ARTIGO 5 A UNÇÃO DOS ENFERMOS
1499 “Pela sagrada Unção dos Enfermos e pela oração dos presbíteros, a Igreja toda
entrega os doentes aos cuidados do Senhor sofredor e glorificado, para que os alivie e salve.
Exorta os mesmos a que livremente se associem à paixão e à morte de Cristo e contribuam para
o bem do povo de Deus.”
I. SEUS FUNDAMENTOS NA ECONOMIA DA SALVAÇÃO
1500 A ENFERMIDADE NA VIDA HUMANA
A enfermidade e o sofrimento sempre estiveram entre problemas mais graves da vida
humana. Na doença, o homem experimenta sua impotência, seus limites e sua finitude. Toda
doença pode fazer-nos entrever a morte.
1501 A enfermidade pode levar a pessoa à angústia, a fechar-se sobre si mesma e, às
vezes, ao desespero e à revolta contra Deus. Mas também pode tomar a pessoa mais madura,
ajudá-la a discernir em sua vida o que não é essencial, para volta-se àquilo que é essencial. Não
raro, a doença provoca uma busca de Deus, um retomo a Ele.
O ENFERMO DIANTE DE DEUS
1502 O homem do Antigo Testamento vive a doença diante Deus. E diante de Deus que
ele faz sua queixa sobre a enfermidade, e é dele, o Senhor da vida e da morte, que implora a
cura [ag5] . A enfermidade se toma caminho de conversão e o perdão de Deus de início à cura.
Israel chega à conclusão de que a doença, de uma forma misteriosa, está ligada ao pecado e
ao mal e que a fidelidade a Deus, segundo sua Lei, dá a vida: “Porque eu sou Iahweh, aquele
que te restaura” (Ex 15,26). O profeta entrevê que o sofrimento também pode ter um sentido
redentor para os pecados dos outros (Cf Is 53,11). Finalmente, Isaías anuncia que Deus fará
chegar um tempo para Si o em que toda falta será perdoada e toda doença ser curada (Cf Is
33,24).
CRISTO - MÉDICO
1503 A compaixão de Cristo para com os doentes e suas numerosas curas de enfermos
de todo tipo são um sinal evidente de que “Deus visitou o seu povo e de que o Reino de Deus
está bem próximo. Jesus não só tem poder de curar, mas também de perdoar os pecados: ele
veio curar o homem inteiro, alma e corpo; é o médico de que necessitam os doentes. Sua
compaixão para com todos aqueles que sofrem é tão grande que ele se identifica com eles:
“Estive doente e me visitastes” (Mt 25,36). Seu amor de predileção pelos enfermos não cessou, ao
longo dos séculos, de despertar a atenção toda especial dos cristãos para com todos os que
sofrem no corpo e na alma. Esse amor está na origem dos incansáveis esforços para aliviá-los.
1504 Muitas vezes Jesus pede aos enfermos que creiam. Serve-se de sinais para curar:
saliva e imposição das mãos, lama e ablução. Os doentes procuram tocá-lo, “porque dele saía
uma força que a todos curava” (Lc 6,19). Também nos sacramentos Cristo continua a nos “tocar”
para nos curar.
1505 Comovido com tantos sofrimentos, Cristo não apenas se deixa tocar pelos doentes,
mas assume suas misérias: “Ele levou nossas enfermidades e carregou nossas doenças”. Não curou todos os enfermos. Suas curas eram sinais da vinda do Reino de Deus. Anunciavam uma
cura mais radical: a vitória sobre o pecado e a morte por sua Páscoa. Na cruz, Cristo tomou
sobre si todo o peso do mal e tirou o “pecado do mundo” (Jo 1,29). A enfermidade não é mais
do que uma conseqüência do pecado. Por sua paixão e morte na cruz, Cristo deu um novo
sentido ao sofrimento, que doravante pode configurar-nos com Ele e unir-nos à sua paixão
redentora.
“CURAI OS ENFERMOS...”
1506 Cristo convida seus discípulos a segui-lo, tomando cada um sua cruz. Seguindo-o,
adquirem uma nova visão da doença e dos doentes. Jesus os associa á sua vida pobre e de
servidor. Faz com que participem de seu ministério de compaixão e de cura: “Partindo, eles
pregavam que todos se arrependessem. E expulsavam muitos demônios e curavam muitos
enfermos, ungindo-os com óleo” (Mc 6,12-13).
1507 O Senhor ressuscitado renova este envio (“Em meu nome... eles imporão as mãos
sobre os enfermos e estes ficarão curados”. (Mc 16,17-18) e o confirma por meio dos sinais
realizados pela Igreja ao invocar seu nome. Esses sinais manifestam de um modo especial que
Jesus é verdadeiramente “Deus que salva”.
1508 O Espírito Santo dá a algumas pessoas um carisma especial de cura para manifestar
a força da graça do ressuscitado. Todavia, mesmo as orações mais intensas não conseguem
obter a cura de todas as doenças. Por isso, São Paulo deve aprender do Senhor que “basta-te a
minha graça, pois é na fraqueza que minha força manifesta todo o seu poder” (2Cor 12,9), e que
os sofrimentos que temos de suportar podem ter como sentido “completar na minha carne o que
falta às tribulações de Cristo por seu corpo, que é a Igreja” (Cl 1,24).
1509 “Curai os enfermos!” (Mt 10,8). A Igreja recebeu esta missão do Senhor e esforça-se
por cumpri-la tanto pelos cuidados aos doentes como pela oração de intercessão com que os
acompanha. Ela crê na presença vivificante de Cristo, médico da alma e do corpo. Esta
presença age particularmente por intermédio dos sacramentos e, de modo especial, pela
Eucaristia, pão que dá vida eterna a cujo liame com a saúde corporal São Paulo alude.
1510 Entretanto, a Igreja apostólica conhece um rito próprio em favor dos doentes,
atestado por São Tiago: “Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da
Igreja, para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé
salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, estes lhe serão perdoados”
(Tg 5,14-l5). A Tradição reconheceu neste rito um dos sete sacramentos da Igreja.
UM SACRAMENTO DOS ENFERMOS
1511 A Igreja crê e confessa que existe, entre os sete sacramentos, um sacramento
especialmente destinado a reconfortar aqueles que provados pela enfermidade: a Unção dos
Enfermos.
Esta unção sagrada dos enfermos foi instituída por Cristo nosso Senhor como um
sacramento do Novo Testamento, verdadeira e propriamente dito, insinuado por Marcos, mas
recomendado aos fiéis e promulgado por Tiago, Apóstolo e irmão do Senhor.
