A INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA

04/09/2012 13:38

 

1334     Na antiga aliança, o pão e o vinho são oferecidos em sacrifício entre as primícias da terra,

em sinal de reconhecimento ao Criador. Mas eles recebem também um novo significado no contexto do

êxodo: os pães ázimos que Israel come cada ano na Páscoa comemoram a pressa da partida libertadora

do Egito; a recordação do maná do deserto há de lembrar sempre a Israel que ele vive do pão da Palavra

de Deus. Finalmente, o pão de todos os dias é o fruto da Terra Prometida, penhor da fidelidade de Deus às

suas promessas. O “cálice de bênção” (1Cor 10,16), no fim da refeição pascal dos judeus, acrescenta à

alegria festiva do vinho uma dimensão escatológica: da espera messiânica do restabelecimento de

Jerusalém. Jesus instituiu sua Eucaristia dando um sentido novo e definitivo à bênção do Pão e do Cálice.

1335    O milagre da multiplicação dos pães, quando o Senhor proferiu a bênção, partiu e distribuiu

os pães a seus discípulos para alimentar a multidão, prefigura a superabundância deste único pão de sua

Eucaristia. O sinal da água transformada em vinho em Caná já anuncia a hora da glorificação de Jesus.

Manifesta a realização da ceia das bodas no Reino do Pai, onde os fiéis beberão o vinho novo,

transformado no Sangue de Cristo.

1336     O primeiro anúncio da Eucaristia dividiu os discípulos, assim como o anúncio da paixão os

escandalizou: “Essa palavra é dura! Quem pode escutá-la?” (Jo 6,60). A Eucaristia e a cruz são pedras de

tropeço. É o mesmo mistério, e ele não cessa de ser ocasião de divisão. “Vós também quereis ir embora?”

(Jo 6,67). Esta pergunta do Senhor ressoa através dos séculos como convite de seu amor a descobrir que só

Ele tem “as palavras da vida eterna” (Jo 6,68) e que acolher na fé o dom de sua Eucaristia é acolher a Ele

mesmo.

A INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA

1337    Tendo amado os seus, o Senhor amou-os até o fim. Sabendo que chegara a hora de partir

deste mundo para voltar a seu Pai, no decurso de uma refeição lavou-lhes os pés e deu-lhes o

mandamento do amor. Para deixar-lhes uma garantia deste amor, para nunca afastar-se dos seus e para

fazê-los participantes de sua Páscoa, instituiu a Eucaristia como memória de sua morte e de sua

ressurreição, e ordenou a seus apóstolos que a celebrassem até a sua volta, “constituindo-os então

sacerdotes do Novo Testamento”.

1338   Os três Evangelhos sinópticos e São Paulo nos transmitiram o relato da instituição da

Eucaristia; por sua vez, São João nos relata as palavras de Jesus na sinagoga de Cafarnaum, palavras que

preparam a instituição da Eucaristia: Cristo designa-se como o pão da vida, descido do Céu.

1339     Jesus escolheu o tempo da Páscoa para realizar o que tinha anunciado em Cafarnaum: dar

a seus discípulos seu Corpo e seu Sangue: Veio o dia dos ázimos, quando devia ser imolada a páscoa.

Jesus enviou então Pedro e João, dizendo: “Ide preparar-nos a Páscoa para comermos” ... Eles foram (...) e

prepararam a Páscoa. Quando chegou a hora, ele se pôs à mesa com seus apóstolos e disse-lhes: “Desejei

ardentemente comer esta páscoa convosco antes de sofrer; pois eu vos digo que já não a comerei até

que ela se cumpra no Reino de Deus”... E tomou um pão, deu graças, partiu-o e distribuiu-o a eles dizendo:

“Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória”. E, depois de comer, fez o mesmo

com o cálice dizendo: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que é derramado em favor de vós”

(Lc 22,7-20).

1340   Ao celebrar a última Ceia com seus apóstolos durante a refeição pascal, Jesus deu seu

sentido definitivo à páscoa judaica. Com efeito, a passagem de Jesus a seu Pai por sua Morte e sua

Ressurreição, a Páscoa nova, é antecipada na ceia e celebrada na Eucaristia  que realiza a Páscoa

judaica e antecipa a Páscoa final da Igreja na glória do Reino.“FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM”

1341    O  mandamento de Jesus de repetir seus gestos e suas palavras “até que ele volte” não

pede somente que se recorde de Jesus e do que ele fez. Visa á celebração litúrgica, pelos apóstolos e

seus sucessores, do memorial de Cristo, de sua vida, de sua Morte, de sua Ressurreição e de sua intercessão

junto ao Pai.

1342     Desde o início, a Igreja foi fiel ao mandato do Senhor. Da Igreja de Jerusalém se diz: Eles

eram perseverantes ao ensinamento dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações.

(...) Dia após dia, unânimes, mostravam-se assíduos no templo e partiam o pão pelas casas, tomando o

alimento com alegria e simplicidade de coração (At 2,42.46).

1343     Era sobretudo “no primeiro dia da semana”, isto é, no domingo, o dia da Ressurreição de

Jesus, que os cristãos se reuniam “para partir o pão” (At 20,7). Desde aqueles tempos até os nossos dias, a

celebração da Eucaristia perpetuou-se, de sorte que hoje a encontramos em toda parte na Igreja, com a

mesma estrutura fundamental. Ela continua sendo o centro da vida da Igreja.

