III. JESUS E A FÉ DE ISRAEL NO DEUS ÚNICO E SALVADOR
".
587 Se a Lei e o Templo de Jerusalém puderam ser ocasião de "contradição” da parte de Jesus
para as autoridades religiosas de Israel, foi o papel dele na redenção dos pecados, obra divina por
excelência, que constituiu para elas a verdadeira pedra de escândalo.
588 Jesus escandalizou os fariseus ao comer com os publicanos e os pecadores com a mesma
familiaridade com que comia com eles. Contra os que, dentre os fariseus, estavam "convencidos de serem
justos e desprezavam os outros" (Lc 18,9[a61] ), Jesus afirmou: "Eu não vim chamar os justos, mas os
pecadores, ao arrependimento" (Lc 5,32). Foi mais longe ao proclamar diante dos fariseus que, sendo o
pecado universal, os que pretendem não necessitar de salvação estão cegos para sua própria cegueira.
(Parágrafos Relacionados 545)
589 Jesus escandalizou sobretudo porque identificou sua conduta misericordiosa para com os
pecadores com a atitude do próprio Deus para com eles. Chegou ao ponto de dar a entender que,
partilhando a mesa dos pecadores, os estava admitindo ao banquete messiânico. Mas foi particularmente ao
perdoar os pecados que Jesus deixou as autoridades religiosas de Israel diante de um dilema. Foi isto que
disseram com razão, cheios de espanto: Só Deus pode perdoar os pecados" (Mc 2,7). Ao perdoar os
pecados, ou Jesus blasfema - pois é um homem que se iguala a Deus -, ou diz a verdade, e sua pessoa torna
presente e revela o Nome de Deus. (Parágrafos Relacionados 431,1441,432)
590 Somente a identidade divina da pessoa de Jesus pode justificar uma exigência tão absoluta
quanto esta: "Aquele que não está comigo está contra mim" (Mt 12,30); assim, também, quando diz que
nele está "mais do que Jonas... mais do que Salomão" (Mt 12,41-42), "mais do que o Templo"; ou quando
lembra, referindo-se a si mesmo, que Davi chamou o Messias de seu Senhor[a70] , ao a firmar "Antes que
Abraão fosse, Eu Sou" (Jo 8,58); e até "Eu e o Pai somos um" (Jo 10,30). (Parágrafo Relacionado 253)
591 Jesus pediu às autoridades religiosas de Jerusalém que cressem nele por causa das obras de
seu Pai que ele realiza. Tal ato de fé tinha de passar, no entanto, por uma misteriosa morte de si mesmo em
vista de um novo "nascimento do alto", sob o impulso da graça divina. Essa exigência de conversão ante um
cumprimento tão surpreendente das promessas permite compreender o trágico desprezo do sinédrio ao
estimar que Jesus merecia a morte como blasfemo. Seus membros agiam assim por "ignorância" e ao mesmo
tempo pelo “endurecimento" da "incredulidade". (Parágrafos Relacionados 526,574)
RESUMINDO592 Jesus não aboliu a Lei do Sinai, mas a cumpriu com tal perfeição que revela seu sentido último e
resgata as transgressões contra ela.
593 Jesus venerou o Templo, subindo a ele nas festas judaicas de peregrinação, e amou com amor
cioso esta morada de Deus entre os homens. O Templo prefigura seu próprio mistério. Se anuncia a
destruição do Templo, é como manifestação de sua própria morte e da entrada em uma nova era da
História da Salvação, na qual seu Corpo será o Templo definitivo.
594 Jesus realizou atos como o perdão dos pecados – que o manifestaram como o próprio Deus
Salvador. Alguns judeus, não reconhecendo o Deus feito homem e vendo nele um homem que se faz Deus",
julgaram-no blasfemo.
PARÁGRAFO 2
JESUS MORREU CRUCIFICADO
I. O PROCESSO DE JESUS
DISSENSÕES ENTRE AS AUTORIDADES JUDAICAS EM RELAÇÃO A JESUS
595 Entre as autoridades religiosas de Jerusalém não houve somente o fariseu Nicodemos ou o
ilustre José de Arimatéia como discípulos secretos de Jesus, mas durante muito tempo foram produzidas
dissensões acerca de Jesus, a ponto de, às vésperas de sua Paixão São João poder dizer deles que "um bom
número deles creu nele”, ainda que de forma bem imperfeita (Jo 12,42). Isso não tem nada de
surpreendente se levarmos em conta que no dia seguinte a Pentecostes "uma multidão de sacerdotes
obedecia à fé" (At 6,7) e que "alguns do partido dos fariseus haviam abraçado a fé" (At 15,5), a ponto de
São Tiago poder dizer a São Paulo que "zelosos partidários da Lei, milhares de judeus abraçaram a fé" (At
21,20).
596 As autoridades religiosas de Jerusalém não foram unânimes na conduta a adotar em relação a
Jesus. Os fariseus ameaçaram de excomunhão os que o seguissem[a90] . Aos que temiam que "todos crerão
em Jesus e os romanos virão e destruirão nosso Lugar Santo e a nação" (Jo 11,48), o Sumo Sacerdote Caifás
propôs, profetizando: "Não compreendeis que é de vosso interesse que um só homem morra pelo povo e não
pereça a nação toda?" (Jo 11,50). O Sinédrio, depois de declarar Jesus "passível de morte" na qualidade
deblasfemador, mas, tendo perdido o direito de pô-lo à morte, entrega Jesus aos romanos, acusando-o de
revolta política, o que colocará Jesus no mesmo pé que Barrabás, acusado de "sedição" (Lc 23,19). São
também ameaças políticas o que os chefes dos sacerdotes fazem a Pilatos para que condene Jesus à morte.
