O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA E DA RECONCILIAÇÃO

04/09/2012 13:40

 

ARTIGO 4

 

1422    “Aqueles que se aproximam do sacramento da Penitência obtêm da misericórdia

divina o perdão da ofensa feita a Deus e ao mesmo tempo são reconciliados com a Igreja que

feriram pecando, e a qual colabora para sua conversão com caridade exemplo e orações.”

I. COMO SE CHAMA ESTE SACRAMENTO?

1423    Chama-se sacramento da Conversão, pois realiza sacramentalmente o convite de

Jesus à conversão, o caminho de volta ao Pai, do qual a pessoa se afastou pelo pecado.

Chama-se sacramento da Penitência porque consagra um esforço pessoal e eclesial de

conversão, de arrependimento e de satisfação do cristão pecador.

1424     É chamado sacramento da Confissão porque a declaração, a confissão dos

pecados diante do sacerdote é um elemento essencial desse sacramento. Num sentido

profundo esse sacramento também  é uma “confissão”, reconhecimento e louvor da santidade

de Deus e de sua misericórdia para com o homem pecador. Também é chamado sacramento do perdão porque pela absolvição sacramental do sacerdote Deus concede “o perdão e a

paz”

É chamado sacramento da Reconciliação porque dá ao pecador o amor de Deus que

reconcilia: “Reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20). Quem vive do amor misericordioso de Deus

está pronto a responder ao apelo do Senhor: “Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão” (Mt

5,24).

II. POR QUE UM SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃO APÓS O BATISMO?

1425     “Vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em nome do

Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus” (1 Cor 6,11). É preciso tomar consciência da

grandeza do dom de Deus  que nos é oferecido nos sacramentos da iniciação cristã para

compreender até que ponto o pecado é algo que deve ser excluído daquele que se “vestiu de

Cristo”. Mas o apóstolo São João também diz: “Se dissermos: “Não temos pecado”, enganamonos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1Jo 1,8). E o próprio Senhor nos ensinou a

rezar: “Perdoa-nos os nossos pecados” (Lc 11,4), vinculando o perdão de nossas ofensas ao

perdão que Deus nos conceder de nossos pecados.

1426      A conversão a Cristo, o novo nascimento pelo Batismo, o dom do Espírito Santo, o

Corpo e o Sangue de Cristo recebidos como alimento nos tornaram “santos e irrepreensíveis

diante dele” (Ef 1,4), como a própria Igreja, esposa de Cristo, é “santa e irrepreensível” (Ef 5,27).

Entretanto, a nova vida recebida na iniciação cristã não suprimiu a fragilidade e a fraqueza da

natureza humana, nem a inclinação ao pecado, que a tradição chama de concupiscência,

que continua nos batizados para prová-los no combate da vida cristã, auxiliados pela graça de

Cristo. É o combate da conversão para chegar à santidade e à vida eterna, para a qual somos

incessantemente chamados pelo Senhor.

III. A CONVERSÃO DOS BATIZADOS

1427  Jesus convida à conversão. Este apelo é parte essencial do anúncio do Reino:

“Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho”

(Mc 1,15). Na pregação da Igreja este apelo é feito em primeiro lugar aos que ainda não

conhecem a Cristo e seu Evangelho. Além disso, o Batismo é o principal lugar da primeira e

fundamental conversão. É pela fé na Boa Nova e pelo Batismo [ag16] que se renuncia ao mal e

se adquire a salvação, isto é, a remissão de todos os pecados e o dom da nova vida.

1428    Ora o apelo de Cristo à conversão continua a soar na vida dos cristãos. Esta

segunda conversão é uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja, que “reúne em seu próprio seio

os pecadores” e que “e ao mesmo tempo santa e sempre, na necessidade de purificar-se, busca

sem cessar a penitência e a renovação”. Este esforço de conversão não é apenas uma obra

humana. E o movimento do “coração contrito” atraído e movido pela graça a responder ao

amor misericordioso de Deus que nos amou primeiro.

1429    Comprova-o a conversão de 5. Pedro após a tríplice negação de seu mestre. O

olhar de infinita misericórdia de Jesus provoca lágrimas de arrependimento, depois da

ressurreição do Senhor, a afirmação, três vezes reiterada, de seu amor por ele. A segunda

conversão também possui uma dimensão comunitária. Isto aparece no apelo do Senhor a toda

uma Igreja: “Converte-te!” (Ap 2,5.16).

Santo Ambrósio, referindo-se às duas conversões, diz que na Igreja “existem a água e as

lágrimas: a água do Batismo e as lágrimas da penitência”.

IV. A PENITÊNCIA INTERIOR

1430   Como já nos profetas, o apelo de Jesus à conversão e penitência não visa em

primeiro lugar às obras exteriores, saco e a cinza”, os jejuns e as mortificações, mas à conversão do coração, à penitência interior. Sem ela, as obras de penitência continuam estéreis e

enganadoras: a conversão interior, ao contrário, impele a expressar essa atitude por sinais visíveis,

gestos e obras de penitência.

