III. OS SACRAMENTOS DA FÉ

04/09/2012 13:36

 

 

1122   Cristo enviou seus apóstolos para que “em seu Nome fosse proclamado a todas as nações. O

arrependimento para a remissão dos pecados” (Lc 24,47). “Fazei que todos os povos se tornem discípulos,

batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). A missão de batizar, portanto a

missão sacramental, está implícita na missão de evangelizar, pois o sacramento é preparado pela Palavra

de Deus e pela fé, que é assentimento a esta Palavra:

O povo de Deus congrega-se antes de mais nada pela Palavra do Deus vivo. (...) A proclamação

da Palavra é indispensável ao ministério sacramental, pois se trata dos sacramentos da fé, e esta nasce e

se alimenta da Palavra.

1123   “Os sacramentos destinam-se à santificação dos homens, à edificação do Corpo de Cristo e

ainda ao culto a ser prestado a Deus. Sendo sinais, destinam-se também à instrução. Não só supõem a fé,

mas por palavras e coisas também a alimentam, a fortalecem e a exprimem. Por esta razão são

chamados sacramentos da fé.”

1124   A fé da Igreja é anterior à fé do fiel, que é convidado a aderir a ela. Quando a Igreja celebra

os sacramentos, confessa a fé recebida dos apóstolos. Daí o adágio antigo: lex orandi, lex credendi (“a lei

da oração é a lei da fé”) (ou então: legem credendi, lex statuat supplicandia lei do que suplica

estabeleça a lei do que crê, segundo Próspero de Aquitânia [século V]). A lei da oração é a lei da fé, ou

seja: a Igreja traduz em sua profissão de fé aquilo que expressa em sua oração. A liturgia é um elemento

constitutivo da santa e viva Tradição.

1125   E por isso que nenhum rito sacramental pode ser modificado ou manipulado ao arbítrio do

ministro ou da comunidade. Nem mesmo a suprema autoridade da Igreja pode alterar a Liturgia ao seu

arbítrio, mas somente na obediência da fé e no religioso respeito do Mistério da Liturgia.

1126   De resto, visto que os sacramentos exprimem e desenvolvem a comunhão de fé na Igreja, a

lex orandi é um dos critérios essenciais do diálogo que busca restaurar a unidade dos cristãos.

IV. SACRAMENTOS DA SALVAÇÃO

1127 Celebrados dignamente na fé, os sacramentos conferem a graça que significam. São eficazes

porque neles age o próprio Cristo; é ele quem batiza, é ele quem atua em seus sacramentos, a fim de

comunicar a graça significada pelo sacramento. O Pai sempre atende à oração da Igreja de seu Filho, a

qual, na epiclese de cada sacramento, exprime sua fé no poder do Espírito. Assim como o fogo transforma

nele mesmo tudo o que toca, o Espírito Santo transforma em vida divina o que é submetido ao seu poder.

1128   Este é o sentido da afirmação da Igreja: os sacramentos atuam ex opere operato

(literalmente: “pelo próprio fato de a ação ser realizada”), isto é, em virtude da obra salvífica de Cristo,

realizada uma vez por todas. Daí segue-se que “o sacramento não é realizado pela justiça do homem que

o confere ou o recebe, mas pelo poder de Deus”. A partir de momento em que um  sacramento é

celebrado em conformidade com a intenção da Igreja, o poder de Cristo e de seu Espírito agem nele e

por ele, independentemente da santidade pessoal do ministro. Contudo, os frutos dos sacramentos

dependem também das disposições de quem os recebe.

1129   A Igreja afirma que para os crentes os sacramentos da nova aliança são necessários à

salvação. A “graça sacramental” é a graça do Espírito Santo dada por Cristo e peculiar a cada

sacramento. O Espírito cura e transforma os que o recebem, conformando-os com o Filho de Deus. O fruto

da vida sacramental é que o Espírito de adoção deifica os fiéis unindo-os vitalmente ao Filho único, o

Salvador.V. OS SACRAMENTOS DA VIDA ETERNA

1130   A Igreja celebra o mistério de seu Senhor “até que Ele venha” e até que “Deus seja tudo em

todos” (1 Cor 11,26; 15,28). Desde a era apostólica a liturgia é atraída para seu termo (meta final) pelo

gemido do Espírito na Igreja: “Maran athá!” (Palavras aramaicas que significam: “O Senhor vem”) (1 Cor

16,22). A liturgia participa assim do desejo de Jesus: “Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco

(...) até que ela se cumpra no Reino de Deus” (Lc 22,15-16). Nos sacramentos de Cristo, a Igreja já recebe o

penhor da herança dele, já participa da Vida Eterna, embora ainda “aguarde a bendita esperança, a

manifestação da glória de nosso grande Deus e Salvador, Cristo Jesus” (Tt 2,13). “O Espírito e a esposa

dizem: Vem! (...) Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22,17.20).

Santo Tomás resume assim as diversas dimensões do sinal sacramental: “Daí que o sacramento é um

sinal rememorativo daquilo que antecedeu, isto é, a Paixão de Cristo; e demonstrativo daquilo que em nós

é realizado pela Paixão de Cristo, a saber, a graça; e prenunciador, isto é, que prenuncia a glória futura”.

RESUMINDO

1131   Os sacramentos são sinais eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja, por

meio dos quais nos é dispensada a vida divina. Os ritos visíveis sob os quais os sacramentos são celebrados

significam e realizam as graças próprias de cada sacramento. Produzem fruto naqueles que os recebem

com as disposições exigidas.

1132    A Igreja celebra os sacramentos como comunidade sacerdotal estruturada pelo sacerdócio

batismal e pelo dos ministros ordenados.

1133   O Espírito Santo prepara para a recepção dos sacramentos por meio da Palavra de Deus e

da fé que acolhe a Palavra nos corações bem dispostos. Então, os sacramentos fortalecem e exprimem a

fé.

1134     O fruto da vida sacramental é ao mesmo tempo pessoal e eclesial. Por um lado, este fruto é

para cada fiel uma vida para Deus em Cristo Jesus; por outro, é para a Igreja crescimento na caridade e

em sua missão de testemunho.

SEGUNDA PARTE - A CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO CRISTÃO

CAPÍTULO II.

A CELEBRAÇÃO SACRAMENTAL DO MISTÉRIO PASCAL

1135   A catequese da liturgia implica primeiramente a compreensão da economia sacramental

(Capítulo 1). À sua luz revela-se a novidade de sua celebração. No presente capítulo, portanto, tratar-se-á

da celebração dos sacramentos da Igreja. Considerar-se-á  - aquilo que, pela diversidade das tradições

litúrgicas, é comum à celebração dos sete sacramentos; o que é próprio de cada um deles ser

apresentado mais adiante. Esta catequese fundamental das celebrações sacramentais responder às

questões primordiais que os fiéis levantam a este respeito:

ü  Quem celebra?

ü Como celebrar?

ü Quando celebrar?

ü  Onde celebrar?

ARTIGO 1

CELEBRAR A LITURGIA DA IGREJAI. QUEM CELEBRA?

1136   A liturgia é “ação” do “Cristo todo” (“Christus totus”). Os que desde agora a celebram, para

além dos sinais, já estão na liturgia celeste, em que a celebração é toda festa e comunhão.

OS CELEBRANTES DA LITURGIA CELESTE

1137   O Apocalipse de São João, lido na liturgia da Igreja, revela-nos primeiramente “um trono no

céu e, no trono, alguém sentado”: “o Senhor Deus” (Is 6,1). Em seguida, o Cordeiro, “imolado e de pé” (Ap

5,6): Cristo crucificado e ressuscitado, o único sumo sacerdote do verdadeiro santuário, o mesmo “que

oferece e é oferecido, que dá e que é dado”. Finalmente, “o rio de água da vida (...) que saía do trono de

Deus e do Cordeiro” (Ap 22,1), um dos mais belos símbolos do Espírito Santo.

1138   “Recapitulados” em Cristo, participam do serviço do louvor a Deus e da realização de seu

desígnio: as potências celestes, a criação inteira (os quatro viventes), os servidores da antiga e da nova

aliança (os vinte e quatro anciãos), o novo povo de Deus (os cento e quarenta e quatro mil), em especial

os mártires “imolados por causa da Palavra de Deus” (Ap 6,9) e a Santa Mãe de Deus (a mulher; a Esposa

do Cordeiro), e finalmente “uma multidão imensa, impossível de se enumerar, de toda nação, raça, povo

e língua” (Ap 7,9).

1139   É dessa liturgia eterna que O Espírito e a Igreja nos fazem participar quando celebramos o

mistério da salvação nos sacramentos.

OS CELEBRANTES DA LITURGIA SACRAMENTAL

1140  É toda a comunidade, o corpo de Cristo unido à sua Cabeça, que celebra. “As ações

litúrgicas não são ações privadas, mas celebrações da Igreja, que é o 'sacramento da unidade', isto é, o

povo santo, unido e ordenado sob a direção dos Bispos. Por isso, estas celebrações pertencem a todo o

corpo da Igreja, influem sobre ele e o manifestam; mas atingem a cada um de seus membros de modo

diferente, conforme a diversidade de ordens, ofícios e da participação atual efetiva.” É por isso que “todas

as vezes que os ritos, de acordo com sua própria natureza, admitem uma celebração comunitária, com

assistência e participação ativa dos fiéis, seja inculcado que na medida do possível, ela deve ser preferida

à celebração individual ou quase privada”.

1141  A assembléia que celebra é a comunidade dos batizados, os quais, “pela regeneração e

unção do Espírito Santo, são consagrados para serem casa espiritual e sacerdócio santo e para poderem

oferecer um sacrifício espiritual toda atividade humana do cristão”. Este “sacerdócio comum” é o de

Cristo, único sacerdote, participado por todos os seus membros: A mãe Igreja deseja ardentemente que

todos os fiéis sejam levados àquela plena, consciente e ativa participação nas celebrações litúrgicas que

a própria natureza da liturgia exige e à qual, por força do batismo, o povo cristão, “geração escolhida,

sacerdócio régio, gente santa, povo de conquista” (1 Pd 2,9), tem direito e obrigação.

1142  Mas “os membros não têm todos a mesma função” (Rm 12,4). Certos membros são chamados

por Deus, na e pela Igreja, a um serviço especial da comunidade. Tais servidores são escolhidos e

consagrados pelo sacramento da ordem, por meio do qual o Espírito Santo os torna aptos a agir na pessoa

de Cristo-Cabeça para o serviço de todos os membros da Igreja. O ministro ordenado é como o ícone de

Cristo Sacerdote. Já que o sacramento da Igreja se manifesta plenamente na Eucaristia, é na presidência

da Eucaristia que o ministério do Bispo aparece primeiro, e, em comunhão com ele, o dos presbíteros e dos

diáconos.

1143 No intuito de servir às funções do sacerdócio comum dos fiéis, existem também outros

ministérios particulares, não consagrados pelo sacramento da ordem, e cuja função é determinada pelos

bispos de acordo com as tradições litúrgicas e as necessidades pastorais. “Também os ajudantes, os

leitores, os comentaristas e os membros do coral desempenham um verdadeiro ministério litúrgico.”

1144 Assim, na celebração dos sacramentos, a assembléia inteira é o “liturgo”, cada um segundo

sua função, mas na “unidade do Espírito”, que age em todos. “Nas celebrações litúrgicas, cada qual,

ministro ou fiel, ao desempenhar sua função, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas

normas litúrgicas lhe compete.”

II. COMO CELEBRAR?SINAIS  E SÍMBOLOS

1145 Uma celebração sacramental é tecida de sinais e de símbolos. Segundo a pedagogia divina

da salvação, o significado dos sinais e símbolos deita raízes na obra da criação e na cultura humana,

adquire precisão nos eventos da antiga aliança e se revela plenamente na pessoa e na obra de Cristo.

1146 Sinais do mundo dos homens. Na vida humana, sinais e símbolos ocupam um lugar importante.

Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais

por meio de sinais e de símbolos materiais. Como ser social, o homem precisa de sinais e de símbolos para

comunicar-se com os outros, pela linguagem, por gestos, por ações. Vale o mesmo para sua relação com

Deus.

1147 Deus fala ao homem por intermédio da criação visível. O cosmos material apresenta-se à

inteligência do homem para que este leia nele os vestígios de seu criador. A luz e a noite, o vento e o fogo,

a água e a terra, a árvore e os frutos falam de Deus, simbolizam ao mesmo tempo a grandeza e a

proximidade dele.

1148 Enquanto criaturas, essas realidades sensíveis podem tornar-se o lugar de expressão da ação

de Deus que santifica os homens, e da ação dos homens que prestam seu culto a Deus. Acontece o

mesmo com os sinais e os símbolos da vida social dos homens: lavar e ungir, partir o pão e partilhar o cálice

podem exprimir a presença santificante de Deus e a gratidão do homem diante de seu criador.

1149  As grandes religiões da humanidade atestam, muitas vezes de maneira impressionante, este

sentido cósmico e simbólico dos ritos religiosos. A liturgia da Igreja pressupõe, integra e santifica elementos

da criação e da cultura humana conferindo-lhes a dignidade de sinais da graça, da nova criação em

Jesus Cristo.

1150 Sinais da aliança. O povo eleito recebe de Deus sinais e símbolos distintivos que marcam sua

vida litúrgica: estes não mais são apenas celebrações de ciclos cósmicos e gestos sociais, mas sinais da

aliança, símbolos das grandes obras realizadas por Deus em favor de seu povo. Entre tais sinais litúrgicos da

antiga aliança podemos mencionar a circuncisão, a unção e a consagração dos reis e dos sacerdotes, a

imposição das mãos, os sacrifícios, e sobretudo a Páscoa. A Igreja vê nesses sinais uma prefiguração dos

sacramentos da Nova Aliança.

1151 Sinais assumidos por Cristo. Em sua pregação, o Senhor Jesus serve-se muitas vezes dos sinais

da criação para dar a conhecer os mistérios do Reino de Deus. Realiza suas curas ou sublinha sua

pregação com sinais materiais ou  gestos simbólicos. Dá um sentido novo aos fatos e aos sinais da Antiga

Aliança, particularmente ao Êxodo e à Páscoa, por ser ele mesmo o sentido de todos esses sinais.

