Espiritualidade Cristã

14/12/2011 10:20

 

Podemos dizer que Espiritualidade é o jeito como vivemos... e espiritualidade cristã seria o nosso jeito de viver inspirado pela experiência do Deus Trindade, pela revelação cristã, especialmente pelos valores do Evangelho e, de forma experiencial, pelo seguimento da pessoa de Jesus Cristo. O fato de sermos cristãos, dá uma inspiração própria ao que somos e fazemos: orienta o nosso agir, ajuda a discernir nosso sentir e ilumina as nossas decisões com valores específicos.
Espiritualidade é essencialmente experiência: experiência de Deus, feita por pessoas. Experiência de um Deus pessoal, revelado em plenitude na pessoa de Jesus Cristo. Experiência de Deus feita por pessoas, situadas culturalmente. Pessoas como seres multidimensionais – e isso requer da espiritualidade que seja uma experiência integral.

Há três dimensões essenciais do ser pessoa, ou três centros dinâmicos que o constituem: a dimensão emocional, a dimensão racional e a dimensão da acção. A Espiritualidade precisa entranhar-se nestas três dimensões, para que seja experiência vital integral.

Em diferentes épocas do pensamento, uma ou outra dimensão foi privilegiada, geralmente em detrimento das outras. A frase de Descartes “penso, logo existo”, baseou durante muito tempo a lógica da preponderância da razão. O sentimento e a acção perderam papel de importância. Os materialistas resgataram o valor da acção, como lógica de produção materialista, ao quererem afirmar “produzo, logo existo”. Continuamos desequilibrando a balança em favor de uma única dimensão.
Poderíamos talvez dizer “Nós nos relacionamos, logo existimos!”

Ser pessoa é ser relação. A dimensão relacional constitui a essência do ser pessoa, integrando sua totalidade e respeitando sua vocação profunda.
Olhando a pessoa como um ser em relação, colocamos a pessoa numa perspectiva de abertura ao outro e colocamos como critério de sua realização o ser-com, contrapondo-se ao ser-em-si, que baseia a lógica individualista.
Considerando a pessoa como ser relacional, poderemos caracterizar quatro dimensões essenciais do relacionamento, capazes de responder a uma visão integral do ser humano.
A pessoa se relaciona em primeiro lugar consigo mesma: quem sou e de onde venho? Para onde vou? Para que vivo? Por que vivo? Quem sou eu? – são algumas questões que perpassam a existência da pessoa e que cada um é chamado a encontrar respostas. Da maneira como cada pessoa se aceita e se valoriza, o sentido que dá à sua própria existência... disso depende muito do ser pessoa.
A pessoa se relaciona em segundo lugar com os outros. É dimensão do conviver, que caracteriza a pessoa como um ser político, um ser social. As relações interpessoais são um desafio para a existência e constituem uma dimensão realizadora fundamental. Aqui, podemos abrir uma subdivisão: o relacionamento com os outros situa-se ao nível das relações interpessoais e situa-se também a um nível mais amplo, que é o das relações estruturais, das formas de organização social, que a pessoa também precisa estabelecer.
Em terceiro lugar a pessoa se relaciona com o cosmos, a natureza que a circunda, todas as outras formas de vida que a rodeiam e às quais está ligada. Também no relacionamento com o cosmos se constrói o ser pessoa, numa perspectiva de realização global da vida e de interdependência das formas de vida.
A pessoa se relaciona também com o Transcendente, a quem chamamos Deus. É a dimensão do reviver, da criatividade e da fantasia, do sentido e das razões de viver. É o horizonte que engloba aquela dimensão que vai além do sobreviver (da satisfação das necessidades básicas) e do Conviver (que responde ao relacionamento com as outras pessoas e as outras formas de vida).

A construção da pessoa se faz na medida em que estas quatro dimensões são equilibradas harmoniosamente.
Podemos dizer que a maneira como a pessoa orienta estas quatro dimensões relacionais... é a espiritualidade que a pessoa vive! Ou então, a espiritualidade seria aquela inspiração que anima a pessoa em cada uma destas dimensões relacionais. Poderíamos então dizer que espiritualidade é a maneira como me relaciono comigo, com os outros, com o cosmos e com Deus.
O específico da espiritualidade cristã é a inspiração própria que a revelação cristã coloca na vivência de cada uma destas relações. O essencial da revelação cristã não é um conjunto de valores ou de normas... mas é essencialmente uma pessoa: Jesus Cristo. O seguimento desta pessoa chamada Jesus Cristo constitui o cerne do específico cristão da espiritualidade.
Ora, essa experiência inspira um jeito próprio de cada pessoa se relacionar consigo mesma, com os outros – tanto ao nível das relações interpessoais como ao nível da organização social, com o cosmos e com Deus.
O que o seguimento de Jesus Cristo, a experiência pessoal que faço da sua pessoa... o que isso influencia na minha maneira de me relacionar comigo, com os outros, com o cosmos e com Deus? – quando respondermos a esta questão, teremos encontrado resposta para definir o que é espiritualidade!
Nesta perspectiva, a espiritualidade se torna vital, experiencial, integral e integradora da totalidade do ser pessoa. Assim, a espiritualidade se identifica com o jeito de viver, com um estilo de viva, com um modo de ser – um modo de sentir, pensar e agir, um jeito de se relacionar, de tomar decisões e de trabalhar na transformação da realidade.

Cristão é aquele que, por causa de uma experiência pessoal de seguimento de Jesus Cristo, assume um jeito próprio de se relacionar consigo mesmo; tem uma maneira específica de se relacionar com os outros, quer ao nível interpessoal como ao nível da organização social; adopta um estilo próprio na relação com o cosmos e acolhe a relação com Deus numa perspectiva específica.

Caracterizar como, de modo específico, a experiência cristã influencia cada uma destas quatro dimensões do ser relacional da pessoa... essa é a tarefa do estudo da espiritualidade cristã!