1431   A penitência interior é uma reorientação radical de toda a vida, um retorno, uma

conversão para Deus de todo nosso coração, uma ruptura com o pecado, uma aversão ao mal

e repugnância às m s obras que cometemos. Ao mesmo tempo, é o desejo e a resolução de

mudar de vida com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda de sua graça.

Esta conversão do coração vem acompanhada de uma dor e uma tristeza salutares, chamadas

pelos Padres de “animi cruciatus (aflição do espírito)”, “compunctio cordis (arrependimento do

coração)” .

1432     O coração do homem apresenta-se pesado e endurecido. É preciso que Deus dê

ao homem um coração novo. A conversão é antes de tudo uma obra da graça de Deus que

reconduz nossos corações a ele: “Converte-nos a ti, Senhor, e nos converteremos” (Lm 5,21). Deus

nos dá a força de começar de novo. É descobrindo a grandeza do amor de Deus que nosso

coração experimenta o horror e o peso do pecado e começa a ter medo de ofender a Deus

pelo mesmo pecado e de ser separado dele. O coração humano converte-se olhando para

aquele que foi traspassado por nossos pecados.

Fixemos nossos olhos no sangue de Cristo para compreender  como é precioso a seu Pai

porque, derramado para a nossa salvação, dispensou ao mundo inteiro a graça do

arrependimento.

1433     Depois da Páscoa, o Espírito Santo “estabelecer a culpabilidade do mundo a

respeito do pecado”, a saber, que o mundo não acreditou naquele que o Pai enviou. Mas esse

mesmo Espírito, que revela o pecado, é o Consolador que dá ao coração do homem a graça

do arrependimento e da conversão.

V. AS MÚLTIPLAS FORMAS DA PENITÊNCIA NA VIDA CRISTÃ

1434     A penitência interior do cristão pode ter expressões bem variadas. A escritura e os

padres insistem principalmente em três formas: o jejum, a oração e a esmola, que exprimem a

conversão com relação a si mesmo, a Deus e aos outros. Ao lado da purificação radical

operada pelo batismo ou pelo martírio, citam, como meio de obter o perdão dos pecados, os

esforços empreendidos para reconciliar-se com o próximo as lágrimas de penitência, a

preocupação com a salvação do próximo, a intercessão dos santos e a prática da caridade,

“que cobre uma multidão de pecados” (1Pd 4,8).

1435     A conversão se realiza na vida cotidiana por meio de gestos de reconciliação, do

cuidado dos pobres, do exercício e da defesa da Justiça e do direito, pela confissão das faltas

aos irmãos, pela correção fraterna, pela revisão de vida, pelo exame de consciência pela

direção espiritual, pela aceitação dos sofrimentos, pela firmeza na perseguição por causa da

justiça. Tomar sua cruz, cada dia, seguir a Jesus é o caminho mais seguro da penitencia.

1436  Eucaristia e penitência. A conversão e a penitência cotidiana encontram sua fonte e

seu alimento na Eucaristia, pois nela se torna presente o sacrifício de Cristo que nos reconciliou

com Deus; por ela são nutridos e fortificados aqueles que vivem da vida de Cristo: “ela é o

antídoto que nos liberta de nossas faltas cotidianas e nos preserva dos pecados mortais”.

1437   A leitura da Sagrada Escritura, a oração da Liturgia das Horas e do Pai-nosso, todo

ato sincero de culto ou de piedade reaviva em nós o espírito de conversão e  de penitência e

contribui para o perdão dos pecados.

1438   Os tempos e os dias de penitência ao longo do ano litúrgico (o tempo da

quaresma, cada sexta-feira em memória da morte do Senhor) são momentos fortes da prática

penitencial da Igreja[ag45] . Esses tempos são particularmente apropriados aos exercícios

espirituais, às liturgias penitenciais, às peregrinações em sinal de penitência, às privações

voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna (obras de caridade e missionárias).1439     O dinamismo da conversão e da penitência foi maravilhosa-mente descrito por

Jesus na parábola do “filho pródigo”, cujo centro é “O pai misericordioso”: o fascínio de uma

liberdade ilusória, o abandono da casa paterna; a extrema miséria em que se encontra o filho

depois de esbanjar sua fortuna; a profunda humilhação de ver-se obrigado a cuidar dos porcos

e, pior ainda, de querer matar a fome com a sua ração; a reflexão sobre os bens perdidos; o

arrependimento e a decisão de declarar-se culpado diante do pai; o caminho de volta; o

generoso acolhimento da parte do pai; a alegria do pai: tudo isso são traços específicos do

processo de conversão. A bela túnica, o anel e o banquete da festa são símbolos desta nova

vida, pura, digna, cheia de alegria, que é a vida do homem que volta a Deus e ao seio de sua

família, que é a Igreja. Só o coração de Cristo que conhece as profundezas do amor do Pai

pôde revelar-nos o abismo de sua misericórdia de uma maneira tão simples e tão bela.

