CRISTO É O CENTRO DA CATEQUESE

04/09/2012 13:19

 

 

426 No centro da catequese encontramos essencialmente uma Pessoa, a de Jesus de Nazaré, Filho

único do Pai..., que sofreu e morreu por nós e agora, ressuscitado, vive conosco para  sempre... Catequizar...

é desvendar na Pessoa de Cristo todo o desígnio eterno de Deus que nela se realiza. E procurar

compreender o significado dos gestos e das palavras de Cristo e dos sinais realizados por Ele." A finalidade

definitiva da    catequese é "levar à comunhão com Jesus Cristo: só ele pode conduzir ao amor do Pai no

Espírito e fazer-nos participar da vida da Santíssima Trindade". (Parágrafos relacionados: 1698,513,260)

427 "Na catequese, é Cristo, Verbo Encarnado e Filho de Deus, que é ensinado  - todo o resto está 

em relação com ele; e somente Cristo ensina; todo outro que ensine, fá-lo na medida em que é seu portavoz, permitindo a Cristo ensinar por sua boca... Todo catequista deveria poder aplicar a si mesmo a

misteriosa palavra de Jesus: 'Minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou' (Jo 7,16[a8] )."

(Parágrafos relacionados:  2145,876)

428 Aquele que é chamado a "ensinar o Cristo" deve, portanto, procurar primeiro "este ganho

supereminente que é o conhecimento de Cristo"; é preciso "aceitar perder tudo... a fim de ganhar a Cristo e ser achado nele", e "conhecer o poder de sua  Ressurreição e a participação em seus sofrimentos,

conformando-me com ele em sua Morte, para ver se alcanço a ressurreição de entre os mortos" (Fl 3,8-11).

429 É deste conhecimento amoroso de Cristo que jorra o desejo de anunciá-lo, de "evangelizar" e de

levar outros ao "sim" da fé em Jesus Cristo. Mas ao mesmo tempo se faz sentir  a necessidade de conhecer

cada vez melhor esta fé. Para este fim, segundo a ordem do Símbolo da fé, primeiro serão apresentados os

principais títulos de Jesus: Cristo, o Filho de Deus, o Senhor (artigo 2). Em seguida, o Símbolo confessa os

principais Mistérios da vida de Cristo: os de sua Encarnação (artigo 3), os de sua Páscoa (artigos 4 e 5) e,

finalmente, os de sua Glorificação (artigos 6 e 7). (Parágrafo relacionado:  851)

ARTIGO 2

"E EM JESUS CRISTO, SEU FILHO ÚNICO, NOSSO SENHOR"

I- JESUS

430 Jesus quer dizer, em hebraico, "Deus salva". No momento da Anunciação, o anjo Gabriel dá-lhe

como nome próprio o nome de Jesus, que exprime ao mesmo tempo sua identidade e missão. Uma vez que

"só Deus pode perdoar os pecados" (Mc 2,7), é Ele que, em Jesus, seu Filho eterno feito homem, "salvará seu

povo dos pecados" (Mt 1,21). Em Jesus, portanto, Deus recapitula toda a sua história de salvação em favor

dos homens. (Parágrafos relacionados:  210,402)

431 Na História da Salvação, Deus não se contentou em libertar Israel da "casa da escravidão" (Dt

5,6), fazendo-o sair do Egito. Salva-o também de seu pecado. Por ser o pecado sempre uma ofensa feita a

Deus, só ele pode perdoá-lo. Por isso Israel, tomando consciência cada vez mais clara da universalidade do

pecado,  não poder  mais procurar a salvação a não ser na invocação do Nome do Deus Redentor.

(Parágrafos relacionados:  1441,1850,388)

432 O nome de Jesus significa que o próprio nome de Deus está presente na pessoa de seu Filho

feito homem para a redenção universal e definitiva dos pecados. E o único nome divino que traz a salvação

e a partir de agora pode ser invocado por todos, pois se uniu a todos os homens pela Encarnação, de sorte

que "não existe debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos" (At 4,12[a16] ).

(Parágrafos relacionados:  589,266,389,161)

433 O nome do Deus Salvador era invocado uma só vez por ano pelo sumo sacerdote para a

expiação dos pecados de Israel, depois de ele aspergir o propiciatório do Santo dos Santos com o sangue

do sacrifício. O propiciatório era o lugar da presença de Deus. Quando São Paulo diz de Jesus que "Deus o

destinou como instrumento de propiciação, por seu próprio Sangue" (Rm 3,25), quer afirmar que na

humanidade deste último "era Deus que em Cristo reconciliava consigo o mundo" (2Cor 5,19). (Parágrafo

relacionado:  615)

434   A Ressurreição de Jesus glorifica o nome do Deus Salvador, pois a partir de agora é o nome

de Jesus que manifesta em plenitude o poder supremo do "nome acima de todo nome". Os espíritos maus

temem seu nome, e é em nome dele que os discípulos de Jesus operam milagres, pois tudo o que pedem ao

Pai em seu nome o Pai lhes concede. (Parágrafos relacionados:  2812,2614)

435 O nome de Jesus está  no cerne da oração cristã. Todas as orações litúrgicas são concluídas pela

fórmula "per Dominum nostrum Iesum Christum  por Nosso Senhor Jesus Cristo...". A "Ave-Maria" culmina no "e

bendito é o fruto do vosso ventre,  Jesus". A oração oriental do coração denominada "oração a Jesus" diz:

"Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tem piedade de mim, pecador". Numerosos cristãos, como Sta. Joana

d'Arc, morrem tendo nos lábios apenas o nome de Jesus. (Parágrafos relacionados:  2667,2668,2676)

II.  CRISTO

436  Cristo vem da tradução grega do termo  hebraico "Messias", que quer dizer "ungido". Só se

toma o nome próprio de Jesus porque este leva à perfeição a missão divina que significa. Com efeito, em