1512 Na tradição litúrgica, tanto no Oriente como no Ocidente, constam desde a
Antigüidade testemunhos de unções de enfermos praticadas com óleo bento. No curso dos
séculos, a Unção dos Enfermos foi cada vez mais conferida exclusivamente aos agonizantes. Por
causa disso, recebeu o nome de “Extrema-Unção”. Apesar desta evolução, a liturgia jamais
deixou de orar ao Senhor para que o enfermo recobre a saúde, se tal convier à sua salvação.
1513 A constituição apostólica Sacram unctionem infirmorum, de 30 de novembro de
1972, seguindo o Concílio Vaticano II, estabeleceu que doravante, no rito romano, se observe o
seguinte:O sacramento da Unção dos Enfermos é conferido às pessoas acometidas de doenças
perigosas, ungindo-as na fronte e nas mãos com óleo devidamente consagrado - óleo de oliveira
ou outro óleo extraído de plantas -, dizendo uma só vez: “Por esta santa unção e por sua
puríssima misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo, para que,
liberto de teus pecados, Ele te salve e, em sua bondade, alivie teus sofrimentos”.
II. QUEM RECEBE E QUEM ADMINISTRA ESTE SACRAMENTO?
EM CASO DE DOENÇA GRAVE...
1514 A Unção dos Enfermos “não é um sacramento só daqueles que se encontram às
portas da morte. Portanto, tempo oportuno para receber a Unção dos Enfermos é certamente o
momento em que o fiel começa a correr perigo de morte por motivo de doença, debilitação
física ou velhice”.
1515 Se um enfermo que recebeu a Unção dos Enfermos recobrar a saúde, pode, em
caso de recair em doença grave, receber de novo este sacramento. No decorrer da mesma
enfermidade, este sacramento pode ser reiterado se a doença se agravar. Permite-se receber a
Unção dos Enfermos antes de uma cirurgia de alto risco. O mesmo vale também para as pessoas
de idade avançada, cuja fragilidade se acentua.
.... .QUE CHAME OS PRESBÍTEROS DA IGREJA”
1516 Só os sacerdotes (bispos e presbíteros) são ministros da Unção dos Enfermos. E dever
dos pastores instruir os fiéis sobre os benefícios deste sacramento. Que os fiéis incentivem os
doentes a chamar o sacerdote, para receber este sacramento. Que os doentes se preparem
para recebê4o com boas disposições, com a ajuda de seu pastor e de toda a comunidade
eclesial, que é convidada a cercar de modo especial os doentes com suas orações e atenções
fraternas.
III. COMO É CELEBRADO ESTE SACRAMENTO?
1517 Como todos os sacramentos, a Unção dos Enfermos é uma celebração litúrgica e
comunitária, quer tenha lugar na família, no hospital ou na Igreja, para um só enfermo ou para
todo um grupo de enfermos. E de todo conveniente que ela se celebre dentro da Eucaristia,
memorial da Páscoa do Senhor. Se as circunstâncias o permitirem, a celebração do sacramento
pode ser precedida pelo sacramento da Penitência e seguida pelo sacramento da Eucaristia.
Como sacramento da Páscoa de Cristo, a Eucaristia deveria sempre ser o último sacramento da
peregrinação terrestre, o “viático” para a “passagem” à vida eterna.
1518 Palavra e sacramento formam um todo inseparável. A Liturgia da Palavra, precedida
de um ato penitencial, abrirá a celebração. As palavras de Cristo, o testemunho dos apóstolos
despertam a fé do enfermo e da comunidade para pedir ao Senhor a força de seu Espírito.
1519 A celebração do sacramento compreende principalmente os elementos seguintes:
“os presbíteros da Igreja (Cf Tg 5,14) impõem – em silêncio - as mãos aos doentes; oram sobre eles
na fé da Igreja. É a epiclese própria deste sacramento. Realizam então a unção com óleo
consagrado, que, se possível, deve ser feita pelo Bispo. Essas ações litúrgicas indicam a graça
que esse sacramento confere aos enfermos.
IV. OS EFEITOS DA CELEBRAÇÃO DESTE SACRAMENTO
1520 Um dom particular do Espírito Santo O principal dom deste sacramento é uma graça
de reconforto, de paz e de coragem para vencer as dificuldades próprias do estado de
enfermidade grave ou da fragilidade da velhice. Esta graça é um dom do Espírito Santo que
renova a confiança e a fé em Deus e fortalece contra as tentações do maligno, tentação de desânimo e de angustia diante da morte. Esta assistência do Senhor pela força de seu Espírito
quer levar o enfermo à cura da alma, mas também à do corpo, se for esta a vontade de Deus.
Além disso, “se ele cometeu pecados, eles lhe serão perdoados” (Tg 5,15).
1521 A união com a paixão de Cristo. Pela graça deste sacramento o enfermo recebe a
força e o dom de unir-se mais intimamente à paixão de Cristo: de certa forma ele é consagrado
para produzir fruto pela configuração à paixão redentora do Salvador. O sofrimento, seqüela do
pecado original, recebe um sentido novo: torna-se participação na obra salvífica de Jesus.
1522 Uma graça eclesial. Os enfermos que recebem este sacramento, “associando-se
livremente à paixão e à morte de Cristo”, “contribuem para o bem do povo de Deus”. Ao
celebrar este sacramento, a Igreja, na comunhão dos santos, intercede pelo bem do enfermo. E
o enfermo, por sua vez, pela graça deste sacramento, contribui para a santificação da Igreja e
para o bem de todos os homens pelos quais a Igreja sofre e se oferece, por Cristo, a Deus Pai.
1523 Uma preparação para a última passagem. Se o sacramento da Unção dos Enfermos
é concedido a todos os que sofrem de doenças e enfermidades graves, com mais razão ainda
cabe aos que estão às portas da morte (“in exitu vitae constituti”). Por isso, também foi chamado
“sacramentum exeuntium”. A Unção dos Enfermos completa nossa conformação com a Morte e
Ressurreição de Cristo, como o Batismo começou a fazê-lo. E o termo das sagradas unções que
acompanham toda a vida cristã: a do Batismo, que selou em nós a nova vida; a da
confirmação, que nos fortificou para o combate desta vida. Esta derradeira unção fortalece o
fim de nossa vida terrestre como que de um sólido baluarte para enfrentar as últimas lutas antes
da entrada na casa do Pai.