1344     Assim, de celebração em celebração, anunciando o Mistério Pascal de Jesus “até que ele

venha” (1 Cor 11,26), o povo de Deus em peregrinação “avança pela porta estreita da cruz[ag52] ” em

direção ao banquete celeste, quando todos os eleitos se sentarão à mesa do Reino.IV. A CELEBRAÇÃO LITÚRGICA DA EUCARISTIA

A MISSA DE TODOS OS SÉCULOS

1345 Desde o século II temos o testemunho de S. Justiço Mártir sobre as grandes linhas do

desenrolar da Celebração Eucarística, que permaneceram as mesmas até os nossos dias para

todas as grandes famílias litúrgicas. Assim escreve, pelo ano de 155, para explicar ao imperador

pagão Antonino Pio (138-161) o que os cristãos fazem:

“No dia 'do Sol', como é chamado, reúnem-se num mesmo lugar os habitantes, quer das

cidades, quer dos campos. Lêem-se, na medida em que o tempo o permite, ora os comentários

dos Apóstolos, ora os escritos dos Profetas. Depois, quando o leitor terminou, o que preside toma

a palavra para aconselhar e exortar à imitação de tão sublimes ensinamentos. A seguir, pomonos todos de pé e elevamos nossas preces por nós mesmos (...) e por todos os outros, onde quer

que estejam, a fim de sermos de fato justos por nossa vida e por nossas ações, e fiéis aos

mandamentos, para assim obtermos a salvação eterna.

Quando as orações terminaram, saudamo-nos uns aos outros com um ósculo. Em seguida,

leva-se àquele que preside aos irmãos pão e um cálice de água e de vinho misturados.

Ele os toma e faz subir louvor e glória ao Pai do universo, no nome do Filho e do Espírito

Santo e rende graças (em grego: eucharístia, que significa 'ação de graças' longamente pelo

fato de termos sido julgados dignos destes dons.

Terminadas as orações e as ações de graças, todo o povo presente prorrompe numa

aclamação dizendo: Amém.

Depois de o presidente ter feito a ação de graças e o povo ter respondido, os que entre

nós se chamam diáconos distribuem a todos os que estão presentes pão, vinho e água

'eucaristizados' e levam (também) aos ausentes“.

1346 A liturgia da Eucaristia desenrola-se segundo uma estrutura fundamental que se

conservou ao longo dos séculos até nossos dias. Desdobra-se em dois grandes momentos que

formam uma unidade básica:

ü      a convocação, a Liturgia da Palavra, com as leituras,

ü      a homilia e a oração universal;

ü      a Liturgia Eucarística, com a apresentação do pão e do vinho, a ação de graças

consecratória e a comunhão.

Liturgia da Palavra e Liturgia Eucarística constituem juntas “um só e mesmo ato do culto”;

com efeito, a mesa preparada para nós na Eucaristia é ao mesmo tempo a  da Palavra de Deus

e a do Corpo do Senhor.

1347     Por acaso não é exatamente esta a seqüência da Ceia Pascal de Jesus

ressuscitado com seus discípulos? Estando a caminho, explicou-lhes as Escrituras, e em seguida,

colocando-se à mesa com eles, “tomou o pão, abençoou-o, depois partiu-o e distribuiu-o a

eles”.

A SEQÜÊNCIA DA CELEBRAÇÃO

1348   Todos se reúnem. Os cristãos acorrem a um mesmo lugar para a Assembléia

Eucarística, encabeçados pelo próprio Cristo, que é o ator principal da Eucaristia. Ele é o sumo

sacerdote da Nova Aliança. É ele mesmo quem preside invisivelmente toda Celebração

Eucarística. É representando-o que o Bispo ou o presbítero (agindo “em representação de CristoCabeça”) preside a assembléia, toma a palavra depois das leituras, recebe as oferendas e

profere a oração eucarística. Todos têm sua parte ativa na celebração, cada um a seu modo: os leitores, os que trazem as oferendas, os que dão a comunhão e todo o povo, cujo Amém

manifesta a participação.

1349   A Liturgia da Palavra comporta “os escritos dos profetas”, isto é, o Antigo

Testamento, e “as memórias dos Apóstolos”, isto é, as epístolas e os Evangelhos; depois da

homilia, que exorta a acolher esta palavra como ela verdadeiramente é, isto é, como Palavra de

Deus, e a pô-la em prática, vêm as intercessões por todos os homens, de acordo com a palavra

do Apóstolo: “Eu recomendo, pois, antes de tudo, que se façam pedidos, orações, súplicas e

ações de graças por todos os homens, pelos reis e todos os que detêm a autoridade” (1Tm 2,1-2).

1350  A apresentação das oferendas (o ofertório): trazem-se então ao altar, por vezes em

procissão, o pão e o vinho que serão oferecidos pelo sacerdote em nome de Cristo no Sacrifício

Eucarístico e ali se tornarão o Corpo e o Sangue de Cristo. Este é o próprio gesto de Cristo na

última ceia, “tomando pão e um cálice”. “Esta oblação, só a Igreja a oferece, pura, ao Criador,

oferecendo-lhe com ação de graças o que provém de sua criação. A apresentação das

oferendas ao altar assume o gesto de Melquisedec e entrega os dons do Criador nas mãos de

Cristo. E ele que, em seu sacrifício, leva à perfeição todos os intentos humanos de oferecer

sacrifícios.

1351  Desde os inícios, os cristãos levam, com o pão e o vinho para a Eucaristia, seus dons

para repartir com os que estão em necessidade. Este costume da coleta, sempre atual, inspira-se

no exemplo de Cristo que se fez pobre para nos enriquecer: Os que possuem bens em

abundância e o desejam, dão livremente o que lhes parece bem, e o que se recolhe é entregue

àquele que preside. Este socorre os órfãos e viúvas e os que, por motivo de doença ou qualquer

outra razão, se encontram em necessidade, assim como os encarcerados e os imigrantes; numa

palavra, ele socorre todos os necessitados.

1352  A anáfora. Com a Oração Eucarística, oração de ação de graças e de

consagração, chegamos ao coração e ao ápice da celebração. No prefácio, a Igreja rende

graças ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo, por todas as suas obras, pela criação, a redenção, a

santificação. Toda a comunidade junta-se então a este louvor incessante que a Igreja celeste, os

anjos e todos os santos cantam ao Deus três vezes santo.