1152 Sinais sacramentais. Desde Pentecostes, é por meio dos sinais sacramentais de sua Igreja que o

Espírito Santo realiza a santificação. Os sacramentos da Igreja não abolem, antes purificam e integram

toda a riqueza dos sinais e dos símbolos do cosmos e da vida social. Além disso, realizam os tipos e as

figuras da antiga aliança, significam e realizam a salvação operada por Cristo, e prefiguram e antecipam

a glória do céu.

PALAVRAS E AÇÕES

1153 Uma celebração sacramental é um encontro dos filhos de Deus com seu Pai, em Cristo e no

Espírito Santo, e este encontro se exprime como um diálogo,  mediante ações e palavras. Sem dúvida, as

ações simbólicas já são em si mesmas uma linguagem, mas é preciso que a Palavra de Deus e a resposta

de fé acompanhem e vivifiquem estas ações para que a semente do Reino produza seu fruto na terra fértil.

As ações litúrgicas significam o que a Palavra de Deus exprime: a iniciativa gratuita de Deus e ao mesmo

tempo a resposta de fé de seu povo.

1154 A liturgia da palavra é parte integrante das celebrações sacramentais. Para alimentar a fé dos

fiéis, os sinais da Palavra de Deus precisam ser valorizados: o livro da palavra (lecionário ou evangeliário),

sua veneração (procissão, incenso, luz), o lugar de onde é anunciado (ambão), sua leitura audível e

inteligível, a homilia do ministro que prolonga sua proclamação, as respostas da assembléia (aclamações,

salmos de meditação, ladainhas, profissão de fé...).

1155 Inseparáveis enquanto sinais e ensinamento, a palavra e a ação litúrgicas são indissociáveis

também enquanto realizam o que significam. O Espírito Santo não somente dá a compreensão da Palavra

de Deus suscitando a fé; pelos sacramentos ele realiza também as “maravilhas” de Deus anunciadas pela

palavra: torna presente e comunica a obra do Pai realizada pelo Filho bem-amado.CANTO E MÚSICA

1156 “A tradição musical da Igreja universal constitui um tesouro de valor inestimável que se

destaca entre as demais expressões de arte, principalmente porque o canto sacro, ligado às palavras, é

parte necessária ou integrante da liturgia solene.” A composição e o canto dos salmos inspirados, com

freqüência acompanhados por instrumentos musicais, já aparecem intimamente ligados às celebrações

litúrgicas da antiga aliança. A Igreja continua e desenvolve esta tradição: Recital “uns com os outros

salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando ao Senhor em vosso coração” (Ef. 5,19) . “Quem

canta reza duas vezes.”

1157  O canto e a música desempenham sua função de sinais de maneira tanto mais significativa

por “estarem intimamente ligados à ação litúrgica”, segundo três critérios principais: a beleza expressiva da

oração, a participação unânime da assembléia nos momentos previstos e o caráter solene da

celebração. Participam assim da finalidade das palavras e das ações litúrgicas: a glória de Deus e a

santificação dos fiéis:  Quanto chorei ouvindo vossos hinos, vossos cânticos, os acentos suaves que

ecoavam em vossa Igreja! Que emoção me causavam! Fluíam em meu ouvido, destilando a verdade em

meu coração. Um grande elã de piedade me elevava, e as lágrimas corriam-me pela face, mas me

faziam bem.

1158  A harmonia dos sinais (canto, música, palavras e ações) é aqui mais expressiva e fecunda por

exprimir-se na riqueza cultural própria do povo de Deus que celebra? Por isso, o “canto religioso popular ser

inteligentemente incentivado a fim de que as vozes dos fiéis possam ressoar nos pios e sagrados exercícios

e nas próprias ações litúrgicas, de acordo com as normas e prescrições das rubricas. Todavia, “os textos

destinados ao canto sacro hão de ser conformes à doutrina católica, sendo até tirados de preferência das

Sagradas Escrituras e das fontes litúrgicas.

AS SANTAS IMAGENS

1159 A imagem sacra, o ícone litúrgico, representa principalmente Cristo. Ela não pode representar

o Deus invisível e incompreensível; é a encarnação do Filho de Deus que inaugurou uma nova “economia”

das imagens: Antigamente Deus, que não tem nem corpo nem aparência, não podia em absoluto ser

representado por uma imagem. Mas agora que se mostrou na carne e viveu com os homens posso fazer

uma imagem daquilo que vi de Deus. (...) Com o rosto descoberto, contemplamos a glória do Senhor.

1160  A iconografia cristã transcreve pela imagem a mensagem evangélica que a Sagrada

Escritura transmite pela palavra. Imagem e palavra iluminam-se mutuamente: Para proferir sucintamente

nossa profissão de fé, conservamos todas as tradições da Igreja, escritas ou não-escritas, que nos têm sido

transmitidas sem alteração. Uma delas é a representação pictórica das imagens, que concorda com a

pregação da história evangélica, crendo que, de verdade e não na aparência, o Verbo de Deus se fez

homem, o que é também útil e proveitoso, pois as coisas que se iluminam mutuamente têm sem dúvida um

significado recíproco.

1161 Todos os sinais da celebração litúrgica são relativos a Cristo: são-no também as imagens

sacras da santa mãe de Deus e dos santos. Significam o Cristo que é glorificado neles. Manifestam “a

nuvem de testemunhas” (Hb 12,1) que continuam a participar da salvação do mundo e às quais estamos

unidos, sobretudo na celebração sacramental. Por meio de seus ícones, revela-se à nossa fé o homem

criado “à imagem de Deus” e transfigurado “à sua semelhança”, assim como os anjos, também

recapitulados em Cristo: Na trilha da doutrina divinamente inspirada de nossos santos Padres e da tradição

da Igreja católica, que sabemos ser a tradição do Espírito Santo que habita nela, definimos com toda

certeza e acerto que as veneráveis e santas imagens, bem como as representações da cruz preciosa e

vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser

colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros,

nas casas e nos caminhos, tanto a imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, como a de

Nossa Senhora, a puríssima e santíssima mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos e dos justos.

1162     “A beleza e a cor das imagens estimulam minha oração. É uma festa para os meus olhos,

tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus.” A contemplação dos

ícones santos, associada à meditação da Palavra de Deus e ao canto dos hinos litúrgicos, entra na

harmonia dos sinais da celebração para que o mistério celebrado se grave na memória do coração e se

exprima em seguida na vida nova dos fiéis.III. QUANDO CELEBRAR?

O TEMPO LITÚRGICO

1163 “A santa mãe Igreja julga seu dever celebrar com piedosa recordação, em certos dias fixos no

decurso do ano, a obra salvífica de seu divino esposo. Em cada semana, no dia que ela passou a chamar

'dia do Senhor', recorda a ressurreição do Senhor, celebrando-a uma vez por ano, juntamente com sua

sagrada paixão, na solenidade máxima da Páscoa. E desdobra todo o mistério de Cristo durante o ciclo

do ano (...) Recordando assim os mistérios da Redenção, franqueia aos fiéis as riquezas das virtudes e dos

méritos de seu Senhor, de maneira a torná-los como que presentes o tempo todo, para que os fiéis entrem

em contato com eles e sejam repletos da graça da salvação.”

1164 O povo de Deus, desde a lei mosaica, conheceu festas fixas a partir da páscoa para

comemorar as ações admiráveis do Deus salvador, dar-lhe graças por elas, perpetuar-lhes a lembrança e

ensinar às novas gerações a conformar sua conduta com elas. Na era da Igreja, situada entre a páscoa

de Cristo, já realizada uma vez por todas, e a consumação dela no Reino de Deus, a liturgia celebrada em

dias fixos está toda impregnada da novidade do mistério de Cristo.

1165 Quando celebra o mistério de Cristo, há uma palavra que marca a oração da Igreja: hoje!,

fazendo eco à oração que seu Senhor lhe ensinou e o apelo do Espírito Santo'. Este “hoje” do Deus vivo em

que O homem é chamado a entrar é “a hora”; da Páscoa de Jesus que atravessa e leva toda a história: A

vida estendeu-se sobre todos os seres, e todos ficam repletos de uma generosa luz; o Oriente dos orientes

invadiu o universo, e aquele que era “antes da estrela da manhã” e antes dos astros, imortal e imenso, o

grande Cristo brilha sobre todos os seres mais que o sol! É por isso que, para nós que cremos nele, se

instaura um dia de luz, longo, eterno, que não se apaga: a páscoa mística'.

O DIA DO SENHOR

1166 “Devido à tradição apostólica que tem origem no próprio dia da ressurreição de Cristo, a

Igreja celebra o mistério pascal a cada oitavo dia, no dia chamado com razão o dia do Senhor ou

domingo. “ O dia da ressurreição de Cristo é ao mesmo tempo “o primeiro dia da semana”, memorial do

primeiro dia da criação, e o “oitavo dia”, em que Cristo, depois de seu “repouso” do grande sábado,

inaugura o dia “que O Senhor fez”, o “dia que não conhece ocaso”. A “Ceia do Senhor” é seu centro, pois

é aqui que toda a comunidade dos fiéis se encontra com o Senhor ressuscitado, que Os convida a seu

banquete: O dia do Senhor, o dia da ressurreição, o dia dos cristãos, é o nosso dia. E por isso que ele se

chama dia do Senhor: pois foi nesse dia que o Senhor subiu vitorioso para junto do Pai. Se os pagãos o

denominam dia do sol, também nós o confessamos de bom grado: pois hoje levantou-se a luz do mundo,

hoje apareceu o sol de justiça cujos raios trazem a salvação.

1167  O domingo é o dia por excelência da assembléia litúrgica, em que os fiéis se reúnem “para,

ouvindo a Palavra de Deus e participando da Eucaristia, lembrarem-se da paixão, ressurreição e glória do

Senhor Jesus, e darem graças a Deus que os 'regenerou para a viva esperança, pela ressurreição de Jesus

Cristo de entre os mortos”

Quando meditamos, ó Cristo, as maravilhas que foram operadas neste dia de domingo de vossa

santa ressurreição, dizemos: Bendito é o dia do domingo, pois foi nele que se deu o começo da criação

(...) a salvação do mundo (...) a renovação do gênero humano.(...) E nele que o céu e a terra rejubilaram

e que o universo inteiro foi repleto de luz. Bendito é o dia do domingo, pois nele foram abertas as portas do

paraíso para que Adão e todos os banidos entrem nele sem medo.

O ANO LITÚRGICO

1168  Partindo do tríduo pascal, como de sua fonte de luz, o tempo novo da Ressurreição enche

todo o ano litúrgico com sua claridade. Aproximando-se progressivamente de ambas as vertentes desta

fonte, o ano é transfigurado pela liturgia. É realmente “ano de graça do Senhor”. A economia da salvação

está em ação moldura do tempo, mas desde a sua realização na Páscoa de Jesus e a efusão do Espírito

Santo o fim da história é antecipado, “em antegozo”, e o Reino de Deus penetra nosso tempo.

1169  Por isso, a páscoa não é simplesmente uma festa entre outras: é a “festa das festas”,

“solenidade das solenidades”, como a Eucaristia é o sacramento dos sacramentos (o grande sacramento).

Santo Atanásio a denomina “o grande domingo como a semana santa é chamada no Oriente “a grande

semana”. O mistério da ressurreição, no qual Cristo esmagou a morte, penetra nosso velho tempo com sua

poderosa energia até que tudo lhe seja submetido.1170 No Concílio de Nicéia (em 325), todas as Igrejas chegaram a um acordo acerca de que a

páscoa cristã fosse celebrada no domingo que segue a lua cheia (14 Nisan) depois do equinócio de

primavera. Por causa dos diversos métodos utilizados para calcular o dia 14 de mês de Nisan, o dia da

Páscoa nem sempre ocorre simultaneamente nas Igrejas ocidentais e orientais. Por isso busca-se um

acordo, a fim de se chegar novamente a celebrar em uma data comum o dia da Ressurreição do Senhor.

1171 O ano litúrgico é o desdobramento dos diversos aspectos do único mistério pascal. Isto vale

muito particularmente para o ciclo das festas em tomo do mistério da encarnação (Anunciação, Natal,

Epifania) que comemoram o começo de nossa salvação e nos comunicam as primícias do Mistério da

Páscoa.

O SANTORAL NO ANO LITÚRGICO

1172 “Ao celebrar o ciclo anual dos mistérios de Cristo, a santa Igreja venera com particular amor a

bem-aventurada mãe de Deus, Maria, que por um vínculo indissolúvel está unida à obra salvífica de seu

Filho; em Maria a Igreja admira e exalta o mais excelente fruto da redenção e a contempla com alegria

como puríssima imagem do que ela própria anseia e espera ser em sua totalidade.”

1173 Quando, no ciclo anual, a Igreja faz memória dos mártires e dos outros santos, “proclama o

mistério pascal” naqueles e naquelas “que sofreram com Cristo e estão glorificados com ele, e propõe seu

exemplo aos fiéis para que atraia todos ao Pai por Cristo e, por seus méritos, impetra os benefícios de Deus”

A LITURGIA DAS HORAS

1174  O Mistério de Cristo, sua Encarnação e sua Páscoa, que celebramos na Eucaristia,

especialmente na assembléia dominical, penetra e transfigura o tempo de cada dia pela celebração da

Liturgia das Horas, “o Ofício Divino” Esta celebração, em fidelidade às recomendações apostólicas de

“orar sem cessar”, “está constituída de tal modo que todo o curso do dia e da noite seja consagrado pelo

louvor de Deus” Ela constitui “a oração pública da Igreja”, na qual os fiéis (clérigos, religiosos e leigos)

exercem o sacerdócio régio dos batizados. Celebrada “segundo a forma aprovada” pela Igreja, a Liturgia

das Horas “é verdadeiramente a voz da própria esposa que fala com o esposo, e é até a oração de Cristo,

com seu corpo, ao Pai”.

1175 A Liturgia das Horas é destinada a tornar-se a oração de todo o povo de Deus. Nela, o próprio

Cristo “continua a exercer sua função sacerdotal por meio de sua Igreja”; cada um participa dela

segundo seu lugar próprio na Igreja e segundo as circunstâncias de sua vida: os presbíteros, enquanto

dedicados ao ministério da palavra; os religiosos e as religiosas, pelo carisma de sua vida consagrada;

todos os fiéis, segundo suas possibilidades: “Os pastores de almas cuidarão que as horas principais,

especialmente as vésperas, nos domingos e dias festivos mais solenes, sejam celebradas comunitariamente

na Igreja. Recomenda-se que os próprios leigos recitem o Ofício divino, ou juntamente com os presbíteros,

ou reunidos entre si, e até cada um individualmente”.