VI. O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA E DA RECONCILIAÇÃO

1440     O pecado é antes de tudo uma ofensa a Deus, uma ruptura da comunhão com

ele. Ao mesmo tempo é um atentado à comunhão com a Igreja. Por isso, a conversão traz

simultaneamente o perdão de Deus e a reconciliação com a Igreja, Q que é expresso e

realizado liturgicamente pelo sacramento da Penitência e da Reconciliação.

SÓ DEUS PERDOA OS PECADOS

1441     Só Deus perdoa os pecados[. Por ser o Filho de Deus, Jesus diz de si mesmo: “O Filho

do homem tem poder de perdoar pecados na terra” (Mc 2,10) e exerce esse poder divino: “Teus

pecados estão perdoados!” (Mc 2,5). Mais ainda: em virtude de sua autoridade divina, transmite

esse poder aos homens para que o exerçam em seu nome.

1442     A vontade de Cristo é que toda a sua Igreja seja, na oração, em sua vida e em sua

ação, o sinal e instrumento do perdão e da reconciliação que “ele nos conquistou ao preço de

seu sangue”. Mas confiou o exercício do poder de absolvição ao ministério apostólico,

encarregado do “ministério da reconciliação” (2Cor 5,18). O apóstolo é enviado “em nome de

Cristo”, e “é o próprio Deus” que, por meio dele, exorta e suplica: “Reconciliai-vos com Deus”

(2Cor 5,20).

RECONCILIAÇÃO COM A IGREJA

1443     Durante sua vida pública, Jesus não só perdoou os pecados, mas também

manifestou o efeito desse perdão: reintegrou os pecadores perdoados na comunidade do povo

de Deus, da qual o pecado os havia afastado ou até excluído. Um sinal evidente disso é o fato

de Jesus admitir os pecadores à sua mesa e, mais ainda, de Ele mesmo sentar-se à sua mesa,

gesto que exprime de modo estupendo ao mesmo tempo o perdão de Deus e o retomo ao seio

do Povo de Deus.

1444     Conferindo aos apóstolos seu próprio poder de perdoar os pecados, o Senhor

também lhes dá a autoridade de reconciliar os pecadores com a Igreja. Esta dimensão eclesial

de sua tarefa exprime-se principalmente na solene palavra de Cristo a Simão Pedro: “Eu te darei

as chaves do Reino dos Céus, e o que ligares na terra ser ligado nos céus, e o que desligares na

terra será desligado nos céus” (Mt 16,19). “O múnus de ligar e desligar, que foi dado a Pedro,

consta que também foi dado ao colégio do apóstolos, unido a seu chefe (cf. Mt 18,18; 28,16-

20).”

1445   As palavras ligar e desligar significam: aquele que excluirdes da vossa comunhão,

será excluído da comunhão com Deus; aquele que receberdes de novo na vossa comunhão,

Deus o acolherá também na sua. A reconciliação com a Igreja é inseparável da reconciliação

com Deus.O SACRAMENTO DO PERDÃO

1446   Cristo instituiu o sacramento da Penitência para todos os membros pecadores de

sua Igreja, antes de tudo para aqueles que, depois do Batismo, cometeram pecado grave e

com isso perderam a graça batismal e feriram a comunhão eclesial. E a eles que o sacramento

da Penitência oferece uma nova possibilidade de converter-se e de recobrar a graça da

justificação. Os Padres da Igreja apresentam este sacramento como “a segunda tábua (de

salvação) depois do naufrágio que é a perda da graça.

1447  No curso dos séculos, a forma concreta segundo a qual a Igreja exerceu este poder

recebido do Senhor variou muito. Nos primeiros séculos, a reconciliação dos cristãos que haviam

cometido pecados particularmente graves depois do Batismo (por exemplo, a idolatria, o

homicídio ou o adultério) estava ligada a uma disciplina bastante rigorosa, segundo a qual os

penitentes deviam fazer penitência pública por seus pecados, muitas vezes durante longos anos,

antes de receber a reconciliação. A esta “ordem dos penitentes” (que incluía apenas certos

pecados graves) só se era admitido raramente e, em certas regiões, só uma vez na vida. No

século VII, inspirados na tradição monástica do Oriente, os missionários irlandeses trouxeram para

a Europa continental a prática “privada” da penitência que não mais exigia a prática pública e

prolongada de obras de penitência antes de receber a reconciliação com a Igreja. O

sacramento se realiza daí em diante de uma forma mais secreta entre o penitente e o presbítero.

Esta nova prática previa a possibilidade da repetição, abrindo assim o caminho para uma

freqüência regular a este sacramento. Permitia integrar numa única celebração sacramental o

perdão dos pecados graves e dos pecados veniais. Em linhas gerais, é essa a forma de

penitência praticada na Igreja até hoje.