1353     Na epiclese ela pede ao Pai que envie seu Espírito Santo (ou o poder de sua

bênção sobre o pão e o vinho, para que se tornem, por seu poder, o Corpo e o Sangue de Jesus

Cristo, e para que aqueles que tomam parte na Eucaristia sejam um só corpo e um só espírito

(certas tradições litúrgicas colocam a epiclese depois da anamnese). No relato da instituição, a

força das palavras e da ação de Cristo e o poder do Espírito Santo tornam sacramentalmente

presentes, sob as espécies do pão e do vinho, o Corpo e o Sangue de Cristo, seu sacrifício

oferecido na cruz uma vez por todas.

1354 Na anamnese que segue, a Igreja faz memória da Paixão, da Ressurreição e da volta

gloriosa de Cristo Jesus; ela apresenta ao Pai a oferenda de seu Filho que nos reconcilia com ele.

Nas intercessões, a Igreja exprime que a Eucaristia é celebrada em comunhão com toda

a Igreja do céu e da terra, dos vivos e dos falecidos, e na comunhão com os pastores da Igreja,

o Papa, o Bispo da diocese, seu presbitério e seus diáconos, e todos os Bispos do mundo inteiro

com suas igrejas.

1355     Na comunhão, precedida pela oração do Senhor e pela fração do pão, os fiéis

recebem “o pão do céu” e “o cálice da salvação”, o Corpo e o Sangue de Cristo, que se

entregou “para a vida do mundo” (Jo 6,51): Porque este pão e este vinho foram, segundo a

antiga expressão, “eucaristizados”, “chamamos este alimento de Eucaristia, e a ninguém é

permitido participar na Eucaristia senão àquele que admitindo como verdadeiros os nossos

ensinamentos e tendo sido purificado pelo Batismo para a remissão dos pecados e para o novo

nascimento, levar uma vida como Cristo ensinou”.

V. O SACRIFÍCIO SACRAMENTAL: AÇÃO DE GRAÇAS, MEMORIAL, PRESENÇA1356 Se os cristãos celebram a Eucaristia desde as origens, e sob uma forma que, em sua

substância, não sofreu alteração através da grande diversidade dos tempos e das liturgias, é

porque temos consciência de estarmos ligados ao mandato do Senhor, dado na véspera de sua

paixão: “Fazei isto em memória de mim” (1 Cor 11 ,24-25).

1357     Cumprimos esta ordem do Senhor celebrando o memorial de seu sacrifício. Ao

fazermos isto, oferecemos ao Pai o que ele mesmo nos deu: os dons de sua criação, o pão e o

vinho, que pelo poder do Espírito Santo e pelas palavras de Cristo se tornaram o Corpo e o

Sangue de Cristo, o qual, assim, se torna real e misteriosamente presente.

1358     Por isso, temos de considerar a Eucaristia:

ü      como ação de graças e louvor ao Pai;

ü      como memorial sacrifical de Cristo e de seu corpo;

ü      corno presença de Cristo pelo poder de sua palavra e de seu Espírito.

A AÇÃO DE GRAÇAS E O LOUVOR AO PAI

1359     A Eucaristia, sacramento de nossa salvação realizada por Cristo na cruz, é também

um sacrifício de louvor em ação de graças pela obra da criação. No sacrifício eucarístico, toda

a criação amada por Deus é apresentada ao Pai por meio da Morte e da Ressurreição de Cristo.

Por Cristo, a Igreja pode oferecer o sacrifício de louvor em ação de graças por tudo o que Deus

fez de bom, de belo e de justo na criação e na humanidade.

1360     A Eucaristia é um sacrifício de ação de graças ao Pai, unia bênção pela qual a

Igreja exprime seu reconhecimento a Deus por todos os seus benefícios, por tudo o que ele

realizou por meio da criação, da redenção e da santificação. Eucaristia significa, primeiramente,

“ação de graças”.

1361     A Eucaristia é também o sacrifício de louvor por meio do qual a Igreja canta a

glória de Deus em toda a criação. Este sacrifício de louvor só é possível através de Cristo: Ele une

os fiéis à sua pessoa, ao seu louvor e à sua intercessão, de sorte que o sacrifício de louvor ao Pai

é oferecido por Cristo e com ele para ser aceito nele.

O MEMORIAL SACRIFICAL DE CRISTO E DE SEU CORPO, A IGREJA

1362     A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, a atualização e a oferta

sacramental de seu único sacrifício na liturgia da Igreja, que é o corpo dele. Em todas as orações

eucarísticas encontramos, depois das palavras da instituição, uma oração chamada anamnese

ou memorial.

1363    No sentido da Sagrada Escritura, o memorial não é somente a lembrança dos

acontecimentos dos acontecimento do passado, mas a proclamação das maravilhas que Deus

realizou por todos os homens[ag80] . A celebração litúrgica desses acontecimentos toma-os de

certo modo presentes e atuais. É desta maneira que Israel entende sua libertação do Egito: toda

vez que é celebrada a Páscoa, os acontecimentos do êxodo tomam-se presentes à memória

dos crentes, para que estes conformem sua vida a eles.

1364   O memorial recebe um sentido novo no Novo Testamento. Quando a Igreja celebra

a Eucaristia, rememora a páscoa de Cristo, e esta se toma presente: o sacrifício que Cristo

ofereceu uma vez por todas na cruz torna-se sempre atual: “Todas as vezes que se celebra no

altar o sacrifício da cruz, pelo qual Cristo nessa páscoa foi imolado, efetua-se a obra de nossa

redenção.”

1365   Por ser memorial da páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O

caráter sacrifical da Eucaristia é manifestado nas próprias palavras da instituição: “Isto é o meu

Corpo que será entregue por vós”, e “Este cálice é a nova aliança em meu Sangue, que vai ser derramado por vós” (Lc 22,19-20). Na Eucaristia, Cristo dá este mesmo corpo que, entregou por

nós na cruz, o próprio sangue que “derramou por muitos para remissão dos pecados” (Mt 26,28).