Israel eram ungidos em nome de Deus os que lhe eram consagrados para uma missão vinda dele. Era o caso dos reis, dos sacerdotes e, em raras ocasiões, dos profetas. Esse devia ser por excelência o caso do Messias

que Deus enviaria para instaurar definitivamente seu Reino. O Messias devia ser ungido pelo Espírito do

Senhor ao mesmo tempo como rei e sacerdote, mas também como profeta. Jesus realizou a esperança

messiânica de Israel em sua tríplice função de sacerdote, profeta e rei. (Parágrafos relacionados: 

690,695,711-716,783)

437  O anjo anunciou aos pastores o nascimento de Jesus como o do Messias prometido a Israel:

"Hoje, na cidade de Davi, nasceu-vos um Salvador que é o Cristo Senhor" (Lc 2,11). Desde o inicio Ele é

"aquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo" (Jo  10,36), concebido como "Santo" no seio virginal de

Maria. José foi chamado por Deus "a receber Maria, sua mulher", grávida "daquele que foi gerado nela

pelo Espírito Santo" (Mt 1,21), para que Jesus, "que se chama Cristo", nascesse da esposa de José na

descendência messiânica de Davi (Mt 1,16). (Parágrafos relacionados:  486,525)

438 A consagração messiânica de Jesus manifesta sua missão divina. "É, aliás, o que indica seu

próprio nome, pois no nome de Cristo está  subentendido Aquele que ungiu, Aquele que foi ungido e a

própria Unção com que ele foi ungido dado: Aquele que ungiu é o Pai, Aquele que foi ungido é o Filho, e o

foi no Espírito, que é a Unção." Sua consagração messiânica eterna revelou-se no tempo de sua vida

terrestre, por ocasião de seu Batismo por João, quando "Deus o ungiu com o Espírito Santo e poder" (At

10,38), "para que ele fosse manifestado a Israel" (Jo 1,31) como seu Messias. Por suas obras e palavras

será  conhecido como "o Santo de Deus". (Parágrafos relacionados:  727,535)

439  Numerosos judeus e até certos pagãos os que compartilhavam a esperança deles reconheceram

em Jesus os traços fundamentais tais do "Filho de Davi" messiânico, prometido por Deus a Israel. Jesus aceitou

o título de Messias ao qual tinha direito, mas com reserva, pois este era entendido por uma parte de seus

contemporâneos segundo uma concepção demasiadamente humana, essencialmente política. (Parágrafos

relacionados: 528-529,547)

440  Jesus acolheu a profissão de fé de Pedro, que o reconhecia como o Messias anunciando a

Paixão iminente do Filho do Homem. Desvendou o conteúdo autêntico de sua realeza messiânica, seja na

identidade transcendente do Filho do Homem "que desceu do Céu" (Jo  3,13) seja em sua missão redentora

como Servo sofredor: "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em

resgate pela multidão" (Mt 20,28[a42] ). Por isso o verdadeiro sentido de sua realeza só se manifestou do

alto da Cruz. É somente após sua Ressurreição que sua realeza messiânica poderá ser proclamada por

Pedro diante do povo de Deus: "Que toda   casa de Israel saiba com certeza: Deus o constituiu Senhor  e

Cristo, este Jesus que vós crucificastes" (At 2,36). (Parágrafos relacionados: 552,550,445)

III. FILHO ÚNICO DE DEUS

441 Filho de Deus, no Antigo Testamento, é um título aos anjos, ao povo da Eleição, aos filhos de

Israel e a seus reis. Significa então uma filiação adotiva que estabelece entre Deus e sua criatura relações

de uma intimidade especial. Quando o Rei-Messias prometido é chamado "filho de Deus", isso não implica

necessariamente, segundo o sentido literal desses textos, que ele ultrapasse o nível humano. Os que

designaram Jesus como Messias de Israel talvez não tenham tido a intenção de dizer mais do que isto.

442 Não acontece o mesmo com Pedro, quando confessa Jesus como "o Cristo, o Filho do Deus vivo",

pois este lhe responde com solenidade: "Não foi a carne e o sangue que te revelaram isso, e sim meu Pai

que está  nos Céus" (Mt 16,17). Paralelamente, Paulo dirá  a propósito de sua conversão no caminho para

Damasco: Quando, porém, aquele que me separou desde o seio materno e me chamou, por sua graça houve

por bem revelar em mim o seu Filho, para que eu o evangelizasse entre os gentios..." (Gl 1,15-16).

"Imediatamente, nas sinagogas, começou a proclamar Jesus, afirmando que ele é o Filho  de Deus" (At 9,20).

Este será  desde o início o centro da fé apostólica professada primeiro por Pedro como fundamento da

Igreja. (Parágrafos relacionados:  552,424)

443 Se Pedro pôde reconhecer o caráter transcendente da filiação divina de Jesus Messias foi

porque este o deu a entender claramente. Diante do Sinédrio, a pergunta de seus acusadores: "Tu és então o

Filho de Deus?", Jesus respondeu: "Vós dizeis que eu Sou" (Lc 22,70). Já bem antes, Ele se designara como "o

Filho" que conhece o Pai [a56] e que é diferente dos "servos" que Deus enviou anteriormente a seu povo,

superior aos próprios anjos. Distinguiu sua filiação daquela de seus discípulos, não dizendo nunca "nosso Pai", a não ser para ordenar-lhes: "Portanto, orai desta maneira: Pai Nosso" (Mt 6,9); e sublinhou esta distinção:

"Meu Pai e vosso Pai" (Jo 20,17). (Parágrafo relacionado:  2786)

444 Os Evangelhos narram em dois momentos solenes  - o Batismo e a Transfiguração de Cristo  - a

voz do Pai a designá-lo como seu "Filho bem-amado". Jesus designa-se a si mesmo como "o Filho Único de

Deus" (Jo 3,16) e afirma com este título sua preexistência eterna. Exige a fé "em nome do Filho Único de

Deus" (Jo 3,18). Esta confissão cristã aparece já  na exclamação do centurião diante de Jesus na cruz:

"Verdadeiramente este homem era Filho de Deus" (Mc 15,39), pois somente no  Mistério Pascal o fiel cristão

pode entender o pleno significado do título "Filho de Deus". (Parágrafos relacionados: 536,554)

445 É depois de sua Ressurreição que a filiação divina de Jesus aparece no poder de sua

humanidade glorificada: "Estabelecido Filho de Deus com poder por sua Ressurreição dos mortos" (Rm 1,4).