1176  Celebrar a Liturgia das Horas exige não somente que se harmonize a voz com o coração que

reza, mas também “que se adquira um conhecimento litúrgico e bíblico mais rico, principalmente dos

Salmos”.

1177  Os hinos e as ladainhas da Oração das Horas inserem a oração dos salmos no tempo da

Igreja, exprimindo o simbolismo do momento do dia, do tempo litúrgico ou da festa celebrada. Além disso,

a leitura da Palavra de Deus a cada hora (com os responsos ou os tropários que vêm depois dela) e, em

certas horas, as leituras dos Padres da Igreja e dos mestres espirituais revelam mais profundamente o

sentido do mistério celebrado, ajudam na compreensão dos salmos e preparam para a oração silenciosa.

A lectio divina, em que a Palavra de Deus é lida e meditada para tornar-se oração, está assim enraizada

na celebração litúrgica.

1178  A Liturgia das Horas, que é como que um prolongamento da celebração eucarística, não

exclui, mas requer de maneira complementar as diversas devoções do Povo de Deus, particularmente a

adoração e o culto do Santíssimo Sacramento.

IV. ONDE CELEBRAR?

1179  Oculto “em espírito e em verdade” (Jo 4,24) da nova aliança não está ligado a um lugar

exclusivo. A terra inteira é santa e foi entregue aos filhos dos homens. O que ocupa lugar primordial quando os fiéis se congregam em um mesmo lugar são as “pedras vivas” reunidas para “a construção de

um edifício espiritual” (1 Pd 2,5). O Corpo de Cristo ressuscitado é o templo espiritual do qual jorra a fonte

de água viva. Incorporados a Cristo pelo Espírito Santo, “nós é que  somos o templo do Deus vivo” (2Cor

6,16).

1180     Quando o exercício da liberdade religiosa não sofre entraves, os cristãos constroem edifícios

destinados ao culto divino. Essas igrejas visíveis não são simples lugares de reunião, mas significam e

manifestam a Igreja viva neste lugar, morada de Deus com os homens reconciliados e unidos em Cristo.

1181 “A casa de oração onde a Eucaristia é celebrada e conservada, onde os fiéis se reúnem,

onde a presença do Filho de Deus (Jesus, Nosso Salvador, o qual se ofereceu por nós no altar do sacrifício)

é honrada para auxílio e consolação dos cristãos deve ser bela e adequada para a oração e as

celebrações religiosas.” Nesta “casa de Deus”, a verdade e a harmonia dos sinais que a constituem

devem manifestar o Cristo que está presente e age neste 1ugar:

1182  O altar da nova aliança é a cruz do Senhor, da qual brotam os sacramentos do mistério

pascal. Sobre o altar, que é o centro da igreja, se faz presente o Sacrifício da Cruz sob os sinais

sacramentais. Ele é também  a mesa do Senhor, para a qual o povo de Deus é convidado. Em certas

liturgias orientais, o altar é também o símbolo do sepulcro (Cristo morreu de verdade e ressuscitou de

verdade).

1183 O tabernáculo (ou sacrário) deve estar localizado “nas igrejas em um dos lugares mais dignos,

com o máximo decoro”. A nobreza, a disposição e a segurança do tabernáculo eucarístico [ag108]

devem favorecer a adoração do Senhor realmente presente no Santíssimo Sacramento do altar.

O Santo Crisma (Mýron = perfume líquido) que,  usado na unção, é sinal sacramental do selo do

dom do Espírito Santo, é tradicionalmente conservado e venerado em um lugar seguro da igreja. Perto

dele pode-se colocar o óleo dos catecúmenos e o dos enfermos.

1184 A cadeira (cátedra) do Bispo ou do presbítero “deve exprimir a função daquele que preside a

assembléia e dirige a oração”. O ambão. “A dignidade da Palavra de Deus exige que exista na igreja um

lugar que favoreça o anúncio desta Palavra e para o qual, durante a liturgia da Palavra, se volta

espontaneamente a atenção dos fiéis.”

1185  O congraçamento do povo de Deus começa pelo Batismo; por isso, a igreja deve ter um

lugar para a celebração do Batismo (batistério) e fazer com que o povo lembre as promessas feitas na

celebração do Batismo. (O persignar-se com água benta faz lembrar o Batismo). A renovação da vida

batismal exige a penitência. Por isso, a Igreja deve prestar-se à expressão do arrependimento e ao

recebimento do perdão, o que exige um lugar apropriado para acolher os penitentes. A igreja  deve

também ser um espaço que convide ao recolhimento e à oração silenciosa, que prolongue e interiorize a

grande oração da Eucaristia.

1186  Finalmente, a igreja tem um significado escatológico. Para entrar na casa de Deus, é preciso

atravessar um limiar, símbolo da passagem do mundo ferido pelo pecado para o mundo da vida nova ao

qual todos os homens são chamados. A igreja visível simboliza a casa paterna para a qual o povo de Deus

está a caminho e na qual o Pai “enxugará toda lágrima de seus olhos” (Ap 21,4). Por isso, a igreja também

é a casa de todos os filhos de Deus, amplamente aberta e acolhedora.

RESUMINDO

1187 A liturgia é a obra do Cristo inteiro, cabeça e corpo. Nosso Sumo Sacerdote a celebra sem

cessar na liturgia celeste, com a santa mãe de Deus, os apóstolos, todos os santos e a multidão dos que já

entraram no Reino.

1188 Em sua celebração litúrgica, a assembléia inteira desempenha o papel de “liturgo”, cada um

segundo sua junção. O sacerdócio batismal é o de todo o corpo de Cristo. Mas certos fiéis são ordenados

pelo sacramento da Ordem para representar Cristo como cabeça do corpo.

1189 A celebração litúrgica comporta sinais e símbolos que se referem à criação (luz, água, fogo), à

vida humana (lavar, ungir, partir o pão) e à história da salvação (os ritos da Páscoa). Inseridos no mundo

da fé e assumidos pela força do Espírito Santo, esses elementos cósmicos, esses ritos humanos, esses gestos

memoriais de Deus se tornam portadores da ação salvadora e santificadora de Cristo.

1190 A Liturgia da Palavra é uma parte integrante da celebração. O sentido da celebração é

expresso pela Palavra de Deus que e anunciada e pelo compromisso da fé que ela exige como resposta.1191 O canto e a música guardam uma conexão íntima com a ação litúrgica. Critérios de seu bom

uso: a beleza expressiva da oração, a participação unânime da assembléia e o caráter sagrado da

celebração.

1192 As santas imagens, presentes em nossas igrejas e em nossas casas, destinam-se a despertar e a

alimentar nossa fé no mistério de Cristo. Por meio do ícone de Cristo e de suas obras salvíficas, é a ele que

adoramos. Mediante as santas imagens da santa mãe de Deus, dos anjos e dos santos, veneramos as

pessoas nelas representadas.

1193  O domingo, “dia do Senhor”, é o dia principal da celebração da Eucaristia por ser o dia da

ressurreição. É o dia da assembléia litúrgica por excelência, o dia da família cristã, o dia da alegria e do

descanso do trabalho. O domingo é “o fundamento e o núcleo do ano litúrgico”.

1194  A Igreja “apresenta todo o mistério de Cristo durante o ciclo do ano, desde a Encarnação e o

Natal até a Ascensão, até o dia de Pentecostes e até a expectativa da feliz esperança e do retorno do

Senhor”.

1195  Celebrando a memória dos santos, primeiramente da Santa Mãe de Deus, em seguida dos

apóstolos, dos mártires e dos outros santos, em dias fixos do ano litúrgico, a Igreja manifesta que está unida

à Liturgia Celeste; glorifica a Cristo por ter realizado sua salvação em seus membros glorificados. O

exemplo delas e deles a estimula em seu caminho para o Pai.

1196  Os fiéis que celebram a Liturgia das Horas unem-se a Cristo, nosso Sumo Sacerdote, por meio

da oração dos salmos, da meditação da Palavra de Deus, de cânticos e bênçãos, a fim de serem

associados à oração incessante e universal dele, que dá glória ao Pai e implora o dom do Espírito Santo

sobre o mundo inteiro.

1197  Cristo é o verdadeiro templo de Deus, “o lugar em que reside a sua glória”; pela graça de

Deus, também os cristãos se tornam templos do Espírito Santo, pedras vivas com as quais é construída a

Igreja.

1198  Em sua condição terrestre, a Igreja precisa de lugares onde a comunidade possa reunir-se:

esses lugares são as nossas igrejas visíveis, lugares santos, imagens da Cidade Santa, a Jerusalém Celeste

para a qual caminhamos como peregrinos.

1199  E nessas igrejas que a Igreja celebra o culto público para a glória da Santíssima Trindade; é

nelas que ouve a Palavra de Deus e canta seus louvores, que eleva sua oração e que oferece o sacrifício

de Cristo, sacramentalmente presente no meio da assembléia. Essas igrejas são também locais de

recolhimento e de oração pessoal.

ARTIGO 2

DIVERSIDADE LITÚRGICA E UNIDADE DO MISTÉRIO

TRADIÇÕES LITÚRGICAS E CATOLICIDADE DA IGREJA

1200 Desde a primeira comunidade de Jerusalém até a parusia, o mesmo mistério pascal é

celebrado, em todo lugar, pelas Igrejas de Deus fiéis à fé apostólica. O mistério celebrado na liturgia é um

só, mas as formas de sua celebração são diversas.

1201  A riqueza insondável do mistério de Cristo é tal que nenhuma liturgia é capaz de esgotar sua

expressão. A história do surgimento e do desenvolvimento desses ritos atesta uma complementaridade

surpreendente. Quando as Igrejas viveram essas tradições litúrgicas em comunhão na fé e nos

sacramentos da fé, enriqueceram-se mutuamente e cresceram na fidelidade à tradição e à missão

comum à Igreja toda.

1202 As diversas tradições litúrgicas surgiram justamente em razão da missão da Igreja. As Igrejas de

uma mesma área geográfica e cultural acabaram celebrando o mistério de Cristo com expressões

particulares tipificadas culturalmente: na tradição do “depósito da fé”, no simbolismo litúrgico, na

organização da comunhão fraterna, na compreensão teológica dos mistérios e nos tipos de santidade.

Assim, Cristo, luz e salvação de todos os povos, é manifestado pela vida litúrgica de uma Igreja ao povo e

à cultura aos quais ela é enviada e nos quais está enraizada. A Igreja é católica: pode integrar em sua

unidade, purificando-as, todas as verdadeiras riquezas das culturas.1203  As tradições litúrgicas ou ritos atualmente em uso na Igreja são o rito latino (principalmente o

rito romano, mas também os ritos de certas Igrejas locais como o rito  ambrosiano, ou de certas ordens

religiosas) e os ritos  bizantinos, alexandrino ou  copta, siríaco, armênio, maronita e caldeu. “Obedecendo

fielmente à tradição, o sacrossanto Concílio declara que a santa mãe Igreja considera como iguais em

direito e em dignidade todos os ritos legitimamente reconhecidos, e que no futuro quer conservá-los e

favorecê-los de todas as formas.”

LITURGIA E CULTURAS

1204  Por isso a celebração da liturgia deve corresponder ao gênio e à cultura dos diferentes povos.

Para que o mistério de Cristo seja “dado a conhecer a todos os gentios, para levá-los à obediência da fé”

(Rm 16,26), deve ser anunciado, celebrado e vivido em todas as culturas, de sorte que estas não sejam

abolidas, mas resgatadas e realizadas por ele”. E mediante sua cultura humana própria, assumida e

transfigurada por Cristo, que a multidão dos filhos  de Deus tem acesso ao Pai, para glorificá-lo, em um só

Espírito.

1205  “Na liturgia, sobretudo na liturgia dos sacramentos, existe uma parte imutável  - por ser de

instituição divina -, da qual a Igreja é guardiã, e há partes suscetíveis de mudança, que ela tem o poder e,

algumas vezes, até o dever de adaptar às culturas dos povos recentemente evangelizados.

1206  A diversidade litúrgica pode ser fonte de enriquecimento, mas pode também provocar

tensões, incompreensões recíprocas e até mesmo cismas. Neste campo, é claro que a diversidade não

deve prejudicar a unidade. Esta unidade não pode exprimir-se senão na fidelidade à fé comum, aos sinais

sacramentais que a Igreja recebeu de Cristo, e à comunhão hierárquica. A adaptação às culturas requer

uma conversão  do coração e, se necessário, a ruptura com hábitos ancestrais incompatíveis com a fé

católica.”

RESUMINDO

1207  Convém que a celebração da liturgia tenda a exprimir-se na cultura do povo em que a Igreja

se encontra, sem submeter-se a ela. Por outro lado, a liturgia mesma é geradora e formadora de culturas.

1208 As diversas tradições litúrgicas (ou ritos), legitimamente reconhecidas por significarem e

comunicarem o mesmo mistério de Cristo, manifestam a catolicidade da Igreja.

1209 O critério que garante a  unidade na pluralidade das tradições litúrgicas é a fidelidade à

Tradição apostólica, isto é, a comunhão na fé e nos sacramentos recebidos dos apóstolos, comunhão

significada e assegurada pela sucessão apostólica.

SEGUNDA PARTE - A CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO CRISTÃO

SEGUNDA SEÇÃO - OS SETE SACRAMENTOS DA IGREJA

1210  Os sacramentos da nova lei foram instituídos por Cristo e são sete, a saber: o Batismo, a

Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos, a Ordem e o Matrimônio. Os sete

sacramentos atingem todas as etapas e todos os momentos importantes da vida do cristão: dão à vida de

fé do cristão origem e crescimento, cura e missão. Nisto existe certa semelhança entre as etapas da vida

natural e as da vida espiritual.

1211 Seguindo esta analogia, exporemos primeiramente os três sacramentos da iniciação cristã

(Capítulo 1), em seguida os sacramentos de cura (Capítulo II.) e, finalmente os sacramentos que estão a

serviço da comunhão e da missão dos fiéis (Capítulo III.). Sem dúvida, esta disposição não é a única

possível, mas permite ver que os sacramentos formam um organismo no qual cada um especificamente

tem seu lugar vital. Neste organismo, a eucaristia ocupa um lugar único por ser “sacramento dos

sacramentos”: “todos os demais sacramentos estão ordenados a este como a seu fim”'.

