS CRISTO PADECEU SOB PÔNCIO PILATOS, FOI CRUCIFICADO, MORTO E SEPULTADO"
571 O mistério pascal da Cruz e da Ressurreição de Cristo está no centro da Boa Nova que os
apóstolos e a Igreja, na esteira deles, devem anunciar ao mundo. O projeto salvador de Deus realizou-se
"uma vez por todas" (Hb 9,26) pela morte redentora de seu Filho, Jesus Cristo. (Parágrafo relacionado:
1067)
572 A Igreja permanece fiel à "interpretação de todas as Escrituras" dada por Jesus mesmo antes e
também depois de sua Páscoa. "Não era preciso que Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua glória?" (Lc
24,26). Os sofrimentos de Jesus tomaram sua forma histórica concreta pelo fato de ele ter sido "rejeitado
pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas" (Mc 8,31), que o "entregarão aos gentios para
ser escarnecido, açoitado e crucificado" (Mt 20,19). (Parágrafo relacionado: 599)
573 A fé pode, pois, tentar perscrutar as circunstâncias da Morte de Jesus, transmitidas fielmente
pelos Evangelhos e iluminadas por outras fontes históricas, para melhor compreender o sentido da Redenção.
(Parágrafo relacionado: 158)
PARÁGRAFO I - JESUS E ISRAEL
574 Desde o início do ministério público de Jesus, fariseus e adeptos de Herodes, com sacerdotes e
escribas, mancomunaram-se para matá-lo. Por causa de certos atos por ele praticados (expulsão de
demônios, perdão dos pecados, curas em dia de sábado [a6] interpretação original dos preceitos de pureza
da Lei, de pureza da Lei, familiaridade com os publicanos e com pecadores públicos), Jesus pareceu a
alguns mal-intencionados, suspeito de possessão demoníaca. Ele é acusado de blasfêmia e de falso
profetismo, crimes religiosos que a Lei punia com a pena de morte sob forma de apedrejamento.
(Parágrafos relacionados: 530,591)
575 Muitos atos e palavras de Jesus constituíram, portanto, um sinal de contradição" para as
autoridades religiosas de Jerusalém – que o Evangelho de São João com freqüência denomina "os judeus" –
mas ainda do que para o comum do povo de Deus. Sem dúvida, suas relações com os fariseus não foram
exclusivamente polêmicas. São os fariseus que o previnem do perigo que corre. Jesus elogia alguns deles,
como o escriba de Mc 12,34, e repetidas vezes come com fariseus. Jesus confirma doutrinas compartilhadas
por essa elite religiosa do povo de Deus: a ressurreição dos mortos, as formas de piedade (esmola, jejum e
oração) e o hábito de dirigir-se a Deus como Pai, a centralidade do mandamento do amor a Deus e ao
próximo. (Parágrafo relacionado: 993)
576 Aos olhos de muitos, em Israel, Jesus parece agir contra as instituições essenciais do Povo eleito:
ü a submissão à Lei na integralidade de seus preceitos escritos e, para os fariseus, na interpretação
da tradição oral;
ü a centralidade do Templo de Jerusalém como lugar santo, em que Deus habita de forma
privilegiada;
ü a fé no Deus único, cuja glória nenhum homem pode compartilhar.I. JESUS E A LEI
577 Jesus fez uma advertência solene no começo do Sermão da Montanha, em que apresentou a Lei
dada por Deus no Sinai por ocasião da Primeira Aliança à luz da graça da Nova Aliança: Não penseis que
vim revogar a Lei e os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento, porque em verdade
vos digo que, até que passem o céu e a terra, não será omitido um só i, uma só vírgula da Lei, sem que tudo
seja realizado. Aquele, portanto, que violar um só destes menores mandamentos e ensinar os homens a
fazerem o mesmo ser chamado o menor no Reino dos Céus; aquele, porém, que os praticar e os ensinar, esse
será chamado grande no Reino dos Céus (Mt 5,17-19). (Parágrafos relacionados: 1965,1967)
578 Jesus, o Messias de Israel, portanto o maior no Reino dos Céus, tinha a obrigação de cumprir a
Lei, executando-a em sua integridade até seus mínimos preceitos, segundo suas próprias palavras. Ele é o
único que conseguiu cumpri-la com perfeição. Os judeus, conforme sua própria confissão, nunca conseguiram
cumprir a Lei em sua integridade sem violar-lhe o mínimo preceito. Esta é a razão pela qual, em cada festa
anual da Expiação, os filhos de Israel pedem a Deus perdão por suas transgressões da Lei. Com efeito, a Lei
constitui um todo e, como recorda São Tiago, "aquele que guarda toda a Lei, mas desobedece a um só
ponto, torna- se culpado da transgressão da Lei inteira" (Tg [a23] 2,10). (Parágrafo relacionado: 1953)
579 Esse princípio da integralidade da observância da Lei, não somente em sua letra, mas em seu
espírito, era caro aos fariseus. Tomando-o extensivo a Israel, levaram muitos judeus do tempo de Jesus a um
zelo religioso extremo. Este zelo extremo, se não quisesse envolver-se em uma casuística "hipócrita", só podia
preparar o povo para essa intervenção inaudita de Deus que será o cumprimento perfeito da Lei
exclusivamente pelo Justo em lugar de todos os pecadores.