V. O VIÁTICO, ÚLTIMO SACRAMENTO DO CRISTÃO
1524 Aos que estão para deixar esta vida, a Igreja oferece, além da Unção dos Enfermos,
a Eucaristia como viático. Recebida neste momento de passagem para o Pai, a comunhão do
Corpo e Sangue de Cristo tem significado e importância particulares. E semente de vida eterna e
poder de ressurreição, segundo as palavras do Senhor: “Quem come a minha carne e bebe o
meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,54). Sacramento de Cristo
morto e ressuscitado, a Eucaristia é aqui sacramento da passagem da morte para a vida, deste
mundo para o Pai..
1525 Assim como os sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia constituem
uma unidade chamada “os sacramentos da iniciação cristã”, pode-se dizer que a Penitência, a
Sagrada Unção e a Eucaristia como viático constituem, quando a vida cristã chega a seu
término, “os sacramentos que preparam para a Pátria” ou os sacramentos que consumam a
peregrinação.
RESUMINDO
1526 “Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja para que
orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o
Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, estes lhe serão perdoados” (Tg 5,14-15).
1527 O sacramento da Unção dos Enfermos tem por finalidade conferir uma graça
especial ao cristão que está passando pelas dificuldades inerentes ao estado de enfermidade
grave ou de velhice.
1528 O tempo oportuno para receber a sagrada unção é certamente aquele em que o
fiel começa a encontrar-se em perigo de morte devido à doença ou à velhice.
1529 Cada vez que um cristão cair gravemente enfermo, pode receber a sagrada unção.
Da mesma forma, pode recebê-la novamente se a doença se agravar.1530 Só os sacerdotes (Bispos e presbíteros) podem administrar o sacramento da Unção
dos Enfermos; para conferi-lo, empregam óleo consagrado pelo Bispo ou, em caso de
necessidade, pelo próprio presbítero celebrante.
1531 O essencial da celebração deste sacramento consiste na unção da fronte e das
mãos do doente (no rito romano) ou de outras partes do corpo (no Oriente), unção
acompanhada da oração litúrgica do presbítero celebrante, que pede a graça especial deste
sacramento.
1532 A graça especial do sacramento da Unção dos Enfermos tem como efeitos:
ü a união do doente com a paixão de Cristo, para seu bem e o bem de toda a Igreja;
ü reconforto, a paz e a coragem para suportar cristãmente os sofrimentos da doença ou
da velhice;
ü perdão dos pecados, se o doente não pode obtê-lo pelo sacramento da Penitência;
ü restabelecimento da saúde, se isso convier à salvação espiritual;
ü a preparação para a passagem à vida eterna.
CAPÍTULO III.
OS SACRAMENTOS DO SERVIÇO DA COMUNHÃO
1533 O Batismo, a Confirmação e a Eucaristia são os sacramentos da iniciação cristã.
São a base da vocação comum de todos os discípulos de Cristo, vocação à santidade e à
missão de evangelizar o mundo. Conferem as graças necessárias à vida segundo Espírito nesta
vida de peregrinos a caminho da Pátria.
1534 Dois outros sacramentos, a ordem e o matrimônio, estão ordenados à salvação de
outrem. Se contribuem também para a salvação pessoal, isso acontece por meio do serviço aos
outros. Conferem uma missão particular na Igreja e servem para a edificação do Povo de Deus.
1535 Nesses sacramentos, os que já foram consagrados pelo Batismo e pela Confirmação
para o sacerdócio comum de todos os fiéis podem receber consagrações específicas. Os que
recebem o sacramento da Ordem são consagrados para ser, em nome de Cristo, “pela palavra
e pela graça de Deus, os pastores da Igreja”. Por sua vez, “os esposos cristãos, para cumprir
dignamente os deveres de seu estado, são fortalecidos e como que consagrados por um
sacramento especial”.
ARTIGO 6
O SACRAMENTO DA ORDEM
1536 A Ordem é o sacramento graças ao qual a missão confiada por Cristo a seus
Apóstolos continua sendo exercida na Igreja até o fim dos tempos; é, portanto, o sacramento do
ministério apostólico. Comporta três graus: o episcopado, o presbiterado e o diaconato.
(Sobre a instituição e a missão do ministério apostólico por Cristo, veja-se acima. Aqui, só
se trata da via sacramental pela qual se transmite este ministério.)
I. POR QUE O NOME SACRAMENTO DA ORDEM?1537 A palavra ordem, na Antigüidade romana, designava corpos constituídos no sentido
civil, sobretudo o corpo dos que governavam. “Ordinatio” (ordenação) designa a integração
num “ordo” (ordem). Na Igreja, há corpos constituídos que a Tradição, não sem fundamento na
Sagrada Escritura[ag7] , chama, desde os tempos primitivos, de “taxeis” (em grego; pronuncie
“tacseis”), de “ordines” (em latim). Por exemplo, a liturgia fala do “ordo episcoporum” (ordem
dos bispos), do “ordo presbyterorum” ordem dos presbíteros), do “ordo diaconorum” (ordem dos
diáconos). Outros grupos recebem também este nome de “ordo”: os catecúmenos, as virgens, os
esposos, as viúvas etc[§8] .
1538 A integração em um desses corpos da Igreja era feita por um rito chamado
ordinatio, ato religioso e litúrgico que consistia numa consagração, numa bênção ou num
sacramento. Hoje a palavra “ordinatio” é reservada ao ato sacramental que integra na ordem
dos bispos, presbíteros e diáconos e que transcende uma simples eleição, designação,
delegação ou instituição pela comunidade, pois confere um dom do Espírito Santo que permite
exercer um “poder sagrado” (“sacra potestas”) que só pode vir do próprio Cristo, por meio de
sua Igreja. A ordenação também é chamada “consecratio” por ser um pôr à parte, uma
investidura, pelo próprio Cristo, para sua Igreja. A imposição das mãos do bispo, com a oração
consecratória, constitui o sinal visível desta consagração.
II. O SACRAMENTO DA ORDEM NA ECONOMIA DA SALVAÇÃO
O SACERDÓCIO NA ANTIGA ALIANÇA
1539 O povo eleito foi constituído por Deus como “um remo de sacerdotes e uma nação
santa” (Ex 19.6). Mas, dentro do povo de Israel, Deus escolheu uma das doze tribos, a de Levi,
reservando-a para o serviço litúrgico; Deus mesmo é sua herança. Um rito próprio consagrou as
origens do sacerdócio da antiga aliança. Os sacerdotes são ai “constituídos para intervir em
favor dos homens em suas relações com Deus, a fim de oferecer dons e sacrifícios pelos
pecados”.