1448     Mediante as mudanças por que passaram a disciplina e a celebração deste

sacramento ao longo dos séculos, podemos discernir sua própria estrutura fundamental que

consta de dois elementos igualmente essenciais: de um lado, os atos do homem que se converte

sob a ação do Espírito Santo, a saber, a contrição, a confissão e a satisfação; de outro lado, a

ação de Deus por intermédio da Igreja. A Igreja que, pelo Bispo e seus presbíteros, concede, em

nome de Jesus Cristo, o perdão dos pecados e fixa a modalidade da satisfação, ora pelo

pecador e faz penitência com ele. Assim o pecador é curado e reintegrado na comunhão

eclesial.

1449     A fórmula da absolvição em uso na Igreja latina exprime os elementos essenciais

deste sacramento: o Pai das misericórdias é a fonte de todo perdão. Ele opera a reconciliação

dos pecadores pela páscoa de seu Filho e pelo dom de seu Espírito, por meio da oração e

ministério da Igreja:

Deus, Pai de misericórdia, que, pela Morte e Ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo

consigo e enviou o Espírito  Santo para remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da

Igreja, o perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai e do Filho e do

Espírito Santo.

VII. OS ATOS DO PENITENTE

1450  “A penitência impele o pecador a suportar tudo de boa vontade. Em seu coração

está o arrependimento; em sua boca, a acusação; em suas obras, plena humildade e proveitosa

satisfação”.

A CONTRIÇÃO

1451   Entre os atos do penitente, a contrição vem em primeiro lugar. Consiste “numa dor

da alma e detestação do pecado cometido, com a resolução de não mais pecar no futuro” .

1452     Quando brota do amor de Deus, amado acima de tudo, contrição é “perfeita”

(contrição de caridade). Esta contrição perdoa as faltas veniais e obtém também o perdão dos pecado mortais, se incluir a firme resolução de recorrer, quando possível, à confissão

sacramental.

1453     A contrição chamada “imperfeita” (ou “atrição”) também é um dom de Deus, um

impulso do Espírito Santo. Nasce da consideração do peso do pecado ou do temor da

condenação eterna e de outras penas que ameaçam o pecador (contrição por temor). Este

abalo da consciência pode ser o início de uma evolução interior que ser concluída sob a ação

da graça, pela absolvição sacramental. Por si mesma, porém, a contrição imperfeita não obtém

o perdão dos pecados graves, mas predispõe a obtê-lo no sacramento da penitência.

1454     Convém preparar a recepção deste sacramento fazendo um exame de

consciência à luz da Palavra de Deus. Os textos mais adaptados esse fim devem ser procurados

na catequese moral dos evangelhos e das cartas apostólicas: Sermão da Montanha,

ensinamentos apostólicos.

A CONFISSÃO DOS PECADOS

1455  A confissão dos pecados (acusação), mesmo do ponto de vista simplesmente

humano, nos liberta e facilita nossa reconciliação com os outros. Pela acusação, o homem

encara de frente os pecados dos quais se tornou culpado: assume a responsabilidade deles e,

assim, abre-se de novo a Deus e à comunhão da Igreja, a fim de tomar possível um futuro novo.

1456  A declaração dos pecados ao sacerdote constitui uma parte essencial do

sacramento da penitência: “Os penitentes devem, na confissão, enumerar todos os pecados

mortais de que têm consciência depois de examinar-se seriamente, mesmo que esses pecados

sejam muito secretos e tenham sido cometidos somente contra os dois últimos preceitos do

decálogo (Cf Ex 20,17; Mt 5,28.), pois, às vezes, esses pecados ferem gravemente a alma e são

mais prejudiciais do que os outros que foram cometidos à vista e conhecimento de todos”.

Quando os cristãos se esforçam para confessar todos os pecados que lhes vêm à

memória, não se pode duvidar que tenham o intuito de apresentá-los todos ao perdão da

misericórdia divina. Os que agem de outra forma, tentando ocultar conscientemente alguns

pecados, não colocam diante da bondade divina nada que ela possa perdoar por intermédio

do sacerdote. Pois, “se o doente tem vergonha de mostrar sua ferida ao médico, a medicina

não pode curar aquilo que ignora ”.

1457     Conforme o mandamento da Igreja, “todo fiel, depois de ter chegado à idade da

discrição, é obrigado a confessar seus pecados graves, dos quais tem consciência, pelo menos

uma vez por ano. Aquele que tem consciência de ter cometido um pecado mortal não deve

receber a Sagrada Comunhão, mesmo que esteja profundamente contrito, sem receber

previamente a absolvição sacramental, a menos que tenha um motivo grave para comungar e

lhe seja impossível chegar a um confessor. As crianças devem confessar-se antes de receber a

Primeira Eucaristia.