(Parágrafo Relacionado 1753)
OS JUDEUS NÃO SÃO COLETIVAMENTE RESPONSÁVEIS PELA MORTE DE JESUS
597 Levando em conta a complexidade histórica do processo de Jesus manifestada nos relatos
evangélicos, e qualquer que possa ser o pecado pessoal dos atores do processo (Judas, o Sinédrio, Pilatos),
conhecido só de Deus, não se pode atribuirá responsabilidade ao conjunto dos judeus de Jerusalém, a
despeito dos gritos de uma multidão manipulada e das censuras globais contidas nos apelos à conversão
depois de Pentecostes. O próprio Jesus, ao perdoar na cruz, e Pedro, depois dele, apelaram para a
"ignorância" dos judeus de Jerusalém e até dos chefes deles. Menos ainda pode-se, a partir do grito do
povo: "Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos" (Mt 27,25), que significa uma fórmula de ratificação,
estender a responsabilidade aos outros judeus no espaço e no tempo. (Parágrafo Relacionado 1735)
Por isso a Igreja declarou muito oportunamente no Concílio Vaticano II: "Aquilo que se perpetrou em
sua Paixão não pode indistintamente ser imputado a todos os judeus que viviam então, nem aos de hoje... Os
judeus não devem ser apresentados nem como condenados por Deus nem como amaldiçoados, como se isto
decorresse das Sagradas Escrituras". (Parágrafo Relacionado 839)
TODOS OS PECADORES FORAM OS AUTORES DA PAIXÃO DE CRISTO598 No magistério de sua fé e no testemunho de seus santos a Igreja nunca esqueceu que "foram os
pecadores como tais os autores e como que os instrumentos de todos os sofrimentos por que passou o Divino
Redentor". Levando em conta que nossos pecados atingem o próprio Cristo, a Igreja não hesita em imputar
aos cristãos a responsabilidade mais grave no suplício de Jesus, responsabilidade que com excessiva
freqüência estes debitaram quase exclusivamente aos judeus.
Devemos considerar como culpados desta falta horrível os que continuam a reincidir em pecados. Já
que são os nossos crimes que arrastaram Nosso Senhor Jesus Cristo ao suplício da cruz, com certeza os que
mergulham nas desordens e no mal “de sua parte crucificam de novo o Filho de Deus e o expõem as injúrias"
(Hb 6,6). E é imperioso reconhecer que nosso próprio crime, neste caso é maior do que o dos judeus. Pois
estes, como testemunha o Apóstolo, "se tivessem conhecido o Rei da glória, nunca o teriam crucificado" (1Cor
2,8). Nós, porém, fazemos profissão de conhecê-lo. E, quando o negamos por nossos atos, de certo modo
levantamos contra Ele nossas mãos homicidas. Os demônios, então, não foram eles que o crucificaram; és tu
que com eles o crucificaste e continuas a crucificá-lo, deleitando-te nos vícios e. nos pecados. (Parágrafo
Relacionado 1851)
II. A MORTE REDENTORA DE CRISTO NO DESÍGNIO DIVINO DE SALVAÇÃO
"JESUS ENTREGUE SEGUNDO O DESÍGNIO BEM DETERMINADO DE DEUS”
599 A morte violenta de Jesus não foi o resultado do acaso um conjunto infeliz de circunstâncias. Ela
faz parte do mistério do projeto de Deus, como explica São Pedro aos judeus de Jerusalém já em seu
primeiro discurso de Pentecostes: “Ele foi entregue segundo o desígnio determinado e a presciência de Deus"
(At 2,23). Esta linguagem bíblica não significa que os que "entregaram Jesus" tenham sido apenas executores
passivos de um roteiro escrito de antemão por Deus. (Parágrafo Relacionado 517)
600 Para Deus, todos os momentos do tempo estão presentes em sua atualidade. Ele estabelece,
portanto, seu projeto eterno de "predestinação" incluindo nele a resposta livre de cada homem à sua graça:
"De fato, contra teu servo Jesus, a quem ungiste, verdadeiramente coligaram-se, nesta cidade, Herodes e
Pôncio Pilatos com as nações pagãs e os povos de Israel, para executar tudo o que, em teu poder e
sabedoria, havias predeterminado" (At 4,27-28). Deus permitiu os atos nascidos de sua cegueira, a fim de
realizar seu projeto de salvação. (Parágrafo Relacionado 312)
"MORREU POR NOSSOS PECADOS SEGUNDO AS ESCRITURAS"
601 Este projeto divino de salvação mediante a morte do "Servo, o Justo" havia sido anunciado
antecipadamente na Escritura como um mistério de redenção universal, isto é, de resgate que liberta os
homens da escravidão do pecado. São Paulo, em sua confissão de fé que diz ter "recebido secundum
Scripturas", professa que "Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras. A morte redentora de
Jesus cumpre em particular a profecia do Servo Sofredor. Jesus mesmo apresentou o sentido de sua vida e
de sua morte à luz do Servo Sofredor. Após a sua Ressurreição, ele deu esta interpretação das Escrituras aos
discípulos de Emaús, e depois aos próprios apóstolos. (Parágrafos Relacionados 652,713)
"AQUELE QUE NÃO CONHECERA O PECADO, DEUS O FEZ PECADO POR CAUSA DE NÓS"
602 Por isso, São Pedro pode formular assim a fé apostólica no projeto divino de salvação: "Fostes
resgatados da vida fútil que herdastes de vossos pais, pelo sangue precioso de Cristo, como de um cordeiro
sem defeitos e sem mácula, conhecido antes da fundação do mundo, mas manifestado, no fim dos tempos,
por causa de vós" (1Pd 1,18-20). Os pecados dos homens, depois do pecado original, são sancionados pela
morte. Ao enviar seu próprio Filho na condição de escravo, condição de uma humanidade decaída e fadada
à morte por causa do pecado. "Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a
fim de que, por ele, nos tornemos justiça de Deus" (2Cor 5,21). (Parágrafos Relacionados 400,519)
603 Jesus não conheceu a reprovação, como se Ele mesmo tivesse pecado. Mas, no amor redentor
que sempre o unia ao Pai, nos assumiu na perdição de nosso pecado em relação a Deus a ponto de poder dizer em nosso nome, na cruz: "Meu Deus, meu Deus por que me abandonaste?" (Mc 15,34[a122] ). Tendo-o
tornado solidário de nós, pecadores, "Deus não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós" (Rm
8,32), a fim de que fôssemos "reconciliados com Ele pela morte de seu Filho” (Rm 5,10). (Parágrafo
Relacionado 2572)
DEUS TEM A INICIATIVA DO AMOR REDENTOR UNIVERSAL
604 Ao entregar seu Filho por nossos pecados, Deus manifesta que seu desígnio sobre nós é um
desígnio de amor benevolente que antecede a qualquer mérito nosso: "Nisto consiste o amor: não fomos nós
que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e enviou-nos seu Filho como vítima de expiação por nossos
pecados" (1Jo 4,10). "Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós
quando éramos ainda pecadores" (Rm 5,8). (Parágrafos Relacionados 211,2009,1925)
605 Este amor não exclui ninguém. Jesus lembrou-o na conclusão da parábola da ovelha perdida:
"Assim, também, não é da vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca" (Mt
18,14). Afirma ele "dar sua vida em resgate por muitos" (Mt 20,28); este último termo não é restritivo: opõe
o conjunto da humanidade à única pessoa do Redentor que se entrega para salvá-la. A Igreja, no
seguimento dos apóstolos, ensina que Cristo morreu por todos os homens sem exceção: "Não há, não houve e
não haverá nenhum homem pelo qual Cristo não tenha sofrido". (Parágrafos Relacionados 402,634,2793)
III. Cristo ofereceu-se a seu Pai por nossos pecados
TODA A VIDA DE CRISTO É OFERENDA AO PAI
606 O Filho de Deus, que "desceu do Céu não para fazer sua vontade, mas a do Pai que o enviou",
"diz ao entrar no mundo:.. Eis-me aqui... eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade... Graças a esta vontade é
que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas" (Hb 10,5-10).