Os apóstolos poderão confessar: "Nós vimos a sua glória, glória que ele tem junto ao Pai como Filhos Único,

cheio de graça e de verdade" (Jo 1,14). (Parágrafo relacionado:  653)

IV.  SENHOR

446 Na versão grega dos livros do Antigo Testamento, o nome inefável com o qual Deus se revelou a

Moisés, Iahweh, traduzido por "Kýrios" ["Senhor"]. Senhor torna-se desde então o nome mais habitual para

designar a própria divindade do Deus de Israel. É neste sentido forte que o Novo Testamento utiliza o título

de "Senhor" para o Pai, e também  - e aí está a novidade  - para Jesus reconhecido assim como o próprio 

Deus. (Parágrafo relacionado:  209)

447 Jesus mesmo atribui-se de maneira velada este título quando discute com os fariseus sobre o

sentido do Salmo 110,  mas também de modo explícito dirigindo-se a seus apóstolos. Ao  longo de toda a

sua vida pública, seus gestos de domínio sobre a natureza, sobre as doenças, sobre os demônios, sobre a

morte e o pecado demonstravam sua soberania divina. (Parágrafo relacionado:  548)

448  Muito freqüentemente nos Evangelhos determinadas pessoas se dirigem a Jesus chamando-o de

"Senhor". Este título exprime o respeito e a confiança dos que se achegam a Jesus e esperam dele ajuda e

cura. Sob a moção do Espírito Santo, ele exprime o reconhecimento do Mistério Divino de Jesus. No encontro

com Jesus ressuscitado, ele se transforma em expressão de adoração: "Meu Senhor e meu Deus!" (Jo 20,28).

Assume então uma conotação de amor e afeição que tornar-se-á  peculiar à tradição cristã: "É o Senhor!" (Jo

21,7). (Parágrafos relacionados:  208,683,641)

449  Ao atribuir a Jesus o título divino de Senhor, as primeiras confissões de fé da Igreja afirmam,

desde o início, que o  poder, a honra e a glória devidos a Deus Pai cabem também a Jesus[a70] , por ser Ele

"de condição divina" (Fl 2,6) e ter o Pai manifestado esta soberania de Jesus ressuscitando-o dos mortos e

exaltando-o em sua glória. (Parágrafo relacionado:  461,653)

450 Desde o principio da história cristã a afirmação do senhorio de Jesus sobre o mundo e sobre a

história significa também o reconhecimento de que o homem não deve submeter sua liberdade de pessoal,

de maneira absoluta, a nenhum poder terrestre, mas somente a Deus Pai e ao Senhor Jesus Cristo: César não

é "o Senhor. "A Igreja crê... que a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontram em seu

Senhor e Mestre." (Parágrafos relacionados: 668-672,2242)

451 A oração  cristã é marcava pelo título "Senhor", quer se trate do convite à oração "o Senhor

esteja convosco" ou da conclusão da oração, "por Jesus Cristo nosso Senhor", ou ainda do grito cheio de

confiança e de esperança: "Maran atha" ("o Senhor vem!") ou "Marana tha" ("Vem, Senhor!") (1Cor 16,22):

"Amém, vem, Senhor Jesus!" (Ap 2,20). (Parágrafos relacionados: 2664-2665,2817)

RESUMINDO

452 O nome de Jesus significa "Deus que salva". A criança nascida da Virgem Maria é chamada

"Jesus", "pois Ele salvará seu povo de seus pecados" (Mt 1,21): "Não existe debaixo do céu outro nome

dado aos homens pelo qual devamos ser salvos" (At 4,12).

453  O nome Cristo significa "Ungido", "Messias". Jesus é o Cristo pois "Deus o ungiu com o Espírito

Santo e com poder" (At 10,38). Ele era "aquele que há de vir" (Lc 7,19), o objeto da "esperança de Israel".454 O nome Filho de Deus significa a relação única e eterna de Jesus Cristo com Deus, seu Pai: Ele é

o Filho Único do Pai e o próprio Deus. Crer que Jesus Cristo é o Filho de Deus é necessário para ser cristão”

O nome Senhor designa a soberania divina. Confessar ou invocar Jesus como Senhor é crer em sua

divindade. "Ninguém pode dizer 'Jesus é Senhor' a não ser no Espírito Santo" (1 Cor 12,3).

ARTIGO 3

"JESUS CRISTO FOI CONCEBIDO PELO PODER DO ESPÍRITO SANTO,    NASCEU

DA VIRGEM MARIA"

PARÁGRAFO 1 - O FILHO DE DEUS SE FEZ HOMEM

I.   POR QUE O VERBO SE FEZ CARNE?

456 Com o Credo niceno-constantinopolitano, respondemos, confessando: "E por nós, homens, e para

nossa salvação,  desceu  dos céus e se encarnou pelo Espirito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez

homem"

457 O  Verbo se fez carne para salvar-nos, reconciliando-nos com Deus: "Foi Ele que nos amou e

enviou-nos seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados" (1Jo 4,10). "O Pai enviou seu Filho como o

Salvador do mundo" (1Jo 4,14). "Este apareceu para tirar os pecados" (1Jo 3,5): (Parágrafo relacionado: 

607,385)

Doente, nossa natureza precisava ser curada; decaída, ser reerguida; morta, ser ressuscitada.