1366   A Eucaristia é, portanto, um sacrifício porque representa (toma presente) o Sacrifício

da Cruz, porque dele é memorial e porque aplica seus frutos: [Cristo] nosso Deus e Senhor

ofereceu-se a si mesmo a Deus Pai uma única vez, morrendo como intercessor sobre o altar da

cruz, a fim de realizar por eles (os homens) uma redenção eterna. Todavia, como sua morte não

devia pôr fim ao seu sacerdócio (Hb 7,24.27), na última ceia, “na noite em que foi entregue (1

Cor 11,13), quis deixar à Igreja, sua esposa muito amada, um sacrifício visível (como o reclama a

natureza humana) em que seria representado (feito presente) o sacrifício cruento que ia realizarse uma vez por todas uma única vez na cruz, sacrifício este cuja memória haveria de perpetuarse até o fim dos séculos (l Cor 11,23) e cuja virtude salutar haveria de aplicar-se à remissão dos

pecados que cometemos cada dia.

1367 O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício: “É uma só e

mesma vítima, é o mesmo que oferece agora pelo ministério dos sacerdotes, que se ofereceu a si

mesmo então na cruz. Apenas a maneira de oferecer difere”. “E porque neste divino sacrifício

que se realiza na missa, este mesmo Cristo, que se ofereceu a si mesmo uma vez de maneira

cruenta no altar da cruz, está contido e é imolado de maneira incruenta, este sacrifício é

verdadeiramente propiciatório”.

1368  A Eucaristia é também o sacrifício da Igreja. A Igreja, que é o corpo de Cristo,

participa da oferta de sua Cabeça. Com Cristo, ela mesma é oferecida inteira. Ela se une à sua

intercessão junto ao Pai por todos os homens. Na Eucaristia, o sacrifício de Cristo se torna

também o sacrifício dos membros de seu Corpo. A vida dos fiéis, seu louvor, seu sofrimento, sua

oração, seu trabalho são unidos aos de Cristo e à sua oferenda total, e adquirem assim um valor

novo. O sacrifício de Cristo, presente sobre o altar, dá a todas as gerações de cristãos a

possibilidade de estarem unidos à sua oferta. Nas catacumbas, a Igreja é muitas vezes

representada como uma mulher em oração, com os braços largamente abertos em atitude de

orante. Como Cristo que estendeu os braços na cruz, ela se oferece e intercede por todos os

homens, por meio dele, com ele e nele.

1369  A Igreja inteira está unida à oferta e à intercessão de Cristo. Encarregado do

ministério de Pedro na Igreja, o Papa está associado a cada celebração da Eucaristia em que

ele é mencionado como sinal e servidor da unidade da Igreja universal. O Bispo do lugar é

sempre responsável pela Eucaristia, mesmo quando é presidida por um presbítero; seu nome é

nela pronunciado para significar que é ele quem preside a Igreja particular, em meio ao

presbitério e com a assistência dos diáconos. A comunidade intercede assim por todos os

ministros que, por ela e com ela, oferecem o Sacrifício Eucarístico: Que se considere legítima só

esta Eucaristia que se faz sob a presidência do Bispo ou daquele a quem este encarregou. É pelo

ministério dos presbíteros que se consuma o sacrifício espiritual dos fiéis, em união com o sacrifício

de Cristo, único mediador, oferecido em nome de toda a Igreja na Eucaristia pelas mãos dos

presbíteros, de forma incruenta e sacramenta até que o próprio Senhor venha.

1370    À oferenda de Cristo unem-se não somente os membros que estão ainda na terra,

mas também os que já estão na glória do céu: é em comunhão com a santíssima Virgem Maria e

fazendo memória dela, assim como de todos os santos e santas, que a Igreja oferece o Sacrifício

Eucarístico. Na Eucaristia, a Igreja, com Maria, está como que ao pé da cruz, unida à oferta e à

intercessão de Cristo.

1371     O Sacrifício Eucarístico é também oferecido pelos fiéis defuntos “que morreram em

Cristo e não estão ainda plenamente purificados”, para que possam entrar na luz e na paz de

Cristo:

Enterrai este corpo onde quer que seja! Não tenhais nenhuma preocupação por ele! Tudo

o que vos peço é que vos lembreis de mim no altar do Senhor onde quer que estejais.

Em seguida, oramos [na anáfora] pelos santos padres e Bispos que faleceram, e em geral

por todos os que adormeceram antes de nós acreditando que haverá muito grande benefício para as almas, em favor das quais a súplica é oferecida, enquanto se encontra presente a santa

e tão temível vítima. (...) Ao apresentarmos a Deus nossas súplicas pelos que adormeceram,

ainda que fossem pecadores, nós (...) apresentamos o Cristo imolado por nossos pecados,

tomando propício, para eles e para nós, o Deus amigo dos homens.

1372    Santo Agostinho resumiu admiravelmente esta doutrina que nos incita a uma

participação cada vez mais completa no sacrifício de nosso redentor, que celebramos na

Eucaristia:

Esta cidade remida toda inteira, isto é, a assembléia e a sociedade dos santos, é

oferecida a Deus como um sacrifício universal pelo Sumo Sacerdote que, sob a forma de

escravo, chegou a ponto de oferecer-se por nós em sua paixão, para fazer de nós o corpo de

uma Cabeça tão grande. (...) Este é o sacrifício dos cristãos: “Em muitos, ser um só corpo em

Cristo” (Rm 12,5). E este sacrifício, a Igreja não cessa de reproduzi-lo no sacramento do altar bem

conhecido pelos fiéis, onde se vê que naquilo que oferece, se oferece a si mesma.

A PRESENÇA DE CRISTO PELO PODER DE SUA PALAVRA E DO ESPÍRITO SANTO

1373   “Cristo Jesus, aquele que morreu, ou melhor, que ressuscitou, aquele que está à

direita de Deus e que intercede por nós” (Rm 8,34), está presente de múltiplas maneiras em sua

Igreja): em sua Palavra, na oração de sua Igreja, “lá onde dois ou três estão reunidos em meu

nome” (Mt 18,20), nos pobres, nos doentes, nos presos, em seus sacramentos, dos quais ele é o

autor, no sacrifício da missa e na pessoa do ministro. Mas “sobretudo (está presente) sob as

espécies eucarísticas”.