1540 Instituído para anunciar a palavra de Deus e para restabelecer a comunhão com
Deus pelos sacrifícios e pela oração, esse sacerdócio continua, não obstante, impotente para
operar; a salvação. Precisa, por isso, repetir sem cessar os sacrifícios, e não é capaz de levar à
santificação definitiva, que só o sacrifício de Cristo deveria operar.
1541 Entretanto, a liturgia da Igreja vê no sacerdócio de Aarão, no serviço dos levitas e na
instituição dos setenta “anciãos” prefigurações do ministério ordenado da nova aliança Assim,
no rito latino, a Igreja reza no prefácio consecratório da ordenação dos bispos: Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo... por vossa palavra estabelecestes leis na Igreja; e escolhestes desde o
princípio um povo santo, descendente de Abraão, dando-lhe chefes e sacerdotes, e jamais
deixastes sem ministros o vosso santuário...
1542 NA ORDENAÇÃO DOS PRESBÍTEROS, A IGREJA REZA:
Assisti-nos, Senhor, Pai Santo ..... Já no Antigo Testamento, em sinais prefigurativos, surgiram
vários ofícios por vós instituídos, de modo que, tendo à frente Aarão para guiar e santificar o
vosso povo, lhes destes colaboradores de menor ordem e dignidade. Assim, no deserto,
comunicastes a setenta homens prudentes o espírito dado a Moisés que, como auxílio deles,
pode mais facilmente governar o vosso povo.
Do mesmo modo, derramastes copiosamente sobre os filhos de Aarão a plenitude
concedida a seu pai, para que o serviço dos sacerdotes segundo a lei fosse suficiente para os
sacrifícios do tabernáculo.
1543 E, na oração consecratória para a ordenação dos diáconos, a Igreja professa:Ó Deus Todo-Poderoso... fazeis crescer... a vossa Igreja. Para a edificação do novo templo,
constituístes três ordens de ministros para servirem ao vosso nome, como outrora escolhestes os
filhos de Levi para o serviço do antigo santuário.
O ÚNICO SACERDÓCIO DE CRISTO
1544 Todas as prefigurações do sacerdócio da antiga aliança encontram seu
cumprimento em Cristo Jesus, “único mediador entre Deus e os homens” (l Tm 2,5). Melquisedec,
“sacerdote do Deus Altíssimo” (Gn 14,18), é considerado pela Tradição cristã como uma
prefiguração do sacerdócio de Cristo, único “sumo sacerdote segundo a ordem de
Melquisedec” (Hb 5,10; 6,20), “santo, inocente, imaculado” (Hb 7,16), que “com uma única
oferenda levou à perfeição, e para sempre, os que ele santifica” (Hb 10,14), isto é, pelo único
sacrifício de sua Cruz.
1545 O sacrifício redentor de Cristo é único, realizado uma vez por todas. Não obstante,
toma-se presente no sacrifício eucarístico da Igreja. O mesmo acontece com o único sacerdócio
de Cristo: torna-se presente pelo sacerdócio ministerial, sem diminuir em nada a unicidade do
sacerdócio de Cristo. “Por isso, somente Cristo é o verdadeiro sacerdote; Os outros são seus
ministros.”
DUAS PARTICIPAÇÕES NO SACERDÓCIO ÚNICO DE CRISTO
1546 Cristo, sumo sacerdote e único mediador, fez da Igreja “um Reino de sacerdotes
para Deus, seu Pai” (Cf Ap 1,6; 5,9-10; 1 Pd 2,5.9). Toda comunidade dos fiéis é, como tal,
sacerdotal. Os fiéis exercem seu sacerdócio batismal por meio de sua participação, cada qual
segundo sua própria vocação, na missão de Cristo, Sacerdote, Profeta e Rei. E pelos sacramentos
do Batismo e da Confirmação que os fiéis são “consagrados para ser... um sacerdócio santo”.
1547 O sacerdócio ministerial ou hierárquico dos bispos e dos presbíteros e o sacerdócio
comum de todos os fiéis, embora “ambos participem, cada qual a seu modo, do único
sacerdócio de Cristo”, diferem, entretanto, essencialmente, mesmo sendo “ordenados um ao
outro”. Em que sentido? Enquanto o sacerdócio comum dos fiéis se realiza no desenvolvimento
da graça batismal, vida de fé, de esperança e de caridade, vida segundo o Espírito o
sacerdócio ministerial está a serviço do sacerdócio comum, refere-se ao desenvolvimento da
graça batismal de todos os cristãos. É um dos meios pelos quais Cristo não cessa de construir e de
conduzir sua Igreja. Por isso, é transmitido por um sacramento próprio, o sacramento da Ordem.
“IN PERSONA CHRISTI CAPITIS” (NA PESSOA DE CRISTO CABEÇA...)
1548 No serviço eclesial do ministro ordenado, é o próprio Cristo que está presente á sua
Igreja enquanto Cabeça de seu Corpo, Pastor de seu rebanho, Sumo Sacerdote do sacrifício
redentor Mestre da Verdade. A Igreja o expressa dizendo que o sacerdote, em virtude do
sacramento da Ordem, age “in persona Christi Capitis” (na pessoa de Cristo Cabeça):
Na verdade, o ministro faz as vezes do próprio Sacerdote, Cristo Jesus. Se, na verdade, o
ministro é assimilado ao Sumo Sacerdote por causa da consagração sacerdotal que recebeu,
goza do poder de agir pela força do próprio Cristo que representa (“virtute ac persona ipsius
Christi”).
“Cristo é a origem de todo sacerdócio: pois o sacerdote da [Antiga Lei era figura dele, ao
passo que o sacerdote da nova lei age em sua pessoa.”
1549 Pelo ministério ordenado, especialmente dos bispos e dos presbíteros, a presença de
Cristo como chefe da Igreja se torna visível no meio da comunidade dos fiéis[ag36] . Segundo a
bela expressão de Santo Inácio de Antioquia, o Bispo é “typos tou Patros” (pronuncie: typos tu
patrós), como a imagem viva de Deus Pai.1550 Esta presença de Cristo no ministro não deve ser compreendida como se este
estivesse imune a todas as fraquezas humanas, ao espírito de dominação, aos erros e até aos
pecados. A força do Espírito Santo não garante do mesmo modo todos os atos dos ministros.