Desde o primeiro instante de sua Encarnação, o Filho desposa o desígnio de salvação divino em sua missão
redentora: "Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar sua obra" (Jo 4,34). O
sacrifício de Jesus "pelos pecados do mundo inteiro" (1Jo 2,2) é a expressão de sua comunhão de amor ao
Pai: "O Pai me ama porque dou a minha vida" (Jo 10,17). "O mundo saberá que amo o Pai e faço como o
Pai me ordenou" (Jo 14,31). (Parágrafos Relacionados 517,536)
607 Este desejo de desposar o desígnio de amor redentor de seu Pai anima toda a vida de Jesus
pois sua Paixão redentora é a razão de ser de sua Encarnação: "Pai, salva-me desta hora. Mas foi
precisamente para esta hora que eu vim" (Jo 12,27). "Deixarei eu de beber o cálice que o Pai me deu?" (Jo
18,11). E ainda na cruz, antes que tudo fosse "consumado" (Jo 19,30), ele disse: "Tenho sede" (Jo 19,28).
(Parágrafo Relacionado 457)
"O CORDEIRO QUE TIRA O PECADO DO MUNDO"
608 Depois de ter aceitado dar-lhe o Batismo junto com os pecadores, João Batista viu e mostrou em
Jesus o "Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo". Manifesta, assim que Jesus é ao mesmo tempo o
Servo Sofredor que se deixa levar silencioso ao matadouro e carrega o pecado das multidões e o cordeiro
pascal, símbolo da redenção de Israel por ocasião da primeira Páscoa. Toda a vida de Cristo exprime sua
missão: "Servir e dar sua vida em resgate por muitos”. (Parágrafos Relacionados 523,517)
JESUS ABRAÇA LIVREMENTE O AMOR REDENTOR DO PAI
609 Ao abraçar em seu coração humano o amor do Pai pelos homens, Jesus "amou-os até o fim" (Jo
13,11), "pois ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Assim, no
sofrimento e na morte, sua humanidade se tornou o instrumento livre e perfeito de seu amor divino, que quer
a salvação dos homens. Com efeito, aceitou livremente sua Paixão e sua Morte por amor de seu Pai e dos
homens, que o Pai quer salvar: "Ninguém me tira a vida, mas eu a dou livremente" (Jo 10,18). Daí a liberdade soberana do Filho de Deus quando Ele mesmo vai ao encontro da morte. (Parágrafos
Relacionados 478,515,272,539)
NA CEIA, JESUS ANTECIPOU A OFERTA LIVRE DE SUA VIDA
610 Jesus expressou de modo supremo a oferta livre de si mesmo na refeição que tomou com os
Doze Apóstolos na "noite em que foi entregue" (1 Cor 11,23). Na véspera de sua Paixão, quando ainda
estava em liberdade, Jesus fez desta Última Ceia com seus apóstolos o memorial de sua oferta voluntária ao
Pai, pela salvação dos homens: "Isto é o meu corpo que é dado por vós” (Lc 22,19). "Isto é o meu sangue, o
sangue da Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados" (Mt 26,28). (Parágrafos
Relacionados 766,1337)
611 A Eucaristia que instituiu naquele momento será o "memorial" de seu sacrifício. Jesus inclui os
apóstolos em sua própria oferta e lhes pede que a perpetuem. Com isso, institui seus apóstolos sacerdotes da
Nova Aliança: "Por eles, a mim mesmo me santifico, para que sejam santificados na verdade" (Jo 17,19).