580 O cumprimento perfeito da Lei só podia ser obra do Legislador divino nascido sujeito à Lei na
pessoa do Filho. Em Jesus, a Lei não aparece mais gravada nas tábuas de pedra, mas "no fundo do
coração" (Jr 31,33) do Servo, o qual, pelo fato de "trazer fielmente o direito" (Is 42,3), se tornou "a Aliança
do povo" (Is 42,6). Jesus cumpriu a Lei até o ponto de tomar sobre si "a maldição da Lei[a28] ” in quod illi
incurrerant "qui non permanent in omnibus, quae scripta sunt, ut faciant ea", na qual incorrerreram aqueles
que "não praticam todos os preceitos da mesma, pois “a morte de Cristo aconteceu para resgatar as
transgressões cometidas no Regime da Primeira Aliança" (Hb 9, 15). (Parágrafo relacionado: 527)
581 Jesus apareceu aos olhos dos judeus e de seus chefes espirituais como um "rabi". Com
freqüência argumentou na linha da interpretação rabínica da Lei. Mas ao mesmo tempo Jesus só podia
chocar os doutores da Lei, já que não se contentava em propor sua interpretação em pé de igualdade com
as deles, senão que "ensinava como alguém que tem autoridade, e não como os escribas" (Mt 7,28-29).
Nele, é a mesma Palavra de Deus que tinha ressoado no Sinai para a Moisés a Lei escrita, que se faz ouvir
novamente sobre o Monte Bem-aventuranças. Ela não abole a Lei, mas a cumpre, fornecendo de modo divino
a interpretação última dela: "Aprendestes o que foi dito aos antigos... eu, porém, vos digo" (Mt 5,33-34).
Com esta mesma autoridade divina, Ele desabona certas "tradições humanas" dos fariseus que "invalidam a
Palavra de Deus". (Parágrafo relacionado: 2054)
582 Indo mais longe, Jesus cumpre a Lei a respeito da pureza dos alimentos, tão importante na vida
diária judaica, revelando o sentido “pedagógico" dela por uma interpretação divina: "Tudo o que de fora,
entrando no homem, não pode torná-lo impuro..." assim declarava puros todos os alimentos. "O que sai do
homem, é isto que o torna impuro. Pois é de dentro, do coração dos homens, que as intenções malignas" (Mc
7,18-21). Ao dar com autoridade divina a interpretação definitiva da Lei, Jesus acabou confrontando-se com
certos doutores da Lei que não aceitavam a interpretação da Lei dada por Jesus, apesar de garantida
pelos sinais divinos que a acompanhavam. Isto vale particularmente para a questão do sábado: Jesus
lembra, muitas vezes com argumentos rabínicos, que o descanso do sábado não é lesado pelo serviço de
Deus ou do próximo, executado por meio das curas operadas por Ele. (Parágrafos relacionados:
368,548,2173)
II. JESUS E O TEMPLO
583 Jesus, como os profetas anteriores a Ele, teve pelo Templo de Jerusalém o mais profundo
respeito. Nele foi apresentado por José e Maria quarenta dias após seu nascimento. Com doze anos, decide
ficar no Templo para lembrar a seus pais que deve dedicar-se às coisas de seu Pai. Durante os anos de sua
vida oculta, subiu ao Templo a cada ano, no mínimo por ocasião da Páscoa; até seu ministério público foi ritmado por suas peregrinações a Jerusalém para as grandes festas judaicas. (Parágrafos relacionados:
529,534)
584 Jesus subiu ao Templo como lugar privilegiado de encontro com Deus. O Templo é para ele a
morada de seu Pai, uma casa de oração, e se indigna pelo fato de seu átrio externo ter-se tornado um
lugar de comércio. Se expulsa os vendilhões do Templo, é por amor zeloso a seu Pai. "Não façais da casa
de meu Pai uma casa de comércio. Seus discípulos lembram-se do que está escrito: 'O zelo por tua casa me
devorará' (Sl 69)” (Jo 2,16-17). Depois de sua Ressurreição, os apóstolos mantiveram um respeito religioso
pelo Templo. (Parágrafo relacionado: 2599)
585 Contudo, no limiar de sua Paixão, Jesus anunciou a ruína desse esplêndido edifício, do qual não
restará mais pedra sobre pedra. Há aqui o anúncio de um sinal dos tempos finais que vão abrir-se com
sua própria Páscoa. Esta profecia, porém, pode ser relatada de modo deformado por testemunhas falsas no
momento do interrogatório de Jesus diante do sumo sacerdote, sendo-lhe atribuída como injúria quando ele
foi pregado à cruz.