Enquanto nos sacramentos esta garantia é assegurada, de tal forma que mesmo o pecado do
ministro não possa impedir o fruto da graça, há muitos outros atos em que a conduta humana do
ministro deixa traços que nem sempre são sinal de fidelidade ao Evangelho e que podem, por
conseguinte, prejudicar a fecundidade apostólica da Igreja.
1551 Esse sacerdócio é ministerial. “Esta missão que o Senhor confiou aos pastores de seu
povo é um verdadeiro serviço.” Refere-se inteiramente a Cristo e aos homens. Depende
inteiramente de Cristo e de seu sacerdócio único, e foi instituído em favor dos homens e da
comunidade da Igreja. O sacramento da ordem comunica “um poder sagrado” que é o próprio
poder de Cristo. O exercício desta autoridade deve, pois, ser medido pelo modelo de Cristo que,
por amor, se fez o último e servo de todos. “O Senhor disse claramente que cuidar de seu
rebanho é uma prova de amor para com Ele.”
“EM NOME DE TODA A IGREJA”
1552 A tarefa do sacerdócio ministerial não é apenas representar Cristo-Cabeça da Igreja
- diante da assembléia dos fiéis; ele age também em nome de toda a Igreja quando apresenta
a Deus a oração da Igreja e sobretudo quando oferece o sacrifício eucarístico.
1553 “Em nome de toda a Igreja” não quer dizer que os sacerdotes sejam os delegados
da comunidade. A oração e a oferenda da Igreja são inseparáveis da oração e da oferenda de
Cristo, sua Cabeça. Trata-se sempre do culto de Cristo na e por sua Igreja. É toda a Igreja, corpo
de Cristo, que ora e se oferece, “per ipsum et cum ipso et in ipso” (por Ele, com Ele e nEle), na
unidade do Espírito Santo, a Deus Pai. Todo o corpo, “caput et membra” (cabeça e membros),
ora e se oferece, e é por isso que aqueles que são especialmente os ministros no corpo são
chamados ministros não somente de Cristo, mas também da Igreja. É por representar Cristo que o
sacerdócio ministerial pode representar a Igreja.
III. OS TRÊS GRAUS DO SACRAMENTO DA ORDEM
1554 “O ministério eclesiástico, divinamente instituído, é exercido em diversas ordens pelos
que desde a antigüidade são chamados bispos, presbíteros e diáconos.” A doutrina católica,
expressa na liturgia, no magistério e na prática constante da Igreja, reconhece que existem dois
graus de participação ministerial no sacerdócio de Cristo: o episcopado e o presbiterado. O
diaconado se destina a ajudá-los e a servi-los. Por isso, o termo “sacerdos' designa, na prática
atual, os bispos e os sacerdotes, mas não os diáconos. Não obstante, ensina a doutrina católica
que os graus de participação sacerdotal (episcopado e presbiterado) e o de serviço
(diaconado) são conferidos por um ato sacramental chamado “ordenação”, isto e, pelo
sacramento da Ordem.
Que todos reverenciem os diáconos como Jesus Cristo, como também o Bispo, que é
imagem do Pai, e os presbíteros como senado de Deus e como a assembléia dos apóstolos: sem
eles não se pode falar de Igreja.
A ORDENAÇÃO EPISCOPAL - PLENITUDE DO SACRAMENTO DA ORDEM
1555 “Entre aqueles vários ministérios, que desde os primeiros tempos são exercidos na
Igreja, conforme atesta a Tradição, o lugar principal é ocupado pelo múnus daqueles que,
constituídos no episcopado, conservam a semente apostólica por uma sucessão que vem
ininterrupta desde o começo.
1556 Para desempenhar sua missão, “os Apóstolos foram enriquecidos por Cristo com
especial efusão do Espírito Santo, que desceu sobre eles. E eles mesmos transmitiram a seuscolaboradores, mediante a imposição das mãos, este dom espiritual que chegou até nós pela
sagração episcopal”
1557 O Concílio Vaticano II “ensina, pois, que pela sagração episcopal se confere a
plenitude do sacramento da Ordem, que, tanto pelo costume litúrgico da Igreja como pela voz
dos Santos Padres, é chamada o sumo sacerdócio, a realidade total ('summa') do ministério
sagrado”.
1558 “A sagração episcopal, juntamente com o múnus de santificar, confere também os
de ensinar e de reger... De fato, mediante a imposição das mãos e as palavras da sagração, é
concedida a graça do Espírito Santo e impresso o caráter sagrado, de tal modo que os Bispos,
de maneira eminente e visível, fazem as vezes do próprio Cristo, Mestre, Pastor e Pontífice, e
agem em seu nome ('in eius persona agant').” “Os Bispos, portanto, pelo Espírito Santo que lhes foi
dado, foram constituídos como verdadeiros e autênticos mestres da fé, pontífices e pastores.”
1559 “Alguém é constituído membro do corpo episcopal pela sagração sacramental e
pela hierárquica comunhão com o chefe e os membros do Colégio.” O caráter e a natureza
colegial da ordem episcopal se manifestam, entre outras, na antiga prática da Igreja, que requer
para a consagração de um novo Bispo a participação de vários Bispos. Para a legítima
ordenação de um Bispo, é hoje exigida uma especial intervenção do Bispo de Roma, em razão
de sua qualidade de vínculo visível supremo da comunhão das Igrejas particulares na única
Igreja e garantia de sua liberdade.
1560 Cada Bispo, como vigário de Cristo, tem o encargo pastoral da Igreja particular que
lhe foi confiada, mas ao mesmo tempo ele, colegialmente, com todos os seus irmãos no
episcopado, deve ter solicitude por todas as Igrejas: “Se cada Bispo só é pastor propriamente
dito da porção do rebanho que lhe foi confiada, sua qualidade de legítimo sucessor dos
apóstolos por instituição divina o toma solidariamente responsável pela missão apostólica da
Igreja”.
1561 Tudo o que acabamos de dizer explica por que a Eucaristia celebrada pelo Bispo
tem um significado todo especial como expressão da Igreja reunida em tomo do altar sob a
presidência daquele que representa visivelmente Cristo, Bom Pastor e Cabeça de sua Igreja.
A ORDENAÇÃO DOS PRESBÍTEROS COOPERADORES DOS BISPOS
1562 “Cristo, a quem o Pai santificou e enviou ao mundo (Jo 10,36), fez os Bispos
participantes de sua consagração e missão, por meio dos apóstolos, de quem são sucessores. Os
Bispos transmitiram legitimamente o múnus de seu ministério em grau diverso a pessoas diversas
na Igreja.” “O múnus de seu ministério foi por sua vez confiado em grau subordinado aos
presbíteros, para que constituídos na ordem do presbiterado com o fito de cumprir a missão
apostólica transmitida por Cristo - fossem os colaboradores da ordem episcopal.”