(Parágrafos Relacionados 1364,1341,1566)
A AGONIA NO GETSÊMANI
612 O cálice da Nova Aliança, que Jesus antecipou na Ceia, oferecendo-se a si mesmo, aceita-o em
seguida das mãos do Pai em sua agonia no Getsêmani, tornando-se "obediente até a morte" (Fl 2,8). Jesus
ora: "Meu Pai, se for possível, que passe de mim este cálice..." (Mt 26,39). Exprime assim o horror que a
morte representa para sua natureza humana. Com efeito, a natureza humana de Jesus, como a nossa, está
destinada à Vida Eterna; além disso, diversamente da nossa, ela é totalmente isenta de pecado, que causa a
morte"; mas ela é sobretudo assumida pela pessoa divina do "Príncipe da Vida", do "vivente". Ao aceitar em
sua vontade humana que a vontade do Pai seja feita, aceita sua morte como redentora para "carregar em
seu próprio corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1Pd 2,24). (Parágrafos Relacionados
532,2600,1009)
A MORTE DE CRISTO É O SACRIFÍCIO ÚNICO E DEFINITIVO
613 A morte de Cristo é ao mesmo tempo o sacrifício pascal, que realiza a redenção definitiva dos
homens pelo "cordeiro que tira o pecado do mundo", e o sacrifício da Nova Aliança, que reconduz o homem
à comunhão com Deus, reconciliando-o com ele pelo "sangue derramado por muitos para remissão dos
pecados". (Parágrafos Relacionados 1366,2009)
614 Este sacrifício de Cristo é único. Ele realiza e supera todos os sacrifícios. Ele é primeiro um dom
do próprio Deus Pai: é o Pai que entrega seu Filho para reconciliar-nos consigo. É ao mesmo tempo oferenda
do Filho de Deus feito homem, o qual, livremente e por amor, oferece sua vida a seu Pai pelo Espírito Santo,
para reparar nossa desobediência. (Parágrafos Relacionados 529,1330,2100)
JESUS SUBSTITUI NOSSA DESOBEDIÊNCIA POR SUA OBEDIÊNCIA
615 Como pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores, assim, pela
obediência de um só, todos se tornarão justos" (Rm 5,19). Por sua obediência até a morte, Jesus realizou a
substituição do Servo Sofredor que "oferece sua vida em sacrifício expiatório", "quando carregava o
pecado das multidões", "que ele justifica levando sobre si o pecado de muitos". Jesus prestou reparação por
nossas faltas e satisfez o Pai por nossos pecados. (Parágrafos Relacionados 1850,433,411)
NA CRUZ, JESUS CONSUMA SEU SACRIFÍCIO
616 É "o amor até o fim" que confere o Valor de redenção de reparação, de expiação e de
satisfação ao sacrifício de Cristo. Ele nos conheceu a todos e amou na oferenda de sua vida. “A caridade de
Cristo nos compele quando consideramos que um só morreu por todos e que, por conseguinte, todos
morreram" (2 Cor 5,14). Nenhum homem, ainda que o mais santo, tinha condições de tomar sobre si os
pecados de todos os homens e de se oferecer em sacrifício por todos. A existência em Cristo da Pessoa Divina do Filho, que supera e, ao mesmo tempo, abraça todas as pessoas humanas, e que o constitui Cabeça
de toda a humanidade, torna possível seu sacrifício redentor por todos. (Parágrafos Relacionados
478,468,519)
617 "Sua sanctissima passione in ligno crucis nobis iustificationem meruit - Por sua santíssima Paixão
no madeiro da cruz mereceu-nos a justificação", ensina o Concílio de Trento, sublinhando o caráter único do
sacrifício de Cristo como "princípio de salvação eterna". E a Igreja venera a Cruz, cantando: crux, ave, spes
única - Salve, ó Cruz, única esperança". (Parágrafos Relacionados 1992,1235)
NOSSA PARTICIPAÇÃO NO SACRIFÍCIO DE CRISTO
618 A Cruz é o único sacrifício de Cristo, "único mediador entre Deus e os homens". Mas pelo fato de
que, em sua Pessoa Divina encarnada, "de certo modo uniu a si mesmo todos os homens", "oferece a todos os
homens, de uma forma que Deus conhece, a possibilidade de serem associados ao Mistério Pascal". Chama
seus discípulos a "tomar sua cruz e a segui-lo", pois "sofreu por nós, deixou-nos um exemplo, a fim de que
sigamos seus passos". Quer associar a seu sacrifício redentor aqueles mesmos que são os primeiros
beneficiários dele. Isto realiza-se de maneira suprema em sua Mãe, associada mais intimamente do que
qualquer outro ao mistério de seu sofrimento redentor: (Parágrafos Relacionados 1368,1460,307,2100,964)
Fora da Cruz não existe outra escada por onde subir ao céu.
RESUMINDO
619 "Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras" (1Cor 15,3).
620 Nossa salvação deriva da iniciativa de amor de Deus para conosco, pois “foi Ele quem nos amou
e enviou seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados" (1Jo 4,10). "Foi Deus que em Cristo
reconciliou o mundo consigo" (2 Cor 5,19).
621 Jesus ofereceu-se livremente por nossa salvação. Este, dom, ele o significa e o realiza por
antecipação durante a Última Ceia: "Isto é meu corpo, que será dado por vós" (Lc 22,19).
622 Nisto consiste a redenção de Cristo: ele "veio dar a sua vida em resgate por muitos" (Mt 20,28),
isto é, "amar os seus até o fim" (Jo 13,1), para que sejais "libertados da vida fútil que herdastes de vossos
pais".
623 Por sua obediência de amor ao Pai, "até a morte de cruz" (Fl 2,8), Jesus realizou sua missão
expiadora do Servo Sofredor que “justificará a muitos e levar sobre si as suas transgressões".
PARÁGRAFO 3
JESUS CRISTO FOI SEPULTADO
624 "Pela graça de Deus, Ele provou a morte em favor de todos os homens" (Hb 2,9). Em seu
projeto de salvação, Deus dispôs que seu Filho não somente "morresse por nossos pecados" (1Cor 15,3), mas
também que "provasse a morte", isto é, conhecesse o estado de morte, o estado de separação entre sua
alma e seu corpo, durante o tempo compreendido entre o momento em que expirou na cruz e o momento em
que ressuscitou. Este estado do Cristo morto é o mistério do sepulcro e da descida aos Infernos. É o mistério
do Sábado Santo, que o Cristo depositado no túmulo manifesta o grande descanso sabático de Deus depois
da realização da salvação dos homens, que confere paz ao universo inteiro. (Parágrafos Relacionados
362,1005,345)
CRISTO COM SEU CORPO NA SEPULTURA625 A permanência de Cristo no túmulo constitui o vínculo real entre o estado passível de Cristo
antes da Páscoa e seu atual estado glorioso de Ressuscitado. E a mesma pessoa do "Vivente" que pode
dizer: "Estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos" (Ap 1,18).
Deus [o Filho] não impediu a morte de separar a alma do corpo segundo a ordem necessária à
natureza, mas os reuniu novamente um ao outro pela Ressurreição, a fim de ser ele mesmo em sua pessoa o
ponto de encontro da morte e da vida, sustando nele a decomposição da natureza, produzida pela morte, e
tomando-se ele mesmo princípio de reunião para as partes separadas.