1458     Apesar de não ser estritamente necessária, a confissão das faltas cotidianas

(pecados veniais) é vivamente recomendada pela Igreja. Com efeito, a confissão regular de

nossos pecados veniais nos ajuda a formar a consciência, a lutar contra nossas más tendências,

a deixar-nos curar por Cristo, a progredir na vida do Espírito. Recebendo mais freqüentemente,

por meio deste sacramento, o dom da misericórdia do Pai, somos levados a ser misericordiosos

como ele;

Quem confessa os próprios pecados já está agindo em harmonia com Deus. Deus acusa

teus pecados; se tu também os acusas, tu te associas a Deus. O homem e o pecador são, por

assim dizer, duas realidades: quando ouves falar do homem, foi Deus quem o fez; quando ouves

falar do pecador, é o próprio homem quem o fez. Destrói o que fizeste para que Deus salve o

que Ele fez... Quando começas a detestar o que fizeste, é então que tuas boas obras começam,

porque acusas tuas más obras. A confissão das más obras é o começo das boas obras. Contribui

para a verdade e consegues chegar à 1uz[.A SATISFAÇÃO

1459     Muitos pecados prejudicam o próximo. É preciso fazer possível para reparar esse

mal (por exemplo restituir as coisas roubadas, restabelecer a reputação daquele que foi

caluniado ressarcir as ofensas e injúrias). A simples justiça exige isso. Mas, além disso, o pecado

fere e enfraquece o próprio pecador, como também suas relações com Deus e com o próxima.

A absolvição tira o pecado, mas não remedeia todas as desordens que ele causou. Liberto do

pecado, o pecador deve ainda recobrar a plena saúde espiritual. Deve, portanto, faz alguma

coisa a mais para reparar seus pecados: deve “satisfazer” de modo apropriado ou “expiar” seus

pecados. Esta satisfação chama-se também “penitência”.

1460  A penitência imposta pelo confessor deve levar em conta a situação pessoal do

penitente e procurar seu bem espiritual. Deve corresponder, na medida do possível, à gravidade

e à natureza dos pecados cometidos. Pode consistir na oração, numa oferta, em obras de

misericórdia, no serviço do próximo, em privações voluntárias, em sacrifícios e principalmente na

aceitação paciente da cruz que devemos carregar. Essas penitências nos ajudam a configurarnos com Cristo, que, sozinho, expiou nossos pecados uma vez por todas. Permitem-nos também

tomar-nos co-herdeiros de Cristo ressuscitado, “pois sofremos com ele”:

Mas nossa satisfação, aquela que pagamos por nossos pecados, só vale por intermédio de

Jesus Cristo, pois, não podendo coisa alguma por nós mesmos, “tudo podemos com a

cooperação daquele que nos dá força”(Cf Fl 4,13). E, assim, não tem o homem de que se gloriar,

mas toda a nossa “glória” está em Cristo... em quem oferecemos satisfação, “produzindo dignos

frutos de penitência (Cf Lc 3,8.), que dele recebem seu valor, por Ele são oferecidos ao Pai  e

graças a Ele são aceitos pelo Pai.

VIII. O MINISTRO DESTE SACRAMENTO

1461     Como Cristo confiou a seus apóstolos o ministério da Reconciliação, os Bispos, seus

sucessores, e os presbíteros, colaboradores dos Bispos, continuam a exercer esse ministério. De

fato, são os Bispos e os presbíteros que têm, em virtude do sacramento da Ordem, o poder de

perdoar todos os pecados “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

1462     O perdão dos pecados reconcilia com Deus, mas também com a Igreja. O Bispo,

chefe visível da Igreja Particular, é, portanto, considerado, com plena razão, desde os tempos

primitivos, aquele que principalmente detém o poder e o ministério da reconciliação: ele é o

moderador da disciplina penitencial. Os presbíteros, seus colaboradores, o exercem na medida

em que receberam o múnus, quer de seu Bispo (ou de um superior religioso), quer do Papa, por

meio do direito da Igreja.

1463  Alguns pecados particularmente graves são passíveis de excomunhão, a pena

eclesiástica mais severa, que impede a recepção dos sacramentos e o exercício de certos atos

eclesiais. Neste caso, a absolvição não pode ser dada, segundo o direito da Igreja, a não ser

pelo Papa, pelo Bispo local ou por presbíteros autorizados por eles. Em caso de perigo de morte,

qualquer sacerdote, mesmo privado da faculdade de ouvir confissões, pode absolver de

qualquer pecado e de qualquer excomunhão.

1464     Os sacerdotes devem incentivar os fiéis a receber o sacramento da Penitência e

devem mostrar-se disponíveis a celebrar este sacramento cada vez que os cristãos o pedirem de

modo conveniente.