1374     O modo de presença de Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele eleva a

Eucaristia acima de todos os sacramentos e faz com que da seja “como que o coroamento da

vida espiritual e o fim ao qual tendem todos os sacramentos”. No santíssimo sacramento da

Eucaristia estão “contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o Corpo e o Sangue

juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo

todo” . “Esta presença chama-se 'real' não por exclusão, como se as outras não fossem 'reais',

mas por antonomásia, porque é substancial e porque por ela Cristo, Deus e homem, se toma

presente completo.”

1375     É pela conversão do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo que este se

torna presente em tal sacramento. Os Padres da Igreja afirmaram com firmeza a fé da Igreja na

eficácia da Palavra de Cristo e da ação do Espírito Santo para operar esta conversão. Assim, São

João Crisóstomo declara: Não é o homem que faz com que as coisas oferecidas se tomem

Corpo e Sangue de Cristo, mas o próprio Cristo, que foi crucificado por nós. O sacerdote, figura

de Cristo, pronuncia essas palavras, mas sua eficácia e a graça são de Deus. Isto é o meu Corpo,

diz ele. Estas palavras transformam as coisas oferecidas.

E Santo Ambrósio afirma acerca desta conversão:

Estejamos bem persuadidos de que isto não é o que a natureza formou, mas o que a

bênção consagrou, e que a força da bênção supera a da natureza, pois pela bênção a própria

natureza mudada. Por acaso a palavra de Cristo, que conseguiu fazer do nada o que não

existia, não poderia mudar as coisas existentes naquilo que ainda não eram? Pois não é menos

dar às coisas a sua natureza primeira do que mudar a natureza delas.

1376  O Concílio de Trento resume a fé católica ao declarar “Por ter Cristo, nosso Redentor,

dito que aquilo que oferecia sob a espécie do pão era verdadeiramente seu Corpo, sempre se

teve na Igreja esta convicção, que O santo Concílio declara novamente: pela consagração do

pão e do vinho opera-se a mudança de toda a substância do pão na substância do Corpo de

Cristo Nosso Senhor e de toda a substância do vinho na substância do seu Sangue; esta

mudança, a Igreja católica denominou-a com acerto e exatidão transubstanciação”.1377  A presença eucarística de Cristo começa no momento da consagração e dura

também enquanto subsistirem as espécies eucarísticas. Cristo está presente inteiro em cada uma

das espécies e inteiro em cada uma das partes delas, de maneira que a fração do pão não

divide o Cristo.

1378     O culto da Eucaristia. Na liturgia da missa, exprimimos nossa fé na presença real de

Cristo sob as espécies do pão e do vinho, entre outras coisas, dobrando os joelhos, ou inclinandonos profundamente em sinal de adoração do Senhor. “A Igreja católica professou e professa este

culto de adoração que é devido ao sacramento da Eucaristia não somente durante a Missa,

mas também fora da celebração dela, conservando com o máximo cuidarem com solenidade,

levando-as em procissão.

1379     A santa reserva (tabernáculo) era primeiro destinada a guardar dignamente a

Eucaristia para que pudesse ser levada, fora da missa, aos doentes e aos ausentes. Pelo

aprofundamento da fé na presença real de Cristo em sua Eucaristia, a Igreja tomou consciência

do sentido da, adoração silenciosa do Senhor presente sob as espécies eucarísticas. É por isso

que o tabernáculo deve ser colocado em um local particularmente digno da igreja; deve ser

construído de tal forma que sublinhe e manifeste a verdade da presença real de Cristo no santo

sacramento.

 1380     É altamente conveniente que Cristo tenha querido ficar presente à sua Igreja

desta maneira singular. Visto que estava para deixar os seus em sua forma visível, Cristo quis darnos sua presença sacramental; já que ia oferecer-se na cruz para nos salvar, queria que

tivéssemos o memorial do amor com o qual nos amou “até o fim” (Jo 13,1), até o dom de sua

vida. Com efeito, em sua presença eucarística Ele permanece misteriosamente no meio de nós

como aquele que nos amou e que se entregou por nós[ag119] , e o faz sob os sinais que

exprimem e comunicam este amor: A Igreja e o mundo precisam muito do culto eucarístico.

Jesus nos espera neste sacramento do amor. Não regateemos o tempo para ir encontrá-lo na

adoração, na contemplação cheia de fé e aberta a reparar as faltas graves e os delitos do

mundo. Que a nossa adoração nunca cesse!

1381     “A presença do verdadeiro Corpo de Cristo e do verdadeiro Sangue de Cristo

neste sacramento 'não se pode descobrir pelos sentidos, diz Santo Tomás, mas só com fé,

baseada na autoridade de Deus'. Por isso, comentando o texto de São Lucas 22,19 (“Isto é o meu

Corpo que será entregue por vós”), São Cirilo declara: 'Não perguntes se é ou não verdade;

aceita com fé as palavras do Senhor, porque ele, que é a verdade, não mente”:

Com devoção te adoro,

Latente divindade.

Que, sob essas figuras,

Te escondes na verdade;

Meu Coração de pleno

Sujeito a ti, obedece,

Pois que, em te contemplando,

Todo ele desfalece.

A vista, o tato, o gosto,

Certo, jamais te alcança;

Pela audição somente

Te crêem com segurança;

Creio em tudo o que disse

De Deus Filho o Cordeiro.Nada é mais da verdade

Que tal voz, verdadeiro.

VI. O BANQUETE PASCAL

1382    A missa é ao mesmo tempo e inseparavelmente o memorial sacrifical no qual se

perpetua o sacrifício da cruz, e o banquete sagrado da comunhão no Corpo e no Sangue do

Senhor. Mas a celebração do Sacrifício Eucarístico está toda orientada para a união íntima dos

fiéis com Cristo pela comunhão. Comungar é receber o próprio Cristo que se ofereceu por nós.