1563 “O oficio dos presbíteros, por estar ligado à ordem episcopal, participa da
autoridade com que o próprio Cristo constrói, santifica e rege seu corpo. Por isso, o sacerdócio
dos presbíteros, supondo os sacramentos da iniciação cristã, é conferido por meio daquele
sacramento peculiar mediante o qual os presbíteros, pela unção do Espírito Santo, são
assinalados com um caráter especial e assim configurados com Cristo sacerdote, de forma a
poderem agir em nome de Cristo Cabeça em pessoa.”
1564 “Embora os presbíteros não possuam o ápice do pontificado e no exercício de seu
poder dependam dos Bispos, estão contudo com eles unidos na dignidade sacerdotal. Em
virtude do sacramento da Ordem, segundo a imagem de Cristo, sumo e eterno sacerdote, eles
são consagrados para pregar o Evangelho, apascentar os fiéis e celebrar o culto divino, como
verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento.”
1565 Em virtude do sacramento da Ordem, os presbíteros participam das dimensões
universais da missão confiada por Cristo aos Apóstolos. O dom espiritual que receberam na
ordenação prepara-os não para uma missão limitada e restrita, “mas para a missão amplíssima e universal da salvação até os confins da terra, “com o espírito pronto para pregar o Evangelho
por toda parte”.
1566 “Eles exercem seu sagrado múnus principalmente no culto eucarístico ou sinaxe, na
qual, agindo na pessoa de Cristo e proclamando seu mistério, unem os pedidos dos fiéis ao
sacrifício de sua Cabeça e, até a volta do Senhor, tomam presente e aplicam no sacrifício da
missa o único sacrifício do Novo Testamento, isto é, o sacrifício de Cristo que, como hóstia
imaculada, uma vez por todas se ofereceu ao Pai. É desse sacrifício único que retiram a força de
todo o seu ministério sacerdotal.
1567 “Solícitos cooperadores da ordem episcopal, seu auxílio e instrumento, chamados
para servir ao povo de Deus, os sacerdotes formam com seu Bispo um único presbitério,
empenhados, porém, em diversos ofícios. Em cada comunidade local de fiéis, tomam presente
de certo modo o Bispo, ao qual se associam com coração confiante e generoso. Assumem,
como próprias, as funções e as solicitudes do Bispo e as exercem em seu empenho cotidiano
pelos fiéis. Os presbíteros só podem exercer seu ministério na dependência do Bispo e em
comunhão com ele. A promessa de obediência que fazem ao Bispo no momento da ordenação
e o ósculo da paz do Bispo no fim da liturgia da ordenação significam que o bispo os considera
como seus colaboradores, filhos, irmãos e amigos, e em troca eles lhe devem amor e obediência.
1568 “Estabelecidos na ordem do presbiterado por meio da ordenação, os presbíteros
estão ligados entre si por uma íntima fraternidade sacramental; de modo especial, porém,
formam um só presbitério na diocese para cujo serviço estão escalados sob a direção do próprio
Bispo.” A unidade do presbitério encontra uma expressão litúrgica na prática que recomenda
que os presbíteros, por sua vez, imponham as mãos, depois do Bispo, durante o rito da
ordenação.
A ORDENAÇÃO DOS DIÁCONOS - “PARA O SERVIÇO”
1569 No grau inferior da hierarquia encontram-se os diáconos. São-lhes impostas as mãos
“não para o sacerdócio, mas para o serviço”. Para a ordenação ao diaconado, só o Bispo
impõe as mãos, significando assim que O diácono está especialmente ligado ao Bispo nas
tarefas de sua “diaconia”.
1570 Os diáconos participam de modo especial na missão e graça de Cristo. São
marcados pelo sacramento da Ordem com um sinal (“caráter”) que ninguém poder apagar e
que os configura a Cristo, que se fez “diácono”, isto é, servidor de todos. Cabe aos diáconos,
entre outros serviços, assistir o Bispo e os padres na celebração dos divinos mistérios, sobre tudo a
Eucaristia, distribuir a Comunhão, assistir ao Matrimônio e abençoá-lo, proclamar o Evangelho e
pregar, presidir o funerais e consagrar-se aos diversos serviços da caridade.
1571 Desde o Concílio Vaticano II, a Igreja latina restabeleceu o diaconato “como grau
próprio e permanente da hierarquia”, a passo que as Igrejas do Oriente sempre o mantiveram.
Esse diaconato permanente, que pode ser conferido a homens casados, constitui um importante
enriquecimento para a missão da Igreja. De fato, ser útil e apropriado que aqueles que cumprem
na Igreja um ministério verdadeiramente diaconal, quer na vida litúrgica e pastoral, quer nas
obras sociais e caritativas, “sejam corroborados e mais intimamente ligados ao altar pela
imposição das mãos, tradição que nos vem desde os apóstolos. Destarte desempenharão mais
eficazmente o seu ministério mediante a graça sacramental do diaconato”.
IV. A CELEBRAÇÃO DESTE SACRAMENTO
1572 A celebração da ordenação de um Bispo, de presbíteros ou de diáconos, devido à
sua importância para a vida da Igreja particular, exige o concurso do maior número possível de
fiéis. Deverá realizar-se de preferência num domingo e na catedral, com uma solenidade
adaptada à circunstância. As três ordenações – do Bispo, do padre e do diácono - seguem o
mesmo movimento. Seu lugar é no seio da Liturgia Eucarística.1573 O rito essencial do sacramento da Ordem consta, para os três graus, da imposição
das mãos pelo Bispo sobre a cabeça do ordenando e da oração consagratória específica, que
pede a Deus a efusão do Espírito Santo e de seus dons apropriados ao ministério para o qual o
candidato é ordenado.