CAPÍTULO I - OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTÃ

1212 Pelos sacramentos da iniciação cristã; Batismo, Confirmação e Eucaristia são lançados os

fundamentos de toda vida cristã. “A participação na natureza divina, que os homens recebem como dom mediante a graça de Cristo, apresenta certa analogia com a origem, o desenvolvimento e a sustentação

da vida natural. Os fiéis, de fato, renascidos no Batismo, são fortalecidos pelo sacramento da Confirmação

e, depois, nutridos com  o alimento da vida eterna na Eucaristia. Assim, por efeito destes sacramentos da

iniciação cristã, estão em condições de saborear cada vez mais os tesouros da vida divina e de progredir

até alcançar a perfeição da caridade.”

ARTIGO 1

O SACRAMENTO DO BATISMO

1213    O santo Batismo é o fundamento de toda a vida cristã, a porta da vida no Espírito (“vitae

spiritualis janua”) e a porta que abre o acesso aos demais sacramentos. Pelo Batismo somos libertados do

pecado e regenerados como filhos de Deus, tornamo-os membros de Cristo, somos incorporados à Igreja e

feitos participantes de sua missão: “Baptismus está sacramentum regenerationis per aquam in verbo O

Batismo é o sacramento da regeneração pela água na Palavra”

I. COMO É CHAMADO ESTE SACRAMENTO?

1214   Ele é denominado Batismo com base no rito central pelo qual é realizado: batizar

(“baptizem”, em grego) significa “mergulhar”, “imergir”; o “mergulho” na água simboliza o sepultamento

do catecúmeno na morte de Cristo, da qual com Ele ressuscita como “nova criatura” (2Cor 5,17; Gl 6,15).

1215    Este sacramento é também chamado “o banho da regeneração e da renovação no Espírito

Santo” (Tt 3,5), pois ele significa e realiza este nascimento a partir da água e do Espírito, sem o qual

“ninguém pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5).

1216  “Este banho é chamado iluminação, porque aqueles que recebem este ensinamento

[catequético] têm o espírito iluminado...” Depois de receber no Batismo o Verbo, “a luz verdadeira que

ilumina todo homem” (Jo 1,9), o batizado, “após  ter sido iluminado”, se converte em “filho da luz” e em

“luz” ele mesmo (Ef 5,8):

O Batismo é o mais belo e o mais magnífico dom de Deus. (...) chamamo-lo de dom, graça, unção,

iluminação, veste de incorruptibilidade, banho de regeneração, selo, e tudo o que existe de mais precioso.

Dom, porque é conferido àqueles que nada trazem; graça, porque é dado até a culpados; Batismo,

porque o pecado é sepultado na água; unção, porque é sagrado e régio (tais são os que são ungidos);

iluminação, porque é luz resplandecente; veste, porque cobre nossa vergonha; banho, porque lava; selo,

porque nos guarda e é o sinal do senhorio de Deus.

II. O BATISMO NA ECONOMIA DA SALVAÇÃO

AS PREFIGURAÇÕES DO BATISMO NA ANTIGA ALIANÇA

1217 Na liturgia da noite pascal, quando da bênção da água batismal, a Igreja faz solenemente

memória dos grandes acontecimentos da história da salvação que já prefiguravam o mistério do Batismo:

Ó Deus, pelos sinais visíveis dos sacramentos realizais maravilhas invisíveis. Ao longo da história da salvação,

vós vos servistes da água para fazer-nos conhecer a graça do Batismo.

1218    Desde a origem do mundo, a água, esta criatura humilde e admirável, é a fonte da vida e

da fecundidade. A Sagrada Escritura a vê como “incubada” pelo Espírito de Deus: Já na origem do

mundo, vosso Espírito pairava sobre as águas para que elas recebessem a força de santificar.

1219     A Igreja viu na arca de Noé uma prefiguração da salvação pelo Batismo. Por ela, com

efeito, “poucas pessoas, isto é, oito foram salvas da água” (1Pd 3,20): Nas próprias águas do dilúvio

prefigurastes o nascimento da nova humanidade de modo que a mesma água sepultasse os vícios e

fizesse nascer a santidade.

1220      Se a água de fonte simboliza a vida, a água do mar é um símbolo da morte, razão pela

qual o mar podia prefigurar o mistério da cruz. Por este simbolismo, o Batismo significa a comunhão com a

morte de Cristo.1221       É sobretudo a travessia do Mar Vermelho, verdadeira libertação de Israel da escravidão do

Egito, que anuncia a libertação operada pelo Batismo: Concedestes aos filhos de Abraão atravessar o Mar

Vermelho a pé enxuto, para que, livres da escravidão, prefigurassem o povo nascido na água do Batismo.

1222    Finalmente, o Batismo é prefigurado na travessia do Jordão, pela qual o  povo de Deus

recebe o dom da terra prometida à descendência de Abraão, imagem da vida eterna. A promessa desta

herança bem-aventurada realiza-se na nova aliança.

O BATISMO DE CRISTO

1223     Todas as prefigurações da antiga aliança encontram sua realização em Cristo Jesus. Ele

começa sua vida pública depois de ter-se feito batizar por São João Batista no Jordão, e após sua

ressurreição confere esta missão aos apóstolos: “Ide, pois, fazei que todos os povos se tornem meus

discípulos, batizando-os em nome do  Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-as a observar tudo

quanto vos ordenei” (Mt 28,19-20).

1224    Nosso Senhor submeteu-se voluntariamente ao Batismo de São João, destinado aos

pecadores, para “cumprir toda a justiça (Cf Mt 3,15)”. Este gesto de Jesus é uma manifestação de seu

“aniquilamento”. O Espírito que pairava sobre as águas da primeira criação desce então sobre Cristo,

preludiando a nova criação, e o Pai manifesta Jesus como seu “filho amado”.

1225  Foi em sua Páscoa que Cristo abriu a todos os homens as fontes do Batismo. Com efeito, já

tinha falado da paixão que iria sofrer em Jerusalém como de um “batismo” com o qual devia ser batizado.

O sangue e a água que escorreram do lado traspassado de Jesus crucificado são tipos do Batismo e da

Eucaristia, sacramentos da vida nova: desde então é possível “nascer da água e do Espírito” para entrar

no Reino de Deus (Jo 3,5).

Vê, quando és batizado, donde vem o Batismo, se não da cruz de Cristo, da morte de Cristo. Lá

está todo o mistério: ele sofreu  por ti. E nele que és redimido, é nele que és salvo e, por tua vez, te tornas

salvador.

O BATISMO NA IGREJA

1226  A partir do dia de Pentecostes, a Igreja celebrou e administrou o santo Batismo. Com efeito,

São Pedro declara à multidão impressionada com sua pregação: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja

batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão de vossos pecados. Então recebereis o dom do Espírito

Santo” (At 2,38). Os Apóstolos e seus colaboradores oferecem o Batismo a todo aquele que crer em Jesus:

judeus, tementes a Deus, pagãos. O Batismo aparece sempre ligado à fé: “Crê no Senhor e serás salvo, tu

e a tua casa”, declara São Paulo a seu carcereiro de Filipos. O relato prossegue: “E imediatamente [o

carcereiro recebeu o Batismo, ele e todos os seus” (At 16,31-33).

1227 Segundo o apóstolo São Paulo, pelo Batismo o crente comunga na morte de Cristo; é

sepultado e ressuscita com ele: Batizados em Cristo Jesus, em sua morte é que fomos batizados. Portanto,

pelo Batismo fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos

pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova (Rm 6,3-4). Os batizados “vestiram-se de Cristo”.

Pelo Espírito Santo, o Batismo é um banho que purifica, santifica e justifica.

1228     O Batismo é, pois, um banho de água no qual “a semente incorruptível” da Palavra de Deus

produz seu efeito vivificante. Santo Agostinho dirá do Batismo: “Accedit verbum ad elementum, et fit

Sacramentum - Une-se a palavra ao elemento, e acontece o sacramento”.

III. COMO É CELEBRADO O SACRAMENTO DO BATISMO?

A INICIAÇÃO CRISTÃ

1229      Tornar-se cristão, eis algo que se realiza desde os tempos dos apóstolos por um itinerário e

uma iniciação que passa por várias etapas. Este itinerário pode ser percorrido com rapidez ou lentamente.

Dever sempre comportar alguns elementos essenciais: o anúncio da Palavra, o acolhimento do Evangelho

acarretando uma conversão, a profissão de fé, o Batismo, a efusão do Espírito Santo, o acesso à

Comunhão Eucarística.

1230       Esta iniciação tem variado muito ao longo dos séculos e de acordo com as circunstâncias.

Nos primeiros séculos da Igreja a iniciação cristã conheceu um grande desenvolvimento com um longo período de catecumenato e uma seqüência de ritos preparatórios que balizavam liturgicamente a

caminhada da preparação catecumenal e que desembocavam na celebração dos sacramentos da

iniciação cristã.

1231     Quando o Batismo das crianças se tornou amplamente a forma habitual da celebração

deste sacramento, esta passou a ser um único ato que integra de maneira muito resumida as etapas

prévias à iniciação cristã. Por sua própria natureza, o Batismo das crianças exige um catecumenato pósbatismal. Não se trata somente da necessidade de uma instrução posterior ao Batismo, mas do

desabrochar necessário da graça batismal no crescimento da pessoa. E o lugar próprio do catecismo.

1232    O Concílio Vaticano II restaurou, para a Igreja latina, “o catecumenato dos adultos,

distribuído em várias etapas”. Encontram-se tais ritos no Ordo initiationis christianae adultorum (Ritual da

iniciação cristã dos adultos). O Concílio por sua vez permitiu que, “além dos elementos de iniciação

fornecidos pela tradição cristã”, fossem admitidos “em terras de missão estes outros elementos de

iniciação cristã, cuja prática constatamos em cada povo, na medida em que possam ser adaptados ao

rito cristão”.

1233     Hoje em dia, portanto, em todos os ritos latinos e orientais, a iniciação cristã dos adultos

começa desde a entrada deles no catecumenato, para atingir seu ponto culminante em uma única

celebração dos três sacramentos: Batismo, Confirmação e Eucaristia. Nos ritos orientais a iniciação cristã

das crianças começa no Batismo, seguido imediatamente pela Confirmação e pela Eucaristia, ao passo

que no rito romano ela prossegue durante os anos de catequese, para terminar mais tarde com a

Confirmação e a Eucaristia, ápice de sua iniciação cristã.

A MISTAGOGIA DA CELEBRAÇÃO

1234      O significado e a graça do sacramento do Batismo aparecem com clareza nos ritos de sua

celebração. É acompanhando, com uma participação atenta, os gestos e as palavras desta celebração

que os fiéis são iniciados nas riquezas que este sacramento significa e realiza em cada novo batizado.

1235     O sinal-da-cruz no limiar da celebração, assinala a marca de Cristo naquele que vai

pertencer-lhe e significa a graça da redenção que Cristo nos proporcionou por sua cruz.

1236     O anúncio da Palavra de Deus ilumina com a verdade revelada os candidatos e a

assembléia, e suscita a resposta da fé, inseparável do Batismo. Com efeito, o Batismo é de maneira

especial “o sacramento da fé”, uma vez que é a entrada sacramental na vida de fé.

1237     Visto que o Batismo significa a libertação do pecado e de seu instigador, o Diabo,

pronuncia-se um (ou vários) exorcismo(s) sobre o candidato. Este é ungido com o óleo dos catecúmenos

ou então o celebrante impõe-lhe a mão, e o candidato renuncia explicitamente a satanás. Assim

preparado, ele pode confessar a fé da Igreja, à qual será “confiado” pelo Batismo.

1238     A água batismal é então consagrada por uma oração de epiclese (seja no próprio

momento, seja na noite pascal). A Igreja pede a Deus que, por seu Filho, o poder do Espírito Santo desça

sobre esta água, para que os que forem batizados nela “nasçam da água e do Espírito” (Jo 3,5).

1239     Segue então o rito essencial do sacramento: o Batismo propriamente dito, que significa e

realiza a morte ao pecado e a entrada na vida da Santíssima Trindade por meio da configuração ao

mistério pascal de Cristo. O Batismo é realizado da maneira mais significativa pela tríplice imersão na água

batismal. Mas desde a Antigüidade ele pode também ser conferido derramando-se, por três vezes, a água

sobre a cabeça do candidato.

1240     Na Igreja latina, esta tríplice infusão é acompanhada das palavras do ministro: “N..., eu te

batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Nas liturgias orientais, estando o catecúmeno voltado

para o nascente, o ministro diz: “O servo de Deus, N..., é batizado em nome do Pai, do Filho  e do Espírito

Santo”. E à invocação de cada pessoa da Santíssima Trindade o ministro mergulha o candidato na água e

o retira dela.

1241   A unção com o santo crisma, óleo perfumado consagrado pelo Bispo, significa o dom do

Espírito Santo ao novo batizado. Este tornou-se um cristão, isto é, “ungido” do Espírito Santo, incorporado a

Cristo, que é ungido sacerdote, profeta e rei.

1242 Na liturgia das Igrejas do Oriente, a unção pós-batismal é o sacramento da Crisma

(Confirmação). Na liturgia romana, porém, esta primeira unção anuncia outra, a do santo Crisma, que será feita pelo Bispo: o sacramento da Confirmação, que, por assim dizer, “confirma” e encerra a unção

batismal.

1243   A veste branca simboliza que o batizado “vestiu-se de Cristo”: ressuscitou com Cristo[ag61] . A

vela, acesa no círio pascal, significa que Cristo iluminou o neófito. Em Cristo, os batizados são “a luz do

mundo” (Mt 5,14). O novo batizado é agora filho de Deus no Filho único. Pode rezar a oração dos filhos de

Deus: o Pai-Nosso.

1244  A  primeira comunhão eucarística. Uma vez feito filho de Deus, revestido da veste nupcial, o

neófito é admitido “ao festim das bodas do Cordeiro” e recebe o alimento da vida nova, o Corpo e o

Sangue de Cristo. As Igrejas orientais mantêm uma consciência viva da unidade da iniciação cristã dando

a Santa comunhão a todos os novos batizados e confirmados, mesmo às crianças, lembrando-se da

palavra do Senhor: “Deixai vir a mim as crianças, não as impeçais” (Mc 10,14). A Igreja latina, que reserva a

Santa comunhão aos que atingiram a idade da razão, exprime a abertura do Batismo para a Eucaristia

aproximando do altar a criança recém-batizada para a oração do Pai-Nosso.