1383    O altar, em tomo do qual a Igreja está reunida na celebração da Eucaristia,

representa os dois aspectos de um mesmo mistério: o altar do sacrifício e a mesa do Senhor, e isto

tanto mais porque o altar cristão é o símbolo do próprio Cristo, presente no meio da assembléia

de seus fiéis, ao mesmo tempo como vítima oferecida por nossa reconciliação e como alimento

celeste que se dá a nós. “Com efeito, que é o altar de Cristo senão a imagem do Corpo de

Cristo?” - diz Santo Ambrósio; e alhures: “O altar representa o Corpo [de Cristo], e o Corpo de

Cristo está sobre o altar”. A liturgia exprime esta unidade do sacrifício e da comunhão em muitas

orações. Assim, a Igreja de Roma ora em sua anáfora: Nós vos suplicamos que ela seja levada à

vossa presença, para que, ao participarmos deste altar, recebendo o Corpo e o Sangue de

vosso Filho, sejamos repletos de todas as graças e bênçãos do céu.

“TOMAI E COMEI DELE TODOS VÓS”: A COMUNHÃO

1384   O Senhor nos convida insistentemente a recebê-lo no sacramento da Eucaristia: “Em

verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a Carne do Filho do homem e não beberdes o

seu Sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6,53).

1385    Para responder a este convite, devemos preparar-nos para este momento tão

grande e tão santo. São Paulo exorta a um exame de consciência: “Todo aquele que comer do

pão ou beber do cálice do Senhor indignadamente será réu do Corpo e do Sangue do Senhor.

Por conseguinte que cada um examine a si mesmo antes de comer desse pão e beber desse

cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a própria

condenação” (1 Cor 11,27-29). Quem está consciente de um pecado grave deve receber o

sacramento da reconciliação antes de receber a comunhão.

1386     Diante da grandeza deste sacramento, o fiel só pode repetir humildemente e com

fé ardente a palavra do Centurião:  “Domine, non sum dignus ut mires sub tectum meum sed

tantum dic verbo et sanabitur anima mea - Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha

morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”. E na divina liturgia de São João Crisóstomo os fiéis

oram no mesmo espírito:

Da vossa ceia mística fazei-me participar hoje, ó Filho de Deus. Pois não revelarei o Mistério

aos vossos inimigos, nem vos darei o beijo de Judas. Mas, como o ladrão, clamo a vós: Lembraivos de mim, Senhor, no vosso reino.

1387     A fim de se prepararem convenientemente para receber este sacramento, os fiéis

observarão o jejum prescrito em sua Igreja (Cf CIC cânone  919). A atitude corporal (gestos,

roupa) há de traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que Cristo se torna

nosso hóspede.

1388     É consentâneo com o próprio sentido da Eucaristia que os fiéis, se tiverem as

disposições requeridas, comunguem quando participarem da missa: “Recomenda-se muito

aquela participação mais perfeita à missa, pela qual os fiéis, depois da comunhão do sacerdote,

comungam o Corpo do Senhor do mesmo sacrifício”.

1389     A Igreja obriga os fiéis “a participar  da divina liturgia aos domingos e nos dias

festivos” e a receber a Eucaristia pelo menos uma vez ao ano, se possível no tempo pascal,

preparados pelo sacramento da reconciliação. Mas recomenda vivamente aos fiéis querecebam a santa Eucaristia nos domingos e dias festivos, ou ainda com maior freqüência, e até

todos os dias.

1390     Graças à presença sacramental de Cristo sob cada uma das espécies, a

comunhão somente sob a espécie do pão permite receber todo o fruto de graça da Eucaristia.

Por motivos pastorais, esta maneira de comungar estabeleceu-se legitimamente como a mais

habitual no rito latino. “A santa comunhão realiza-se mais plenamente sob sua forma de sinal

quando se faz sob as duas espécies. Pois sob esta forma o sinal do banquete eucarístico é mais

plenamente realçado.” Nos ritos orientais, esta é a forma habitual de comungar.

OS FRUTOS DA COMUNHÃO

1391 A comunhão aumenta a nossa união com Cristo. Receber a Eucaristia na comunhão

traz como fruto principal a união intima o com Cristo Jesus. Pois  o Senhor diz: “Quem come a

minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56). A vida em Cristo

tem seu fundamento no banquete eucarístico: “Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo

pelo Pai, também aquele que de mim se alimenta v iverá por mim” (Jo 6,57):

Quando nas festas do Senhor os fiéis recebem o Corpo do Filho, proclamam uns aos outros

a Boa Nova de que é dado o penhor da vida, como quando o anjo disse a Maria de Mágdala:

“Cristo ressuscitou!”. Eis que agora também a vida e a ressurreição são conferidas àquele que

recebe o Cristo[ag144] .

1392     O que o alimento material produz em nossa vida corporal, a comunhão o realiza

de maneira admirável em nossa vida espiritual. A comunhão da Carne de Cristo ressuscitado,

“vivificado pelo Espírito Santo e vivificante”, conserva, aumenta e renova a vida da graça

recebida no Batismo. Este crescimento da vida cristã precisa ser alimentado pela Comunhão

Eucarística, pão da nossa peregrinação, até o momento da morte, quando nos ser dado como

viático.

1393     A comunhão separa-nos do pecado. O Corpo de Cristo que recebemos na

comunhão é “entregue por nós”, e o Sangue que bebemos é “derramado por muitos para

remissão dos pecados”. Por isso a Eucaristia não pode unir-nos a Cristo sem purificar-nos ao

mesmo tempo dos pecados cometidos e sem preservar-nos dos pecados futuros:

“Toda vez que o recebermos, anunciamos a morte do Senhor”. Se anunciamos a morte do

Senhor, anunciamos a remissão dos pecados. Se, toda vez que o seu Sangue é derramado, o é

para a remissão dos pecados, devo recebê-lo sempre, para que perdoe sempre os meus

pecados. Eu que sempre peco, devo ter sempre um remédio.