1465     Ao celebrar o sacramento da Penitência, o sacerdote cumpre o ministério do bom

pastor, que busca a ovelha perdida; do bom samaritano, que cura as feridas; do Pai, que espera

o filho pródigo e o acolhe ao voltar; do justo juiz, que não faz acepção de pessoa e cujo

julgamento é justo e misericordioso ao mesmo tempo. Em suma, o sacerdote é o sinal e o

instrumento do amor misericordioso de Deus para com o pecador. 1466     O confessor não é o senhor, mas o servo do perdão de Deus. O ministro deste

sacramento deve unir-se à intenção e à caridade Cristo. Deve possuir um comprovado

conhecimento do comportamento cristão, experiência das coisas humanas, respeito e

delicadeza diante daquele  que caiu; deve amar a verdade, ser fiel ao magistério da Igreja e

conduzir, com paciência, o penitente à cura e à plena maturidade. Deve orar e fazer penitência

por ele, confiando-o à misericórdia do Senhor.

1467     Diante da delicadeza e da grandiosidade deste ministério e do respeito que se

deve às pessoas, a Igreja declara que todo sacerdote que ouve confissões é obrigado a guardar

segredo absoluto a respeito dos pecados que seus penitentes lhe confessaram, sob penas

severíssimas. Também não pode fazer  uso do conhecimento da vida dos penitentes adquirido

pela confissão. Este segredo, que não admite exceções, chama-se “sigilo sacramental”, porque

o que o penitente manifestou ao sacerdote permanece “sigilado” pelo sacramento.

IX. OS EFEITOS DESTE SACRAMENTO

1468     “Toda a força da Penitência reside no fato de ela nos reconstituir na graça de Deus

e de nos unir a Ele com a máxima amizade.” Portanto, a finalidade e o efeito deste sacramento

é a reconciliação com Deus. Os que recebem o sacramento da Penitência com coração

contrito e disposição religiosa “podem usufruir a paz e a tranqüilidade da consciência, que vem

acompanhada de uma intensa consolação espiritual”. Com efeito, o sacramento da

Reconciliação com Deus traz consigo uma verdadeira “ressurreição  espiritual”, uma restituição

da dignidade e dos bens da vida dos filhos de Deus, entre os quais o mais precioso é a amizade

de Deus (Cf Lc 15,32).

1469     Este sacramento nos reconcilia com a Igreja. O pecado fende ou quebra a

comunhão fraterna. O sacramento da Penitência a repara ou restaura. Neste sentido, ele não

cura apenas aquele que é restabelecido na comunhão eclesial, mas tem também um efeito

vivificante sobre a vida da Igreja, que sofreu com o pecado de um de seus membros.

Restabelecido ou confirmado na comunhão dos santos, o pecador sai fortalecido pela

participação dos bens espirituais de todos os membros vivos do Corpo de Cristo, quer estejam

ainda em estado de peregrinação, quer já estejam na pátria celeste:

Não devemos esquecer que a reconciliação com Deus tem como conseqüência, por

assim dizer, outras reconciliações capazes de remediar outras rupturas ocasionadas pelo

pecado: o penitente perdoado reconcilia-se consigo mesmo no íntimo mais profundo de seu ser,

onde recupera a própria verdade interior; reconcilia-se com os irmãos que de alguma maneira

ofendeu e feriu; reconcilia-se com a Igreja; e reconcilia-se com toda a criação.

1470     Neste sacramento, o pecador, entregando-se ao julgamento misericordioso de

Deus, antecipa de certa maneira o julgamento a que ser sujeito no fim desta vida terrestre. Pois é

agora, nesta vida, que nos é oferecida a escolha entre a vida e a morte, e só pelo caminho da

conversão poderemos entrar no Reino do qual somos excluídos pelo pecado grave.

Convertendo-se a Cristo pela penitência e pela fé, o pecador passa da morte para a vida “sem

ser julgado” (Jo 5,24).

X. AS INDULGÊNCIAS

1471   A doutrina e a prática das indulgências na Igreja estão estreitamente ligadas aos

efeitos do sacramento da Penitência.

QUE É A INDULGÊNCIA?

“A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já

perdoados quanto à culpa, (remissão) que o fiel bem-disposto obtém, em condiçõesdeterminadas, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e

aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de Cristo e dos santos.”

“A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberar parcial totalmente da pena devida

pelos pecados.” Todos os fiéis podem adquirir indulgências (...) para si mesmos ou aplicá-las aos

defuntos.

AS PENAS DO PECADO

1472        Para compreender esta doutrina e esta prática da Igreja, é preciso admitir que o

pecado tem uma dupla conseqüência. O pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e,

conseqüentemente, nos toma incapazes da vida eterna; esta privação se chama “pena eterna”

do pecado. Por outro lado, todo pecado, mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às

criaturas que exige purificação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no estado chamado

“purgatório”. Esta purificação liberta da chamada “pena temporal” do pecado. Essas duas

penas não devem ser concebidas como uma espécie de vingança infligida por Deus do exterior,

mas, antes, como uma conseqüência da própria natureza do pecado. Uma conversão que

procede de uma ardente caridade pode chegar à total purificação do pecador, de tal modo

que não haja mais nenhuma pena.

1473     O perdão do pecado e a restauração da comunhão com Deus implicam a

remissão das penas eternas do pecado. Mas permanecem as penas temporais do pecado.