1245  A bênção solene conclui a celebração do Batismo. Por ocasião do batismo de recémnascidos, a bênção da mãe ocupa um lugar especial.

IV. QUEM PODE RECEBER O BATISMO?

1246  “É capaz de receber o Batismo toda pessoa ainda não batizada, e somente ela.”

O BATISMO DOS ADULTOS

1247  Desde as origens da Igreja, o Batismo dos adultos é a situação mais normal nas terras onde o

anúncio do Evangelho é ainda recente. O catecumenato (preparação para o Batismo) ocupa então um

lugar importante. Sendo iniciação à fé e à vida cristã, deve dispor para o acolhimento do dom de Deus no

Batismo, na Confirmação e na Eucaristia.

1248  O catecumenato, ou formação dos catecúmenos, tem por finalidade permitir a estes últimos,

em resposta à iniciativa divina e em união com uma comunidade eclesial, que levem a conversão e a fé à

maturidade. Trata-se de uma “formação à vida crista integral (...) pela qual os discípulos são unidos a

Cristo, seu mestre. Por isso, os catecúmenos devem ser iniciados (...) nos mistérios da salvação e na prática

de uma vida evangélica, e introduzidos, mediante ritos sagrados celebrados em épocas sucessivas, na

vida da fé, da liturgia e da caridade do povo de Deus”.

1249  Os catecúmenos “já estão unidos à Igreja, já pertencem à casa de Cristo, não sendo raro

levarem uma vida de fé, esperança e caridade”. “A mãe Igreja já os envolve como seus em seu amor,

cercando-os de cuidados.”

O BATISMO DAS CRIANÇAS

1250 Por nascerem com uma natureza humana decaída e manchada pelo pecado original,

também as crianças precisam do novo nascimento no Batismo, a fim de serem libertadas do poder das

trevas e serem transferidas para o domínio da liberdade dos filhos de Deus, para a qual todos os homens

são chamados. A gratuidade pura da graça da salvação é particularmente manifesta no Batismo das

crianças. A Igreja e os pais privariam então a criança da graça inestimável de tomar-se filho de Deus se

não lhe conferissem o Batismo pouco depois do nascimento.

1251 Os pais cristãos hão de reconhecer que esta prática corresponde também à sua função de

alimentar a vida que Deus confiou a eles.

1252 A prática de batizar as crianças é uma tradição imemorial da Igreja. É atestada

explicitamente desde o século II. Mas é bem possível que desde o início da pregação apostólica, quando

“casas” inteiras receberam o Batismo[, também se tenha batizado as crianças.

FÉ E BATISMO

1253  O batismo é o sacramento da fé. Mas a fé tem necessidade da comunidade dos crentes.

Cada um dos fiéis só pode crer dentro da fé da Igreja. A fé que se requer para o Batismo não é uma fé perfeita e madura, mas um começo, que deve desenvolver-se. Ao catecúmeno ou a seu padrinho é feita

a pergunta: “Que pedis à Igreja de Deus?”. E ele responde: “A fé!”.

1254 Em todos os batizados, crianças ou adultos, a fé deve crescer após o Batismo. E por isso que a

Igreja celebra cada ano, na noite pascal, a renovação das promessas batismais. A preparação para o

Batismo leva apenas ao limiar da vida nova. O Batismo é a fonte da vida nova em Cristo, fonte esta da

qual brota toda a vida cristã.

1255 Para que a graça batismal possa desenvolver-se, é importante a ajuda dos pais. Este é

também o papel do padrinho ou da madrinha, que devem ser cristãos firmes, capazes e prontos a ajudar

o novo batizado, criança ou adulto, em sua caminhada na vida cristã. A tarefa deles é uma verdadeira

função eclesial (“officium”). A comunidade eclesial  inteira tem uma parcela de responsabilidade no

desenvolvimento e na conservação da graça recebida no Batismo.

V. QUEM PODE BATIZAR?

1256 São ministros ordinários do Batismo o Bispo e o presbítero e, na Igreja latina, também o

diácono. Em caso de necessidade, qualquer pessoa, mesmo não batizada, que tenha a intenção exigida,

pode batizar, utilizando a fórmula batismal trinitária. A intenção requerida é querer fazer o que a Igreja faz

quando batiza. A Igreja vê a razão desta possibilidade na vontade salvífica universal de Deus e na

necessidade do Batismo para a salvação.

VI. A NECESSIDADE DO BATISMO

1257 O Senhor mesmo afirma que o Batismo é necessário para a salvação. Também ordenou a seus

discípulos que anunciassem o Evangelho e batizassem todas a nações. O Batismo é necessário, para a

salvação, para aqueles aos quais o Evangelho foi anunciado e que tiveram a possibilidade de pedir este

sacramento. A Igreja não conhece outro meio senão o Batismo para garantir a entrada na bemaventurança eterna; é por isso que cuida de não negligenciar a missão que recebeu do Senhor, de fazer

“renascer da água e do Espírito” todos aqueles que podeis ser batizados. Deus vinculou a salvação ao

sacramento do Batismo, mas ele mesmo não está vinculado a seus sacramentos.

1258  Desde sempre, a Igreja mantém a firme convicção de que as pessoas que morrem em razão

da fé, sem terem recebido o Batismo, são batizadas por sua morte por e com Cristo. Este Batismo de

sangue, como o desejo do Batismo, acarreta os frutos do Batismo, sem ser sacramento.

1259 Para os catecúmenos que morrem antes de seu Batismo, seu desejo explícito de recebê-lo,

juntamente com o arrependimento de seus pecados e a caridade, garante-lhes a salvação que não

puderam receber pelo sacramento.

1260  “Sendo que Cristo morreu por todos e que a vocação última do homem é realmente uma só,

a saber, divina, devemos sustentar que o Espírito Santo oferece a todos, sob forma que só Deus conhece, a

possibilidade de se associarem ao Mistério Pascal.” Todo homem que, desconhecendo  o Evangelho de

Cristo e sua Igreja, procura a verdade e pratica a vontade de Deus segundo seu conhecimento dela pode

ser salvo. Pode-se supor que tais pessoas teriam desejado explicitamente o Batismo se tivessem tido

conhecimento da necessidade dele.

1261  Quanto às crianças mortas sem Batismo, a Igreja só pode confiá-las à misericórdia de Deus,

como o faz no rito das exéquias por elas. Com efeito, a grande misericórdia de Deus, “que quer que todos

os homens se salvem” (1Tm 2,4), e a ternura de Jesus para com as crianças, que o levou a dizer: “Deixai as

crianças virem a mim, não as impeçais” (Mc 10,14), nos permitem esperar que haja um caminho de

salvação para as crianças mortas sem Batismo. Eis por que é tão premente o apelo da Igreja de não

impedir as crianças de virem a Cristo pelo dom do santo Batismo.

VII. A GRAÇA DO BATISMO

1262 Os diferentes efeitos do Batismo são significados pelos elementos sensíveis do rito sacramental.

O mergulho na água faz apelo ao simbolismo da morte e da purificação, mas também da regeneração e

da renovação. Os dois efeitos principais são, pois, a purificação dos pecados e o novo nascimento no

Espírito Santo.PARA A REMISSÃO DOS PECADOS...

1263 Pelo Batismo, todos os pecados são perdoados: o pecado original e todos os pecados

pessoais, bem como todas as penas do pecado. Com efeito, naqueles que foram regenerados não resta

nada que os impeça de entrar no Reino de Deus: nem o pecado de Adão, nem o pecado pessoal, nem

as seqüelas do pecado, das quais a mais grave é a separação de Deus.

1264 No batizado, porém, certas conseqüências temporais do pecado permanecem, tais como os

sofrimentos, a doença, a morte ou as fragilidades inerentes à vida, como as fraquezas de caráter etc.,

assim como a propensão ao pecado, que a Tradição chama de concupiscência ou, metaforicamente, o

“incentivo do pecado” (fomes peccati”): “Deixada para os nossos combates, a concupiscência não é

capaz de prejudicar aqueles que, não consentindo nela, resistem com coragem pela graça de Cristo. Mais

ainda: 'um atleta não recebe a coroa se não lutou segundo as regras' (2Tm 2,5).

UMA CRIATURA NOVA

1265 O Batismo não somente purifica de todos os pecados, mas também faz do neófito “uma

criatura nova”, um filho adotivo de Deus que se tornou “participante da natureza divina”, membro de

Cristo e co-herdeiro com ele, templo do Espírito Santo.

1266 A Santíssima Trindade dá ao batizado a graça santificante, a graça da justificação, a qual

ü  torna-o capaz de crer em Deus, de esperar nele e de amá-lo por meio das virtudes teologais;

ü   concede-lhe o poder de viver e agir sob a moção do Espírito Santo por seus dons;

ü    permite-lhe crescer no bem pelas virtudes morais.

Assim, todo o organismo da vida sobrenatural do cristão tem sua raiz no santo Batismo.

INCORPORADOS À IGREJA, CORPO DE CRISTO

1267 O Batismo faz-nos membros do Corpo de Cristo. “Somos membros uns dos outros” (Ef 4,25). O

Batismo incorpora à Igreja. Das fontes batismais nasce o único povo de Deus da nova aliança, que supera

todos os limites naturais ou humanos das  nações, das culturas, das raças e dos sexos: “Fomos todos

batizados num só Espírito para sermos um só corpo” (1Cor 12,13).

1268  Os batizados tornaram-se “pedras vivas” para a “construção de um edifício espiritual, para

um sacerdócio santo” (1 Pd 2,5). Pelo Batismo, participam do sacerdócio de Cristo, de sua missão profética

e régia; “sois a raça eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo de sua particular propriedade, a fim

de que proclameis as excelências daquele que vos chamou das trevas para sua luz maravilhosa” (1Pd 2,9).

O Batismo faz participar do sacerdócio comum dos fiéis.

1269  Feito membro da Igreja, o batizado não pertence mais a si mesmo, mas àquele que morreu e

ressuscitou por nós. Logo, é chamado a submeter-se aos outros, a servi-los na comunhão da Igreja, a ser

“obediente e dócil” aos chefes da Igreja e a considerá-los com respeito e afeição. Assim como o Batismo é

a fonte de responsabilidades e de deveres, o batizado também goza de direitos dentro da Igreja: de

receber os sacramentos, de ser alimentado com a Palavra de Deus e de ser sustentado pelos outros

auxílios espirituais da Igreja.

1270  “Tornados filhos de Deus pela regeneração (batismal], (os batizados) são obrigados a

professar diante dos homens a fé que pela Igreja receberam de Deus” e a participar da atividade

apostólica e missionária do povo de Deus.

O VÍNCULO SACRAMENTAL DA UNIDADE DOS CRISTÃOS

1271 O Batismo constitui o fundamento da comunhão entre todos os cristãos, também com os que

ainda não estão em comunhão plena com a Igreja católica: “Com efeito, aqueles que crêem em Cristo e

foram validamente batizados acham-se em certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja católica.

(...) Justificados pela fé no Batismo, são incorporados a Cristo e, por isso, com razão, são honrados com o

nome de cristãos e merecidamente reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor”.

“O Batismo, pois, constitui o vínculo sacramental da unidade que liga todos os que foram regenerados por

ele.”UM SINAL ESPIRITUAL INDELÉVEL...

1272 Incorporado em Cristo pelo Batismo, o batizado é configurado a Cristo. O Batismo sela o

cristão com um sinal espiritual indelével (“character”) de sua pertença a Cristo. Pecado algum apaga esta

marca, se bem que possa impedir o Batismo de produzir frutos de salvação. Dado uma vez por todas, o

Batismo não pode ser reiterado.

1273  Incorporados à Igreja pelo Batismo, os fiéis receberam o caráter sacramental que os consagra

para o culto religioso cristão. O selo batismal capacita e compromete os cristãos a servirem a Deus em

uma participação viva na sagrada liturgia da Igreja e a exercerem seu sacerdócio batismal pelo

testemunho de uma vida santa e de uma caridade eficaz.

1274  O “selo do Senhor” (“Dominicus character”) é o selo com o qual o Espírito Santo nos marcou

“para o dia da redenção” (Ef 4,30). “O Batismo, com efeito, é o selo da vida eterna.” O fiel que tiver

“guardado o selo” até o fim, isto é, que tiver permanecido fiel às exigências de seu Batismo, poderá

caminhar “marcado pelo sinal da fé”, com a fé de seu Batismo, à espera da visão feliz de Deus  -

consumação da fé - e na esperança da ressurreição.

RESUMINDO

1275 A iniciação cristã realiza-se pelo conjunto de três sacramentos: o Batismo, que é o início da

vida nova; a Confirmação, que é sua consolidação e a Eucaristia, que alimenta o discípulo com o Corpo e

o Sangue de Cristo em vista de sua transformação nele.

1276 “Ide, portanto, e fazei que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome

do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo quanto vos ordenei” (Mt 28,19-20).

1277     O Batismo constitui o nascimento para a vida nova em Cristo. Segundo a vontade do

Senhor, ele é necessário para a salvação, como a própria Igreja, na qual o Batismo introduz.

1278     O rito essencial do Batismo consiste em mergulhar na água o candidato ou em derramar

água sobre sua cabeça, pronunciando a invocação da Santíssima Trindade, isto é, do Pai, do Filho e do

Espírito Santo

1279     O fruto do Batismo ou graça batismal é  uma realidade rica que comporta: a remissão do

pecado original e de todos os pecados pessoais; o nascimento para a vida nova, pelo qual o homem se

torna filho adotivo do Pai, membro de Cristo, templo do Espírito Santo Com isto mesmo, o batizado é

incorporado à Igreja, corpo de Cristo, e se torna participante do sacerdócio de Cristo.

1280     O Batismo imprime na alma um sinal espiritual indelével, o caráter, que consagra o batizado

ao culto da religião cristã. Em razão do caráter, o Batismo não pode ser reiterado.

1281     Os que morrem por causa da fé, os catecúmenos e todos os homens que, sob o impulso da

graça, sem conhecerem a Igreja, procuram com sinceridade a Deus e se esforçam por cumprir a vontade

dele podem ser salvos, mesmo que não tenham recebido o Batismo.

1282  Desde os tempos mais antigos, o Batismo é administrado às crianças, pois é uma graça e um

dom de Deus que não supõe méritos humanos; as crianças são batizadas na fé da Igreja. A entrada na

vida cristã dá acesso à verdadeira liberdade.