1574 Como todos os sacramentos, ritos anexos cercam a celebração. Variando
consideravelmente nas diferentes tradições litúrgicas, o que têm em comum é exprimir os
múltiplos aspectos da graça sacramental. Assim, os ritos iniciais no rito latino - a apresentação e a
eleição do ordinando, a alocução do Bispo, o interrogatório do ordinando, a ladainha de todos
os santos - atestam que a escolha do candidato foi feita de conformidade com a prática da
Igreja e preparam o ato solene da consagração, depois da qual diversos ritos vêm exprimir e
concluir, de maneira simbólica, o mistério que acaba de consumar-se: para o Bispo e para o
presbítero, a unção do santo crisma, sinal da unção especial do Espírito Santo que torna fecundo
seu ministério; entrega do livro dos Evangelhos, do anel, da mitra e do báculo ao bispo, em sinal
de sua missão apostólica de anúncio da Palavra de Deus, de sua fidelidade à Igreja, esposa de
Cristo, de seu cargo de pastor do rebanho do Senhor; entrega da patena e do cálice ao
presbítero, “a oferenda do povo santo” que ele deve apresentar a Deus; entrega do livro dos
Evangelhos ao diácono, que acaba de receber a missão de anunciar o Evangelho de Cristo.
V. QUEM PODE CONFERIR ESTE SACRAMENTO?
1575 Foi Cristo quem escolheu os apóstolos, fazendo-os participar de sua missão e
autoridade. Elevado à direita do Pai, Ele não abandonou seu rebanho, mas guarda-o por meio
dos Apóstolos, sob sua constante proteção, e o dirige ainda pelos mesmos pastores que
continuam até hoje sua obra. Portanto, é Cristo “que concede” a uns serem apóstolos, a outros
pastores. Ele continua agindo por intermédio dos Bispos.
1576 Como o sacramento da Ordem é o sacramento do ministério apostólico, cabe aos
Bispos, como sucessores dos apóstolos, transmitir “o dom espiritual”, “a semente apostólica”. Os
Bispos validamente ordenados, isto é, que estão na linha da sucessão apostólica, conferem
validamente os três graus do sacramento da ordem.
VI. QUEM PODE RECEBER ESTE SACRAMENTO?
1577 “Só um varão ('vir') batizado pode receber validamente a ordenação sagrada.” O
Senhor Jesus escolheu homens (“viri”) para formar o colégio dos doze Apóstolos e os apóstolos
fizeram o mesmo quando escolheram os colaboradores que seriam seus sucessores na missão. O
colégio dos Bispos, ao qual os presbíteros estão unidos no sacerdócio, torna presente e atualiza,
até o retomo de Cristo, o colégio dos doze. A Igreja se reconhece vinculada por essa escolha do
próprio Senhor. Por isso, a ordenação de mulheres não é possível.
1578 Ninguém tem o direito de receber o sacramento da ordem. De fato, ninguém pode
arrogar-se a si mesmo este cargo. A pessoa é chamada por Deus para esta honra. Aquele que
crê verificar em si os sinais do chamado divino ao ministério ordenado deve submeter
humildemente seu desejo à autoridade da Igreja, à qual cabe a responsabilidade e o direito
convocar alguém para receber as ordens. Como toda graça, esse sacramento não pode ser
recebido a não ser como um dom imerecido.
1579 Todos os ministros ordenados da Igreja latina, com exceção dos diáconos
permanentes, normalmente são escolhidos entre os homens fiéis que vivem como celibatários e
querem guardar o celibato “por causa do Reino dos Céus” (Mt 19,12). Chamados a consagrar-se
com indiviso coração ao Senhor e a “cuidar das coisas do Senhor”, entregam-se inteiramente a
Deus e aos homens. O celibato é um sinal desta nova vida a serviço da qual o ministro da Igreja é
consagrado; aceito com coração alegre, ele anuncia de modo radiante o Reino de Deus.
1580 Nas Igrejas orientais, está em vigor, há séculos, uma disciplina diferente: enquanto
os Bispos só são escolhidos entre os celibatários, homens casados podem ser ordenados diáconos e padres. Esta praxe é considerada legítima há muito tempo; esses padres exercem um ministério
muito útil no seio de suas comunidades. O celibato dos presbíteros, por outro lado, é muito
honrado nas Igrejas orientais, e são numerosos os que o escolhem livremente, por causa do Reino
de Deus. No Oriente como no Ocidente, aquele que recebeu o sacramento da Ordem não
pode mais casar-se.
VII. OS EFEITOS DO SACRAMENTO DA ORDEM
O CARÁTER INDELÉVEL
1581 Este sacramento toma a pessoa semelhante a Cristo por meio de uma graça
especial do Espírito Santo, para servir de instrumento de Cristo em favor de sua Igreja. Pela
ordenação, a pessoa se habilita a agir como representante de Cristo, Cabeça da Igreja, em sua
tríplice função de sacerdote, profeta e rei.
1582 Como no caso do Batismo e da Confirmação, esta participação na função de Cristo
é concedida uma vez por todas. O sacramento da Ordem também confere um caráter espiritual
indelével e não pode ser reiterado nem conferido temporariamente.
1583 Alguém validamente ordenado pode, é claro, por motivos graves, ser exonerado
das obrigações e das funções ligadas à ordenação ou ser proibido de exercê-las, mas jamais
poder voltar a ser leigo no sentido estrito, porque o caráter impresso pela ordenação permanece
para sempre. A vocação e a missão recebidas no dia de sua ordenação marcam a pessoa de
modo permanente.
1584 Como, afinal de contas, quem age e opera a salvação é Cristo, por inter-médio do
ministro ordenado, a indignidade deste não impede Cristo de agir. Santo Agostinho diz isso
categoricamente:
O ministro orgulhoso deve ser colocado junto com o diabo, mas nem por isso é
contaminado o dom de Cristo, que, por esse ministro, continua a fluir em sua pureza e, por meio
dele, chega límpido e cai em terra fértil... Na verdade, a virtude espiritual do sacramento se
assemelha à luz: os que devem ser iluminados a receber em sua pureza, pois, mesmo que tenha
de atravessar seres manchados, ela não se contamina.
A GRAÇA DO ESPÍRITO SANTO
1585 A graça do Espírito Santo própria deste sacramento e graça da configuração a
Cristo Sacerdote, Mestre e Pastor, do qual o homem ordenado é constituído ministro.