Havíamos perdido a posse do bem, era preciso no-la restituir. Enclausurados nas trevas, era preciso trazernos à luz; cativos, esperávamos um salvador; prisioneiros, um socorro; escravos, um libertador. Essas razões

eram sem importância? Não eram tais que comoveriam a Deus a ponto de fazê-lo descer até nossa natureza

humana para visita-la, uma vez que a humanidade se encontrava em um estado tão miserável e tão infeliz?

458  O  Verbo se fez carne para que, assim, conhecêssemos o amor de Deus: "Nisto manifestou-se o

amor de Deus por nós:  Deus enviou seu Filho Único ao mundo para que vivamos por Ele" (1 Jo 4,9). "Pois

Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho Único, a fim de que todo o que crer nele não pereça, mas tenha

a Vida Eterna" (Jo 3,16). (Parágrafo relacionado:  219)

459 O  Verbo se fez carne para ser nosso modelo de santidade: "Tomai sobre vós o meu jugo e

aprendei de mim..." (Mt 11,29). "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai a não ser por

mim" (Jo 14,6). E o Pai, no monte da Transfiguração, ordena: "Ouvi-o" (Mc 9,7[a3] ). Pois Ele é o modelo das

Bem-aventuranças e a norma da Nova Lei: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15,12). Este amor

implica a oferta efetiva de si mesmo em seu seguimento. (Parágrafos relacionados:

520,823,2012,1717,1965)

460 O  Verbo se fez carne para tornar-nos "participantes da  natureza divina" (2Pd 1,4): "Pois esta

é a razão pela qual o Verbo se fez homem, e o Filho de Deus, Filho do homem: é para que o homem,

entrando em comunhão com o Verbo e recebendo, assim, a filiação divina, se torne filho de Deus".

(Parágrafos relacionados: 1265,1391)

"Pois o Filho de Deus se fez homem para nos fazer Deus[a6] . "Unigenitus Dei Filius, suae divinitatis

volens nos esse participes, naturam nostram assumpsit, ut homines deos faceret factus homo. O Filho Unigênito

de Deus, querendo-nos participantes de sua divindade, assumiu nossa natureza para que aquele que se fez

homem dos homens fizesse deuses." (Parágrafo relacionado:  1988)

II. A Encarnação

461 Retomando a expressão de São João ("O Verbo se fez carne" Jo 1,14), a Igreja denomina

"Encarnação" o fato de Filho de Deus ter assumido uma natureza humana para realizar nela a nossa salvação. Em um hino atestado por São Paulo, a Igreja canta o mistério da Encarnação: (Parágrafos

relacionados: 653,661,449)

Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus: Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser

igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, assumiu a condição de

servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a

morte, e morte de cruz! (Fl 2,5-8).

462  A Epístola aos Hebreus fala do mesmo mistério: Por isso, ao entrar no mundo, ele afirmou: Não

quiseste sacrifício e oferenda. Tu, porém, formaste-me um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não

foram de teu agrado. Por isso eu digo: Eis-me aqui... para fazer a tua vontade (Hb 10,5-7, citando Sl 40,7-

9 LXX)

463  A fé na Encarnação verdadeira do Filho de Deus é o sinal distintivo da fé cristã: "Nisto

reconheceis o Espírito de Deus. Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio na carne é de Deus" (1Jo

4,2). Esta é a alegre convicção da Igreja desde o seu começo, quando canta "o grande mistério da

piedade”: "Ele foi manifestado na carne" (1 Tm 3,16). (Parágrafo relacionado:  90)

III. VERDADEIRO DEUS E VERDADEIRO HOMEM

464 O acontecimento único e totalmente singular da Encarnação do Filho de Deus não significa que

Jesus Cristo seja em parte Deus e em parte homem, nem que ele seja o resultado da mescla confusa entre o

divino e o humano. Ele se fez verdadeiramente homem permanecendo verdadeiro Deus. Jesus Cristo é

verdadeiro Deus e verdadeiro homem. A Igreja teve de defender e clarificar esta verdade de fé no decurso

dos primeiros séculos, diante das heresias que a falsificavam. (Parágrafo relacionado:  88)

465 As primeiras heresias, mais do que a divindade de Cristo, negaram sua humanidade verdadeira

(docetismo gnóstico). Desde os tempos apostólicos a fé cristã insistiu na verdadeira Encarnação do Filho de

Deus, "que veio na carne". Mas desde o século III a Igreja teve de afirmar, contra Paulo de Samósata, em um

concílio reunido em Antioquia, que Jesus Cristo é Filho de Deus por natureza e não por adoção. O I Concílio

Ecumênico de Nicéia,  em 325, confessou em seu Credo que o Filho de Deus é "gerado, não criado,

consubstancial (homousios) ao Pai" e condenou Ário, que afirmava que" o Filho de Deus veio do nada" e que

ele seria "de uma substância diferente da do Pai. (Parágrafo relacionado:  242)

466  A heresia nestoriana via em Cristo uma pessoa humana unida  à pessoa divina do Filho de Deus.

Diante dela, São Cirilo de Alexandria e o III Concílio Ecumênico, reunido em Éfeso em 431, confessaram que

"o Verbo, unindo a si em sua pessoa uma carne animada por uma alma racional, se tornou homem". A

humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez

sua desde sua concepção. Por isso o Concílio de Éfeso proclamou, em 431, que Maria se tornou de verdade

Mãe de Deus pela concepção humana do Filho de Deus em seu seio: "Mãe de Deus não porque o Verbo de

Deus tirou dela sua natureza divina, mas porque é dela que ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma

racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne". (Parágrafo

relacionado:  495)

467 Os monofisistas afirmavam que a natureza humana tinha cessado de existir como tal em Cristo

ao ser assumida por sua pessoa divina de Filho de Deus. Confrontado com esta heresia, IV  Concílio

Ecumênico, em Calcedônia, confessou em 451:

Na linha dos santos Padres, ensinamos unanimemente a confessar um só e mesmo Filho, Nosso Senhor

Jesus Cristo, o mesmo perfeito em divindade e perfeito em humanidade, o mesmo verdadeiramente Deus e

verdadeiramente homem, composto de um alma racional e de um corpo, consubstancial ao Pai segundo a

divindade, consubstancial a nós segundo a humanidade, "semelhante a nós em tudo, com exceção do

pecado"; gerado do Pai antes de todos os séculos segundo a divindade, e nesses últimos dias, para nós e

para nossa salvação, nascido da Virgem Maria,  Mãe de Deus, segundo a humanidade. Um só e mesmo

Cristo, Senhor, Filho Único, que devemos reconhecer em duas naturezas, sem confusão, sem mudanças, sem

divisão, sem separação. A diferença das naturezas não é de modo algum suprimida por sua união, mas antes

as propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas em uma só pessoa e uma só hipóstase.

468  Depois do Concílio de Calcedônia, alguns fizeram da natureza humana de Cristo uma espécie

de sujeito pessoal. Contra eles, o V Concílio Ecumênico, em Constantinopla, em 553, confessou a propósito de

Cristo: "Não há senão uma única hipóstase [ou pessoa], que é Nosso Senhor Jesus Cristo, Um da Trindade". Na humanidade de Cristo, portanto, tudo deve ser atribuído à sua pessoa divina como ao seu sujeito

próprio; não somente os milagres, mas também os sofrimentos, e até a morte: "Aquele que foi crucificado na

carne, nosso Senhor Jesus Cristo, é verdadeiro Deus, Senhor da glória e Um da Santíssima Trindade”.

(Parágrafos relacionados: 254,616)

469 A Igreja confessa, assim, que Jesus é inseparavelmente verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

Ele é verdadeiramente o Filho de Deus que se fez homem, nosso irmão, e isto sem deixar de ser Deus, nosso

Senhor:

"Id quod fuiit remansit et quod non fuiit assumpsit - Ele permaneceu o que era, assumiu o que não

era", canta a liturgia romana. E a liturgia de São João Crisóstomo proclama e canta: "Ó Filho Único e Verbo

de Deus, sendo imortal, vos dignastes  por nossa salvação encarnar-vos da Santa Mãe de Deus e sempre

Virgem Maria, vós que sem mudança vos tomastes homem e fostes crucificado, ó Cristo Deus, que por vossa

morte esmagastes a morte, sois Um da Santíssima Trindade, glorificado com o Pai e o Espírito Santo, salvainos!". (Parágrafo relacionado:  212)

IV.  DE QUE MANEIRA O FILHO DE DEUS É HOMEM

470 Uma vez que na união misteriosa da Encarnação "a natureza humana foi assumida, não

aniquilada”, a Igreja tem sido levada, ao longo dos séculos, a confessar a plena realidade da alma humana,

com suas operações de inteligência e vontade, e a do corpo humano de Cristo. Mas, paralelamente, teve de

lembrar toda vez que a natureza humana de Cristo pertence "in proprio" à pessoa divina do Filho de Deus

que a assumiu. Tudo o que Cristo é e o que faz nela depende do "Um da Trindade". Por conseguinte, o Filho

de Deus comunica à sua humanidade seu próprio modo de existir pessoal na Trindade. Assim, em sua alma

como em seu corpo, Cristo exprime humanamente os modos divinos de agir da Trindade: (Parágrafos

relacionados: 516,626)

[O Filho de Deus] trabalhou com mãos humanas, pensou com inteligência humana, agiu com vontade

humana, amou com coração humano. Nascido da Virgem Maria, tomou-se verdadeiramente um de nós,

semelhante a nós em tudo, exceto no pecado. (Parágrafo relacionado:  2599)

A ALMA E O CONHECIMENTO HUMANO DE CRISTO

471  Apolinário de Laodicéia afirmava que em Cristo o Verbo havia substituído a alma ou o espírito.

Contra este erro a Igreja confessou que o Filho assumiu também uma alma racional humana. (Parágrafo

relacionado:  363)

472  Esta alma humana que o Filho de Deus assumiu é  dotada de um verdadeiro conhecimento

humano. Enquanto tal, este não podia ser em si ilimitado: exercia-se nas condições históricas de sua

existência no espaço e no tempo. Por isso O Filho de Deus, ao tornar-se homem, pôde aceitar "crescer em

sabedoria, em estatura e em graça" (Lc 2,52) e também informar-se sobre aquilo que na condição humana

se deve aprender de maneira experimental. Isto correspondia à realidade de seu rebaixamento voluntário

na "condição de escravo".

473  Mas, ao mesmo tempo, este conhecimento verdadeiramente humano do Filho de Deus exprimia

a vida divina de sua pessoa. "A natureza humana do Filho de Deus, não por si mesma, mas por sua união ao

Verbo, conhecia e manifestava nela tudo o que convém a Deus[." Este é, em primeiro lugar, o caso do

conhecimento íntimo e direto que o Filho de Deus feito homem tem de seu Pai. O Filho mostrava também em

seu conhecimento humano a penetração divina que tinha pensamentos secretos do coração dos homens.

(Parágrafo relacionado:  240)

474  Por sua união a Sabedoria divina na pessoa do Verbo encarnado, o conhecimento humano de

Cristo gozava em plenitude da ciência dos desígnios eternos que viera revelar. O que ele reconhece

desconhecer neste campo [a34] declara alhures não ser sua missão revelá-lo.