Suportando pacientemente os sofrimentos e as provas de todo tipo e, chegada a hora,

enfrentando serenamente a morte, o cristão deve esforçar-se para aceitar, como urna graça,

essas penas temporais do pecado; deve aplicar-se, por inicio de obras de misericórdia e de

caridade, como também pela oração e por diversas práticas de penitência, a despojar-se

completamente do “velho homem” para revestir-se do “homem novo”.

NA COMUNHÃO DOS SANTOS

1474  O cristão que procura purificar-se de seu pecado e santificar-se com o auxílio da

graça de Deus não está só. “A vida de cada um dos filhos de Deus se acha unida, por um

admirável laço, em Cristo e por Cristo, com a vida de todos os outros irmãos cristãos na unidade

sobrenatural do corpo místico de Cristo, como numa única pessoa mística.”

1475  Na comunhão dos santos, “existe certamente entre os fiéis já admitidos na posse da

pátria celeste, os que expiam as faltas no purgatório e os que ainda peregrinam na terra, um

laço de caridade e um amplo intercâmbio de todos os bens”. Neste admirável intercâmbio,

cada um se beneficia da santidade dos outros, bem para além do prejuízo que o pecado de um

possa ter causado aos outros. Assim, o recurso à comunhão dos santos permite ao pecador

contrito se purificado, mais cedo e mais eficazmente, das penas do pecado.

1476  Esses bens espirituais da comunhão dos santos também são chamados o tesouro da

Igreja, “que não é uma soma de bens comparáveis às riquezas materiais acumuladas no

decorrer dos séculos, mas é o valor infinito e inesgotável que têm junto a Deus as expiações e os

méritos de Cristo, nosso Senhor, oferecidos para que a humanidade toda seja libertada do

pecado e chegue à comunhão com o Pai. E em Cristo, nosso redentor, que se encontram em

abundância as satisfações e os méritos de sua redenção”.

1477  “Pertence, além disso, a esse tesouro o valor verdadeiramente imenso,

incomensurável e sempre novo que têm junto a Deus as preces e as boas obras da Bemaventurada Virgem Maria e de todos os santos que, seguindo as pegadas de Cristo Senhor, por

sua graça se santificaram e totalmente acabaram a obra que o Pai lhes confiara, de sorte que,

operando a própria salvação, também contribuíram para a salvação de seus irmãos na unidade

do corpo místico.”OBTER A INDULGÊNCIA DE DEUS MEDIANTE A IGREJA

1478     A indulgência se obtém de Deus mediante a Igreja, que, em virtude do poder de

ligar e desligar que Cristo Jesus lhe concedeu, intervém em favor do cristão, abrindo-lhe o

tesouro dos méritos de Cristo e dos santos para obter do Pai das misericórdias a remissão das

penas temporais devidas a seus pecados. Assim, a Igreja não só vem em auxílio do cristão, mas

também o incita a obras de piedade, de penitência e de caridade.

1479   Uma vez que os fiéis defuntos em vias de purificação também são membros da

mesma comunhão dos santos, podemos ajudá-los entre outros modos, obtendo em favor deles

indulgências para libertação das penas temporais devidas por seus pecados.

XI. A CELEBRAÇÃO DO SACRAMENTO DA PENITÊNCIA

1480    Como todos os sacramentos, a Penitência é uma ação litúrgica. São estes

ordinariamente os elementos da celebração: saudação e bênção do sacerdote, leitura da

Palavra de Deus para iluminar a consciência e suscitar a contrição, exortação ao

arrependimento; confissão que reconhece os pecados e os manifesta ao padre; imposição e

aceitação da penitência; absolvição do sacerdote; louvor de ação de graças e despedida com

a bênção do sacerdote.

1481   A liturgia bizantina conhece diversas fórmulas de absolvição, forma depreciativa,

que exprimem admiravelmente o mistério do perdão: “Que o Deus que pelo profeta Natã

perdoou a Davi, que confessou seus próprios pecados; a Pedro, quando chorou amargamente;

à prostituta, quando lavou seus pés com lágrimas; ao publicano e ao filho pródigo, que esse

mesmo Deus vos perdoe, por mim, pecador, nesta vida e na outra, e vos faça comparecer em

seu terrível tribunal sem vos condenar, Ele que é bendito nos séculos dos séculos. Amém.

1482  O sacramento da Penitência também pode ter lugar no quadro de uma celebração

comunitária, na qual as pessoas se preparam juntas para a confissão e também juntas

agradecem pelo perdão recebido. Neste caso, a confissão pessoal dos pecados e a absolvição

individual são inseridas numa liturgia da Palavra de Deus, com leituras e homilia, exame de

consciência em comum, pedido comunitário de perdão, oração do Pai-Nosso e ação de graças

em comum. Esta celebração comunitária exprime mais claramente o caráter eclesial da

penitência. Mas, seja qual for o modo da celebração, o sacramento da Penitência sempre é, por

sua própria natureza, uma ação litúrgica, portanto eclesial e pública.