1586 No caso do Bispo, trata-se de uma graça de força (“O Espírito que constitui chefes”:
Oração de consagração do Bispo do rito latino): a graça de guiar e de defender com força e
prudência sua Igreja como pai e pastor, com um amor gratuito por todos e uma predileção pelos
pobres, doentes e necessitados. Esta graça o impele a anunciar o Evangelho a todos, a ser o
modelo de seu rebanho, a precedê-lo no caminhada santificação, identificando-se na Eucaristia
com Cristo sacerdote e vítima, sem medo de entregar a vida por suas ovelhas: Pai, que
conheceis os corações, concedei a vosso servo que escolhestes para o episcopado apascentar
vosso santo rebanho e exercer irrepreensivelmente diante de vós o sumo sacerdócio, servindovos noite e dia; que ele tome incessantemente propício vosso olhar e ofereça os dons de vossa
santa Igreja; que, em virtude do espírito do sumo sacerdócio, tenha o poder de perdoar os
pecados segundo o vosso mandamento, distribua os cargos conforme vossa ordem e se desligue
de todo vinculo em virtude do poder que destes aos apóstolos; que ele vos seja agradável por
sua doçura e seu coração puro, oferecendo-vos um perfume agradável, por intermédio de vosso
Filho, Jesus Cristo...
1587 O dom espiritual conferido pela ordenação presbiteral se expressa por esta oração
própria do rito bizantino. O bispo, impondo a mão, diz entre outras coisas: Senhor, dignai-vos cumular do dom do Espírito Santo aquele que vos dignastes elevar ao grau do sacerdócio, a fim
de que seja digno de manter-se irrepreensível diante de vosso altar, anunciar o Evangelho de
vosso Reino, cumprir o ministério de vossa palavra de verdade, oferecer dons e sacrifícios
espirituais, renovar vosso povo pelo banho da regeneração, de forma que ele próprio se
encaminhe para o grande Deus e Salvador Jesus Cristo, vosso Filho único, no dia de sua segunda
vinda, e que receba de vossa imensa bondade a recompensa de uma fiel administração de sua
ordem.
1588 Quanto aos diáconos, “a graça sacramental lhes concede a força necessária
para servir ao povo de Deus na 'diaconia' da liturgia, da palavra e da caridade, em comunhão
com o Bispo e seu presbitério”.
1589 Diante da grandeza da graça e da missão sacerdotais, os santos doutores sentiram
o urgente apelo à conversão, a fim de corresponder através de toda a sua vida Aquele de
quem são constituídos ministros pelo sacramento. Neste sentido, São Gregório Nazianzeno, ainda
jovem sacerdote, não pôde deixar de exclamar:
É preciso começar a purificar-se antes de purificar os outros, é preciso ser instruído para
poder instruir, é preciso tomar-se luz para iluminar, aproximar-se de Deus para aproximar dele os
outros, ser santificado para santificar, conduzir pela mão e aconselhar com perspicácia. Sei muito
bem de quem somos ministros, em que nível nos encontramos e quem é aquele para o nos
dirigimos. Conheço a sublimidade de Deus e a fraqueza homem, mas também sua força. [Quem
é, pois, o sacerdote ?] É o defensor da verdade, eleva-se com os anjos, glorifica os com arcanjos,
leva ao altar celeste as vítimas do sacrifício, partilha do sacerdócio de Cristo, remodela a
criatura, restabelecendo (nela) a imagem (de Deus), recria-a para o mundo do alto e, para dizer
o que há de mais sublime, é divinizado e diviniza.
E o Santo Cura d’Ars: “ É o sacerdote que continua a obra de redenção na terra”... “Se
soubéssemos o que é o sacerdote terra, morreríamos não de espanto, mas de amor”... “O
sacerdócio é o amor do coração de Jesus”.
RESUMINDO
1590 São Paulo disse a seu discípulo Timóteo: “Eu te exorto a reavivar o dom de Deus
que há em ti pela imposição de minhas mão, (2Tm 1,6), e “se alguém aspira ao episcopado, boa
obra deseja” (1 Tm 3,1). A Tito dizia ele: “Eu te deixei em Creta para cuidares da organização e
ao mesmo tempo para que constituas presbíteros em cada cidade, cada qual devendo ser
como te prescrevi” (Tt 1,5).
1591 Toda a Igreja é um povo sacerdotal. Graças ao Batismo, todos os fiéis participam do
sacerdócio de Cristo. Esta participação se chama “sacerdócio comum dos fiéis”. Baseado nele e
a seu serviço existe outra participação na missão de Cristo, a do ministério conferido pelo
sacramento da Ordem, cuja tarefa é servir em nome e na pessoa de Cristo Cabeça no meio da
comunidade.
1592 O sacerdócio ministerial difere essencialmente do sacerdócio comum dos fiéis
porque confere um poder sagrado para o serviço dos fiéis. Os ministros ordenados exercem seu
serviço com o povo de Deus por meio ensinamento (múnus docendi: “encargo de ensinar”), do
culto divino (múnus liturgicum: “encargo litúrgico”) e do governo pastoral (múnus regendi:
“encargo de governar”).
1593 Desde as origens, o ministério ordenado foi conferido e exercido em três graus: o
dos bispos, o dos presbíteros e o dos diáconos. Os ministérios conferidos pela ordenação são
insubstituíveis na estrutura orgânica da Igreja. Sem o bispo, os presbíteros e os diáconos, não só
pode falar de Igreja.
1594 O Bispo recebe a plenitude do sacramento da ordem que o insere no Colégio
episcopal e faz dele o chefe visível da Igreja particular que lhe é confiada. Os Bispos, como sucessores dos apóstolos e membros do Colégio, participam da responsabilidade apostólica e da
missão de toda a Igreja, sob a autoridade do papa, sucessor de São Pedro.
1595 Os presbíteros estão unidos aos bispos na dignidade sacerdotal e ao mesmo tempo
dependem deles no exercício de suas junções pastorais; são chamados a ser atentos
cooperadores dos Bispos; formam em torno de seu Bispo o “presbitério”, que com ele é
responsável pela Igreja particular. Recebem do Bispo o encargo de uma comunidade paroquial
ou de uma junção eclesial determinada.
1596 Os diáconos são ministros ordenados para as tarefas de serviço da Igreja; não
recebem o sacerdócio ministerial, mas a ordenação lhes confere junções importantes no
ministério da Palavra, do culto divino, do governo pastoral e do serviço da caridade, tarefas que
devem cumprir sob a autoridade pastoral de seu Bispo.
1597 O sacramento da Ordem é conferido pela imposição das mãos, seguida de uma
solene oração consecratória que pede a Deus, para o ordenando, as graças do Espírito Santo,
necessárias para exercer seu ministério. A ordenação imprime um caráter sacramental indelével.
1598 A Igreja só confere o sacramento da ordem a homens (viris) batizados, cujas
aptidões para o exercício do ministério foram devidamente comprovadas. Cabe à autoridade
da Igreja a responsabilidade e o direito de chamar alguém para receber as Sagradas Ordens.