1283 Quanto às crianças mortas sem Batismo, a liturgia da Igreja convida-nos a ter confiança na

misericórdia divina e a orar pela salvação delas.

1284  Em caso de necessidade, qualquer pessoa pode batizar, desde que tenha a intenção de

fazer o que faz a Igreja, e que derrame água sobre a cabeça do candidato dizendo: “Eu te batizo em

nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

A CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO CRISTÃO

ARTIGO 2

O SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO

1285  Juntamente com o Batismo e a Eucaristia, o sacramento da Confirmação constitui o conjunto

dos “sacramentos da iniciação crista cuja unidade deve ser salvaguardada. Por isso, é preciso explicar aos

fiéis que a recepção deste sacramento é necessária à consumação da graça batismal. Com efeito, “pelo

sacramento da Confirmação [os fiéis] são vinculados mais perfeitamente à Igreja, enriquecidos de força especial do Espírito Santo, e assim mais estritamente obrigados à fé que, como verdadeiras testemunhas

de Cristo, devem difundir e defender tanto por palavras como por obras”.

I. A CONFIRMAÇÃO NA ECONOMIA DA SALVAÇÃO

1286   No Antigo Testamento os profetas anunciaram que o Espírito do Senhor repousaria sobre o

Messias esperado em vista de sua missão salvífica. A descida do Espírito Santo sobre Jesus por ocasião de

seu Batismo por João Batista foi o sinal de que era Ele quem devia vir, que Ele era o Messias; o Filho de

Deus. Concebido do Espírito Santo, toda a sua vida e toda a sua missão se realizam em uma comunhão

total com o mesmo Espírito, que o Pai lhe dá “sem medida” (Jo 3,34).

1287   Ora, esta plenitude do Espírito não devia ser apenas a do Messias; devia ser comunicada a

todo o povo messiânico. Por várias vezes Cristo prometeu esta efusão do Espírito, promessa que realizou

primeiramente no dia da Páscoa. e em seguida, de maneira mais marcante, no dia de Pentecostes.

Repletos do Espírito Santo, os Apóstolos começam a proclamar “as maravilhas de Deus” (At 2,11), e Pedro

começa a declarar que esta efusão do Espírito é o sinal dos tempos messiânicos. Os que então creram na

pregação apostólica e que se fizeram batizar também receberam o dom do Espírito Santo.

1288   “Desde então, os apóstolos, para cumprir a vontade de Cristo, comunicaram aos neófitos,

pela imposição das mãos, o dom do Espírito que leva a graça do Batismo  à sua consumação. E por isso

que na Epístola aos Hebreus ocupa um lugar, entre os elementos da primeira instrução cristã, a doutrina

sobre os batismos e também sobre a imposição das mãos. A imposição das mãos é com razão

reconhecida pela tradição católica  como a origem do sacramento da Confirmação que perpétua, de

certo modo, na Igreja, a graça de Pentecostes.”

1289  Bem cedo, para melhor significar o dom do Espírito Santo, acrescentou-se à imposição das

mãos uma unção com óleo perfumado (crisma). Esta unção ilustra o nome de “cristão”, que significa

“ungido” e que deriva a sua origem do próprio nome de Cristo, ele que “Deus ungiu com o Espírito Santo”

(At 10,38). E este rito de unção existe até os nossos dias, tanto no Oriente como no Ocidente. Por isso, no

Oriente, este sacramento é chamado Crismação, unção com crisma, ou mýron, que significa “crisma”. No

Ocidente, o termo Confirmação sugere que este sacramento, ao mesmo tempo, confirma o Batismo e

consolida a graça batismal.

DUAS TRADIÇÕES: O ORIENTE E O OCIDENTE

1290 Nos primeiros séculos, a Confirmação constitui em geral uma só celebração com o Batismo,

formando com este, segundo a expressão de São Cipriano, um “sacramento duplo”. Entre outros motivos,

a multiplicação dos batizados de crianças e isto ao  longo do ano todo e a multiplicação das paróquias

(rurais), (multiplicação) que amplia as dioceses, não permitem mais a presença do Bispo em todas as

celebrações batismais. No Ocidente, visto que se deseja reservar ao Bispo a complementação do Batismo,

se instaura a separação dos dois sacramentos em dois momentos distintos. O Oriente manteve juntos os

dois sacramentos, tanto que a Confirmação é ministrada pelo presbítero que batiza. Todavia, este não o

pode fazer senão com o “mýron” consagrado por um Bispo.

1291 Um costume da Igreja de Roma facilitou o desenvolvimento da prática ocidental graças a

uma dupla unção com o santo crisma depois do Batismo: realizada já pelo presbítero sobre o neófito, ao

sair este do banho batismal, ela é terminada por uma segunda unção, feita pelo Bispo na fronte de cada

um dos novos batizados.  A primeira unção com o santo crisma, a que é dada pelo presbítero,

permaneceu ligada ao rito batismal; ela significa a participação do batizado nas funções profética,

sacerdotal e régia de Cristo. Se o Batismo é conferido a um adulto, há uma só unção pós-batismal, a da

Confirmação.

1292 A prática da Igreja do Oriente sublinha mais a unidade da iniciação cristã. A da Igreja latina

exprime mais nitidamente a comunhão do novo cristão com seu Bispo, garante e servo da unidade de sua

Igreja, de sua catolicidade e de sua apostolicidade, e, com isto, o vínculo com as origens apostólicas da

Igreja de Cristo.

II. OS SINAIS E O RITO DA CONFIRMAÇÃO

1293  No rito deste sacramento convém considerar o sinal da unção e aquilo que a unção designa

e imprime: o selo espiritual. A unção, no simbolismo bíblico e antigo, é rica de significados: o óleo é sinal de abundância e de alegria, ele purifica (unção antes e depois do banho) e torna ágil (unção dos atletas e

dos lutadores), é sinal de cura, pois ameniza as contusões e as feridas, e faz irradiar beleza, saúde e força.

1294 Todos esses significados da unção com óleo voltam a encontrar-se na vida sacramental. A

unção, antes do Batismo, com o óleo dos catecúmenos significa purificação e fortalecimento; a unção

dos enfermos exprime a cura e o reconforto. A unção com o santo crisma depois do Batismo, na

Confirmação e na Ordenação, é o sinal de uma consagração. Pela Confirmação, os cristãos, isto é, os que

são ungidos, participam mais intensamente da missão de Jesus e da plenitude do Espírito Santo, de que

Jesus é cumulado, a fim de que toda a vida deles exale “o bom odor de Cristo”

1295 Por esta unção, o confirmando recebe “a marca”, o seio do Espírito Santo O selo é o símbolo

da pessoa, sinal de sua autoridade, de sua propriedade sobre um objeto  - assim, os soldados eram

marcados com o selo de seu chefe, e os escravos, com o de seu proprietário; o selo autentica um ato

jurídico ou um documento e o torna eventualmente secreto.

1296 Cristo mesmo se declara marcado com o selo de seu Pai. Também o cristão está marcado por

um selo: “Aquele que nos fortalece convosco em Cristo e nos dá a unção é Deus, o qual nos marcou com

um selo e colocou em nossos corações o penhor do Espírito” (2Cor 1,21-22; Cf Ef 1,13; 4,30). Este selo do

Espírito Santo marca a pertença total a Cristo, o colocar-se a seu serviço, para sempre, mas também a

promessa da proteção divina na grande provação escatológica.

A CELEBRAÇÃO DA CONFIRMAÇÃO

1297  Um momento importante que antecede a celebração da Confirmação, mas que, de certo

modo, faz parte dela, é a consagração do santo crisma. É o Bispo que, na Quinta-feira Santa, durante a

missa do crisma, consagra o santo crisma para toda a sua diocese. Nas  Igrejas do Oriente, esta

consagração é até reservada ao patriarca:

A liturgia de Antioquia exprime assim a epiclese da consagração do santo crisma (mýron): [Pai...

enviai o vosso Espírito Santo] sobre nós e sobre este óleo que está diante de nós e consagrai-o, a fim de

que seja para todos os que forem ungidos e marcados por ele: mýron santo, mýron sacerdotal, mýron

régio, unção de alegria, a veste da luz, o manto da salvação, o dom espiritual, a santificação das almas e

dos corpos, a felicidade imperecível, o selo indelével, o escudo da fé e o capacete terrível contra todas as

obras do adversário

1298     Quando a Confirmação é celebrada em separado do Batismo, como ocorre no rito

romano, a liturgia do sacramento começa com a renovação das promessas do Batismo e com a profissão

de fé dos confirmandos. Assim aparece com clareza que a Confirmação se situa na seqüência do Batismo.

Quando um adulto é batizado, recebe imediatamente a Confirmação e participa da Eucaristia [Cf CIC

cânone  866].

1299 No rito romano, o Bispo estende as mãos sobre o conjunto dos confirmandos, gesto que, desde

o tempo dos Apóstolos, é o sinal do dom do Espírito. Cabe ao Bispo invocar a efusão do Espírito: Deus TodoPoderoso, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que pela água e pelo Espírito  Santo fizestes renascer estes

vossos servos, libertando-os do pecado, enviai-lhes o Espírito Santo Paráclito; dai-lhes, Senhor, o espírito de

sabedoria e inteligência, o espírito de conselho e fortaleza, o espírito da ciência e piedade  - e enchei-os

do espírito de vosso temor. Por Cristo Nosso Senhor.

1300   Segue-se o rito essencial do sacramento. No rito latino, “o sacramento da Confirmação é

conferido pela unção do santo crisma na fronte, feita com a imposição da mão, e por estas palavras:

'Accipe signaculun doni Spitus Sancti, 'N, recebe, por este sinal, o selo do Espírito Santo, o dom de Deus.

Nas Igrejas orientais de rito bizantino, a unção do µ??s? faz-se depois de uma oração de epiclese sobre as

partes mais significativas do corpo: a fronte, os olhos, o nariz, os ouvidos, os lábios, o peito, as costas, as

mãos e os pés, sendo cada unção acompanhada da fórmula: “Sf ?a??? d? ? e?? ??e?µats? `?????”, “Selo

do dom do Espírito Santo”.

1301  O ósculo da paz, que encerra o rito do sacramento, significa e manifesta a comunhão eclesial

com o Bispo e com todos os fiéis.

III. OS EFEITOS DA CONFIRMAÇÃO

1302  Da celebração ressalta que o efeito do sacramento da Confirmação é a efusão especial do

Espírito Santo, como foi outorgado outrora aos apóstolos no dia de Pentecostes.1303   Por isso, a confirmação produz crescimento e aprofundamento da graça batismal:

ü      enraíza-nos mais profundamente na filiação divina, que nos faz dizer “Abbá, Pai” (Rm 8,15),

ü      une-nos mais solidamente a Cristo;

ü      aumenta em nós os dons do Espírito Santo;

ü      torna mais perfeita nossa vinculação com a Igreja;

ü      dá-nos uma força especial do Espírito Santo para difundir e defender a fé pela palavra e pela

ação, como verdadeiras testemunhas de Cristo, para confessar com valentia o nome de Cristo e para

nunca sentir vergonha em relação à cruz:

Lembra-te, portanto, de que recebeste o sinal espiritual, o Espírito de sabedoria e de inteligência, o

Espírito de conselho e força, o Espírito de conhecimento e de piedade, o Espírito do santo temor, e

conserva o que recebeste. Deus Pai te marcou com seu sinal, Cristo Senhor te confirmou e colocou em teu

coração o penhor do Espírito.

1304   Como o Batismo, do qual é consumação, a Confirmação é dada uma só vez, pois imprime

na alma uma marca espiritual indelével, o “caráter”, que é o sinal de que Jesus Cristo assinalou um cristão

com o selo de seu Espírito, revestindo-o da força do alto para ser sua testemunha.

1305 O “caráter” aperfeiçoa o sacerdócio comum dos fiéis, recebido no Batismo, e “o confirmado

recebe o poder de confessar a fé de Cristo publicamente, e como que em virtude de um ofício (quasi ex

ofício)”.

IV. QUEM PODE RECEBER ESTE SACRAMENTO?

1306 Todo batizado ainda não confirmado pode e deve receber o sacramento da Confirmação.

Pelo fato de o Batismo, a Confirmação e a Eucaristia formarem uma unidade, segue-se que “os fiéis têm a

obrigação de receber tempestivamente esse sacramento”, pois sem a Confirmação e a Eucaristia, o

sacramento do Batismo é sem dúvida válido e eficaz, mas a iniciação cristã permanece inacabada.

1307 O costume latino há séculos indica “a idade da razão” como ponto de referência para

receber a Confirmação. Todavia, em perigo de morte deve-se confirmar as crianças, mesmo que ainda

não tenham atingido o uso da razão.

1308  Se às vezes se fala da Confirmação como o “sacramento da maturidade cristã”, nem por isso

se deve confundir a idade adulta da fé com a idade adulta do crescimento natural, nem esquecer que a

graça batismal é uma graça de eleição gratuita e imerecida que não precisa de uma “ratificação” para

tornar-se efetiva. Santo Tomás recorda isto: A idade do corpo não constitui um prejuízo para a alma. Assim,

mesmo na infância, o homem pode receber a perfeição da idade espiritual da qual fala o livro da

Sabedoria (4,8): “Velhice venerável não é longevidade, nem é medida pelo número de anos”. Assim é que

muitas crianças, graças à força do Espírito Santo que haviam recebido, lutaram corajosamente e até o

sangue por Cristo.

1309  A preparação para a Confirmação deve visar conduzir o cristão a uma união mais íntima

com Cristo, a uma familiaridade mais intensa com o Espírito Santo, sua ação, seus dons e seus chamados, a

fim de poder assumir melhor as responsabilidades apostólicas da vida cristã. Por isso, a catequese da

Confirmação se empenhará em despertar o senso da pertença à Igreja de Jesus Cristo, tanto à Igreja

universal como à comunidade paroquial. Esta última tem uma responsabilidade peculiar na preparação

dos confirmandos.

1310  Para receber a Confirmação é preciso estar em estado de graça. Convém recorrer ao

sacramento da Penitência para ser o purificado em vista do dom do Espírito Santo Uma oração mais

intensa deve preparar para receber com docilidade e disponibilidade a força e as graças do Espírito

Santo.