A VONTADE HUMANA DE CRISTO

475 Paralelamente, a Igreja confessou no VI Concílio Ecumênico que Cristo possui duas vontades e

duas operações naturais, divinas e humanas, não opostas, mas cooperantes, de sorte que o Verbo feito carne quis humanamente na obediência a seu Pai tudo o que decidiu divinamente com o Pai e o Espírito Santo por

nossa salvação. A vontade humana de Cristo "segue a sua vontade divina sem estar em resistência nem em

oposição em relação a ela; mas antes sendo subordinada a esta vontade todo-poderosa". (Parágrafo

relacionado:  2008,2824)

O VERDADEIRO CORPO DE CRISTO

 

476 Visto que o Verbo se fez carne assumindo uma verdadeira humanidade, o corpo de Cristo era

delimitado. Em razão disso, o rosto humano de Jesus pode ser "desenhado". No VII Concílio Ecumênico, a

Igreja reconheceu como legítimo que ele seja representado em imagens sagradas.  (Parágrafos

relacionados: 1159-1162,2129-2132)

477 Ao mesmo tempo, a Igreja sempre reconheceu que, no corpo de Jesus, "Deus, que por natureza 

é invisível se tornou visível aos nossos olhos". Com efeito as particularidades individuais do corpo de Cristo

exprimem a pessoa divina do Filho de Deus. Este fez seus os traços de seu corpo humano a ponto de, 

pintados em uma imagem sagrada, poderem ser venerados, pois o crente que venera sua imagem "venera

nela a pessoa que está  pintada".

O CORAÇÃO DO VERBO ENCARNADO

478 Jesus conheceu-nos e amou-nos a todos durante sua Vida, sua Agonia e Paixão e entregou-se

por todos e cada um de nós: "O Filho de Deus amou-me e entregou-se por mim" (Gl 2,20). Amou-nos a todos

comum coração humano. Por esta razão, o sagrado Coração de Jesus, traspassado por nossos pecados e

para a nossa salvação, "praecipuus consideratur index et symbolus... illius amoris, quo divinus Rcdemptor

aeternum Patrem hominesque universos continenter adamat - é considerado o principal sinal e símbolo

daquele amor com o qual o divino Redentor ama ininterruptamente o Pai Eterno e todos os homens”.

(Parágrafos relacionados: 487,368,2669,766)

RESUMINDO

479  No tempo determinado por Deus, o Filho Único do Pai, a Palavra Eterna, isto é, o Verbo e a

Imagem substancial do Pai, encarnou sem perder a natureza divina, assumiu a natureza humana.

480 Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, na unidade de sua Pessoa Divina: por isso

Ele é o único mediador entre Deus e os homens.

481  Jesus Cristo possui duas naturezas, a divina e a humana, não confundidas, mas unidas na única

Pessoa do Filho de Deus.

482 Sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, Cristo tem uma inteligência e uma vontade

humanas, perfeitamente concordantes com e submetidas a sua inteligência e a sua vontade divinas que tem

em comum com o Pai e o Espírito Santo

483  A Encarnação é, portanto, o Mistério da admirável união da natureza divina e da natureza

humana na única Pessoa do Verbo.

PARÁGRAFO 2

“...CONCEBIDO PELO PODER DO ESPÍRITO SANTO,

NASCIDO DA VIRGEM MARIA"

I   CONCEBIDO PELO PODER DO ESPÍRITO SANTO.

484 A Anunciação a Maria inaugura a "plenitude dos tempos" (Gl 4,4), isto é, o cumprimento das

promessas e das preparações. Maria é convidada a conceber aquele em quem habitará “corporalmente a

plenitude da divindade"  (Cl 2,9). A resposta divina à sua pergunta "Como se fará isto, se não conheço homem algum?" (Lc 1,34) é dada pelo poder do Espírito: "O Espírito Santo virá  sobre ti" (Lc 1,35).

(Parágrafos relacionados: 461,721)

485 A missão do Espírito Santo está  sempre conjugada e ordenada à do Filho[a45] . O Espírito

Santo é enviado para santificar o seio da Virgem Maria e fecundá-la divinamente, ele que é "o Senhor que

da  a Vida", fazendo com que ela conceba o Filho Eterno do Pai em uma humanidade proveniente da sua.

(Parágrafos relacionados: 689,723)

486  Ao ser concebido como homem no seio da Virgem Maria, o Filho Único do Pai é "Cristo", isto e,

ungido pelo Espirito Santo desde o início de sua existência humana, ainda que sua manifestação só se realize

progressivamente: aos pastores, aos magos, a João Batista, aos discípulos. Toda a Vida de Jesus Cristo

manifestará, portanto, "como Deus o ungiu com o Espírito e com poder" (At 10,38). (Parágrafo relacionado: 

437)

II... NASCIDO DA VIRGEM MARIA

487 O  que a fé católica crê acerca de Maria funda-se no que ela crê acerca de Cristo, mas o que a

fé ensina sobre Maria ilumina, por sua vez, sua fé em Cristo. (Parágrafo relacionado:  963)

A PREDESTINAÇÃO DE MARIA

488  "Deus enviou Seu Filho" (Gl 4,4), mas, para "formar-lhe um corpo[a51] " quis a livre cooperação

de uma criatura. Por isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe de Seu Filho, uma filha

de Israel, uma jovem judia de Nazaré na Galiléia, "uma virgem desposada com um varão chamado José, da

casa de Davi, e o nome da virgem era Maria" (Lc 1,26-27): Quis o Pai das misericórdias que a Encarnação

fosse precedida pela aceitação daquela que era predestinada a ser Mãe de seu Filho, para que, assim

como uma mulher contribuiu para a morte, uma mulher também contribuísse para a vida.