626 Visto que o "Príncipe da vida" que mataram é o mesmo "Vivente que ressuscitou" é preciso que
a Pessoa Divina do Filho de Deus tenha continuado a assumir sua alma e seu corpo separados entre si pela
morte:
Pelo fato de que na morte de Cristo a alma tenha sido separada da carne, a única pessoa não foi
dividida em duas pessoas, pois o corpo e a alma de Cristo existiram da mesma forma desde o início na
pessoa do Verbo; e na Morte, embora separados um do outro, ficaram cada um com a mesma e única
pessoa do Verbo. (Parágrafos Relacionados 470,650)
"NÃO DEIXARÁS TEU SANTO VER A CORRUPÇÃO"
627 A Morte de Cristo foi uma Morte verdadeira enquanto pôs fim à sua existência humana terrestre.
Mas, devido à união que a pessoa do Filho manteve com o seu corpo, não estamos diante de um cadáver
como os outros, porque "não era possível que a morte o retivesse em seu poder" (At 2,24) e porque "a
virtude divina preservou o corpo de Cristo da corrupção". Sobre Cristo pode-se dizer ao mesmo tempo: "Ele
foi eliminado da terra dos vivos" (Is 53,8) e "Minha carne repousará na esperança, porque não abandonarás
minha alma no Hades, nem permitirás que teu Santo veja a corrupção" (At 2,26-27). A Ressurreição de Jesus
"no terceiro dia" (1 Cor 15,4; Lc 24,46[a188] ) foi a prova disso, pois se pensava que a corrupção se
manifestaria a partir do quarto dia. (Parágrafos Relacionados 1009,1683)
"SEPULTADOS COM CRISTO...
628 O Batismo, cujo sinal original e pleno é a imersão, significa eficazmente a descida ao túmulo do
cristão que morre para o pecado com Cristo em vista de uma vida nova: "Pelo Batismo nós fomos sepultados
com Cristo na morte, a fim de que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim
também nós vivamos vida nova" (Rm 6,4). (Parágrafos Relacionados 537,1215)
RESUMINDO
629 Em benefício de todo homem, Jesus experimentou a morte. Foi verdadeiramente o Filho de Deus
feito homem que morreu e que foi sepultado.
630 Durante a permanência de Cristo no túmulo, sua Pessoa Divina continuou a assumir tanto a sua
alma como o seu corpo, embora separados entre si pela morte. Por isso o corpo Cristo morto "não viu a
corrupção" (At 2,27).
ARTIGO 5
"JESUS CRISTO DESCEU AOS INFERNOS, RESSUSCITOU DOS MORTOS NO TERCEIRO DIA"
631 "Jesus desceu às profundezas da terra. Aquele que desceu é também aquele que subiu" (Ef 4,9-
10). O Símbolo dos Apóstolos confessa em um mesmo artigo de fé a descida de Cristo aos Infernos e sua
Ressurreição dos mortos no terceiro dia, porque em sua Páscoa é do fundo da morte que ele fez jorrar a
vida:
Cristo, teu Filho,
que, retomado dos Infernos,brilhou sereno para o gênero humano,
e vive e reina pelos séculos dos séculos. Amem.
PARÁGRAFO I
CRISTO DESCEU AOS INFERNOS
632 As freqüentes afirmações do Novo Testamento segundo as quais Jesus "ressuscitou dentre os
mortos" (1Cor 15,20) pressupõem, anteriormente à ressurreição, que este tenha ficado na Morada dos
Mortos. Este é o sentido primeiro que a pregação apostólica deu à descida de Jesus aos Infernos: Jesus
conheceu a morte como todos os seres humanos e com sua alma esteve com eles na Morada dos Mortos. Mas
para lá foi como Salvador, proclamando a boa notícia aos espíritos que ali estavam aprisionados.
633 A Escritura denomina a Morada dos Mortos, para a qual Cristo morto desceu, de os Infernos, o
sheol ou o Hades, Visto que os que lá se encontram estão privados da visão de Deus. Este é, com efeito, o
estado de todos os mortos, maus ou justos, à espera do Redentor que não significa que a sorte deles seja
idêntica, como mostra Jesus na parábola do pobre Lázaro recebido no "seio de Abraão". "São precisamente
essas almas santas, que esperavam seu Libertador no seio de Abraão, que Jesus libertou ao descer aos
Infernos". Jesus não desceu aos Infernos para ali libertar os condenados nem para destruir o Inferno da
condenação, mas para libertar os justos que o haviam precedido. (Parágrafo Relacionado 1033)
634 "A Boa Nova foi igualmente anunciada aos mortos..." (1Pd 4,6). A descida aos Infernos é o
cumprimento, até sua plenitude, do anúncio evangélico da salvação. É a fase última da missão messiânica de
Jesus, fase condensada no tempo, mas imensamente vasta em sua significação real de extensão da obra
redentora a todos os homens de todos os tempos e de todos os lugares, pois todos os que são salvos se
tomaram participantes da Redenção. (Parágrafo Relacionado 605)
635 Cristo desceu, portanto, no seio da terra, a fim de que "os mortos ouçam a voz do Filho de Deus
e os que a ouvirem vivam" (Jo 5,25). Jesus, "o Príncipe da vida", "destruiu pela morte o dominador da morte,
isto é, O Diabo, e libertou os que passaram toda a vida em estado de servidão, pelo temor da morte" (Hb
2,5). A partir de agora, Cristo ressuscitado "detém a chave da morte e do Hades" (Ap 1,18), e "ao nome de
Jesus todo joelho se dobra no Céu, na Terra e nos Infernos" (Fl 2,10).
Um grande silêncio reina hoje na terra, um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio
porque o Rei dorme. A terra tremeu e acalmou-se porque Deus adormeceu na carne e foi acordar os que
dormiam desde séculos... Ele vai procurar Adão, nosso primeiro Pai, a ovelha perdida. Quer ir visitar todos
os que se assentaram nas trevas e à sombra da morte. Vai libertar de suas dores aqueles dos quais é filho e
para os quais é Deus: Adão acorrentado e Eva com ele cativa. "Eu sou teu Deus, e por causa de ti me tornei
teu filho. Levanta-te, tu que dormes, pois não te criei para que fiques prisioneiro do Inferno: Levanta-te
dentre os mortos, eu sou a Vida dos mortos."
RESUMINDO
636 Na expressão "Jesus desceu à mansão dos mortos", o símbolo confessa que Jesus morreu
realmente e que, por sua morte por nós, venceu a morte e o Diabo, "o dominador da morte. (Hb 2,14)
637 O Cristo morto, em sua alma unida à sua pessoa divina, desceu à Morada dos Mortos. Abriu as
portas do Céu aos justos que o haviam precedido.