1311 Para a Confirmação, como para o Batismo, convém que os candidatos procurem a ajuda

espiritual de um padrinho ou de uma madrinha. Convém que seja o mesmo do Batismo, a fim de marcar

bem a unidade dos dois sacramentos.V. O MINISTRO DA CONFIRMAÇÃO

1312 O ministro originário da Confirmação é ó Bispo. No Oriente, é normalmente o presbítero

batizante que também ministra imediatamente a Confirmação em uma única e mesma celebração. Mas

o faz com o santo crisma consagrado pelo patriarca ou pelo Bispo, o que exprime a unidade apostólica

da Igreja, cujos vínculos são reforçados pelo sacramento da Confirmação. Na Igreja latina aplica-se a

mesma disciplina nos batizados de adultos, ou quando se admite à comunhão plena com a Igreja um

batizado de outra comunidade cristã que não recebeu validamente o sacramento da Confirmação

1313  No rito latino, o ministro ordinário da confirmação é o Bispo. Embora o Bispo possa, quando

houver necessidade, conceder aos presbíteros a faculdade de administrar a Confirmação, é conveniente

que ele mesmo o confira, não esquecendo que é por este motivo que a celebração da Confirmação foi

separada temporalmente do Batismo. Os Bispos são os sucessores dos Apóstolos, receberam a plenitude

do sacramento da Ordem. A administração deste sacramento pelos Bispos marca bem que ele tem como

efeito unir aqueles que o receberam mais intimamente à Igreja, às suas origens apostólicas e à sua missão

de dar testemunho de Cristo.

1314 Se um cristão estiver em perigo de morte, todo presbítero pode dar-lhe a Confirmação. Com

efeito, a Igreja não quer que nenhum de seus filhos, mesmo se de tenra idade, deixe este mundo sem terse tornado perfeito pelo Espírito Santo com o dom da plenitude de Cristo.

RESUMINDO

1315  “Tendo ouvido que a Samaria acolhera a palavra de Deus, os Apóstolos, que estavam em

Jerusalém, enviaram-lhes Pedro e João. Estes, descendo até lá, oraram por eles, a fim de que recebessem

o Espírito Santo Pois ele ainda não descera sobre nenhum deles, mas somente haviam sido batizados em

nome do Senhor Jesus. Então começaram a impor-lhes as mãos, e eles recebiam o Espírito Santo” (At 8,14-

17).

1316  A Confirmação aperfeiçoa a graça batismal; é o sacramento que dá o Espírito Santo para

enraizar-nos mais profundamente na filiação divina, incorporar-nos mais firmemente a Cristo, tornar mais

sólida a nossa vinculação com a Igreja, associar-nos mais à sua missão e ajudar-nos a dar testemunho da

fé cristã pela palavra, acompanhada das obras.

1317  A Confirmação, como o Batismo, imprime na alma do cristão um sinal espiritual ou caráter

indelével; razão pela qual só se pode receber este sacramento uma vez na vida.

1318  No Oriente, este sacramento é administrado imediatamente depois do Batismo; é seguido da

participação na Eucaristia, tradição que põe  em destaque a unidade dos três sacramentos da iniciação

cristã. Na Igreja latina administra-se este sacramento quando se atinge a idade da razão, e normalmente

se reserva sua celebração ao Bispo, significando assim que este sacramento corrobora o vínculo eclesial

1319 Um candidato à Confirmação que tiver atingido a idade da razão deve professar a fé, estar

em estado de graça, ter a intenção de receber o sacramento e estar preparado para assumir sua função

de discípulo e de testemunha de Cristo, na comunidade eclesial e nas ocupações temporais.

1320 O rito essencial da Confirmação é a unção com o santo crisma na fronte do batizado (no

Oriente, também sobre outros órgãos dos sentidos), com a imposição da mão do ministro e as palavras:

“Accipe signaculum doni Spiritus Sancti”, “Recebe, por este sinal, o Dom do Espírito Santo”, no rito romano,

e “Signaculum doni Spiritus Sancti”, “Selo do dom do Espírito Santo”, no rito bizantino.

1321  Quando a Confirmação é celebrada em separado do Batismo, sua vinculação com este e

expressa, entre outras coisas, pela renovação dos compromissos batismais. A celebração da confirmação

no decurso da Eucaristia contribui para sublinhar a unidade dos sacramentos da iniciação cristã.

A CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO CRISTÃO

ARTIGO 3

O SACRAMENTO DA EUCARISTIA

1322 A santa Eucaristia conclui a iniciação cristã. Os que foram elevados à dignidade do

sacerdócio régio pelo Batismo e configurados mais profundamente a Cristo pela Confirmação, estes, por

meio da Eucaristia, participam com toda a comunidade do próprio sacrifício do Senhor.1323  “Na última ceia, na noite em que foi entregue, nosso Salvador instituiu o Sacrifício Eucarístico

de seu Corpo e Sangue. Por ele, perpetua pelos séculos, até que volte, o sacrifício da cruz, confiando

destarte à Igreja, sua dileta esposa, o memorial de sua morte e ressurreição: sacramento da piedade, sinal

da unidade, vínculo da caridade, banquete pascal em que Cristo é recebido como alimento, o espírito é

cumulado de graça e nos é dado o penhor da glória futura.”

I. A EUCARISTIA - FONTE E ÁPICE DA VIDA ECLESIAL

1324  A Eucaristia é “fonte e ápice de toda a vida cristã”. “Os demais sacramentos, assim como

todos os ministérios eclesiásticos e tarefas apostólicas, se ligam à sagrada Eucaristia e a ela se ordenam.

Pois a santíssima Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, a saber, o próprio Cristo, nossa Páscoa.”

1325 “A comunhão de vida com Deus e a unidade do povo de Deus, pelas quais a Igreja é ela

mesma, a Eucaristia as significa e as realiza. Nela está o clímax tanto da ação pela qual, em Cristo, Deus

santifica o mundo, como do culto que no Espírito Santo os homens prestam a Cristo e, por ele, ao Pai.”

1326 Finalmente, pela Celebração Eucarística ]a nos unimos a liturgia do céu e antecipamos a vida

eterna, quando Deus ser tudo em todos (1Cor 15,28).

1327 Em sua palavra, a Eucaristia é o resumo e a suma de nossa fé: “Nossa maneira de pensar

concorda com a Eucaristia, e a Eucaristia, por sua vez, confirma nossa maneira de pensar”.

II. COMO SE CHAMA ESTE SACRAMENTO?

1328 A riqueza inesgotável deste sacramento exprime-se nos diversos nomes que lhe são dados.

Cada uma destas designações evoca alguns de seus aspectos. Ele é chamado: Eucaristia, porque é ação

de graças a Deus. As palavras “eucharistein” (Lc 22,19; 1 Cor 11,24) e “eulogein” (Mt 26,26; Mc 14,22)

lembram as bênçãos judaicas que proclamam sobretudo durante a refeição as obras de Deus: a criação,

a redenção e a santificação.

1329 Ceia do Senhor, pois se trata da ceia que o Senhor fez com seus discípulos na véspera de sua

paixão, e da antecipação da ceia das bodas do Cordeiro na Jerusalém celeste.

Fração do Pão, porque este rito, próprio da refeição judaica, foi utilizado por Jesus quando

abençoava e distribuía o pão como presidente da mesa, sobretudo por da ocasião. Ultima Ceia. É por

este gesto que os discípulos o reconhecerão após a ressurreição, e é com esta expressão que os primeiros

cristãos designarão suas assembléias eucarísticas.

Com isso querem dizer que todos os que comem do único pão partido, Cristo, entram em

comunhão com ele e já não formam senão um só corpo nele.

Assembléia eucarística (synaxxis, pronuncie “sináxis”), porque a Eucaristia é celebrada na

assembléia dos fiéis, expressão visível da Igreja.

1330  Memorial da Paixão e da Ressurreição do Senhor. Santo Sacrifício, porque atualiza o único

sacrifício de Cristo Salvador e inclui a oferenda da Igreja; ou também santo sacrifício da Missa, “sacrifício

de louvor” (Hb 13,15), sacrifício espiritual, sacrifício puro e santo, pois realiza e supera todos os sacrifícios da

Antiga Aliança.

Santa e divina Liturgia, porque toda a liturgia da Igreja encontra seu centro e sua expressão mais

densa na celebração deste sacramento; é no mesmo sentido que se chama também celebração dos

Santos Mistérios.  Fala-se também do Santíssimo Sacramento, porque é o sacramento dos sacramentos.

Com esta denominação designam-se as espécies eucarísticas guardadas no tabernáculo.

1331 Comunhão, porque é por este sacramento que nos unimos a Cristo, que nos toma

participantes de seu Corpo e de seu Sangue para formarmos um só corpo; denomina-se ainda as “coisas

santas: ta hagia (pronuncia-se  “ta háguia” e significa “coisas santas”); sancta (coisas santas” este é o

sentido primeiro da “comunhão dos santos” de que fala o Símbolo dos Apóstolos pão dos anjos, pão do

céu, remédio de imortalidade[ag29] , viático...

1332 Santa [§30] Missa, porque a liturgia na qual se realizou o mistério da salvação termina com o

envio dos fiéis (“missio”: missão, envio) para que cumpram a vontade de Deus em sua vida cotidiana.

III. A EUCARISTIA NA ECONOMIA DA SALVAÇÃOOS SINAIS DO PÃO E DO VINHO

1333     Encontram-se no cerne da celebração da Eucaristia o pão e o vinho, os quais, pelas

palavras de Cristo e pela invocação do Espírito Santo, se tornam o Corpo e o Sangue de Cristo. Fiel à

ordem do Senhor, a Igreja continua fazendo, em sua memória, até a sua volta gloriosa, o que ele fez na

véspera de sua paixão: “Tomou o pão...” “Tomou o cálice cheio de vinho...” Ao se tomarem

misteriosamente o Corpo e o Sangue de Cristo, os sinais do pão e do vinho continuam a significar também

a bondade da criação. Assim, no ofertório damos graças ao Criador pelo pão e pelo vinho, fruto “do

trabalho do homem”, mas antes “fruto da terra” e “da videira”, dons do Criador. A Igreja vê neste gesto de

Melquisedec, rei e sacerdote, que “trouxe pão e vinho” (Gn 14,18), uma prefiguração de sua própria

oferta.

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não pode ficar somente no passado, já que por sua morte destruiu a morte, e tudo o que Cristo é, fez e sofreu por todos os homens participa da eternidade divina, e por isso abraça todos os tempos e nele se

mantém presente. O evento da cruz e da ressurreição permanece e atrai tudo para a vida.

... A PARTIR DA IGREJA DOS APÓSTOLOS...

1086  “Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, da mesma forma Ele mesmo enviou os apóstolos,

cheios do Espírito Santo, não só para pregarem o Evangelho a toda criatura, anunciarem que o Filho de

Deus, por sua Morte e Ressurreição, nos libertou do poder de Satanás e da morte e nos transferiu para o

reino do Pai, mas ainda para levarem a efeito o que anunciavam: a obra da salvação por meio do

sacrifício e dos sacramentos, em tomo dos quais gravita toda a vida litúrgica.”

1087 Dessa forma, Cristo ressuscitado, ao dar o Espírito Santo aos Apóstolos, confia-lhes seu poder

de santificação: eles tomam-se assim sinais sacramentais de Cristo. Pelo poder do mesmo Espírito Santo, os

Apóstolos confiam este poder a seus sucessores. Esta “sucessão apostólica” estrutura toda  a vida litúrgica

da Igreja; ela mesma é sacramental, transmitida pelo sacramento da ordem.

... ESTA PRESENTE NA LITURGIA TERRESTRE...

1088 “Para levar a efeito tão grande obra” a saber, a dispensação ou comunicação de sua obra

de salvação” Cristo está sempre presente em sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas. Presente está no

sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, pois 'aquele que agora oferece pelo ministério dos

sacerdotes é o mesmo que outrora se ofereceu na cruz', quanto sobretudo sob as espécies eucarísticas.

Presente está por sua força nos sacramentos, a tal ponto que, quando alguém batiza, é Cristo mesmo que

batiza. Presente está por sua palavra, pois é ele mesmo quem fala quando se lêem as Sagradas Escrituras

na Igreja. Presente está, finalmente, quando a Igreja reza o salmo do dia, ele que prometeu: 'Onde dois ou

três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles' (Mt 18,2).”

1089  “Na realização de tão grande obra, por meio da qual Deus é perfeitamente glorificado e os

homens são santificados, Cristo sempre associa a si a Igreja, sua esposa direitíssima, que o invoca como seu

Senhor e por ele presta culto ao eterno Pai.

... QUE PARTICIPA DA LITURGIA CELESTE...

1090  “Na liturgia terrestre, antegozando participamos (já) da  liturgia celeste, que se celebra na

cidade santa de Jerusalém, para a qual, na qualidade de peregrinos, caminhamos. Lá, Cristo está sentado

à direita de Deus, ministro do santuário e do tabernáculo verdadeiro; com toda a milícia do exército

celestial cantamos um hino de glória ao Senhor e, venerando a memória dos santos, esperamos fazer

parte da sociedade deles; suspiramos pelo Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, até que ele, nossa vida, se

manifeste e nós apareçamos com ele na glória.”

III. O ESPÍRITO SANTO E A IGREJA NA LITURGIA

1091  Na liturgia, o Espírito Santo é o pedagogo da fé do povo de Deus, o artífice das “obras-primas

de Deus”, que são os sacramentos da nova aliança. O desejo e a obra do Espírito no coração da Igreja é

que vivamos da vida de Cristo ressuscitado. Quando encontra em nós a resposta de fé que ele mesmo

suscitou, realiza-se uma verdadeira cooperação. Por meio dela a liturgia se toma a obra comum do Espírito

Santo e da Igreja.

1092 Nesta comunicação sacramental do mistério de Cristo,  o Espírito age da mesma forma que

nos outros tempos da economia da salvação: prepara a Igreja para encontrar seu Senhor, recorda e

manifesta Cristo à fé da assembléia, torna presente e atualiza o mistério de Cristo por seu poder

transformador e, finalmente, como Espírito de comunhão, une a Igreja à vida e à missão de Cristo.

O ESPÍRITO SANTO PREPARA PARA ACOLHER A CRISTO

1093  Na economia sacramental o Espírito Santo leva à realização as figuras da antiga aliança.

Visto que a Igreja de Cristo estava “admiravelmente preparada na história do Povo de Israel e na Antiga

Aliança”, a liturgia da Igreja conserva como parte integrante e insubstituível  - tomando-os seus  – alguns

elementos do culto da Antiga Aliança:ü    principalmente a leitura do Antigo Testamento;

ü    a oração dos Salmos;

ü  e sobretudo a memória dos eventos salvadores e das realidades significativas que encontraram

sua realização no Mistério de Cristo (a Promessa e a Aliança, o Êxodo e a Páscoa, o Reino e o Templo, o

exílio e a volta).