1483   Em casos de necessidade grave, pode-se recorrer à celebração comunitária da

reconciliação com confissão e absolvição gerais. Esta necessidade grave pode apresentar-se

quando há um perigo iminente de morte sem que o ou os sacerdotes tenham tempo suficiente

para ouvir a confissão de cada penitente. A necessidade grave pode também apresentar-se

quando, tendo-se em vista o número dos penitentes, não havendo confessores suficientes para

ouvir devidamente as confissões individuais num tempo razoável, de modo que os penitentes,

sem culpa de sua parte, se veriam privados durante muito tempo da graça sacramental ou da

sagrada Eucaristia. Nesse caso, os fiéis devem ter, para a validade da absolvição, o propósito de

confessar individualmente seus pecados graves no devido tempo. Cabe ao Bispo diocesano

julgar se os requisitos para a absolvição geral existem[ag138] . Um grande concurso de fiéis por

ocasião das grandes festas ou de peregrinação não constitui caso de tal necessidade grave.

1484   “A confissão individual e integral seguida da absolvição continua sendo o único

modo ordinário pelo qual os fiéis se reconciliam com Deus  e com a Igreja, salvo se uma

impossibilidade física ou moral dispensar desta confissão.” Há razões profundas para isso. Cristo

age em cada um dos sacramentos. Dirige-se pessoalmente a cada um dos pecadores: “Filho, os

teus pecados estão perdoados” (Mc 2,5); ele é o médico que se debruça sobre cada um dos

doentes que têm necessidade dele para curá-los; ele os soergue e reintegra na comunhão

fraterna. A confissão pessoal é, pois, a forma mais significativa da reconciliação com Deus e com

a Igreja.RESUMINDO

1485  “Dizendo isso, soprou sobre eles e lhes disse: Recebei o Espírito Santo; aqueles a

quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; aqueles aos quais os retiverdes, ser-lhes-ão

retidos” (Jo 20,22-23).

1486   O perdão dos pecados cometidos após o Batismo é concedido por um sacramento

próprio chamado sacramento da Conversão, da Confissão, da Penitência ou da Reconciliação.

1487    Quem peca fere a honra de Deus e seu amor, sua própria dignidade de homem

chamado a ser filho de Deus e a saúde espiritual da Igreja, da qual cada cristão é uma pedra

viva.

1488    Aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave que o pecado, e nada tem

conseqüências piores para os próprios pecador, e para a Igreja e para o mundo inteiro.

1489   Voltar à comunhão com Deus depois de a  ter perdido pelo pecado é um

movimento que nasce da graça do Deus misericordioso e solícito pela salvação dos homens. E

preciso pedir esse dom precioso para si mesmo e também para os outros.

1490     O movimento de volta a Deus, chamado conversão e arrependimento, implica

uma dor e uma aversão aos pecados cometidos e o firme propósito de não mais pecar no

futuro. A conversão atinge, portanto, o passado e o futuro; nutre-se da esperança na

misericórdia divina.

1491     O sacramento da Penitência é constituído de três atos do penitente e da

absolvição dada pelo sacerdote. Os atos do penitente são o arrependimento, a confissão ou

manifestação dos pecados ao sacerdote e o propósito de cumprir a penitência e as obras de

reparação.

1492     O arrependimento (também chamado contrição) deve inspirar-se em motivos que

decorrem da fé. Se o arrependimento estiver embasado no amor de caridade para com Deus, é

chamado “perfeito”; se estiver fundado em outros motivos, será “imperfeito”.

1493   Aquele que quiser obter a reconciliação com Deus e com a Igreja deve confessar

ao sacerdote todos os pecados graves que ainda não confessou e de que se lembra depois de

examinar cuidadosamente sua consciência. Mesmo sem ser necessária em si a confissão das

faltas veniais, a Igreja não deixa de recomendá-la vivamente.

1494    O confessor propõe ao penitente o cumprimento de certos atos de “satisfação” ou

de “penitencia”, para reparar o prejuízo causado pelo pecado e restabelecer os hábitos próprios

ao discípulo de Cristo.

1495     Somente os sacerdotes que receberam da autoridade da Igreja a faculdade de

absolver podem perdoar os pecados em nome de Cristo.

1496     Os efeitos espirituais do sacramento da Penitência são:

ü      a reconciliação com Deus, pela qual o penitente recobra a graça;

ü      a reconciliação com a Igreja;

ü      a remissão da pena eterna devida aos pecados mortais;

ü      a remissão, pelo menos em parte, das penas temporais, seqüelas do pecado;

ü      a paz e a serenidade da consciência e a consolação espiritual;

ü      o acréscimo de forças espirituais para o combate cristão.

1497     A confissão individual e integral dos pecados graves, seguida da absolvição,

continua sendo o único meio ordinário de reconciliação com Deus e com a Igreja.1498     Pelas indulgências, os fiéis podem obter para si mesmos e também para as almas

do