PARÁGRAFO 2
NO TERCEIRO DIA RESSUSCITOU DOS MORTOS
638 "Anunciamo-vos a Boa Nova: a promessa, feita a nossos pais, Deus a realizou plenamente para
nós, seus filhos, ressuscitando Jesus" (At 13,32-33). A Ressurreição de Jesus é a verdade culminante de nossa
fé em Cristo, crida e vivida como verdade central pela primeira comunidade cristã, transmitida comofundamental pela Tradição, estabelecida pelos documentos do Novo Testamento, pregada, juntamente com
a Cruz, como parte essencial do Mistério Pascal. (Parágrafos Relacionados 90,651,991)
Cristo ressuscitou dos mortos.
Por sua morte venceu a morte,
Aos mortos deu a vida[a16] .
I - O EVENTO HISTÓRICO E TRANSCENDENTE
639 O mistério da Ressurreição de Cristo é um acontecimento real que teve manifestações
historicamente constatadas, como atesta o Novo Testamento. Já São Paulo escrevia aos Coríntios pelo ano
de 56: "Eu vos transmiti... o que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras.
Foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas, e depois aos Doze" (1Cor
15,3-4). O apóstolo fala aqui da viva tradição da Ressurreição, que ficou conhecendo após sua conversão
às portas de Damasco.
O TÚMULO VAZIO
640 "Por que procurais entre os mortos Aquele que vive? Ele não esta aqui; ressuscitou" (Lc 24,5-6).
No quadro dos acontecimentos da Páscoa, c primeiro elemento com que se depara é o sepulcro vazio. Ele
não constitui em si uma prova direta. A ausência do corpo de Cristo no túmulo poderia explicar-se de outra
forma. Apesar disso, o sepulcro vazio constitui para todos um sinal essencial. Sua descoberta pelos discípulos
foi o primeiro passo para o reconhecimento do próprio fato da Ressurreição. Este é o caso das santas
mulheres, em primeiro 1ugar, em seguida de Pedro. "O discípulo que Jesus amava" (Jo 20,2) afirma que, ao
entrar no túmulo vazio e ao descobrir "os panos de linho no chão" (Jo 20,6), "viu e creu". Isto supõe que ele
tenha constatado, pelo estado do sepulcro vazio, que a ausência do corpo de Jesus não poderia ser obra
humana e que Jesus não havia simplesmente retomado a Vida terrestre, como tinha sido o caso de Lázaro.
(Parágrafo Relacionado 999)
AS APARIÇÕES DO RESSUSCITADO
641 Maria de Mágdala e as santas mulheres, que Vinham terminar de embalsamar o corpo de
Jesus, sepultado às pressas, devido à chegada do Sábado, na tarde da Sexta-feira Santa, foram as
primeiras a encontrar o Ressuscitado. Assim, as mulheres foram as primeiras mensageiras da Ressurreição de
Cristo para os próprios apóstolos. Foi a eles que Jesus apareceu em seguida, primeiro a Pedro, depois aos
Doze. Pedro, chamado a confirmar a fé de seus irmãos, vê portanto, o Ressuscitado antes deles, e é
baseada no testemunho dele que a comunidade exclama: "E verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a
Simão" (Lc 24,34). (Parágrafos Relacionados 553,448)
642 Tudo o que aconteceu nesses dias pascais convoca todos os apóstolos, de modo particular
Pedro, para a construção da era nova que começou na manhã de Páscoa. Como testemunhas do
Ressuscitado, são eles as pedras de fundação de sua Igreja. A fé da primeira comunidade dos crentes tem
por fundamento o testemunho de homens concretos, conhecidos dos cristãos e, na maioria dos casos, vivendo
ainda entre eles. Estas "testemunhas da Ressurreição de Cristo" são, antes de tudo, Pedro e os Doze, mas não
somente eles: Paulo fala claramente de mais de quinhentas pessoas às quais Jesus apareceu de uma só vez,
além de Tiago e de todos os apóstolos. (Parágrafos Relacionados 659,881,860)
643 Diante desses testemunhos é impossível interpretar a Ressurreição de Cristo fora da ordem física
e não reconhecê-la como um fato histórico. Os fatos mostram que a fé dos discípulos foi submetida à prova
radical da paixão e morte na cruz de seu Mestre, anunciada antecipadamente por Ele. O abalo provocado
pela Paixão foi tão grande que os discípulos (pelo menos alguns deles) não creram de imediato na notícia
da ressurreição. Longe de nos falar de uma comunidade tomada de exaltação mística, os Evangelhos nos
apresentam discípulos abatidos, "com o rosto sombrio" (Lc 24,17) e assustados. Por isso não acreditaram nas
santas mulheres que voltavam do sepulcro, e "as palavras delas pareceram-lhes desvario" (Lc 24,11[a34] ).
Quando Jesus se manifesta aos onze na tarde da Páscoa, "censura-lhes a incredulidade e a dureza de
coração, porque não haviam dado crédito aos que tinham visto o Ressuscitado" (Mc 16,14).644 Mesmo confrontados com a realidade de Jesus ressuscitado, os discípulos ainda duvidam, a tal
ponto que o fato lhes parece impossível: pensam estar vendo um espírito. "Por causa da alegria, não podiam
acreditar ainda e permaneciam perplexos" (Lc 24,41). Tomé conhecerá a mesma provação da dúvida e
quando da última aparição na Galiléia, contada por Mateus, "alguns, porém, duvidaram" (Mt 28,17). Por
isso, a hipótese segundo a qual a ressurreição teria sido um "produto" da fé (ou da credulidade) dos
apóstolos carece de consistência. Muito pelo contrário, a fé que tinham na Ressurreição nasceu - sob a ação
da graça divina - da experiência direta da realidade de Jesus ressuscitado.
O ESTADO DA HUMANIDADE RESSUSCITADA DE CRISTO
645 Jesus ressuscitado estabelece com seus discípulos relações diretas, em que estes o apalpam e
com Ele comem. Convida-os, com isso, a reconhecer que Ele não é um espírito, mas sobretudo a constatar que
o corpo ressuscitado com o qual Ele se apresenta a eles é o mesmo que foi martirizado e crucificado, pois
ainda traz as marcas de sua Paixão. Contudo, este corpo autêntico e real possui, ao mesmo tempo, as
propriedades novas de um corpo glorioso: não está mais situado no espaço e no tempo, mas pode tornar-se
presente a seu modo, onde e quando quiser, pois sua humanidade não pode mais ficar presa à terra, mas já
pertence exclusivamente ao domínio divino do Pai. Por esta razão também Jesus ressuscitado é
soberanamente livre de aparecer como quiser: sob a aparência de um jardineiro ou “de outra forma" (Mc
16,12), diferente das que eram familiares aos discípulos, e isto precisamente para suscitar-lhes a fé.