1394     Como o alimento corporal serve para restaurar a perda das forças, a Eucaristia

fortalece a caridade que, na vida diária, tende a arrefecer; e esta caridade vivificada apaga os

pecados veniais. Ao dar-se a nós, Cristo reaviva nosso amor e nos torna capazes de romper as

amarras desordenadas com as criaturas e de enraizar-nos nele:

Visto que Cristo morreu por nós por amor, quando fazemos memória de sua morte no

momento do sacrifício pedimos que o amor nós seja concedido pela vinda do Espírito Santo;

pedimos humildemente que em virtude deste amor, pelo qual Cristo quis morrer por nós, nós

também, recebendo a graça do Espírito Santo, possamos considerar o mundo como crucificado

para nós, e sejamos nós mesmos crucificados para o mundo. (...)Tendo recebido o dom de amor

morramos para o pecado e vivamos para Deus.

1395     Pela mesma caridade que acende em nós, a Eucaristia nos preserva dos pecados

mortais futuros. Quanto mais participarmos da vida de Cristo e quanto mais progredirmos em sua

amizade, tanto mais difícil de ele separar-nos pelo pecado mortal. A Eucaristia não é destinada a

perdoar pecados mortais. Isso é próprio do sacramento da reconciliação. É próprio da Eucaristia

ser o sacramento daqueles que estão na comunhão plena da Igreja.1396     A unidade do corpo místico: a Eucaristia faz a Igreja. Os que recebem a Eucaristia

estão unidos mais intimamente a Cristo. Por isso mesmo, Cristo os une a todos os fiéis em um só

corpo, a Igreja. A comunhão renova, fortalece, aprofunda esta incorporação à Igreja, realizada

já pelo Batismo. No Batismo fomos chamados a constituir um só corpo. A Eucaristia realiza este

apelo: “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o Sangue de Cristo? O

pão que partimos não é comunhão com o Corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós,

embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão” (1Cor 10,16-

17).

Se sois o corpo e os membros de Cristo, é o vosso sacramento que é colocado sobre a

mesa do Senhor, recebeis o vosso sacramento. Respondeis “Amém” (“sim, é verdade!”) àquilo

que recebeis, e subscreveis ao responder. Ouvis esta palavra: “o Corpo de Cristo”, e respondeis:

“Amém”. Sede, pois, um membro de Cristo, para que o vosso Amém seja verdadeiro.

1397     A Eucaristia compromete com os pobres. Para receber na verdade o Corpo e o

Sangue de Cristo entregues por nós, devemos reconhecer o Cristo nos mais pobres, seus irmãos:

Degustaste o Sangue do Senhor e não reconheces sequer o teu irmão. Desonras esta

própria mesa, não julgando digno de compartilhar do teu alimento aquele que foi julgado digno

de participar desta mesa. Deus te libertou de todos os teus pecados e te convidou para esta

mesa. E tu, nem mesmo assim, te tornaste mais misericordioso.

1398     A Eucaristia e a unidade dos cristãos. Diante da grandeza deste mistério, Santo

Agostinho exclama: “Ó sacramento da piedade! Ó sacramento da unidade! Ó vínculo da

caridade!”. Quanto mais dolorosas se fazem sentir as divisões da Igreja que rompem a

participação comum à mesa do Senhor, tanto mais prementes são as orações ao Senhor para

que voltem os dias da unidade completa de todos os que nele crêem.

1399  As Igrejas orientais que não estão em comunhão plena com a Igreja católica

celebram a Eucaristia com um grande amor. “Essas Igrejas, embora separadas, têm verdadeiros

sacramentos - principalmente, em virtude da sucessão apostólica, o sacerdócio e a Eucaristia -,

que as unem intimamente a nós.” Por isso certa comunhão in sacris na Eucaristia é “não somente

possível, mas até aconselhável, em circunstâncias favoráveis e com a aprovação da autoridade

eclesiástica”.

1400  As comunidades eclesiais oriundas da Reforma, separadas da Igreja católica, “em

razão sobretudo da ausência do sacramento da ordem, não conservaram a substância própria e

integral do mistério eucarístico”. Por este motivo a intercomunhão eucarística com essas

comunidades não é possível para a Igreja católica. Todavia, essas comunidades eclesiais,

“quando fazem memória, na Santa ceia, da morte e da ressurreição do Senhor, professam que a

vida consiste na comunhão com Cristo e esperam sua volta gloriosa”.

1401  Quando urge uma necessidade grave, a critério do ordinário, os ministros católicos

podem dar os sacramentos Eucaristia, Penitência, Unção dos Enfermos) aos outros cristãos que

não estão em plena comunhão com a Igreja católica, mas que os pedem espontaneamente: é

preciso então que manifestem a fé católica no tocante a esses sacramentos e que apresentem

as disposições exigidas.

VII. A Eucaristia - “penhor da glória futura”

1402     Em uma oração, a Igreja aclama o mistério da Eucaristia: “O sacrum convivium in

quo Christus sumitur. Recolitur memoria passionis eius; mens impletur gratia etffiturae gloriae nobis

pignus datur - O sagrado banquete, em que de Cristo nos alimentamos. Celebra-se a memória

de sua Paixão, o espírito é repleto de graças e se nos dão penhor da glória”. Se a Eucaristia é o

memorial da Páscoa do Senhor, se por nossa comunhão ao altar somos repletos “de todas as

graças e bênçãos do céu”, a Eucaristia também a antecipação da glória celeste.

1403    Quando da última Ceia, o Senhor mesmo dirigia o olhar de seus discípulos para a

realização da Páscoa no Reino de Deus: “Desde agora não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que convosco beberei o vinho novo no Reino de meu Pai” (Mt 26,29). Toda vez

que a Igreja celebra a Eucaristia lembra-se desta promessa, e seu olhar se volta para “aquele

que vem” (Ap 1,4). Em sua oração, suspira por sua vinda: “Maran athá” (1 Cor 16,22), “Vem,

Senhor Jesus” (Ap 22,20), “Venha vossa graça e passe este mundo!”