1094   É em tomo desta harmonia dos dois Testamentos que se articula a catequese pascal do

Senhor, e posteriormente a dos Apóstolos e dos Padres da Igreja. Esta catequese desvenda O que

permanecia escondido sob a letra do Antigo Testamento: o mistério de Cristo. Ela é denominada

“tipológica” porque revela a novidade de Cristo a partir das “figuras” (tipos) que a anunciavam nos fatos,

nas palavras e nos símbolos da primeira aliança. Por esta releitura no Espírito de verdade a partir de Cristo,

as figuras são desveladas. Assim, o dilúvio e a arca de Noé prefiguravam a salvação pelo Batismo[ag49] , o

mesmo acontecendo com a nuvem e a travessia do Mar Vermelho, e a água do rochedo era a figura dos

dons espirituais de Cristo; o maná do deserto prefigurava a Eucaristia, “o verdadeiro Pão do Céu” (Jo 6,32).

1095  É por isso que a Igreja, particularmente no advento, na quaresma e sobretudo na noite de

Páscoa, relê e revive todos esses grandes acontecimentos da história da salvação no “hoje” de sua liturgia.

Mas isso exige também que a catequese ajude os fiéis a se abrirem a esta compreensão “espiritual” da

economia da salvação, tal como a liturgia da Igreja a manifesta e no-la faz viver.

1096 Liturgia judaica e liturgia cristã. Um conhecimento mais aprimorado da fé e da vida religiosa

do povo judaico, tais como são professadas e vividas ainda hoje, pode ajudar a compreender melhor

certos aspectos da liturgia cristã. Para os judeus e para os cristãos, a Sagrada Escritura é uma parte

essencial de suas liturgias: para a proclamação da Palavra de Deus, a resposta a esta palavra, a oração

de louvor e de intercessão pelos vivos e pelos mortos, o recurso à misericórdia divina. A Liturgia da palavra,

em sua estrutura própria, tem sua origem na oração judaica. A Oração das horas, bem como outros textos

e formulários litúrgicos, tem seus paralelos na oração judaica, o mesmo acontecendo com as próprias

fórmulas de nossas orações mais veneráveis, entre elas o Pai-Nosso. Também as orações eucarísticas

inspiram-se em modelos da tradição judaica. As relações entre liturgia judaica e liturgia cristã mas também

a diferença de seus conteúdos são particularmente visíveis nas grandes festas do ano litúrgico, como a

Páscoa. Cristãos e judeus celebram a Páscoa; Páscoa da história, orientada para o futuro, entre os judeus;

Páscoa realizada na morte e na Ressurreição de Cristo, entre os cristãos, ainda que sempre à espera da

consumação definitiva.

1097   Na liturgia da nova aliança, toda ação litúrgica, especialmente a celebração da Eucaristia e

dos sacramentos, é um encontro entre Cristo e a Igreja. A assembléia litúrgica tira sua unidade da

“comunhão do Espírito Santo”, que congrega os filhos de Deus no único corpo de Cristo. Ela ultrapassa as

afinidades humanas, raciais, culturais e sociais.

1098  A  assembléia deve se preparar para se encontrar com seu Senhor, deve ser “um povo bemdisposto”. Essa preparação dos corações é obra comum do Espírito Santo e da assembléia, em particular

de seus ministros. A graça do Espírito Santo procura despertar a fé, a conversão do coração e a adesão à

vontade do Pai. Essas disposições constituem pressupostos para receber as outras graças oferecidas na

própria celebração e para os frutos de vida nova que ela está destinada a produzir posteriormente.

O ESPÍRITO SANTO RECORDA O MISTÉRIO DE CRISTO

1099   O Espírito e a Igreja cooperam para manifestar o Cristo e sua obra de salvação na liturgia.

Principalmente na Eucaristia, e analogicamente nos demais sacramentos, a liturgia é memorial do Mistério

da Salvação. O Espírito Santo é a memória viva da Igreja.

1100 A Palavra de Deus. O Espírito Santo recorda primeiro à assembléia litúrgica o sentido do evento

da salvação, dando vida à Palavra de Deus, que é anunciada para ser recebida e vivida:

Na celebração da liturgia é máxima  a importância da Sagrada Escritura, pois dela são tirados os

textos que se lêem e que são explicados na homilia e os salmos cantados. E de sua inspiração e bafejo

que surgiram as preces, as orações e os hinos litúrgicos. E é dela também que as ações e os símbolos tiram

sua significação.

1101 É o Espírito Santo que dá aos leitores e aos ouvintes, segundo as disposições de seus corações,

a compreensão espiritual da Palavra de Deus. Por meio das palavras, das ações e dos símbolos que formam a trama de uma celebração, o Espírito põe os fiéis e os ministros em relação viva com Cristo,

palavra e imagem do Pai, a fim de que possam fazer passar à sua vida o sentido daquilo que ouvem,

contemplam e fazem na celebração.

1102 “E a palavra da salvação que alimenta a fé no coração dos cristãos: é ela que faz nascer e

dá crescimento à comunhão dos cristãos.” O anúncio da Palavra de Deus não se limita a um ensinamento:

quer suscitar a resposta da fé, como consentimento e compromisso, em vista da aliança entre Deus e seu

povo. E ainda o Espírito Santo que dá a graça da fé, que a fortifica e a faz crescer na comunidade. A

assembléia litúrgica é primeiramente comunhão na fé.

1103 A anamnese.  A celebração litúrgica refere-se sempre às intervenções salvíficas de Deus na

história.  “A economia da revelação concretiza-se por meio das ações e das palavras intimamente

interligadas.(...) As palavras proclamam as obras e elucidam o mistério nelas contido.” Na liturgia da

palavra, o Espírito Santo “recorda” à assembléia tudo o que Cristo fez por nós. Segundo a natureza das

ações litúrgicas e as tradições rituais das Igrejas, uma celebração “faz memória” das maravilhas de Deus

em uma anamnese mais ou menos desenvolvida. O Espírito Santo, que desperta assim a memória da

Igreja, suscita então a ação de graças e o louvor (doxologia).

O ESPÍRITO SANTO ATUALIZA O MISTÉRIO DE CRISTO

1104 A liturgia cristã não somente recorda os acontecimentos que nos salvaram, como também os

atualiza, toma-os presentes. O mistério pascal de Cristo é celebrado, não é repetido; o que se repete são

as celebrações; em cada uma delas sobrevêm a efusão do Espírito Santo que atualiza o único mistério.

1105 A epiclese (“invocação sobre”) é a intercessão na qual o sacerdote suplica ao Pai que envie

o Espírito Santificador para que as oferendas se tornem o Corpo e o Sangue de Cristo, e para que ao

recebê-los os fiéis se tomem eles mesmos uma oferenda viva a Deus.

1106 Juntamente com a anamnese, a epiclese está no cerne de cada celebração sacramental,

mais especialmente da Eucaristia:

Perguntas como o pão se converte no Corpo de Cristo e o vinho em Sangue de Cristo. Respondote: o Espírito Santo irrompe e realiza aquilo que ultrapassa toda palavra e todo pensamento... Basta-te

saber que isso acontece por obra do Espírito Santo, do mesmo modo que, da Santíssima Virgem e pelo

mesmo Espírito Santo, o Senhor por si mesmo e em si mesmo assumiu a carne.

1107 O poder transformador do Espírito Santo na liturgia apressa a vinda do Reino e a consumação

do mistério da salvação. Na expectativa e na esperança ele nos faz realmente antecipar a comunhão

plena da Santíssima Trindade. Enviado pelo Pai que ouve a epiclese da Igreja, o Espírito dá a vida aos que

o acolhem e constitui para eles, desde já, “o penhor” de sua herança.

A COMUNHÃO DO ESPÍRITO SANTO

1108 O fim da missão do Espírito Santo em toda a ação litúrgica é colocar-se em comunhão com

Cristo para formar seu corpo. O Espírito Santo é como que a seiva da videira do Pai que produz seus frutos

nos ramos. Na liturgia realiza-se a cooperação mais íntima entre o Espírito Santo e a Igreja. Ele, o Espírito de

comunhão, permanece indefectivelmente na Igreja, e é por isso que a Igreja é o grande sacramento da

Comunhão divina que congrega os filhos de Deus dispersos. O fruto do Espírito na liturgia é

inseparavelmente comunhão com a Santíssima Trindade e comunhão fraterna entre os irmãos.

1109 A epiclese é também a oração para o efeito pleno da comunhão da assembléia com o

mistério de Cristo. “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus  Pai e a comunhão do Espírito

Santo” (2Cor 13,13) devem permanecer sempre conosco e produzir frutos para além da celebração

eucarística. A Igreja pede, pois, ao Pai que envie o Espírito Santo para que faça da vida dos fiéis uma

oferenda viva a Deus por meio da transformação espiritual à imagem de Cristo, (por meio) da

preocupação pela unidade da Igreja e da participação da sua missão pelo testemunho e pelo serviço da

caridade.

RESUMINDO

1110  Na liturgia da Igreja, Deus Pai é bendito e adorado como a fonte  de todas as bênçãos da

criação e da salvação, com as quais nos abençoou em seu Filho, para dar-nos o Espírito da adoção filial.1111 A obra de Cristo na liturgia é sacramental porque seu mistério de salvação se torna presente

nela mediante o poder de seu Espírito Santo; porque seu corpo, que é a Igreja, é como que o sacramento

(sinal e instrumento) no qual o Espírito Santo dispensa o mistério da salvação; porque por meio de suas

ações litúrgicas a Igreja peregrina já participa, por antecipação, da liturgia celeste.

1112  A missão do Espírito Santo na liturgia da Igreja é preparar a assembléia para encontrar-se com

Cristo; recordar e manifestar Cristo à fé da assembléia; tornar presente e atualizar a obra salvífica de Cristo

por seu poder transformador e fazer frutificar o dom da comunhão na Igreja.

ARTIGO 2

O MISTÉRIO PASCAL NOS SACRAMENTOS DA IGREJA

1113 Toda a vida litúrgica da Igreja gravita em tomo do sacrifício eucarístico e dos sacramentos. Há

na Igreja sete sacramentos: o Batismo, a Confirmação ou Crisma, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos

Enfermos, a Ordem, o Matrimônio. No presente artigo trataremos daquilo que é comum, do ponto de vista

doutrinal, aos sete sacramentos da Igreja. O que lhes é comum sob o aspecto da celebração será exposto

no Capítulo II, e o que é próprio de cada um deles será objeto da Seção II.

I. OS SACRAMENTOS DE CRISTO

1114 “Fiéis à doutrina das Sagradas Escrituras, às tradições apostólicas (...) e ao sentimento unânime

dos Padres “, professamos que “os sacramentos da nova lei foram todos instituídos por Nosso Senhor Jesus

Cristo”.

1115 As palavras e as ações de Jesus durante sua vida oculta e durante seu ministério público já

eram salvíficas. Antecipavam o poder de seu mistério pascal. Anunciavam e preparavam O que iria dar à

Igreja quando tudo fosse realizado. Os mistérios da vida de Cristo são os fundamentos daquilo que agora,

por meio dos ministros de sua Igreja, Cristo dispensa nos sacramentos, pois “aquilo que era visível em nosso

Salvador passou para seus mistérios”.

1116 Os sacramentos são “forças que saem” do corpo de Cristo, sempre vivo e vivificante; são

ações do Espírito Santo Operante no corpo de Cristo, que é a Igreja; são “as obras-primas de Deus” na

Nova e Eterna Aliança.

II. OS SACRAMENTOS DA IGREJA

1117  Graças ao Espírito Santo que a conduz à “verdade plena” (Jo 16,13), a Igreja reconheceu

pouco a pouco este tesouro recebido de Jesus e precisou sua “dispensação”, tal como o fez com o cânon

das Sagradas Escrituras e com a doutrina da fé, qual fiel dispensadora dos mistérios de Deus. Assim, ao

longo dos séculos, a Igreja foi discernindo que entre suas celebrações litúrgicas existem sete que são, no

sentido próprio da palavra, sacramentos instituídos pelo Senhor.

1118  Os sacramentos são “da Igreja” no duplo sentido de que existem “por meio dela” e “para

ela”. São “por meio da Igreja”, pois esta é o sacramento da ação de Cristo operando em seu seio graças

à missão do Espírito Santo E são “para a Igreja”, pois são esses “sacramentos que fazem a Igreja”; com

efeito, manifestam e comunicam aos homens, sobretudo na Eucaristia, o mistério da comunhão do Deus

amor, uno em três pessoas.

1119 Formando com Cristo-Cabeça “como que uma única pessoa mística”, a Igreja age nos

sacramentos como “comunidade sacerdotal”, “organicamente estruturada”. Pelo Batismo e pela

Confirmação, o povo sacerdotal é capacitado a celebrar a liturgia; por outro lado, certos fiéis, “revestidos

de uma ordem sagrada, são instituídos em nome de Cristo para apascentar a Igreja por meio da palavra e

da graça de Deus”.

1120  O ministério ordenado ou sacerdócio ministerial está a serviço do sacerdócio batismal.

Garante que, nos sacramentos, é Cristo que age pelo Espírito Santo para a Igreja. A missão de salvação

confiada pelo Pai a seu Filho encarnado é  confiada aos apóstolos e, por meio deles, a seus sucessores:

recebem o Espírito de Jesus para agir em seu nome e em sua pessoa. Assim, o ministro ordenado é o elo

sacramental que liga a ação litúrgica àquilo que disseram e fizeram os apóstolos, e, por meio destes, ao

que disse e fez Cristo, fonte e fundamento dos sacramentos.1121  Os sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Ordem conferem, além da graça, um

caráter sacramental ou “selo” pelo qual o cristão participa do sacerdócio de Cristo e faz parte da Igreja

segundo estados e funções diversas. Esta configuração com Cristo e com a Igreja, realizada pelo Espírito, é

indelével, permanece para sempre no cristão como disposição positiva para a graça, como promessa e

garantia da proteção divina e como vocação ao culto divino e ao serviço da Igreja. Por isso estes

sacramentos nunca podem ser reiterados.