(Parágrafo Relacionado 999)
646 A Ressurreição de Cristo não constituiu uma volta à vida terrestre, como foi o caso das
ressurreições que Ele havia realizado antes da Páscoa: a filha de Jairo, o jovem de Naim e Lázaro. Tais
fatos eram acontecimentos miraculosos, mas as pessoas contempladas pelos milagres voltavam simplesmente
à vida terrestre "ordinária" pelo poder de Jesus. Em determinado momento, voltariam a morrer. A
Ressurreição de Cristo é essencialmente diferente. Em seu corpo ressuscitado, Ele passa de um estado de
morte para outra vida, para além do tempo e do espaço. Na Ressurreição, o corpo de Jesus é repleto do
poder do Espírito Santo; participa da vida divina no estado de sua glória, de modo que Paulo pode chamar
a Cristo de "o homem celeste". (Parágrafos Relacionados 934,549)
A RESSURREIÇÃO COMO ACONTECIMENTO TRANSCENDENTE
647 "Só tu, noite feliz "canta o Exsultet da Páscoa – “soubeste a hora em que Cristo da morte
ressurgia." Com efeito ninguém foi testemunha ocular do próprio acontecimento da Ressurreição, e nenhum
Evangelista o descreve. Ninguém foi capaz de dizer como ela se produziu fisicamente. Muito menos sua
essência mais íntima, sua passagem a outra vida, foi perceptível aos sentidos. Como evento histórico
constatável pelo sinal do sepulcro vazio e pela realidade dos encontros dos apóstolos com Cristo
ressuscitado, a Ressurreição nem por isso deixa de estar no cerne do mistério da fé, no que ela transcende e
supera a história. E por isso que Cristo ressuscitado não se manifesta ao mundo mas a seus discípulos, "aos
que haviam subido com ele da Galiléia para Jerusalém, os quais são agora suas testemunhas diante do
povo" (At 13,31). (Parágrafo Relacionado 1000)
II. A RESSURREIÇÃO - OBRA DA SANTÍSSIMA TRINDADE
648 A Ressurreição de Cristo é objeto de fé enquanto intervenção transcendente do próprio Deus na
criação e na história. Nela, as três Pessoas Divinas agem ao mesmo tempo, juntas, e manifestam sua
originalidade própria. Ela aconteceu pelo poder do Pai que "ressuscitou" (At 2,24) Cristo, seu Filho, e desta
forma introduziu de modo perfeito sua humanidade - com seu corpo - na Trindade. Jesus é definitivamente
revelado "Filho de Deus com poder por sua Ressurreição dos mortos segundo o Espírito de santidade" (Rm
1,4). São Paulo insiste na manifestação do poder de Deus pela obra do Espírito que vivificou a humanidade
morta de Jesus e a chamou ao estado glorioso de Senhor. (Parágrafos Relacionados 258,989,663,445,272)
649 O Filho opera, por sua vez, a própria Ressurreição em virtude de seu poder divino. Jesus
anuncia que o Filho do homem dever sofrer muito, morrer e, em seguida, ressuscitar (sentido ativo da
palavra). Alhures, afirma explicitamente: "Eu dou a minha vida para retomá-la... Tenho poder de dá-la e
poder para retomá-la" (Jo 10,17-18 "Nós cremos... que Jesus morreu, em seguida ressuscitou" (1Ts 4,14).650 Os Padres da Igreja contemplam a Ressurreição a partir da Pessoa Divina de Cristo que ficou
unida à sua alma e a seu corpo separados entre si pela morte: "Pela unidade da natureza divina, que
permanece presente em cada uma das duas partes do homem, estas se unem novamente. Assim, a Morte se
produz pela separação do composto humano, e a Ressurreição, pela união das duas partes separadas[a51]
" (Parágrafos Relacionados 626,1005)
III. SENTIDO E ALCANCE SALVÍFICO DA RESSURREIÇÃO
651 "Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia é também a vossa fé" (1Cor 15,14).
A Ressurreição constitui antes de mais nada a confirmação de tudo o que o próprio Cristo fez e ensinou.
Todas as Verdades, mesmo as mais inacessíveis ao espírito humano, encontram sua justificação se, ao
ressuscitar, Cristo deu a prova definitiva, que havia prometido, de sua autoridade divina. (Parágrafos
Relacionados 129,274)
652 A Ressurreição de Cristo é cumprimento das promessas do Antigo Testamento[a52] " e do
próprio Jesus durante sua vida terrestre. A expressão "segundo as Escrituras" indica que a Ressurreição de
Cristo realiza essas predições. (Parágrafos Relacionados 994,601)
653 A verdade da divindade de Jesus é confirmada por sua Ressurreição. Dissera Ele: "Quando
tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que EU SOU, (Jo 8,28). A Ressurreição do Crucificado
demonstrou que ele era verdadeiramente "EU SOU", o Filho de Deus e Deus mesmo. São Paulo pôde
declarar aos judeus: "A promessa feita a nossos pais, Deus a realizou plenamente para nós...; ressuscitou
Jesus, como está escrito no Salmo segundo: 'Tu és o meu filho, eu hoje te gerei” (At 13,32-33). A Ressurreição
de Cristo está estreitamente ligada ao mistério da Encarnação do Filho de Deus. E o cumprimento segundo o
desígnio eterno de Deus.(Parágrafos Relacionados 445,422,461)
654 Há um duplo aspecto no Mistério Pascal: por sua morte Jesus nos liberta do pecado, por sua
Ressurreição Ele nos abre as portas de uma nova vida. Esta é primeiramente a justificação que nos restitui a
graça de Deus, "a fim de que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim
também nós vivamos vida nova" (Rm 6,4). Esta consiste na vitória sobre a morte do pecado e na nova
participação na graça". Ela realiza a adoção filial, pois os homens se tornam irmãos de Cristo, como o
próprio Jesus chama seus discípulos após a Ressurreição: “Ide anunciar a meus irmãos" (Mt 28,10). Irmãos
não por natureza mas por dom da graça, visto que esta filiação adotiva proporciona uma participação real
na vida do Filho Único, que se revelou plenamente em sua Ressurreição. (Parágrafos Relacionados
1987,1996)
655 Finalmente, a Ressurreição de Cristo - e o próprio Cristo ressuscitado - é princípio e fonte de
nossa ressurreição futura: "Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que adormeceram... assim como todos
morrem em Adão, em Cristo todos receberão a vida" (1Cor 15,20-22). Na expectativa desta realização,
Cristo ressuscitado vive no coração de seus fiéis. Nele, os cristãos "experimentaram... as forças do mundo que
há de vir" (Hb 6,5) e sua vida é atraída por Cristo ao seio da vida divina" "a fim de que não vivam mais
para si mesmos, mas para aquele que morreu e ressuscitou por eles" (2Cor 5,15). (Parágrafos Relacionados
989,1002)
RESUMINDO
656 A fé na Ressurreição tem por objeto um acontecimento ao mesmo tempo historicamente atestado
pelos discípulos que encontraram verdadeiramente o Ressuscitado e misteriosamente transcendente, enquanto
entrada da humanidade de Cristo na glória de Deus.