586 Longe de ter sido hostil ao Templo, local em que aliás, ministrou o essencial de seu ensinamento,
Jesus fez questão de pagar o imposto do Templo, associando a este ato Pedro, que acabara de estabelecer
como fundamento para sua Igreja futura. Mais ainda: identificou-se com o Templo ao apresentar-se como a
morada definitiva de Deus entre os homens. Eis por que sua morte corporal decretada anuncia a destruição
do Templo, (destruição) que manifestará a entrada em uma nova era História da Salvação: "Vem a hora em
que nem sobre esta montanha nem em Jerusalém adorareis o Pai" (Jo 4,21) (Parágrafos relacionados:
797,1179)
anidade�*Ci �)�-esde a sua concepção, repleta do Espírito Santo, pois
Deus "lhe dá o Espírito sem medida" (Jo 3,34). É da "plenitude dele", cabeça da humanidade remida, que
"nós recebemos graça sobre graça" (Jo 1,16). (Parágrafo relacionado: 359)
505 Jesus, o Novo Adão, inaugura por sua concepção virginal o novo nascimento dos filhos de
adoção no Espírito Santo pela fé. "Como se fará isto?" (Lc 1,34[a97] ). A participação na vida divina não
vem "do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus" (Jo 1,13). O
acolhimento desta vida é virginal, pois esta é totalmente dada pelo Espírito ao homem. O sentido esponsal
da vocação humana em relação a Deus é realizado perfeitamente na maternidade virginal de Maria.
(Parágrafo relacionado: 1265)
506 Maria é virgem porque sua virgindade é o sinal de sua fé, absolutamente livre de qualquer
dúvida", e de sua doação sem reservas à vontade de Deus. É sua fé que lhe concede tomar-se a Mãe do
Salvador: "Beatior est Maria percipiendo fidem Christi quam concipiendo carnem Christi - Maria é mais bemaventurada recebendo a fé de Cristo do que concebendo a carne de Cristo". (Parágrafos relacionados:
148,1814)
507 Maria é ao mesmo tempo Virgem e Mãe por ser a figura e a mais perfeita realização da Igreja
"A Igreja... torna-se também ela Mãe por meio da palavra de Deus que ela recebe na fé, pois pela
pregação e pelo Batismo ela gera para a vida nova e imortal os filhos concebidos do Espírito Santo e
nascidos de Deus. Ela é também a virgem que guarda, íntegra e puramente, a fé dada a seu Esposo.
(Parágrafos relacionados: 967,149)
RESUMINDO
508 Na descendência de Eva, Deus escolheu a Virgem Maria para ser a Mãe de seu Filho. "Cheia
de graça", ela é "o fruto mais excelente da Redenção". Desde o primeiro instante de sua concepção, foi totalmente preservada da mancha do pecado original e permaneceu pura de todo pecado pessoal ao longo
de toda a sua vida.
509 Maria é verdadeiramente "Mãe de Deus", visto ser a Mãe do Filho Eterno de Deus feito homem,
que é ele mesmo Deus.
510 Maria "permaneceu Virgem concebendo seu Filho, Virgem ao dá-lo à luz, Virgem ao carregá-lo,
Virgem ao alimentá-lo de seu seio, Virgem sempre" : com todo o seu ser Ela é "a Serva do Senhor" (Lc 1,38).
511 A Virgem Maria cooperou "para a salvação humana com livre fé e obediência" Pronunciou seu
'fiat" (faça-se) "em representação de toda a natureza humana" Por sua obediência, tornou-se a nova Eva,
Mãe dos viventes.