489  Ao longo de toda a Antiga Aliança, a missão de Maria foi preparada pela missão de santas

mulheres. No princípio está Eva: a despeito de sua desobediência, ela recebe a promessa de uma

descendência que será  vitoriosa sobre o Maligno e a de ser a mãe de todos os viventes. Em virtude dessa

promessa, Sara concebe um filho, apesar de sua idade avançada. Contra toda expectativa humana, Deus

escolheu o era tido como impotente e fraco para mostrar sua fidelidade à sua promessa: Ana, a mãe de

Samuel, Débora, Rute, Judite e Ester, e muitas outras mulheres. Maria "sobressai entre (esses) humildes e

pobres do Senhor, que dele esperam e recebem com confiança a Salvação. Com ela, Filha de Sião por

excelência, depois de uma demorada espera da promessa, completam-se os tempos e se instaura a nova

economia" (Parágrafos relacionados: 722,410,145,64)

A IMACULADA CONCEIÇÃO

490  Para ser a Mãe do Salvador, Maria "'foi enriquecida por Deus com dons dignos para tamanha

função". No momento da Anunciação, o anjo Gabriel a saúda como “cheia de graça". Efetivamente, para

poder dar o assentimento livre de sua fé ao anúncio de sua vocação era preciso que ela estivesse totalmente

sob a moção da graça de Deus. (Parágrafos relacionados: 2676,2853,2001)

491 Ao longo dos séculos, a Igreja tomou consciência de que Maria, "cumulada de graça" por Deus,

foi redimida desde a concepção. E isso que confessa o dogma da Imaculada Conceição, proclamado em

1854 pelo papa Pio IX: (Parágrafo relacionado:  411)

A beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua Conceição, por singular graça e privilégio de

Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano foi preservada imune de

toda mancha do pecado original.

492 Esta "santidade resplandecente, absolutamente única" da qual Maria é "enriquecida desde o

primeiro instante de sua conceição[a63] . lhe vem inteiramente de Cristo: "Em vista dos méritos de seu Filho,

foi redimida de um modo mais sublime[a64] ". Mais do que qualquer outra pessoa criada, o Pai a "abençoou

com toda a sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo" (Ef 1,3). Ele a "escolheu nele (Cristo), desde

antes da fundação do mundo, para ser santa e imaculada em sua presença, no amor" (Ef 1,4). (Parágrafos

relacionados: 2011,1077) 493 Os Padres da tradição oriental chamam a Mãe de Deus "a toda santa" ("Pan-hagia"; pronuncie

"pan-haguía"), celebram-na como "imune de toda mancha de pecado, tendo sido plasmada pelo Espírito

Santo, e formada como uma nova criatura". Pela graça  de Deus, Maria permaneceu pura de todo pecado

pessoal ao longo de toda a sua vida.

"FAÇA-SE EM MIM SEGUNDO A TUA PALAVRA...

494  Ao anúncio de que, sem conhecer homem algum, ela conceberia o Filho do Altíssimo pela virtude

do Espírito Santo[a66] , Maria respondeu com a "obediência da fé", certa de que "nada é impossível a

Deus": "Eu sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,37-38). Assim, dando à

Palavra de Deus o seu consentimento, Maria se tomou Mãe de Jesus e, abraçando de todo  o coração, sem

que nenhum pecado a retivesse, a vontade divina de salvação, entregou-se ela mesma totalmente à pessoa

e à obra de seu Filho, para servir, na dependência dele e com Ele, pela graça de Deus, ao Mistério da

Redenção: (Parágrafos relacionados: 2617,148,968)

Como diz Santo Irineu, "obedecendo, se fez causa de salvação tanto para si como para todo o

gênero humano". Do mesmo modo, não poucos antigos Padres dizem com ele: "O nó da desobediência de

Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a  virgem Eva ligou pela incredulidade a virgem Maria

desligou pela fé”. Comparando Maria com Eva, chamam Maria de "mãe dos viventes" e com freqüência

afirmam: "Veio a morte por Eva e a vida por Maria”. (Parágrafo relacionado:  726)

A MATERNIDADE DIVINA DE MARIA

495   Denominada nos Evangelhos "a Mãe de Jesus" (João 2,1;19,25[a72] ), Maria é aclamada, sob

o impulso do Espírito, desde antes do nascimento de seu Filho, como "a Mãe de meu Senhor" (Lc 1,43). Com

efeito, Aquele que ela concebeu Espírito Santo como homem e que se tornou verdadeiramente seu Filho

segundo a carne não é outro que o Filho eterno do Pai, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja

confessa que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus (Theotókos). (Parágrafos relacionados: 466,2677)

A VIRGINDADE DE MARIA

496  Desde as primeiras formulações da fé, a Igreja confessou que Jesus foi concebido

exclusivamente pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, afirmando também o aspecto

corporal deste evento: Jesus foi concebido "do Espírito Santo, sem sêmen". Os Padres vêem na conceição

virginal o sinal de que foi verdadeiramente o Filho de Deus que veio numa humanidade como a nossa: Assim,

Santo Inácio de Antioquia (início do século II): "Estais firmemente convencidos acerca de Nosso Senhor, que é

verdadeiramente da raça de Davi segundo a carne[a76] , Filho de Deus segundo a vontade e o poder de

Deus[a77] , verdadeiramente nascido de uma virgem... ele foi verdadeiramente pregado, na sua carne, {à

cruz} por nossa salvação sob Pôncio Pilatos... ele sofreu verdadeiramente, como também ressuscitou

verdadeiramente".

497 Os relatos evangélicos entendem a conceição virginal como uma obra divina que ultrapassa

toda compreensão e toda possibilidade humanas[a80] : "O que foi gerado nela vem do Espírito Santo", diz

o anjo a José acerca de Maria, sua noiva (Mt 1,20). A Igreja vê aí o cumprimento da promessa divina dada

pelo profeta Isaias: "Eis que a virgem conceberá  e dará  à luz um filho" (Is 7,14, segundo a tradução grega

de Mt 1,23).