657 O sepulcro vazio e os panos de linho no chão significam por si mesmos que o corpo de Cristo
escapou às correntes da morte e da corrupção pelo poder de Deus. Eles preparam os discípulos para o
reencontro com o Ressuscitado.
658 Cristo, "primogênito dentre os mortos" (Cl 1,18), é o princípio de nossa própria ressurreição,
desde já pela justificação de nossa alma, mais tarde pela vivificação de nosso corpo".
ARTIGO 6"JESUS SUBIU AOS CÉUS, ESTÁ SENTADO ·
DIREITA DE DEUS PAI TODO-PODEROSO"
659 "E o Senhor Jesus, depois de ter-lhes falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de
Deus" (Mc 9). O corpo de Cristo foi glorificado desde o instante de sua Ressurreição, como provam as
propriedades novas e sobrenaturais de que desfruta partir de agora seu corpo em caráter permanente".
Mas, durante os quarenta dias em que vai comer e beber familiarmente com seus discípulos e instruí-los sobre
o Reino sua glória permanece ainda velada sob os traços de uma humanidade comum. A última aparição de
Jesus termina com a entrada irreversível de sua humanidade na glória divina, simbolizada pela nuvem e
pelo céu onde já está desde agora sentado à direita de Deus. Só de modo totalmente excepcional e único
Ele se mostrará a Paulo "como a um abortivo" (1 Cor 15,8) em uma última aparição que o constitui
apóstolo.(Parágrafos Relacionados 645,66,697,642)
660 O caráter velado da glória do Ressuscitado durante esse tempo transparece em sua palavra
misteriosa a Maria Madalena "Ainda não subi para o Pai. Mas vai aos meus irmãos e dizer-lhes Eu subo
para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus (Jo 20,17). Isso indica uma diferença de
manifestação entre a glória de Cristo ressuscitado e a de Cristo exaltado à direita do Pai. O acontecimento
ao mesmo tempo histórico e transcendente da Ascensão marca a transição de uma para a outra.
661 Esta última etapa permanece intimamente unida à primeira, isto é, à descida do céu realizada
na Encarnação. Só aquele que "saiu do Pai" pode "retomar ao Pai": Cristo[a70] . "Ninguém jamais subiu ao
céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem" (Jo 3,13). Entregue a suas forças naturais, a
humanidade não tem acesso à "Casa do Pai" à vida e à felicidade de Deus. Só Cristo pôde abrir esta porta
ao homem, "de sorte que nós, seus membros, tenhamos a esperança de encontrá-lo lá onde Ele, nossa cabeça
e nosso princípio, nos precedeu". (Parágrafos Relacionados 461,792)
662 "E, quando eu for elevado da terra, atrairei todos os homens a mim" (Jo 12,32). A elevação na
Cruz significa e anuncia a elevação da Ascensão ao céu. É o começo dela. Jesus Cristo, o Único Sacerdote da
nova e eterna Aliança, não "entrou em um santuário feito por mão de homem... e sim no próprio céu, a fim de
comparecer agora diante da face de Deus a nosso favor" (Hb 9,24). No céu, Cristo exerce em caráter
permanente seu sacerdócio, "por isso é capaz de salvar totalmente aqueles que, por meio dele, se
aproximam de Deus, visto que ele vive eternamente para interceder por eles" (Hb 7,25). Como "sumo
sacerdote dos bens vindouros" (Hb 9,11) ele é o centro é o ator principal da liturgia que honra o Pai nos
Céus. (Parágrafos Relacionados 1545,1137)
663 A partir de agora, Cristo está sentado à direita do Pai: "Por direita do Pai entendemos a glória
e a honra da divindade, onde aquele que existia como Filho de Deus antes de todos os séculos como Deus e
consubstancial ao Pai se sentou corporalmente depois de encarnar-se e de sua carne ser glorificada"
(Parágrafo Relacionado 648)
664 O sentar-se à direita do Pai significa a inauguração do Reino do Messias, realização da visão
do profeta Daniel no tocante ao Filho do Homem: "A Ele foram outorgados o império, a honra e o reino, e
todos os povos, nações e línguas o serviram. Seu império é um império eterno que jamais passará, e seu reino
jamais será destruído" (Dn 7,14). A partir desse momento, os apóstolos se tomaram as testemunhas do "Reino
que não terá fim". (Parágrafo Relacionado 541)
RESUMINDO
665 A ascensão de Cristo assinala a entrada definitiva da humanidade de Jesus no domínio celeste
de Deus, donde voltará, mas que até lá o esconde aos olhos dos homens.
666 Jesus Cristo, Cabeça da Igreja, nos precede no Reino glorioso do Pai para que nós, membros de
seu Corpo, vivamos na esperança de estarmos um dia eternamente com Ele.
667 Tendo entrado uma vez por todas no santuário do céu, Jesus Cristo intercede sem cessar por nós
como mediador que nos garante permanentemente a efusão do Espírito Santo