1404    A Igreja sabe que, desde agora, o Senhor vem em sua Eucaristia, e que ali  Ele está,

no meio de nós. Contudo, esta presença é velada. Por isso, celebramos a Eucaristia

“expectantes beatam spem et adventum Salvatoris nostri Jesu Christi  - aguardando a bemaventurada esperança e a vinda de nosso Salvador Jesus Cristo”, pedindo “saciar-nos

eternamente da vossa glória, quando enxugardes toda lágrima dos nossos olhos. Então,

contemplando-vos como sois, seremos para sempre semelhantes a vós e cantaremos sem cessar

os vossos louvores, por Cristo, Senhor nosso”.

1405   Desta grande esperança, a dos céus novos e da terra nova nos quais habitará a

justiça, não temos penhor mais seguro, sinal mais manifesto do que a Eucaristia. Com efeito, toda

vez que é celebrado este mistério, “opera-se a obra da nossa redenção” e nós “partimos um

mesmo pão, que é remédio de imortalidade, antídoto não para a morte, mas para a vida eterna

em Jesus Cristo”.

RESUMINDO

1406  Jesus disse: “Eu sou o pão vivo, descido do céu. Quem comer deste pão viverá

eternamente...... Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem vida eterna. (...)

permanece em mim e eu nele” (Jo 6,51.54.56).

1407     A Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua

Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e de ação de graças oferecido uma vez

por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu

corpo, que é a Igreja.

1408     A Celebração Eucarística comporta sempre: a proclamação da Palavra de Deus,

a ação de graças a Deus Pai por todos os seus benefícios, sobretudo pelo dom de seu Filho, a

consagração do pão e do vinho e a participação no banquete litúrgico pela recepção do

Corpo e do Sangue do Senhor. Estes elementos constituem um só e mesmo ato de culto.

1409     A Eucaristia é o memorial da páscoa  de Cristo: isto é, da obra da salvação

realizada pela Vida, Morte e Ressurreição de Cristo, obra esta tornada presente pela ação

litúrgica.

1410     É Cristo mesmo, sumo sacerdote eterno da nova aliança, que, agindo pelo

ministério dos sacerdotes, oferece o sacrifício eucarístico. E é também o mesmo Cristo, realmente

presente sob as espécies do pão e do vinho, que é a oferenda do Sacrifício Eucarístico.

1411     Só os sacerdotes validamente ordenados podem presidir a Eucaristia e consagrar o

pão e o vinho para que se tornem a Corpo e o Sangue do Senhor.

1412     Os sinais essenciais do Sacramento Eucarístico são o pão de trigo e o vinho de uva,

sobre os quais é invocada a bênção da Espírito Santo, e o sacerdote pronuncia as palavras da

consagração ditas por  Jesus durante a ultima ceia: “Isto é o meu Corpo entregue por vós. (...)

Este é o cálice do meu Sangue (...)”

1413     Por meio da consagração opera-se a transubstanciação do pão e do vinho no

Corpo e no Sangue de Cristo. Sob as espécies consagradas do pão e do vinho, Cristo mesmo,

vivo e glorioso está presente de maneira verdadeira, real e substancial, seu Corpo e seu Sangue,

com sua alma e sua divindade.

1414     Enquanto sacrifício, a Eucaristia é também oferecida em reparação dos pecados

dos vivos e dos defuntos, e para obter de Deus benefícios espirituais ou temporais.1415     Quem quer receber a Cristo na comunhão eucarística deve estar em estado de

graça. Se alguém tem consciência de ter pecado mortalmente, não deve comungar a

Eucaristia sem ter recebido previamente a absolvição no sacramento da penitência.

1416     A santa comunhão do Corpo e do Sangue de Cristo aumenta a união do

comungante com o Senhor, perdoa-lhe os pecados veniais e o preserva dos pecados graves. Por

serem reforçados os laços de caridade entre o comungante e Cristo, a recepção deste

sacramento reforça a unidade da Igreja, corpo místico de Cristo.

1417    A Igreja recomenda vivamente aos fiéis que recebam a Santa Comunhão quando

participam da celebração da Eucaristia; impõe-lhes a obrigação de comungar pelo menos uma

vez por ano.

1418    Visto que Cristo mesmo está presente no Sacramento do altar, é preciso honrá-lo

com um culto de adoração. “A visita ao Santíssimo Sacramento é uma prova de gratidão, um

sinal de amor e um dever de adoração para com Cristo, nosso Senhor.”

1419   Tendo Cristo passado deste mundo ao Pai, dá-nos na Eucaristia o penhor da glória

junto dele: a participação no Santo Sacrifício nos identifica com o seu coração, sustenta as nossa

forças ao longo da peregrinação desta vida, faz-nos desejar a vida eterna e nos une já à Igreja

do céu, à santa Virgem Maria e a todos os santos.

OS SACRAMENTOS DE CURA

1420     Pelos sacramentos da iniciação cristã, o homem recebe a vida nova de Cristo.

Ora, esta vida nós a trazemos “em vasos de argila” (2Cor 4,7). Agora, ela ainda se encontra

“escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3). Estamos ainda em “nossa morada terrestre”, sujeitos ao

sofrimento, à doença e à morte. Esta nova vida de filhos de Deus pode se tornar debilitada e até

perdida pelo pecado.

1421     O Senhor Jesus Cristo, médico de nossas almas e de nossos corpos, que remiu os

pecados do paralítico e restituiu-lhe a saúde do corpo, quis que sua Igreja continuasse, na força

do Espírito Santo, sua obra de cura e de salvação, também junto de seus próprios membros. É

esta a finalidade dos dois sacramentos de cura: o sacramento da Penitência e o sacramento da

Unção dos Enfermos.