498 Por vezes  tem-se estranhado o silêncio do Evangelho de São Marcos e das epístolas do Novo

Testamento sobre a concepção virginal de Maria. Houve também quem se perguntasse se não se trataria

aqui de lendas ou de construções teológicas sem pretensões históricas. A isto deve-se responder: a fé na

concepção virginal de Jesus deparou com intensa oposição, zombarias ou incompreensões da parte dos nãocrentes, judeus e pagãos. Ela não era motivada pela mitologia pagã ou por alguma adaptação às idéias do

tempo. O sentido deste acontecimento só é acessível à fé, que o vê no "nexo que interliga os mistérios entre

si", no conjunto dos Mistérios de Cristo, desde a sua Encarnação até a sua Páscoa. Santo Inácio de Antioquia

já  dá  testemunho deste nexo: "O príncipe deste mundo ignorou a virgindade de Maria e o seu parto, da

mesma forma que a Morte do Senhor: três mistérios proeminentes que se realizaram no silêncio de Deus.

(Parágrafos relacionados: 90,2717) MARIA - "SEMPRE VIRGEM"

499 O aprofundamento de sua fé na maternidade virginal levou a Igreja a confessar a virgindade

real e perpétua de Maria, mesmo no parto do Filho de Deus feito homem. Com efeito, o nascimento de Cristo

"não lhe diminuiu, mas sagrou a integridade virginal" de sua mãe[a86] . A Liturgia da Igreja celebra Maria

como a "Aeiparthenos" (pronuncie " áeiparthénos"), "sempre virgem".

500 A isto objeta-se por vezes que a Escritura menciona Irmãos e irmãs de Jesus[a88] . A Igreja

sempre entendeu que essas passagens não designam outros filhos da Virgem Maria: com efeito, Tiago e

José, "irmãos de Jesus" (Mt 13,55), são os filhos de uma Maria discípula de Cristo que significativamente é

designada como "a outra Maria" (Mt 28,1). Trata-se de parentes próximos de Jesus, consoante uma

expressão conhecida do Antigo Testamento.

501  Jesus é o Filho Único de Maria. Mas a maternidade espiritual de Maria estende-se a todos os

homens que Ele veio salvar: "Ela gerou seu Filho, do qual Deus fez “o primogênito entre uma multidão de

irmãos” (Rm 8,29), isto é, entre os fiéis, em cujo nascimento e educação Ela coopera com amor materno.

(Parágrafos relacionados: 969,970)

A MATERNIDADE VIRGINAL DE MARIA NO DESÍGNIO DE DEUS

502  O olhar da fé pode descobrir, tendo em mente o conjunto da Revelação, as razões misteriosas

pelas quais Deus, em seu desígnio salvífico, quis que seu Filho nascesse de uma virgem. Essas razões tocam

tanto a pessoa e a missão redentora de Cristo quanto o acolhimento desta missão por Maria em favor de

todos os homens. (Parágrafo relacionado:  90)

503  A virgindade de Maria manifesta a iniciativa absoluta de Deus Encarnação. Jesus tem um só Pai:

Deus. "A natureza humana que ele assumiu nunca o afastou do Pai...; por natureza, Filho de seu Pai segundo

a divindade; por natureza, Filho de sua Mãe, segundo a humanidade; mas propriamente Filho de Deus em

suas duas naturezas." (Parágrafo relacionado:  422)

504 Jesus é concebido pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, pois ele é o Novo

Adão que inaugura a nova criação: “O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre; o segundo homem vem

do Céu" (1Cor 15,47). A humanidade de Cristo é, desde a sua concepção, repleta do Espírito Santo, pois

Deus "lhe dá  o Espírito sem medida" (Jo 3,34). É da "plenitude dele", cabeça da humanidade remida, que

"nós recebemos graça sobre graça" (Jo 1,16). (Parágrafo relacionado:  359)

505 Jesus, o Novo Adão, inaugura por sua concepção virginal o novo nascimento dos filhos de

adoção no Espírito Santo pela fé. "Como se fará  isto?" (Lc 1,34[a97] ). A participação na vida divina não

vem "do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus" (Jo 1,13). O

acolhimento desta vida é virginal, pois esta é totalmente dada pelo Espírito ao homem. O sentido esponsal

da vocação humana em relação a Deus é realizado perfeitamente na maternidade virginal de Maria.

(Parágrafo relacionado:  1265)

506 Maria é virgem porque sua virgindade é o sinal de sua fé, absolutamente livre de qualquer

dúvida", e de sua doação sem reservas à vontade de Deus. É sua fé que lhe concede tomar-se a Mãe do

Salvador: "Beatior est Maria percipiendo fidem Christi quam concipiendo carnem Christi - Maria é mais bemaventurada recebendo a fé de Cristo do que concebendo a carne de Cristo". (Parágrafos relacionados:

148,1814)

507 Maria é ao mesmo tempo Virgem e Mãe por ser a figura e a mais perfeita realização da Igreja

"A Igreja... torna-se também ela Mãe por meio da palavra de Deus que ela recebe na fé, pois pela

pregação e pelo Batismo ela gera para a vida nova e imortal os filhos concebidos do Espírito Santo e

nascidos de Deus. Ela é também a virgem que guarda, íntegra e puramente, a fé dada a seu Esposo.

(Parágrafos relacionados: 967,149)

RESUMINDO

508  Na descendência de Eva, Deus escolheu a Virgem Maria para ser a Mãe de seu Filho. "Cheia

de graça", ela é "o fruto mais excelente da Redenção". Desde o primeiro instante de sua concepção, foi totalmente preservada da mancha do pecado original e permaneceu pura de todo pecado pessoal ao longo

de toda a sua vida.

509  Maria é verdadeiramente "Mãe de Deus", visto ser a Mãe do Filho Eterno de Deus feito homem,

que é ele mesmo Deus.

510 Maria "permaneceu Virgem concebendo seu Filho, Virgem ao dá-lo à luz, Virgem ao carregá-lo,

Virgem ao alimentá-lo de seu seio, Virgem sempre" : com todo o seu ser Ela é "a Serva do Senhor" (Lc 1,38).

511 A Virgem Maria cooperou "para a salvação humana com livre fé e obediência"  Pronunciou seu

'fiat" (faça-se) "em representação de toda a natureza humana"  Por sua obediência, tornou-se a nova Eva,

Mãe dos viventes.